quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Parem o Mundo que eu quero descer!!!

Mulher à beira de um Ataque de Nervos. Louca. Surtada. Desesperada. Perdida. Cansada. Estressada. Irritada. Atrasada. Desconcentrada. Desorientada. Insuportável.

Esses são apenas alguns dos adjetivos que podem me descrever nos últimos dias...


Gente, socorro! O que está acontecendo com o Mundo??? É impressão minha ou aceleraram a rotação do Globo Terrestre??? Porque, honestamente, meu dia tem bem menos horas do que deveria... Alguma coisa está fora de ordem, tenho certeza!

De repente tudo virou de pernas pro ar... A cada minuto, a cada segundo, tem alguém me solicitando... tudo sempre "urgente", mal consigo respirar! Eles nem se preocupam em intercalar, é quase tudo ao mesmo tempo: "Mããee!" (o filho); "Moreee!" (o marido); "Doutoraaa!" (os clientes); "Senhoraaaa" (o carteiro, o cara da companhia telefônica, o vizinho, a moça do telemarketing); "Fláviaaa" (os amigos, os mais íntimos); "Trimmmmm" (o maldito telefone). E assim por diante!

Simplesmente não dou conta... Parem o Mundo que eu quero descer!!!

O que será da nossa vida se continuarmos nesse ritmo, heim??? Honestamente, não sei, mas às vezes fico bem preocupada... Devíamos ter nascido todos com rodinhas nos pés, porque vivemos numa correria tão grande, céus! E sei que não sou só eu que tenho essas queixas... O tempo todo, com todo mundo que falo, a frase que não falta é sempre a mesma: "Ah, estou numa correria tão grande!"

CORRERIA. Esta é a "palavra do momento". Todo mundo frenético demais, todo mundo sempre correndo, todo mundo sempre escravo do relógio que, como eu disse acima, tenho certeza que anda com algum defeito, porque as horas voam, dia após dia as horas voam, passam tão rapidamente que eu nem tenho mais certeza se um dia tem realmente 24 horas, se uma hora tem realmente 60 minutos, e se um minuto tem realmente 60 segundos... O meu dia, pelo menos, acho que não tem, porque se tivesse talvez eu conseguisse dar conta de parte das coisas que tenho pra fazer...

Será??? Ou será que somos nós que assumimos cada vez mais obrigações, cada vez mais compromissos, afundamos cada vez mais no trabalho e nem lembramos que devíamos todos reservar um tempo diário para simplesmente não fazer nada, e poder então nesse momento fazer aquelas pequenas coisas que nos dão prazer, pras quais hoje em dia nunca temos tempo???

Definitivamente, preciso fazer algo a respeito disso tudo... Porque, nesse ritmo, tenho medo de ficar velha sem nem perceber, tenho medo de perder a vida enquanto corro demais cuidando das obrigações diárias, tenho medo de perder pessoas queridas por nunca ter tempo de estar com elas... Preciso encontrar uma solução pra diminuir o ritmo... Precisamos todos, na verdade, encontrar uma solução pra tentar viver melhor, porque essa "correria", com certeza, não é vida... não mesmo!
Mas... qual seria a solução ideal? Estou no meio de um rolo compressor... trabalho que se acumula sem que eu consiga dar conta, afazeres domésticos que acabo negligenciando porque não dá tempo, pessoas com as quais não consigo falar - nem pessoalmente, nem por telefone, nem por email - porque não consigo dar uma pausa pra dizer-lhes um "oi", dias e mais dias que se passam sem que eu consiga ao menos fazer uma refeição decente (não me lembro da última vez que sentei para almoçar, por exemplo) e cuidados feminininos então, puxa... coisas como fazer as unhas, pintar os cabelos, depilar, fazer uma massagem, ginástica, limpeza de pele??? Só se houvesse um clone de mim mesma que pudesse ir ao salão de beleza, porque eu nem lembro mais a última vez em que separei um tempinho para os meus cuidados pessoais... Céus! Estou parecendo uma "mulher das cavernas"! Que caos!

Estou aqui, meio desorientada, pensando em possíveis soluções pra mudar esse cenário, mas não consigo pensar em nada muito plausível:

Solução Suicida:

Ok. Eu poderia simplesmente cortar os pulsos e morrer, e então teria paz eternamente. Teria um belo funeral e vários amigos que eu não tenho tempo de encontrar há séculos conseguiriam um horário em suas agendas apertadas para me dar o último Adeus. Receberia belíssimas coroas de flores, e as pessoas falariam coisas como "ela era uma pessoa incrível" ou "ela foi uma amiga especial"... E o meu epitáfio seria: "Vivi intensamente, mas não aguentei o tranco"... Hummmm... pensando bem, isso não parece nenhum pouco legal... Seria algo como "assumir o fracasso", e, pra falar a verdade, não quero dar "o último adeus" a ninguém... quero mesmo é abraçar as pessoas que amo, muito bem viva, e curtir com elas momentos especiais e dar muita risada... E, de qualquer modo, tenho tanta coisa pra fazer... tanta coisa... de modo que não tenho tempo pra morrer, definitivamente não posso ainda ir embora, não mesmo! Idéia descartada;

Solução Melodramática:

Ok. Eu poderia simplesmente me trancar no quarto e chorar até a última lágrima, ficaria lá, imóvel, sem comer nem nada, até que alguém teria tempo de perceber que algo não vai bem e daria um jeitinho de me ajudar. Talvez eu fosse internada para um tratamento "desestressante", e talvez recebesse diariamente visitas adoráveis de amigos que não vejo há tempos, todos trazendo caixas de bombons e buquês de flores, e então teríamos finalmente alguns minutinhos, na hora da visita, pra desacelerar. É... mas pensando bem, não quero ficar internada, não posso ficar internada ou doente, tenho muita coisa pra fazer e isso seria definitivamente uma perda de tempo, porque depois eu voltaria à realidade e tudo estaria me esperando exatamente do mesmo jeito, certo? Idéia descartada;

Solução Violenta:

Ok. Talvez eu poderia apenas ter "um dia de fúria", como Michael Douglas no filme. Talvez pudesse sair por aí distribuindo sopapos em quem ousasse me encarar ou entrar no meu caminho, talvez eu pudesse sair por aí brigando com todo mundo, e talvez se eu fizesse isso conseguisse colocar pra fora toda a minha raiva e a minha angústia, e talvez... bem... talvez as pessoas passassem a me ver como uma desajustada definitiva... É... acho que não quero isso também... eu poderia perder amigos, clientes, poderia perder a minha dignidade, talvez até meus parentes ficassem meio distantes de mim definitivamente. Não quero isso, e, afinal, tenho muita coisa a fazer. Idéia descartada;

Solução Workaholic:
Ok. Talvez tudo seja apenas uma questão de eu "colocar as coisas em dia". Talvez se eu tirasse uma semana pra fazer uma maratona, conseguisse acertar tudo. Talvez eu pudesse tomar vários red bulls ou algo assim, me alimentar exclusivamente de produtos à base de cafeína, e talvez eu conseguisse ficar, tipo, uns 5 ou 6 dias acordada direto, trabalhando dia e noite, e talvez assim as coisas voltassem para os trilhos. É... mas, pensando bem, acho que depois das primeiras 24 horas provavelmente eu perderia minha capacidade plena de fazer qualquer coisa, talvez eu ficasse meio alterada, e talvez o estrago fosse ainda maior, e talvez eu morresse de exaustão. Isso definitivamente pode não dar certo, pode aliás dar bem errado. E, vocês sabem, não posso morrer... tenho tanta coisa a fazer... Idéia descartada;

Solução Fraternal:

Ok. Talvez tudo seja apenas uma questão de pedir ajuda às pessoas que me amam. Talvez se eu explicasse o caos pelo qual estou passando para as pessoas, talvez se meus amigos e parentes entendessem toda essa bagunça, se proporiam a vir me ajudar numa espécie de "maratona do bem" (tipo aquele filme A Corrente do Bem, sabe?), e conseguiríamos em pouco tempo colocar as coisas em ordem, e tudo ficaria bem, e todos felizes por terem me ajudado, e então eu poderia recomçar do zero, sem pendências, sem atrasos. É... mas, pensando bem, eu sei que todo mundo anda bem ocupado, e sei que talvez isso não dê muito certo porque, afinal, eu tenho um defeitinho - só um pequeno defeitinho - de ser meio centralizadora e perfeccionista, e talvez eu nem mesmo conseguisse dividir a carga com as pessoas, de modo que poderia se formar uma confusão muito grande, sem nenhum resultado. Idéia descartada;

Solução Mágica:

Ok. Talvez tudo seja questão de concentrar as energias na coisa certa. Talvez eu devesse apenas invocar a minha Fada Madrinha e pedir que ela, assim como fez com a Cinderela, usasse sua varinha mágica pra dar uma "limpada" da minha vida. Ela poderia com um simples "sin sin salabin" fazer uma mágica encantada e tornar a minha vida cor-de-rosa, onde não haveria trabalho pendente nem desorganização. Talvez eu aproveitasse pra pedir a ela um pouco mais de inteligência e agilidade, vocês sabem, apenas pra evitar que a confusão se repetisse no futuro... Hummm... isso seria ótimo, não seria? Eu poderia também pedir pra Fada Madrinha, se não fosse abuso, lógico, que ela fizesse uma grande festa onde eu chegaria numa carruagem em grande estilo para encontrar todos os meus amigos e familiares, que estariam felizes bailando pelo salão, bebendo champanhe de boa qualidade e abraçando-se uns aos outros. E eu seria uma espécie de "Cinderela" dessa festa, e então seria eternamente conhecida como a "Cinderela Moderna", ou algo assim... Céus! Isso seria fantástico!!! Mas... me surgiu agora uma dúvida... afinal, Fadas Madrinhas existem, não existem??? Não posso dizer que já vi uma alguma vez na vida, mas, vocês sabem... talvez elas sejam apenas discretas e não gostem de aparecer... Alguém tem o número do celular de uma Fada Madrinha??? Hummm... parece que não, né... é... acho que talvez elas não existam mesmo... de modo que... de modo que preciso voltar à realidade, e encontrar uma solução mais exequível. Idéia descartada;

Solução Feng Shui:

Ok. Talvez tudo seja uma questão de "liberar as energias"... Li em algum lugar que quando nossa vida não vai muito bem, precisamos liberar as energias. E, segundo os ensinamentos do Feng Shui, isso significa inclusive dar uma boa limpada no ambiente doméstico e de trabalho. É... talvez eu devesse começar a reorganizar a disposição dos móveis da minha casa, talvez devesse reacomodar minha mesa de trabalho, talvez devesse redecorar a minha casa com as cores certas e talvez assim as energias começassem a fluir adequadamente, e então eu seria uma mulher perfeita, que faz todas as suas obrigações sempre com um sorriso lindo no rosto, que senta no computador e executa quilômetros de petições em pouco tempo, que vai para a cozinha e prepara um jantar maravilhoso em poucos minutos, e talvez a minha vida fosse como um comercial de margarina. Seria ótimo, não seria? É... talvez seja mesmo tudo uma questão de "energia"... Só... só me surgiu uma pequena dúvida agora: será que essa liberação das energias teria forças suficientes para colocar em dia as coisas atrasadas que eu tenho pra fazer? Porque, assim, preparar toda uma casa segundo os ensinamentos do feng shui pode levar um bom tempo, vocês sabem, e o meu receio é que depois de tudo eu ainda precise voltar à velha lista de pendências... Hummm.... não me lembro de ter lido nada sobre isso em "Os ensinamentos segundo o Feng Shui" (aliás, o que significa mesmo feng shui?)... Bom... acho que isso é meio balela, pra falar a verdade... vocês sabem, eu sou meio cética, não consigo acreditar muito que liberar as energias da minha casa fosse resolver minhas pendências e, como tenho muito a fazer, melhor não perder tempo com isso. Idéia descartada;

Solução Infantil:

Ok. Talvez tudo seja uma questão de ver o mundo com os olhos de uma criança, não é isso que dizem o tempo todo? Então! Talvez se eu pegasse a pilha de papéis, documentos e processos que se acumulam sobre a minha mesa, e pensasse em algo realmente criativo pra fazer com ela, talvez se eu me permitisse voltar a ser criança e brincasse de recortar bonequinhos, por exemplo, ou se fizesse pinturas com tinta guache, ou origamis, ou recortasse tudo até virar um saco enorme de confetes que eu poderia jogar pro alto por horas e horas... isso seria realmente desestressante... só que, talvez... talvez... talvez eu realmente fosse internada como louca... Ahhhh... vocês sabem, não tenho tempo pra ser internada, afinal... Idéia descartada;

Solução Engajada:

Ok. Talvez eu devesse mesmo prestar mais atenção nas necessidades do nosso planeta. Sim! Eu poderia começar a fazer algo a respeito agora mesmo! Tipo, pegar toda essa montoeira de papel que se acumula sobre a minha mesa e simplesmente levar em algum local de coleta seletiva de lixo. Quilos e mais quilos de papel reciclável, céus! Talvez eu até ganhasse um prêmio de "cidadã engajada" do Green Peace ou algo assim, por estar contribuindo tão enormemente para o equilíbrio ambiental (pensem! Quantas árvores poderiam ser poupadas se toda essa minha papelada fosse reciclada!)... E depois, essa papelada entulhada só serve pra me lembrar a cada minuto que tenho muuuuuito trabalho a fazer, de modo que se eu desse um sumiço nela, minhas preocupações poderiam ir embora também... Eu não teria mais uma mesa atulhada pra olhar, e pareceria estar tudo bem, afinal. E é apenas papelada, não é? Por que é que as pessoas precisam de tanto papel? Gente! Precisamos salvar o planeta, e eu poderia começar a fazer isso agora mesmo! É só arrumar um enorme saco preto de lixo, jogar tudo dentro, e... e... bem, talvez isso seja meio irresponsável, não? Porque, assim, não é simplesmente uma papelada à toa... ai... como é duro aceitar isso, mas a verdade é que eu não vou poder salvar o planeta! É... não vou poder jogar tudo isso na coleta seletiva de lixo, porque, vejam bem, é tudo trabalho... tudo supostamente importante... E, provavelmente, eu perderia meus clientes e seria processada judicialmente, algo assim... E tudo que não preciso a essa altura do campeonato é de mais um problema, certo? Ah... Planeta Terra querido... ainda não posso te salvar... me desculpe! Idéia descartada;

Solução Kumon:

Ok. Talvez tudo seja apenas uma questão de concentração, como eu não pensei nisso antes??? Talvez se eu fizesse um curso intensivo Kumon e aprendesse a canalizar minha concentração através da repetição, talvez eu pudesse voltar pra casa, sentar na minha mesa de trabalho e resolver tudo em poucos minutos! É... seria fantástico, eu integralmente concentrada na minha enorme papelada, executando meu trabalho ritimadamente, e então a pilha de pendências diminuiria de uma maneira tão rápida que eu não teria tempo nem para ficar cansada... talvez eu pudesse correr para a arrumação da casa e fazer tudo num simples piscar de olhos, e então preparar um jantar delicioso em segundos, e depois desfrutar do restante do dia apenas fazendo coisas que me dão prazer de verdade... Puxa! Talvez eu até entrasse para o Guinness Book como "a mulher ajato" ou algo assim... Não seria ótimo??? Seria tudo questão de seguir o método, me concentrar e... bem... não sei se o meu trabalho é exatamente o tipo de trabalho que dá pra se fazer no esquema "linha de produção"... na verdade, acho que isso é impossível... porque, assim, eu realmente preciso encontrar soluções mirabolantes em favor dos meus clientes até quando elas parecem não existir, juridicamente falando, claro, de modo que não acho que seria muito plausível fazer tudo tão esquematicamente... isso poderia me rendeer um bocado de problemas, aliás... Melhor não! Ideía descartada;

Solução "Fechada pra Balanço":

Ok. Talvez todo o problema esteja no fato de eu assumir muito mais responsabilidades e trabalhos do que realmente dou conta. Talvez eu devesse simplesmente dar um tempo, como "fechar pra balanço". Algo como desligar todos os telefones, desconectar todos os emails, e concentrar algumas semanas apenas para resolver o que está pendente, sem pegar nenhum novo trabalho. Ah, seria o paraíso. Porque, assim, eu amo trabalhar, realmente amo. Amo cuidar da minha casa, da minha família, amo ser uma mulher multifuncional... Só não tenho curtido muito isso tudo ultimamente porque realmente estou atolada, mas se eu conseguisse desatolar... Bem... essa solução seria boa, não seria? Só tem um pequeno detalhe: Quem foi que disse que meus clientes me dariam essa folga??? Com certeza não, afinal, eles precisam de mim o tempo todo, até para perguntar alguma coisa não-jurídica, simplesmente ficaram dependentes dos meus pareceres, e afinal, é pra isso que me pagam! Se eu deixar de atendê-los, simplesmente os perderei, e então morrerei de fome, e então serei despejada, e então virarei uma "sem-teto", e então tudo estará perdido (se bem que às vezes tenho a impressão de que a vida de um sem-teto pode ser tão menos estressante do que a nossa!). Isso definitivamente é utopia... Sem chance. Idéia descartada;

Solução Monetária:

Ok. Talvez o único jeito de sair dessa seja ficar rica. Ganhar na Loteria, ou algo assim. É, porque ficar rica trabalhando eu acho bem improvável, sabem? É como dizem, a gente trabalha demais e não tem tempo de ganhar dinheiro - pura verdade! Mas então, vejam bem, se eu tivesse um pouco mais (muito mais na verdade) de dinheiro, talvez não precisasse trabalhar tanto, talvez não precisasse cuidar dos mínimos detalhes da casa (eu teria uma ajudante em tempo integral), talvez não precisasse viver correndo tanto. Talvez eu pudesse inclusive me transformar numa dessas madames que vivem com a agenda apertada por conta de compromissos sociais e hora marcada no salão de beleza, e talvez eu pudesse nunca mais ter pendências de trabalho pra resolver. Só que... pensando bem, eu nunca quis ser esse tipo de pessoa... não que eu não ache legal, é só que eu gosto de trabalhar, realmente gosto... e gosto de cuidar de tudo, e gosto de estar sempre no controle, e gosto de vida que tenho, só queria mesmo ter um pouco mais de tempo para não viver sempre tão sufocada pelo rolo compressor. De modo que, ainda que eu ficasse rica, o que eu adoraria, com certeza, não seria isso que resolveria meus problemas... e já que não há tempo disponível nas lojas à venda, realmente eu continuaria enrolada, meu dia continuaria tendo essas míseras 24 horas, de modo que essa idéia, bem, não vou descartá-la, porque quero ficar rica, mas ela não serve de solução para a problemática atual. Saco!

Bem... parece mesmo que não há solução fácil, afinal... O jeito é voltar pra minha vida real e tentar continuar matando um leão por dia, me empenhando, dando o melhor de mim, e torcendo para que tudo valha a pena...

E depois, vir aqui perder alguns minutos escrevendo tudo isso acabou me dando uma boa revigorada, ah, como eu amo escrever... queria poder fazer isso profissionalmente, sabe... tipo, pra sempre? Não sei se sairia muita coisa que preste, mas seria fantástico conciliar essa minha "auto-terapia" de escrever com um ganha pão... quem sabe um dia...

De qualquer forma, que esse post sirva de diversão pelos devaneios mas também de reflexão pra todos nós... O que diabos estamos fazendo com nossas vidas? Precisamos parar de correr o tempo todo! E se for pra correr, que seja então profissionalmente, como um atleta ou algo assim... Porque enquanto a gente corre com as coisas do dia a dia a vida também vai correndo, e há um enorme risco de nos perdemos dela em algum momento, sem ao menos ter tomado conhecimento de suas maravilhas!

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Senhores do Crime

É impressionante como alguns títulos "abrasileirados" e a sinopse de alguns filmes conseguem destruí-los, ou pelo menos desencorajar muitas pessoas a assisti-los...
Em "Senhores do Crime", isso fica muito perto de acontecer. Vejam, por exemplo, o que está publicado num jornal de grande circulação:

"Senhores do Crime (Eastern Promises, EUA/ Reino Unido, 2007)
Anna Khitrova (Naomi Watts), inocente dona de casa, entra acidentalmente num esquema de tráfico sexual conduzido por russo, enquanto investiga a morte de uma jovem durante o parto. Seu caminho cruza o de Nikolai (Viggo Mortensen), que tem laços estreitos com uma das famílias de crimosos mais notórias de Londres."

Tradução errada para um título original muito mais interessante (algo como "Promessas do Leste"), e sinopse feita certamente por alguém que ficou com preguiça de ver o filme e baseou-se sabe-se lá em que... porque não é nada disso, e ainda bem que eu "encarei" o filme mesmo assim, de modo que pude surpreender-me positivamente.

Vamos ao resumo "verdadeiro":
Anna (Naomi Watts) é uma enfermeira descendente de russos que trabalha na obstetrícia de um grande hospital de Londres. Mora com a mãe - viúva, e eventualmente divide o apartamento com o excêntrico Tio também russo, irmão de seu falecido pai. Numa noite às vésperas do Natal, ela participa do atendimento a uma jovem parturiente que chega ao hospital em estado crítico, com claros sinais de maus tratos e uso de drogas, e morre logo após dar à luz uma linda menininha. Vasculhando os pertences da jovem, Anna descobre que trata-se de uma adolescente russa, e encontra em sua bolsa um diário todo escrito em russo, a única "pista" que possui sobre quem seria a garota.

Disposta a encontrar os familiares da bebezinha órfã, Anna começa a investigar por conta própria as poucas pistas encontradas, chegando a um restaurante russo comandado por Semyon (Armin Mueller-Stahl) e seu filho desajustado Kirill (Vincent Cassell), que serve na verdade de fachada para os negócios escusos de uma organização mafiosa. É ali também que Anna estabelece uma relação cheia de suspense com Nikolai (Viggo Mortensen), o enigmático motorista e fiel escudeiro de Kirill, que acaba tornando-se uma das peças-chave para o desfecho da trama.

A princípio, "Senhores do Crime" pode parecer apenas mais um filme de ação cheio de pancadarias e morte, mas fica na verdade bem longe disso. Claro, há mortes e, digo mais, há cenas extremamente violentas e "picantes", como aquela em que Nikolai luta com dois inimigos completamente nu, numa sauna masculina de Londres - sequência de tirar o fôlego! Sim, há violência, sem dúvida que há, mas o filme não se perde nesse terreno.

A trama é consistente, as personagens são bem estruturadas e comedidas, o cenário parece perfeito para o "assunto" - uma Londres meio obscura, meio tenebrosa, meio cinzenta, e o principal é que o filme consegue se distanciar com classe do lugar comum de filmes de ação, especialmente ao manter uma certa isenção sobre o bem e o mal, não há aquele desenho óbvio do mocinho e do bandido, num determinado momento tudo fica meio misturado, e isso é um trunfo bem bacana para filmes do gênero.

Tenho que dizer que gosto muito de Vincent Cassell, e ele parece ter nascido para viver personagens meio desajustados (a exemplo de Irreversível). Está muito bem neste papel quase secundário, mas extremamente importante para a história, e consegue exibir as peculiaridades de sua personagem desajustada sem cair na caricatura ou no lugar-comum. Ponto pra ele!

Viggo Mortensen, bem... eu tenho medo dele, pra ser bem sincera... É um ator que tem "cara de mau", não imagino-o num papel de alguém totalmente bonzinho, acho que seria difícil de convencer... Por isso mesmo, foi a escolha perfeita para esse papel... ele carrega o mistério do filme com uma elegância maquiavélica que é, sem dúvida, assustadora, mas de alguma forma há carisma em sua personagem, tanto que sem nem perceber estamos meio que torcendo por ele... E, claro, a cena de luta na sauna é algo incrível... não me lembro de ter visto uma cena violenta em nenhum filme de ação que me tenha causado tanto torpor... Sem dúvida um trabalho muito bom, tanto que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator (prêmio que ele não ganhou, como acabei de ver na cerimônia).

Naomi Watts, hummm... não gosto muito dela, pra falar a verdade... Não sei explicar direito, não sei se é implicância por conta de King Kong, ou se é só antipatia mesmo... o fato é que acho-a pouco carismática e inadequada para alguns dos filmes que acabou fazendo, mas não é o caso de Senhores do Crime. De alguma forma, justamente essa "coisa" que eu não gosto muito em Naomi acabou por torná-la perfeita para o papel, e o conjunto do elenco funcionou muito bem.

É um filme bem interessante. Há menos ação do que se pode esperar (não há um único tiro ou cena de perseguição, por exemplo), e ao mesmo tempo talvez mais violência do que se possa supor... Mas nada gratuito, tudo dentro de um contexto lógico, amarrado por um roteiro inteligente que, à exceção de um deslizezinho aqui ou ali, contribui para o resultado óbvio - um ótimo filme! Confira!

domingo, 24 de fevereiro de 2008

And The Oscar Goes To: CABEÇÃÃÃÃOOOOOOO

24 de Fevereiro: Há exatos 22 anos o mundo se tornava um lugar mais bonito e muito mais interessante, com a chegada da minha irmãzinha LIGIA.

Sim! Hoje é uma data super especial por motivos muito mais nobres do que a "Cerimônia de Entrega do Oscar". Hoje é uma data super especial porque é o aniversário daquela que será pra sempre minha "irmãzinha", não importa o quanto "madura" ela esteja... Ela é a caçula, a "raspa do tacho", e definitivamente posso dizer que meus pais capricharam...

Capricharam tanto, mas tanto, mas tanto, que ela saiu completamente diferente de nós, as "mais velhas"... E, pobrezinha, já sofreu um bocado na nossa mão por conta disso... rsrs... obviamente já foi vítima de toda sorte de piadinhas do tipo "você foi trocada na maternidade", mas definitivamente são apenas piadas idiotas, porque o que ela tem de diferente de nós fisicamente, tem de idêntico no temperamento, na personalidade, na garra e na coragem pra correr atrás dos seus sonhos, de modo que não poderia ser a irmãzinha de ninguém mais senão de nós - Flávia, Silvia e Cátia.

Quando a Li nasceu, eu tinha 10 anos, mas já tinha algumas responsabilidades, e ajudar a cuidar dela era uma das que eu adorava... Quando comecei a trabalhar, aos 14 anos, a Li tinha 4 pra 5 anos, e eu adorava levá-la pra passear nos finais de semana, pra fazer coisas que eu não tinha podido fazer na idade dela, coisas como ir ao Parque da Mônica, ao MC Donald´s, etc. Como eu sempre aparentei ter muito mais idade do que realmente tinha, às vezes as pessoas achavam que ela era minha filha, e quando perguntavam isso no ônibus, no trem ou na rua, eu tinha o maior prazer de dizer que era! Nós meio que combinávamos que ela não me desmentiria, e às vezes ela até entrava na brincadeira e me chamava de "mamãe"... Será que você lembra disso, Cabeça? Era tão divertido...

Logo que aprendeu a escrever, a Ligia já dava seus primeiros passos como Jornalista... Escrevia e editava uma revistinha caseira chamada "Adorável", que era conhecida por todos os nossos amigos próximos, já que ela nunca perdia uma oportunidade de entrevistar um "ilustre desconhecido". Ela era simplesmente genial! Fazia as matérias, ilustrava, montava e editava a Adorável, e as pessoas tinham praticamente que pegar senha para ler a publicação, já que era sempre tiragem única, um único exemplar que hoje em dia deve valer milhões no mercado negro... hehe...

Também nunca vou esquecer da carinha dela no dia em que eu a levei para conhecer os estúdios do Jornalismo na Globo. Ela devia ter uns 9 ou 10 anos, no máximo, e já era fissurada por telejornais, conhecia vários jornalistas pelo nome, coisas bem incomuns pra crianças naquela idade. E então ela pôde assistir ao SPTV nos bastidores... Eu a tinha orientado que, como era um Telejornal ao vivo, não podia haver nenhum tipo de barulho no estúdio, e que só poderíamos ficar ali até o final se mantivéssemos absoluto silêncio. Ela ficou tão preocupada com isso que mal respirou, mal se mexeu, e se comportou tão bem que foi "premiada", no final do jornal, com uma conversa particular com o Jornalista Carlos Tramontina. Foi um dia realmente incrível, lembro bem até hoje do brilho nos olhinhos dela.

Mas o tempo passou, ela cresceu, virou mulher, e hoje é uma guerreira dedicada como poucas pessoas... Foi morar em Bauru, no interior de São Paulo, pra cursar sua tão sonhada Faculdade de Jornalismo, e deve se formar em pouco tempo. A Ligia tem um talento nato para o Jornalismo, sempre teve, de modo que tenho certeza de que um futuro altamente promissor lhe aguarda brevemente... E meu maior prazer será assistir esse triunfo que ela, sem dúvida, merece alcançar... Estarei sempre torcendo e brigando por ela, afinal, será eternamente a minha irmãzinha, e eu a amo demais da conta!

Este aniversário particularmente não pudemos estar juntas. Sempre damos um jeito de passar nossos aniversários juntas, as 4 irmãs metralha ou simplesmente "O Quarteto Fantástico". Só que esse ano não teve mesmo jeito, porque a Ligia está lá na Terra do Tio Sam, em Las Vegas, mais precisamente, trabalhando, estudando e ganhando experiência para o seu futuro profissional, e é duro estar tão longe num dia tão importante como esse.

Por isso, Cabeça, fica aqui minha humilde homenagem pra você! Te Amo muito, e tô aqui, torcendo com todas as minhas forças pra que tudo dê muito certo pra você aí, e que você possa voltar quando chegar a hora, ainda mais linda, ainda mais experiente, ainda mais brilhante!

E, para meus queridos amigos leitores, vejam só o que a Cabeção anda aprontando por lá:


Como ela é "genial", até a Oprah quis entrevistá-la!

Quando encontrou com o Bush, não resistiu a um pequeno gesto de irreverência (e escárnio)!

E, finalmente, como toda boa Jornalista, fez o seu primeiro grande furo de Reportagem: Elvis realmente NÃO morreu (e ainda deu uma exclusiva para ela)!!!

sábado, 23 de fevereiro de 2008

JUNO

Já que não tenho mais tempo como antigamente pra fazer uma "maratona pré-Oscar" e assistir todos os filmes indicados às principais categorias, esse ano fiz diferente: Apareceu um tempinho raro num final de tarde, e eu conseguiria ver apenas 1 filme, então tive que escolher...
Sem um critério muito lógico, acabei optando por assistir Juno, talvez por ser um filme menor, menos comercial, uma comédia diferente, e talvez porque aparentemente seja aquele com menores chances de levar a estatueta (segundo dizem os especialistas)...

Mesmo não tendo visto os concorrentes, e correndo o risco de ser precipitadamente injusta, vou torcer para que Juno leve pelo menos um dos prêmios para os quais foi indicado - melhor filme, melhor roteiro, melhor diretor e melhor atriz... Talvez as melhores chances estejam na categoria "Roteiro", o que seria justíssimo, aliás.

Juno (Ellen Page, do também ótimo "MeninaMá.Com") é uma adolescente de 16 anos que foge aos padrões dos colégios secundaristas americanos. Ela é descolada de uma maneira muito pecuilar, cheia de personalidade, muito inteligente e perspicaz, e às vezes encantadoramente rebelde. Depois de uma experiência sexual "estranha" com seu amigo esquisitão Bleeker (Michael Cera), ela se descobre grávida, e obviamente meio "perdida" sobre o que fazer a respeito.

Como Juno é muito realista, ter o bebê e ficar com ele é uma hipótese imediatamente descartada. Ela sabe que não tem maturidade pra ser mãe, sabe que ainda tem muito a aprender, e sabe que não pode sacrificar a vida de uma criança por conta de sua inconsequência juvenil. O aborto seria uma hipótese, mas Juno não tem coragem pra levar adiante a idéia já que, segundo uma amiga engajada, "os bebês têm até mesmo unhas", vejam só!

Resta então aquela hipótese que parece ser a mais sensata - encontrar os pais perfeitos para o bebê, já que Juno decide entregá-lo para adoção. Depois de consultar diversos anúncios no jornal de pais que desejam adotar, ela finalmente encontra Vanessa (Jennifer Garner) e Mark (Jason Bateman), um jovem casal rico aparentemente adequado para ficar com o bebê.

Contando com a compreensão do pai e da madrasta, Juno leva a gravidez adiante, ao passo em que vai estabelecendo uma relação de amizade com Mark, o pai adotivo do bebê. O amadurecimento vai chegando no mesmo ritmo do crescimento de sua barriga, e vivenciando a gravidez de uma forma incomum, Juno vai aprendendo grandes lições de vida e descobrindo muito sobre as relações humanas - familiares, de amizade e de amor.

É uma história que me divertiu e me emocionou, muito! Talvez por ser tão verossímel, talvez por tratar de um assunto tão delicado como a gravidez na adolescência por um ângulo descomplicado, talvez por mostrar que com boa vontade os problemas mais complexos podem ter as soluções mais apropriadas, desde que as pessoas deixem de lado a necessidade que costumam ter de supervalorizar seus problemas ao invés de serem práticos e buscar a melhor saída.

Sabe, às vezes é muito mais fácil nos fazermos de vítima de uma situação do que enfrentá-la. E Juno, lá do "alto" de seus 16 anos, é tão corajosa e consciente de suas limitações que acaba dando uma grande lição de vida, de que nem sempre as coisas saem como se deseja, mas há sempre uma possibilidade de recolocar o trem nos trilhos para que ele siga seu curso regular.

É um filme excelente, embalado por uma trilha sonora incrível, cativante, envolvente. Como já falei no início, o roteiro é perfeito, dinâmico, inteligente, foge com muita classe de qualquer tipo de clichê (apesar do tema "comum" de gravidez na adolescência), e consegue ser surpreendente até o último minuto, até a última cena (que, aliás, me fez chorar de tão profundamente linda)...

Ellen Page, indicada ao Oscar na categoria "Melhor Atriz", dá um show... Li em algum lugar que ela tem na verdade 21 anos, mas tem sem dúvida carinha de 16, e talento de uns 90 anos, sei lá... É como se fosse uma super veterana, ela desfila pelo filme numa interpretação fabulosa, e só não ouso dizer que ela "tem" que levar esse Oscar porque sei que o páreo é duríssimo e, embora eu não tenha visto as concorrentes, tenho certeza que as chances aqui são mínimas para a jovem Ellen... Mas é um talento promissor, sem sombra de dúvida, e tomara que essa indicação ao maior prêmio do cinema sirva pelo menos para dar mais visibilidade e outros papéis bem bacanas pra essa atriz que já deixou em Juno um registro incontestável de sua competência.

O elenco coadjuvante também é muito bom. O nome mais famoso do filme - Jennifer Garner - está contida num papel meio sofrido meio esperançoso... Acho Jenifer linda, mas em Juno, não sei, ela está talvez magra demais, meio envelhecida, menos bonita, na verdade... Mas competente dentro do que se propõe a fazer, assim como todos os demais atores "desconhecidos".

É isso. Um filme muito bom, despretencioso, delicioso de assistir, que eu recomendo e pelo qual vou torcer amanhã, na grande festa do Oscar!

Não deixe de ver!

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Todos envelhecemos, mais cedo ou mais tarde

"Se tudo der certo, todos nós seremos velhos um dia!"

Essa constatação é tão óbvia que não precisaria ser escrita aqui, mas às vezes o comportamento humano me deixa tão assustada... parece que as pessoas se julgam "imunes" ao tempo, acham que serão eternamente jovens, e que a velhice é algo que jamais chegará.

Pior do que isso é o fato de as pessoas enxergarem a velhice como algo ruim... Tudo bem, é claro que até eu me assusto um pouco às vezes quando paro pra pensar que o tempo está voando e que eu mesma já não sou mais tão jovem como noutros tempos, pensar que já estou na casa dos 30, que logo chegará a casa dos 40, 50, e assim por diante...

Fisicamente a gente vai notando as pequenas marcas, um pé-de-galinha aqui, uma manchinha na pele acolá, diminuição da flexibilidade, etc, etc, etc...

Psicologicamente a gente também vai percebendo as marcas deixadas pelo tempo... menos paciência pra algumas coisas que até outro dia fazíamos com o maior pique, gosto mais "apurado" (ou enjoado), manias que a gente mal percebe que adquiriu, e outras coisas do gênero...

Mas poucas vezes paramos pra pensar em tudo de bom que a velhice traz na vida de uma pessoa... Não estou aqui usando o termo "velhice" num tom pejorativo, pelo contrário... Acho que a experiência que se carrega ao longo da vida é algo de valor inestimado que um idoso possui... Um tesouro que muitas vezes está tão à mão pra nós, ainda "jovens", através dos avós e dos pais, por exemplo, mas que invariavelmente negligenciamos pela falta de paciência que normalmente temos para lidar com pessoas mais velhas.

Não querendo parecer "a boa samaritana", posso dizer com muito orgulho que eu tenho profundo respeito e admiração por pessoas idosas, e procuro sempre dedicar a elas toda a minha atenção e paciência, todo o carinho que for possível, e invariavelmente a troca que estabelecemos é profundamente valiosa... Um velhinho, até mesmo um velhinho desconhecido, pode ter tanto pra nos ensinar... Basta apenas permitir!!!

Acho que foi por isso que eu fiquei tão indignada com um fato que presenciei na última segunda-feira, algo tão desprezível que me ficou entalado até agora, tanto que vim aqui escrever algumas muitas linhas sobre o assunto.

Eu tinha uma reunião de trabalho em uma empresa lá no Itaim, um bairro "nobre" de São Paulo. A empresa em questão fica num condomínio empresarial bem famoso da região (não lembro o nome do condomínio especificamente), muito "chique", e tal, são umas duas ou três torres de escritórios, uma rede de cinemas (Kinoplex Itaim) e no térreo tem uma espécie de área de convivência, com vários cafés, livrarias, caixas eletrônicos de bancos, e afins... Os acessos aos prédios são margeados por uns espelhos d´água muito bonitos, há muitas plantas ornamentais, enfim... o lugar é bastante interessante, bastante agradável.

Era uma tarde cinza tipicamente paulistana... Estava chovendo, ora de maneira mais intensa, ora apenas uma garoa fina, e o clima estava de ameno para frio. Fui para o escritório onde se realizaria a reunião, fizemos o que tínhamos que fazer, e então eu desci pelos elevadores para ir embora. Passei pelas catracas eletrônicas, devolvi meu crachá de visitante, e estava indo em direção à enorme porta de vidro que dava para a tal "área de convivência" do térreo quando levei um susto:

Um senhor de bastante idade, talvez uns 70 anos ou pouco mais, andando pela lateral do prédio pisou em falso e caiu dentro do espelho d´água, bem diante da porta de vidro pela qual eu estava saindo naquele exato momento. Foi uma queda bem feia, brusca, com certeza doeu bastante.

Embora tudo tenha acontecido numa fração de segundos, foi tempo suficiente para eu notar que o tal senhor, vestido de uma maneira informal, simples, antes de cair andava ao lado de uma moça loira muito bonita, elegantemente vestida num pretinho básico de griffe, com scarpins impecavelmente brilhantes e cabelo cuidadosamente arrumado no topo da cabeça em um coque. Percebi que no momento da queda do velhinho a moça deu uma rápida apressada no passo, mas como foi se distanciando, imaginei que fosse apenas uma desconhecida que só por coincidência estava ao lado do senhorzinho naquela hora.

Voltando à queda, na mesma hora várias pessoas (inclusive eu) correram em direção ao senhor para tentar ajudá-lo a levantar, e com muito esforço de todo mundo, tudo meio desajeitado, conseguimos colocá-lo de pé. Ele estava meio confuso, ficou olhando vagamente em direção à tal moça loira já bem adiante que, a esse ponto, tinha parado e estava olhando para o pequeno tumulto que se formou ao redor do idoso.

Todo mundo começou a perguntar se ele estava bem, um segurança do prédio perguntou se ele não queria entrar e sentar um pouco, pra ver se não tinha se machucado mais seriamente, uma senhora exclamou: "Puxa, ele ficou todo molhado, e está frio!", mas o senhorzinho apenas conseguiu balbuciar e apontar em direção à moça loira mais adiante: "Mi-mi-minha neta!".

Sim! A tal moça loira que apressou o passo na hora que o velhinho caiu era nada mais nada menos que a neta dele!

Todos olharam incrédulos em direção à moça, e só então ela começou a andar de volta na direção de onde estávamos, tentando acudir seu avô. Ela chegou perto de nós, toda "posuda", e falou: "Ai, vô, você me faz passar cada vergonha!"

Pasmem! Ela não perguntou se ele estava bem, se ele tinha se machucado, nada disso... a única coisa que conseguiu foi constranger ainda mais o pobre senhor, que só respondeu: "Ah, minha filha, desculpe... eu não vi esse degrau e me desequilibrei!".

Então a moça começou a tentar andar novamente em direção ao lugar para onde estava indo, quando uma outra senhora que tinha ajudado a socorrer o velhinho falou: "Ei, moça! Ele é seu avô? Então você precisa ajudá-lo!"

A moça voltou e disse, toda despreocupada: "Ah, não, tudo bem, ele está bem... ele é mesmo muito atrapalhado, mas está bem! Vamos, vô?".

O pobre do velhinho mal conseguia andar, devia estar sentindo dores pela queda, com certeza, e além do mais estava completamente encharcado, seja onde for que pretendia ir, não poderia ir naquele estado!

Então todos disseram, meio que ao mesmo tempo: "Mas, moça, ele precisa pelo menos ir pra casa trocar de roupa, está frio, ele não pode ficar andando por aí assim", ao que ela se virou, já meio impaciente, e disse: "Ah, tudo bem então, vô, o senhor volte pra casa e vá trocar de roupa. Eu vou indo!" Todos questionaram que ele não poderia voltar pra casa sozinho, que podia estar se sentindo mal após a queda (ou mesmo antes, né, vai saber), e ela disse, ainda mais impaciente: "Ah, gente, não esquenta! Ele mora aqui do lado, anda sozinho o tempo todo, pode muito bem ir lá se trocar! Tchau, vô!".

Falou isso, virou as costas pra todo mundo e saiu desfilando pelos corredores com toda a sua "elegância", como que exibindo orgulhosamente sua figura bela e cara. Simplesmente foi embora! Simplesmente largou o próprio avô ali, naquele estado, e foi embora!

O velhinho, muito envergonhado, dava pra notar, ficou meio sem saber o que fazer, até dizer que ia mesmo pra casa. Ninguém quis deixá-lo andar sozinho, ficamos uns minutos discutindo o que fazer, até que um dos seguranças do condomínio perguntou se ele realmente morava perto, e como ele confirmou, propôs-se a acompanhá-lo então até sua casa, e saiu amparando o idoso, que ainda estava meio cambaleante.

Confesso que fiquei por uns segundos parada, imóvel. Eu não acreditava no que tinha acabado de ver com meus próprios olhos!!! Fiquei sem ação, pra falar a verdade, e depois até me arrependi de não ter eu mesma me oferecido para acompanhar o senhor até algum lugar, nem que fosse pra pegar um táxi.

Ficou todo mundo ali mais um pouco comentando a conduta da moça, todo mundo resmungando que aquilo era um absurdo, e tal, até que a pequeno tumulto finalmente se dissipou e todo mundo seguiu seu rumo.

Fui andando em direção à saída do condomínio e daqui a pouco enxergo a "bela neta" do velhinho no guichê no cinema comprando seu ingresso para a sessão de algum filme. Sim! O compromisso que ela tinha tão inadiável que a impediu de dar assistência ao próprio avô era simplesmente isso: "Ir ao cinema". Ela agia como se nada tivesse acontecido, lá do alto do seu salto, do alto da sua "superioridade jovem"...

Parei, olhei, olhei bastante, fiz questão de que ela me visse observando-a, mas ela nem se abalou... Onde será que estava o coração dessa moça??? Será que ela sequer tinha um coração???

Comprei um café na cafeteria ao lado, peguei minha xícara, sentei em uma das mesinhas externas e fiquei ali, pensando no que o avô devia estar fazendo com a neta naquele horário, naquele local. Talvez eles tivessem planejado ir juntos ao cinema. Talvez ele tivesse apenas sugerido acompanhá-la quando ela anunciou em casa que estava saindo pra ir ao cinema, sabe, coisa de gente mais velha que não gosta de moças (flhas, netas, sobrinhas) andando sozinhas por aí?

Seja lá como for, o fato é que nada justificaria a frieza com que a moça tratou o próprio avô, publicamente! Fiquei por vários minutos ali, pensando em como deve ser essa família... Talvez o avô more com a filha, e consequentemente com a neta. Talvez estivesse só de visita, talvez sejam vizinhos, sei lá... Por alguma razão aquele senhor resolveu, naquela tarde de segunda-feira, acompanhar a neta, e por alguma razão seu gesto de gentileza foi retribuído com uma completa ignorada da moça numa hora de necessidade...

Que coisa triste... triste mesmo... Até tentei enxergar as coisas por um outro lado, sei lá, talvez o avô fosse um chato que vive pegando no pé da neta, talvez seja um desses velhos mais inconveniente que fica se metendo em todos os lugares, talvez a neta não goste mesmo dele, mas... Mesmo assim! Nada justificaria a conduta da moça, nada... nem que ele fosse o pior avô do mundo, o que não devia ser, já que estava acompanhando-a com muito boa vontade...

Nessas horas, fico pensando quantos e quantos netos (e filhos) dessa estirpe não existem por aí... Tenho certeza que coisas desse tipo acontecem o tempo todo, e os "jovens" agem dessa maneira porque têm vergonha de seus velhos... têm vergonha de seus pais, têm vergonha de seus avós, acham que o mundinho de formas físicas perfeitas da juventude durará eternamente... ledo engano!

Outro dia eu escrevi um post aqui sobre os filhos criados por babás e empregadas enquanto seus pais estão ocupados demais trabalhando para ganhar dinheiro, e justificam assim o fato de darem tudo, menos amor aos próprios filhos... Na ocasião, uma amiga blogueira, a , deixou um comentário dizendo, muito sabiamente:

"Oba! Desse jeito, até eu quero ter 10 filhos, assim terei 10 pessoas pra me internar num asilo quando eu for velha!"

Poucas palavras que dizem muito, e curiosamente estão associadas ao que estou escrevendo agora... Infelizmente alguns pais criam seus filhos para viverem de imagem, de materialismo... E esses filhos crescem sem sequer ter noção da importância do afeto, da importância de se cultivar o amor familiar, da importância de respeitar ao próximo. Então, tornam-se adultos desprezíveis, que acham que são melhores que os outros e que valem o que têm... Tenho certeza que a moça dessa história é uma dessas pessoas... É uma vítima de seu próprio meio, pra ela mais importante eram seus sapatos caros do que o avô, tanto que ela nem quis chegar muito perto para não molhar os sapatos, a roupa, a bolsa, tudo de griffe, tudo caro, tudo que ela é... ou seja, nada!

Essas pessoas não aprenderam, lá na infância, que antes de mais nada na vida temos que respeitar ao próximo, especialmente os mais velhos! Essas pessoas não aprenderam, lá na infância, que avô é um velhinho que construiu a nossa história e muito do que nos tornamos um dia, e que por mais que sejam teimosos, chatos, implicantes, rabugentos e cheios de manias, são pessoas adoráveis que só precisam de um pouco de carinho e atenção para compartilhar conosco todo o seu tesouro de experiência de vida!

Meu marido costuma dizer que nós nascemos e morremos crianças, e ele tem razão... o envelhecimento traz fragilidade, e a necessidade de ser cuidado, por mais que a gente hesite muito em admitir isso. E se um dia fomos crianças e os que hoje são velhos se dedicaram a cuidar de nós, porque é que não podemos retribuir isso na velhice??? Se quando éramos crianças fazíamos pirraça, dávamos trabalho, choramingávamos o tempo todo e eles, pais, avós, tios, etc, estavam sempre por perto pra nos acalentar e nos dar segurança, porque é que somos melhores do que eles e não podemos fazer o mesmo quando eles envelhecem?

Lembro-me de uma vez, quando eu ainda tinha escritório lá no Centro de SP, e eu estava tomando um café, no meio da tarde, voltando do Fórum. Estava agitada, com mil coisas pra fazer no escritório, telefonemas para dar, assuntos a resolver, e parei por 2 minutos pra tomar um café, nada mais. Encostei no balcão da cafeteria e estava adoçando meu café quando se aproximou um velhinho e me perguntou: "Você é advogada, não é?", e eu então, já meio prevendo que aquilo poderia ser o começo de uma longa conversa, respondi meio seca: "Sou sim, senhor!", e voltei minha atenção para o café, deixando claro que não estava muito a fim de papo. Então o velhino insistiu, e começou a perguntar coisas do tipo: "Faz tempo que você e advogada? Onde é seu escritório? A Justiça continua muito lenta?", e várias outras perguntas do tipo.

Inicialmente, eu estava ficando irritada, porque não queria me prolongar numa conversa, estava ocupada demais... Mas fui tentando responder, o mais educadamente que conseguia, até que entreguei os pontos, e comecei a conversar de verdade com o velhinho... Ele começou a contar que também era advogado, mas que tinha ficado doente, e que teve que se aposentar cedo, e que há poucos anos sua esposa faleceu, e que os filhos moravam em Portugal, blablabla, blablabla, começou a me falar várias coisas do tempo em que ele mesmo advogava, como era quando ia ao Fórum fazer uma audiência, e de certa forma a conversa foi ficando interessante... naquele ritmo dos mais velhos, mas nem por isso menos interessante... Fui conversando, conversando, tomei outro café, e o velhinho falava, e parecia encantado por eu estar ali, trocando algumas idéias com ele. Acho que ficamos coisa de 20, talvez 30 minutos papeando... Eu cheguei a ficar emocionada, porque fazia pouco tempo que tinha perdido minha mãe, e ele começou a me falar que tinha diagnosticado câncer há poucas semanas, e que estava ali no Centro porque estava procurando um advogado pra fazer um testamento, enfim... Foi uma conversa de velhos amigos, como se já nos conhecêssemos há muito tempo.

Terminamos o papo, paguei meu café e me despedi do senhor com um caloroso aperto de mão, que foi retribuído por ele, e me pareceu tão sincero! Quando eu estava me virando pra sair da cafeteria, ele me chamou novamente, e quando me virei, disse uma frase que nunca mais esqueci na vida:

"Moça, hoje você fez uma boa ação! Deu atenção para um velho doente no final da vida como eu, não é todo dia que encontramos jovens que fazem isso! Fiquei muito feliz com a nossa conversa, percebi que nosso país ainda tem jeito, e desejo que você tenha uma carreira de muito sucesso, e que seja muito feliz com sua família! Parabéns por ser uma pessoa humana! Fazia tempo que eu não batia um papo tão agradável! Vou pra minha quimioterapia feliz!"

Eu me virei, já com os olhos cheios de lágrimas, e rumei para o escritório, pensando o que eu tinha feito de tão bom para aquele senhor ficar tão agradecido! Ora, eu não tinha feito nada, não tinha proposto nenhuma solução mirabolante para seus problemas, não tinha contado nenhuma novidade estupenda, tinha apenas batido um papo descompromissado com ele por alguns minutos, e então, porque é que ele tinha ficado tão agradecido? E a resposta vem óbvia:

Porque as pessoas, às vezes, precisam apenas ser ouvidas, precisam apenas se sentir importantes o bastante para ter alguns poucos minutos de carinho, de compreensão. Porque as pessoas, na velhice, precisam apenas sentir que tudo valeu a pena, e que mesmo que a vida não tenha sido perfeita, serão sempre respeitadas, e haverá sempre alguém disposto a perder preciosos minutos para fazê-las se sentirem vivas!

Tristes são aqueles que não valorizam seus velhos... Um dia, todos seremos, e nesse aspecto, pelo menos, a própria vida se encarrega de ser justa!

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

A História da Caneta

Ontem à noite eu estava assitindo um filme, e numa cena aparece um cara escrevendo com uma caneta tipo "kilométrica" (vocês lembram dessa caneta?)... Nunca mais vi uma caneta dessas na vida, acho que nem fabricam mais... Mas na hora me bateu uma nostalgia, e eu comecei a lembrar de como eu curtia material escolar na minha época de estudante...
Todo começo de ano era um deleite, material novinho, cadernos impecáveis, canetas novas, estojo novo, e eu, assim como a maioria das "meninas", curtia muito começar o ano na escola, adorava arrumar a mochila, coisas assim...

Só que eu fui estudante em outros tempos, lá nos idos dos anos 80, quando não havia essa avalanche de opções de material escolar no mercado como tem hoje em dia... Não havia tantos cadernos de personagens, não havia trocentos tipos de lápis de cor, não havia mochila de rodinha nem lancheiras de personagens que hoje, mãe que sou, sei que custam uma fortuna! E isso era bom, porque diminuía o abismo social entre estudantes, já que todo mundo tinha coisas parecidas, lápis de cor era apenas lápis de cor, tudo igual, e assim por diante.

Já hoje em dia pra manter um filho no colégio, você tem que se preocupar não só com a mensalidade e o preço dos livros. Tem que se preocupar também com o quanto vai gastar em material escolar no começo do ano... Por mais que eu não queira ceder aos modismos de itens de personagens que custam uma fortuna e geralmente têm qualidade questionável, não dá pra ser tão frugal nesse aspecto, porque senão a criança acaba sendo discriminada por ser a única que não tem "a mochila do Hot Whells", o "estojo do Homem Aranha", ou a "lancheira do Batman".

O Lucas na verdade nem liga tanto pra isso, é desligadinho, recicla itens do ano anterior na boa, e tal (sorte a minha, que neste ano economizei em vários itens!)... Mas eu observo lá no Colégio dele, a criançada vai chegando pra aula, e é um verdadeiro desfile de mochilas e lancheiras, umas mais "lindas" que as outras... Pras meninas, existem até mochilas da Barbie que têm brilhinho, pelinho, não sei mais o que... Pros meninos existem mochilas da Hot Whells que piscam luzinhas quando em movimento, que fazem barulhinho de carro, etc...

E por mais que a gente tente resistir ao consumismo, por mais que não queiramos contribuir para o enriquecimento dos fabricantes dessas coisas, a verdade é que se a criança é a única que vai pra escola sem uma mochila de rodinhas de um personagem, vai acabar sendo discriminada, porque criança é cruel com essas coisas, e logo apareceria um amiguinho pra falar "ah, você é pobre, pois não tem uma mochila de tal personagem!".

Ou seja, ao contrário dos meus bons e velhos tempos de estudante, hoje em dia há também um exibicionismo social dentro das escolas, desde a pré-escola, na verdade... uma pena... Por isso temos que nos empenhar muito em passar valores para nossos filhos desde pequenos, pra que eles não cresçam vítimas dessa cultura do "eu sou o que eu tenho", pra que eles não cresçam materialistas achando que são melhores do que os outros porque têm condições de comprar coisas mais caras.

Bom, mas eu acabei me perdendo em divagações sobre o mundo escolar atual, e estava quase perdendo o tema principal desse post, que é uma história muito engraçada que aconteceu comigo na infância...

Eu devia ter uns 12 anos, estava na 6ª série, se não me engano, estudava no Sesi (já contei isso aqui outras vezes), e era muito pobre, portanto meu material escolar era o básico do básico, lápis preto nº 2, lápis de cor de 1 dúzia, caneta Bic, e outros itens essenciais. Como toda menina, eu adorava "florear" meus cadernos e trabalhos com muitas cores, escrevia o título da matéria de vermelho, sublinhava, fazia frufruzinhos em volta, coisas assim... Não tinha canetinhas hidrográficas, porque custavam caro, mas eu me virava bem com minhas duas canetas Bic - uma vermelha e uma azul, e meus cadernos eram impecáveis.

Eis que um dia aparece uma amiga de classe - a Simone - com uma novidade que me deixou extasiada! Ela tinha ganhado da mãe uma Caneta Bic 4 Cores, que era lançamento, e quando eu vi aquilo fiquei paralizada! Como poderia haver uma caneta que tivesse 4 opções de cores pra se escrever??? Tinha até tinta verde, e isso era uma maravilha!!!

Essa caneta custava uma fortuna pra época, era uma extravagância que poucas mães poderiam cometer em favor dos filhos, e lembro que da nossa classe a Simone era a única que tinha uma "Bic 4 Cores". Vivia se exibindo com seus cadernos e trabalhos escritos em 4 cores, e eu morrrrrrriiiiiaaaaa de inveja dela!!!

Um belo dia criei coragem e fui falar com a Simone. Queria passar umas lições à limpo em casa, e pensei que meu caderno ficaria lindo com tantas cores pra eu destacar os títulos das matérias. Pedi a caneta emprestada, falei que seria só por um dia, que eu levaria pra casa, usaria, e devolveria no dia seguinte. Ela titubeou um pouco, disse que a mãe não gostaria de saber que ela tinha emprestado a caneta, mas como era "boazinha", acabou me emprestando...

Nossa, voei pra casa, né, porque queria aproveitar muuuuuuuuito a caneta! Já no ônibus, voltando pra casa, ficava segurando a Bic 4 Cores na mão e apertando os botõezinhos que a faziam mudar de cor... o "tic tic" da mudança das cargas lá dentro da caneta me deixava maravilhada (gente, juro que eu não era retardada, mas era novidade, então eu ficava maravilhada mesmo!).

Só que tem um pequeno detalhe que eu preciso confessar: Além de ser uma "pessoa que cai" (isso vocês já sabem!), eu também sempre fui, e sou até hoje, uma "pessoa que quebra as coisas"... Não sei o que acontece comigo, mas a vida inteira, era só eu pegar alguma coisa emprestada com alguém e, batata! O negócio quebrava! Já passei muitos apuros por conta disso, affffffffff...

Nem preciso dizer que não foi diferente com a Bic 4 Cores da Simone, né??? Eu estava lá em casa, passando o caderno à limpo, escrevia 2 linhas e me distraía brincando de mudar as cores da caneta, "tic tic" pra cá, "tic tic" pra lá, e daqui a pouco voa uma molinha que saiu não sei de onde... Assustei, mexi na caneta e vi que ela não estava mais funcionando, tinha travado em uma cor... Entrei em pânico, corri atrás da molinha, tentei descobrir de onde ela tinha se soltado, abri a caneta (girando-a ao meio), desmontei tudo, e aí que o negócio ficou pior, porque eu sequer consegui fechar a caneta novamente com todas as cargas dentro... Mexi em tudo que era possível tentanto consertar o mecanismo da troca de cores, mas não teve jeito... a caneta tinha mesmo quebrado!!!

Jesus Maria e José! O que eu ia fazer??? Minha mãe não podia nem sonhar que eu tinha pego uma "caneta tão cara" emprestada, porque minha mãe não gostava que a gente pegasse coisas emprestadas com os outros, e se soubesse que eu tinha pego a caneta e ainda por cima quebrado, nossa... comeria meu fígado!!!

E agora??? Eu não tinha alternativa... teria que tentar juntar o dinheiro pra comprar uma caneta nova pra Simone, mas isso demoraria, bem... demoraria um bocado!

Eu não ganhava mesada, nunca ganhei. Eu não ganhava dinheiro para o lanche porque a escola oferecia merenda (era tão ruim!), e no máximo meu pai me dava todo dia algo tipo 20 centavos, pra eu comprar um salgadinho na barraquinha da tia que ficava na porta da escola na hora da saída!

Fiz as contas... a Bic 4 Cores devia custar, sei lá, o equivalente a uns R$ 10,00 em dinheiro atual, portanto eu teria que juntar o dinheiro de 50 dias, ou 10 semanas, pra conseguir comprar uma caneta nova pra Simone! Considerando que tinha dias em que nem os 20 centavos meu pai me dava, considerando os dias não-letivos, caramba! Eu demoraria meses pra conseguir pagar a caneta! E agora???

No dia seguinte fui falar com a Simone... antes de pronunciar a primeira palavra, claro, eu já estava chorando (porque eu sou também uma pessoa "que chora", lembram?). Entre soluços e fungadas consegui dizer pra ela que a caneta tinha quebrado, e que eu não tinha como pagar uma nova imediatamente! O que eu lembro foi que ela arregalou os olhos e disse: "Nossa, e agora? Minha mãe vai me matar!"

Ou seja, éramos duas inocentes meninas na pré-adolescência com o maior problema de nossas vidas - a caneta Bic 4 Cores! Pensem num desespero!!!

A Simone me perguntou quando eu poderia comprar uma caneta nova, eu expliquei pra ela que não podia contar pra minha mãe senão ela me engoliria viva, mas que iria juntar o dinheirinho de todo dia, e tal... Daí ela perguntou em quanto tempo eu achava que conseguiria fazer isso, e, bem... não tive coragem de dizer pra ela que demoraria meses... Dei uma enrolada, disse que tentaria uma graninha extra com meu pai, e ela ficou de tentar enrolar a mãe dela também, pra que ninguém descobrisse nossa história da caneta!

A partir desse dia, minha vida na escola se tornou um martírio... Eu acordava já pensando na desculpa que daria pra Simone pra protelar a entrega da caneta nova por mais um dia, e assim por diante... Morria de medo de ela contar o que tinha acontecido pra mãe dela, e chegava a ter pesadelos imaginando a mãe dela indo falar com a minha mãe, e minha mãe acabando comigo... nossa... vocês não têm noção de como eu sofri com essa história!

Em geral a Simone era boazinha, ficava meio brava por eu enrolar mais um dia, e mais um dia, e mais um dia, mas foi levando... às vezes ficava mais estressada e ameaçava contar tudo pra mãe dela, daí eu implorava pra que ela não fizesse isso! E mais um dia se passava...

Bom, pra encurtar a história, de algum modo consegui sensibilizar minha amiguinha, e os meses acabaram passando... eu nunca que dava conta de juntar todo o dinheiro que era preciso pra comprar a caneta, mas estava me esforçando... E naquele ano, no último dia de aula, consegui devolver a Bic 4 Cores pra Simone... Ficamos praticamente o semestre inteiro vivendo em função do sofrimento da história da caneta, e nem eu, nem ela, tivemos nossos cadernos coloridinhos pelas 4 cores!

Recentemente nos reencontramos, eu e a Simone, e demos muita risada dessa história... Hoje em dia, ainda bem!, temos condições de ter quantas Bics 4 Cores desejarmos, essa caneta, aliás, já nem é mais "grande coisa", custa bem mais barato, e eu mesma, de tão traumatizada que fiquei, tenho praticamente uma coleção... rsrs... tem a Bic 2 Cores, a Bic 3 Cores, a Bic 4 Cores e até a Bic 10 Cores!

Que saudade do tempo em que meu maior problema era ter que pagar uma caneta!

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Filhos de Quem???

Fato nº 1:
Num restaurante bacana frequentado por um público de classe média-alta nos arredores de um famoso condomínio de SP, observo uma mesa grande, com umas 12, talvez 15 pessoas almoçando. É domingo, e logo fica evidente que trata-se de uma reunião familiar, já que todos demonstram bastante intimidade uns com os outros, há crianças correndo pra cá e pra lá, e o clima é realmente bem descontraído. Prestando um pouco mais de atenção nessa turma, reconheço dois rostos, não por serem conhecidos meus, mas por serem "celebridades". Um casal "célebre" confraternizando com a família num domingo - sim, eles são "mortais", e um detalhe especificamente me chamou a atenção: A esposa, que é também mãe de duas crianças lindas e bem danadas, coloca-se de pé ao lado do cadeirão do filho de uns 3 anos, e fica ali cortando seu alimento em pequenos pedaços, chegando a dar-lhe colheradas na boca, enquanto conversa com os demais à mesa. Também observo o pai correndo atrás de um outro garotinho - talvez sobrinho, se desculpa com alguém da mesa ao lado por conta da bagunça da criançada, pega uma revistinha e começa a colori-la com a filha mais velha, tudo ao mesmo tempo, enquanto comem, enquanto conversam, enquanto confraternizam. O menor derruba o copo com refrigerante e a mãe logo o leva ao banheiro provavelmente para tentar dar um jeito na sujeira, e no meio dessa bagunça toda eles conversam, almoçam, riem, tiram fotos, etc, etc, etc.

Fato nº 2:
No mesmo restaurante e no mesmo horário (domingo - hora do almoço), observo uma outra mesa onde também parece estar ocorrendo um almoço familiar. É um pouco menor que a mesa citada no fato acima, mas dá pra perceber que estão almoçando juntos ali pelo menos 3 gerações de uma mesma família - ouvi uma das crianças chamando uma das moças de "mãe" e uma outra de "vovó". Nesta mesa, no entanto, observo a mãe, a avó e mais três moças (assim como o pai, o avô e mais dois rapazes) impecáveis em suas poses de "elegantes à mesa", conversam concentradamente algo que parece ser meio sério e meio divertido, talvez negócios, e as crianças (3 ao todo) correm pra lá e pra cá, dando um verdadeiro baile na Babá, que tenta aquietá-los, tenta colocá-los à mesa para comerem, e ouve eventuais broncas da moça que parece ser a mãe de pelo menos duas das crianças, coisas do tipo "Não deixe o "fulaninho" ficar correndo! Faça-o comer alguma coisa! Faça-o parar de bater na mesa! Está nos atrapalhando!".

Fato nº 3:
Ainda no domingo, agora já no final da tarde, observo a movimentação em uma grande sala de Cinema da mesma região do restaurante citado nos fatos acima. Sessão de cinco horas da tarde de um filme infantil, e a bilheteria está bombando. Entrei cedo na sala e pude colocar-me lá no alto, na última fileira, uns 15 minutos antes de a sessão começar, e dali pude observar todo o movimento da sala até o começo do filme. Entram duas moças vestidas de branco dos pés à cabeça, o que deixa claro que são Babás - até porque estão acompanhadas de 3 crianças com idades entre 3 e 9 anos, aparentemente. Elas colocam as crianças sentadas uma ao lado da outra, uma das moças senta-se também enquanto a outra sai para voltar minutos depois carregando pipocas e refrigerantes (são duas viagens ao todo para conseguir trazer a pipoca e o refrigerante das 3 crianças). Ouço uma das crianças espernear: "Cadê minha mãe? Eu quero minha mãe!", ao que a Babá tenta acalmá-lo, justificando: "Sua mãe foi ver o outro filme com o seu pai, vamos encontrá-los quando este aqui terminar, fique quieto!".

Fato nº 4:
Ainda é domingo, agora fim de noite e eu já estou no aconchego do meu lar assistindo "Fantástico". Então aparece a chamada da matéria: "Polêmica: Babás devem ou não poder entrar nas piscinas dos condomínios?". O caso é o seguinte: Vários condomínios de luxo têm enfrentado problemas com as "regras" de acesso às suas piscinas, especialmente com relação ao acesso de Babás. Segundo os síndicos e maioria dos moradores, somente devem ter acesso às piscinas os moradores e seus convidados, ninguém mais. Eles entendem que as Babás, enquanto serviçais, não podem desfrutar da mesma piscina que eles, e que portanto devem ter a entrada na piscina proibida. Questionados sobre como as babás podem cuidar das crianças (filhas dos condôminos) na piscina se nela não podem entrar, alguns síndicos e moradores argumentaram que ela deve cuidar da criança do lado de fora da piscina, e ponto final. Nada de entrar na água! Como o assunto é polêmico, o Fantástico fez uma enquete daquelas em que o público vota pelo telefone durante alguns minutos, e o resultado da enquete foi que 59% do público que votou é à favor da liberação da piscina para as Babás.

Fato nº 5:
Artigo 5º da Constituição Federal do Brasil:
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
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Pois bem. Vamos à análise dos "fatos".

Antes de mais nada, temos aqui situações relativas à maternidade/paternidade e seus "encargos".

E neste particular, me vem imediatamente uma pergunta inevitável:

"O que é ser mãe e/ou pai?"

Alguns dirão que é conceber e pôr uma criança no mundo, outros dirão que é bancar essa criança financeiramente para que ela tenha o mínimo de que precisa para viver, outros dirão que é dar amor incondicional à criança para que ela cresca feliz mesmo que passe por eventuais privações, outros dirão ainda que é guiar essa criança pelo caminho certo, ensinando-lhe lições de vida, também haverá os que dirão que é levar essa criança para passear, ter acesso a coisas simples e outras não tão simples, dirão também que é renunciar pra sempre à sua vida de antes em função de uma nova vida, enfim... há muito mais respostas do que se pode imaginar para essa perguntinha tão simples e aparentemente óbvia.

Eu, particularmente, responderia que é tudo isso que tá escrito aí no parágrafo anterior, e mais um zilhão de coisas que não consigo transformar em palavras pra escrever aqui agora.

O fato é que ser mãe/pai é provavelmente o maior desafio pelo qual uma pessoa pode passar na vida. E também a maior responsabilidade que se tem na vida. Porque ser mãe/pai não é pra qualquer um, não é qualquer um que tem capacidade para receber tal encargo e dar conta do recado.

Infelizmente, a natureza não faz essa "seleção prévia", de modo que muitos seres completamente desprovidos da capacidade de criar uma vida acabam recebendo este "encargo", e talvez seja esse um dos principais pontos de problema do mundo atual. Sim, porque, acreditem, existem muitos e muitos "filhos do nada" crescendo por aí, uns filhos da miséria absoluta (material e moral) - caso das classes mais baixas, e outros filhos de um mundo completamente materialista e sem sentimentos, sem vínculos afetivos reais - caso das classes mais altas.

Vamos então a outra pergunta:

"O que faz uma mãe/pai entregar a criação, educação e cuidados de seu(s) filho(s) a uma Babá?"

Calma! Calma! Antes que me apedrejem, eu sei que a primeira razão disso é a necessidade de trabalhar e prover o sustento da família, o que é o motivo mais nobre para tal escolha e provavelmente o mais justo. Eu mesma já precisei me valer de tal profissional muitas e muitas vezes, e admiro e valorizo demais essas grandes mulheres que muitas vezes deixam seus próprios filhos em casa para - trabalhando - cuidar dos filhos alheios, devotando cuidados, carinho, amor! Excetuando-se aquelas dos casos policiais que vimos eventualmente nos noticiários, a grande maioria das Babás são mulheres guerreiras que merecem todo o nosso respeito!

Entretanto, eu também acho que a função da Babá é cuidar dos nossos filhos enquanto não estamos presentes fisicamente, enquanto não podemos fazê-lo pessoalmente porque estamos lá, no escritório, trabalhando como loucos para incrementar o orçamento familiar no final do mês. Mas, uma vez que estamos num dia de folga do trabalho, como finais de semana, feriados, férias, etc., eu não vejo razão para que a babá faça aquela tarefa que por essência é da mãe e/ou do pai!

Porque ter filho para nunca trocar uma fralda, nunca ter a roupa vomitada, nunca dar um banho, nunca tomar uma cusparada na cara de papinha que a criança se recusa a comer, é fácil demais! E eu vou mais longe! Ter um filho apenas para bancar, dando tudo que ele precisa materialmente, mas nem um único minuto de atenção e cuidado pessoal, além de ser fácil demais, deveria ser considerado crime!

Já ouvi algumas "madames" dizerem: "Ué, mas se eu posso pagar uma babá para me livrar desses trabalhos braçais com crianças, porque é que não deveria fazê-lo?".

Eu respondo: Não deveria, cara senhora, porque o amor que a gente passa para um filho está em cada pequeno gesto cotidiano, e não apenas num beijinho gélido eventualmente! E ter um filho implica em cuidá-lo desde a mais tenra idade, mesmo que exista condições de se manter uma funcionária para desempenhar essa função! E ter um filho não é só mostrar crianças lindas, bem vestidas e bem asseadas em reuniões sociais - é contribuir com as próprias mãos para que as crianças estejam bem vestidas e bem asseadas!

Eu já vi muito absurdo maternal (e paternal) desde que comecei a prestar mais atenção nesse assunto (mais precisamente desde que me tornei mãe). Hoje foi um desses dias.

Como citei no fato nº 1, embora a mãe e o pai sejam pessoas de posses consideráveis (suposição minha, de acordo com a "fama" do casal), embora sejam pessoas famosas, jovens, bonitas, ainda assim eles deram folga para a Babá e foram curtir o almoço em família com os próprios filhos, cuidando pessoalmente do que comeriam, sujeitando-se ao banho de coca-cola do copo virado, tendo que correr atrás do pequeno mais danado que não parava quieto, e faziam isso, a gente via, com enorme prazer. Provavelmente porque trabalham muito e têm raras oportunidades de curtir os filhos com tanta intimidade, provavelmente porque adoram estar com os filhos e se envolver em todas as confusões que são naturais quando se está com criança em um lugar público. Quem tem filho sabe, é impossível sai pra almoçar ou jantar como antigamente, porque criança sempre derruba alguma coisa, sempre faz alguma sujeira, sempre nos faz passar algum constrangimento, mas isso tudo faz parte, sabe? E são esses momentos que acabam ficando guardados pra sempre, porque não importa a quantidade de tempo que se passa com um filho, isso é clichê, eu sei, mas o que importa mesmo é a qualidade desse tempo! Vi isso hoje muito didaticamente no fato nº 1. Aplausos!

Já considerando o fato nº 2, ocorrido no mesmo local e em condições muito próximas, temos um exemplo deprimente do que é ter um filho só para os outros verem. Sei que posso estar sendo precipitada em julgar essa família que mencionei, mas a situação ficou muito clara pra mim em poucos minutos. Que tipo de pai e mãe precisam carregar a babá dos filhos junto em um almoço familiar de domingo? Que tipo de pai e mãe se julgam incapazes o bastante para lidar com seus próprios filhos a ponto de ter que pagar a hora extra da Babá para que ela os acompanhe ao restaurante fino? Que tipo de pai e mãe consegue sentar, conversar e comer como se estivessem a sós entre adultos, ingorando completamente os próprios filhos, limitando-se a dar ordens óbvias à Babá? Que tipo de pai e mãe não se presta sequer a dar o almoço do próprio filho, a levá-lo ao banheiro, enfim, a dar-lhe uns poucos segundos de atenção?

A resposta: O pior tipo de mãe/pai que existe. Aquele que acha que ter filhos é entregá-los para os cuidados pessoais da Babá, entregar a educação para o Colégio mais caro, e suprir a necessidade de lazer com os melhores passeios, viagens à Disney, etc, sempre na companhia da Babá, porque eles - pais - são ocupados demais para perderem tempo com filhos! No máximo o fazem de vez em quando, pra fazer uma "média" social, então limitam-se a eventuais aparições públicas na companhia dos filhos, sempre escoltados pela moça da roupa branca, a Babá!

Conheço mães e histórias de mães que têm 2, 3 ou 4 filhos e nunca trocaram uma fralda, nunca deram um banho, nunca deram uma papinha! São histórias verdadeiras, por mais absurdo que isso possa parecer! Conheço mães que já saem da maternidade escoltadas pela babá, e que não dão atenção integral ao filho nem mesmo nos seus primeiros dias de vida! E eu tenho ódio dessas pessoas, porque graças a elas haverá no futuro uma porção de playboyzinhos revoltados que saem por aí tocando fogo em mendigo e prostituta (vocês acham que a origem desse comportamento bizarro de alguns jovens das classes média e alta está onde? Na falta de amor, sem sombra de dúvida!).

O fato nº 3 é exatamente a mesma coisa. Que tipo de pai/mãe sai pra fazer um programa de domingo como "pegar um cineminha" com os filhos, mas despeja-os na sala do filme infantil com as babás para assistirem sossegados algum outro filme adulto? Eu, juro pra vocês, não consigo entender, de jeito nenhum!

Filme infantil pode ser um porre às vezes??? Sim, claro que sim!!! Mas as crianças gostam, e, afinal, elas não pediram pra vir ao mundo, têm direito de se divertirem tanto quanto nós, e faz parte do papel de mãe e pai ir lá pagar mico no show do Barney, no cinema infantil, na peça de teatro de humor pueril, enfim... É o nosso papel enquanto pai e mãe, e sempre uma oportunidade de trocar lições, carinho, dar segurança. Eu mesma, quantas vezes vou ao cinema com meu filho ver algum desenho chatinho, mas acabo morrendo de rir de ver a felicidade dele, as gargalhadas, de escutar as gargalhadas das outras crianças e escutar os comentários inusitados que sempre soltam! Jamais eu deixaria uma babá desfrutar disso no meu lugar, jamais!!! Como pode ter gente que abre mão de momentos de pequeno prazer assim, sem o menor apego??? Não me conformo! Essas mães são incapazes de ficar 5 minutos a sós com os filhos, porque não têm a menor idéia de como agir com eles!!!

Daí, como se não bastasse tanta demonstração pública de desafeto que eu presenciei no meu inocente domingo, tanta demonstração de mãe e pai que deviam ter sido impedidos de gerar uma vida um dia, ainda chego em casa e me deparo com essa história da "polêmica das babás nas piscinas".

Que ódio!!! Que ódio desse povo medíocre, mesquinho, preconceituoso!!!

Que ódio desse povo metido a besta que só tem dinheiro, e mais nada na vida!!!

Que ódio desse povo que acha que é melhor do que os outros porque mora num condomínio de "luxo" e não quer ver a água de suas piscinas "contaminada" com a pobreza associada às babás! Uns nazistas dos tempos modernos que acham que não podem se misturar com pessoas de outra classe!
Eles esquecem, esses imbecis, que são essas babás "podres", essas que eles não querem que entrem em suas piscinas, que estão lá, no dia a dia, cuidando, amando e educando seus filhos! Eles esquecem que são essas babás que eles tanto recriminam que dão a atenção que os filhos deles precisam, enquanto eles estão ocupados demais pra pensar em qualquer coisa associada aos filhos!

Uma síndica abordada na resportagem disse: "Ué, a babá coloca a bóia de braço da criança e acompanha do lado de fora da piscina! Assim pode ser! Ela só não pode entrar na nossa piscina!"...

Cretina!!! Maldita!!! Lixo de gente!!!

Se os visitantes dos condôminos podem usar a piscina, porque é que as babás não podem, no exercício de suas funções, diga-se de passagem? Isso é sim discriminação social!!! Coisa que acontece o tempo todo nesse nosso pais de merda, mas que todo mundo finge que não vê porque é politicamente correto dizer que não há preconceito!

E sabe o pior? Na tal enquete que o Fantástico fez, apenas 59% do público manifestou-se a favor da liberação das babás para utilizarem as piscinas! O que significa que há uma escória de 41% de gente que acha "normal" uma proibição idiota dessas! 41%!!! É gente demais concordando com o preconceito social, é gente demais achando que é melhor do que uma babá só porque tem uma condição financeira melhor!

Eu tenho ódio, porque penso que são essas babás discriminadas que limpam a bunda dos filhos desses imbecis, são essas babás discriminadas que consolam os filhos desse idiotas quando eles choram de saudade dos pais que nunca chegam cedo do trabalho, são essas babás discriminadas que criam essas crianças, aguentam suas travessuras, suas pirraças, suas birras... Enquanto os pais fazem pose de "pais exemplares" pra inglês ver, substituem os momentos de afeto por brinquedos caros e passeios extravagantes, substituem a sua presença por aquilo que seu dinheiro pode comprar...

E criam essas crianças cada vez mais insuportáveis, carentes, crescem sem conhecer o amor, são filhos do nada, que um dia se tornarão adultos igualmente desprezíveis, pessoas odiáveis, que só tornarão nosso mundo um lugar pior pra se viver, porque serão fruto daquele meio odioso em que foram criadas!


Filhos de Quem??????????

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Acabou a Folia!

Pois é... acabou a putaria... ops! Acabou a folia!!!

Quarta-feira de cinzas, hora de recobrar a sobriedade, recuperar a compostura e recomeçar a vida real...

Muitos estão ainda com dor de cabeça e ressaca da bebedeira, outros com bolhas nos pés de tanto pular, outros desarrumando as malas da viagem à praia frustrada por conta do tempo nublado, e outros simplesmente estão tirando as lascas de mofo que se formaram no corpo de tanto curtir preguiça em casa (o meu caso, por exemplo).

Portanto, é hora de encerrar o assunto "libertinagem"... Ainda estou no começo do livro, cheguei apenas à Letra D, e já postei aqui algumas historinhas curiosas sobre o comportamento devasso dos nossos antepassados... Mas chega, né? Vou guardar esse tema pra quando faltar assunto de novo...

Maaaasssss....

Eu não poderia deixar de encerrar o tema "Carnaval" com algumas observações e/ou perguntinhas que não querem calar, que me deixaram realmente intrigada nesse meu Carnaval televisivo repleto de bizarrices:

* Algumas "figuras" que só aparecem no Carnaval: Mulata Globeleza, Terra Samba, Renata Banhara, Luma de Oliveira (ela sumiu esse ano!), Luisa Brunet (apareceu antes porque participou da patinação no gelo do Faustão), Ângela Bismarchi, Neguinho da Beija Flor, Netinho (aquele locutor que apresenta a programação da Band), o outro Netinho (aquele da Milla) e várias outras "sub-celebridades" que nessa época de folia tiram até a última peça de roupa se preciso for pra tirar uma lasquinha da mídia...

* Alguém já tinha ouvido falar em "Rapazolla", "Motumbo" (ou será que é Mutamba?), e Psirico??? Acreditem, são "bandas" lá de Salvador que puxam seus trios elétricos e cujos abadás custam uma fortuna - tá cheio de gente querendo correr atrás do "Psirico", pensem!

* Sabe aquele menino de cabelo vermelho que ganhou o programa Ídolos brasileiro, o Leandro? Então, gente! A grande notícia do Carnaval: Ele vai substituir o "Tomate" (quem???) como vocalista do Rapazolla (hã???). Furo de reportagem do "Band Folia"... hahaha

* Sabe aquele locutor esportivo gordão, o Luciano do Valle??? Então, gente! Descobri que ele agora é locutor de Carnaval - de Recife!!! Será que isso é um avanço na carreira??? Tipo, será que todo Galvão Bueno da vida sonha em um dia transmitir o Band Folia???

* Alguém já tinha ouvido falar em "Guilherme e Santiago"??? Então, descobri que eles são uma dupla sertaneja, e, pasmem: Fizeram uma apariçãozinha em um dos trios elétricos lá em Salvador... Aliás, vi que também o (eca!) Bruno e Marrone deram pinta por lá... É a música sertaneja invadindo o Carnaval... tipo, o "bom" juntando com o "ótimo", sabe... deve ser uma coisa de louco.... Ouvir sertanejo em ritmo de axé ou vice versa... Socorro!!!

* E o Xandy, marido da Carla Perez... Tava fantasiado do que mesmo??? Tinha uma capa, algo como um "super herói", sei lá o que era... Daí fiquei sabendo que ele tentou voar, e acabou caindo do Trio Elétrico... Ninguém avisou o moço que era só uma fantasia???

* E por falar nisso, onde se enfiou a Carla Perez nesse Carnaval, heim???

* E a Astrid Fontinelle, que era a "musa" das transmissões da Band... o que fizeram com ela???

* E quem foi que deu êxcstase para o Senador Suplicy??? Vocês viram ele sambando no desfile da Vai-Vai??? Piradíssimo!!! No mínimo rolou um lança-perfume... certeza!!!

* E alguém sabe me explicar por que é que a "Mulata Globeleza" tem aquele cabelinho chanel com franja de japonesa???

* E, pra terminar, lanço um desafio: Tente assistir às transmissões do Carnaval da Bahia por um dia inteiro... Tente contar quantas vezes você vai escutar a expressão: "Bate na palma da mão!"... Sério... não dá pra contar!!! Eles cantam "Arerê, bate na palma da mão! Olelê, bate na palma da mão! Rebola-bola, bate na palma da mão! Blablabla, bate na palma da mão!"...

É a criatividade do Carnaval! Agora, só no ano que vem!!!


E vamos trabalhar, que a vida continua, meio sem graça, mas continua!

Cinco Mil Anos de Libertinagem - III

BALTASAR COSSA (1370 - 1419)
Papa

("") Baltassar Cossa, como papa, tomou o nome de João XXIII, bem diferente do João XXIII do Século XX.
Extremamente devasso, foi processado e deposto, havendo confessado na corte papalina os crimes de notório incesto, adultério, corrupção, homicídio e ateísmo.
Quando na qualidade de camareiro-mor de Bonifácio IX, ele escandalizou Roma mantendo como sua concubina a mulher do seu próprio irmão. O remédio adotado foi rebaixá-lo a cardeal e mandá-lo como núncio a Bolonha, onde duzentas donzelas, matronas e viúvas, e também um punhado de freiras, sucumbiram à sua brutal luxúria.("")

BILL CLINTON (1946 - )
Presidente dos E.U.A.

("")Bastante ardente, o presidente Bill Clinton esteve seriamente ameaçado de perder o mandato, por ter praticado atos de luxúria com a estagiária Mônica Lewinsky em plena Casa Branca.
Mônica havia executado a felação no presidente, e depois "botou a boca no trombone", causando, em consequência, um dos maiores escândalos sexuais daquele país no século XX. Enquanto durou o escândalo a mulher do presidente comportou-se com louvável discrição, e sempre ao lado do marido, que apoiou.("")

CARLOS II (1630 - 1685)
Rei da Inglaterra

("") Libertino como poucos, esse rei inglês presenteou a família Moray com uma peruca inteiramente elaborada de cabeleiras pubianas das suas numerosas amantes, em sinal de gratidão por serviços recebidos da mencionada família.
Foi amante da cortesã fancesa Luísa Keroualle, que Luís XIV lhe mandara para entretê-lo e "amaciá-lo", tendo em vista um iminente tratado que os dois soberanos iam assinar.("")

CARY GRANT (1904 - )
Ator de Cinema

("") Consta que esse viril artista levou para sua cama mais de mil mulheres diferentes. Seu verdadeiro nome era Archibald Alexander Leach.("")

CONVENTO DE COLÔNIA
Zoofilia

("") Em certo período da Idade Média propalava-se, em Colônia, cidade da Alemanha, que o Diabo andava pelas bandas do convento fazendo desatinos. Mais tarde, porém, descobriram o culpado: um grande cachorro amestrado pelas freiras, com a finalidade de satisfazer-lhes o instinto sexual. Já acostumado, o animal levantava o hábito das religiosas, causando-lhes sérios vexames. ("")