segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

And The Dona Farta´s Oscar Goes To

Tá chegando, tá chegando! Já falei aqui várias vezes e repito pra quem ainda não entendeu a razão de tanto barulho: Eu A-D-O-R-O o Oscar. Adoro a festa, o glamour, a expectativa, os indicados, tudo!

Pra estar o máximo possível atualizada sobre tudo que vai rolar logo mais fiz nos últimos dias uma verdadeira "Maratona Pré-Oscar", tentando ver o máximo de filmes concorrentes possível, pra poder concordar ou discordar dos premiados com conhecimento de causa.

Infelizmente ainda faltaram filmes importantes para eu fechar completamente a lista dos indicados às categorias principais, mas consegui pelo menos ver todos os 5 filmes indicados às categorias principais de melhor filme e melhor diretor, então já estou melhor do que em anos anteriores.

Por isso mesmo, vou fazer aqui uma prévia e dar o Oscar para os meus preferidos, chutando nas categorias que eu não vi todos os concorrentes, e depois eu confiro junto com vocês como estou de palpite. Normalmente eu erro muito, mas... vamos à minha lista (e a ordem em que vou listar os concorrentes reflete também a minha ordem de preferência):

UPDATE: Já foi, e eu errei muito, como sempre...

Foram 12 Acertos, 11 Erros e 1 Categoria (Fotografia) que eu nem percebi que esqueci de listar qando fiz o post... Então foi 50/50, mantive minha média mas, à exceção daqueles casos em que escolhi no chute, de resto mantenho minha opinião, e algumas injustiças foram feitas. Aliás, achei que O Curioso Caso de Benjamin Button foi o grande injustiçado da noite, merecia mais do que a mixaria que ganhou, mas... é assim mesmo, isso sempre acontece! Segue a minha conferência:


MELHOR FILME:

And The Dona Farta´s Oscar Goes To:
O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON. E eis aí uma decisão difícil de tomar. Vi todos os indicados, e são todos excelentes filmes, não há diferenças qualitativas gritantes este ano como em anos passados. Eu fiquei muito dividida, e acabou vencendo pra mim Benjamin Button pelo conjunto da obra mesmo, por ser um filme absolutamente completo, mas vou ficar igualmente satisfeita se a estatueta for para Quem Quer Ser um Milionário ou O Leitor.
ERREI. Ganhou "QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO"


MELHOR DIRETOR:
Danny Boyle - “Quem quer ser um milionário?”;
David Fincger - "O Curioso Caso de Benjamin Button";
Stephen Daldry - "O Leitor";
Gus Van Sant - "Milk - A Voz da Igualdade";
Ron Howard - “Frost/Nixon”.

And The Dona Farta´s Oscar Goes To:
DANNY BOYLE, por Quem Quer Ser um Milionário?. Foi a maneira que encontrei de "dividir" minha preferência entre este filme e Benjamin Button. Se o último é um filme mais completo, como escrevi acima, por outro lado Quem Quer Ser um Milionário? é um filme que tem um percentual muito maior de seus sucesso, na minha opinião, nas mãos da direção que foi, sem sombra de dúvidas, extremamente competente diante do desafio de filmar da Índia e com tantos figurantes.
ACERTEI!


MELHOR ATOR:
Brad Pitt - "O Curioso Caso de Benjamin Button";
Sean Penn - "Milk - A Voz da Igualdade";
Frank Langella - "Frost / Nixon".
Richard Jenkins - "The Visitor";
Mickey Rourke - “O Lutador”

And The Dona Farta´s Oscar Goes To:
BRAD PITT, por "O Curioso Caso de Benjamin Button". Da lista dos indicados, não vi a atuação de Richard Jenkins em The Visitor, mas acho pouco provável que esta atuação fosse alterar a minha preferência nesta categoria. Sean Penn está bárbaro, assim como Frank Langella, mas se há um momento em que Brad Pitt merece ser premiado, este momento é agora, porque foi sem dúvida um trabalho sensacional e muito devotado de Pitt, que deve ser reconhecido com o prêmio.
ERREI. Ganhou "SEAN PENN"


MELHOR ATRIZ:
Kate Winslet - "O Leitor";
Meryl Streep - “Dúvida”;
Angelina Jolie - "A Troca";
Anne Hathaway - "O Casamento de Rachel";
Melissa Leo - "Rio Congelado".

And The Dona Farta´s Oscar Goes To:
KATE WINSLET, por "O Leitor". Nesta categoria também não consegui ver todas as concorrentes (faltou Melissa Leo e Anne Hathaway), mas estou segura dos méritos de Kate Winslet, embora digam por aí que Anne Hathaway possa ser a favorita. É uma categoria de nível altíssimo este ano, é muito difícil comparar atuações tão intensas, mas até pelo conjunto da obra chegou a vez de Kate, e é por ela minha torcida!
ACERTEI!


MELHOR ATOR COADJUVANTE:
Heath Ledger - “Batman – O Cavaleiro das Trevas”;
Michael Shannon - "Foi Apenas Um Sonho";
Philip Seymour Hoffman - "Dúvida";
Josh Brolin - "Milk - A Voz da Igualdade";
Robert Downey Jr. - "Trovão tropical"

And The Dona Farta´s Oscar Goes To:
HEATH LEDGER, por "Batman O Cavaleiro das Trevas". Tendo assistido as atuações de quase todos os indicados (exceção a Robert Downey Jr.), fiquei mais convicta do que nunca que o Oscar póstumo de Heath Ledger será o grande momento desta noite. Ledger foi um grande ator de sua geração que, apesar da curta carreira abruptamente interrompida pela tragédia, escreveu seu nome na história do cinema com atuações memoráveis. Eu já torcia por ele na época de O Segredo de Brockeback Mountain, e depois de vê-lo reinventando o Coringa já tão imortalizado por outros grandes atores, não tenho dúvidas de que só haverá justiça nesta categoria se Heath Ledger receber esta justa homenagem.
ACERTEI!


MELHOR ATRIZ COADJUVANTE:
Viola Davis - "Dúvida";
Penélope Cruz - "Vicky Cristina Barcelona";
Amy Adams - "Dúvida";
Taraji P. Henson - "O Curioso Caso de Benjamin Button"
Marisa Tomei - "O Lutador"

And The Dona Farta´s Oscar Goes To:
VIOLA DAVIS, por Dúvida. Aqui, outro páreo duro entre as 3 primeiras citadas na minha lista. Nesta categoria consegui assistir a performance de todas as indicadas, e acho que Taraji P. Henson e Marisa Tomei estão apenas "tapando buraco". Há quem diga que Marisa Tomei pode ser uma das surpresas da noite, e eu espero que não! Viola Davis tem apenas uma longa cena no excelente filme Dúvida, e ter recebido a indicação por ter colocado todo o seu talento a serviço de uma personagem com tantas limintações de atuação é sem dúvida digno de reconhecimento.
ERREI. Ganhou "PENÉLOPE CRUZ"


MELHOR LONGA DE ANIMAÇÃO:
Wall.E;
Bolt - Supercão;
Kung Fu Panda.

And The Dona Farta´s Oscar Goes To:
WALL.E. Esta categoria é uma barbada, Wall.E é provavelmente uma das melhores animações dos últimos anos, e não há a menor chance para os outros dois. Aliás, taí uma animação para crianças e adultos cheia de recursos visuais fantásticos mas, muito mais do que isso, cheia de importantes ensinamentos que deveriam ser obsevados por todo mundo. Se não viu, veja!
ACERTEI!


MELHOR FILME DE LÍNGUA ESTRANGEIRA:
Revanche -Áustria;
The class - França;
The Baader Meinhof Complex - Alemanha;
Waltz with Bashir - Israel;
Departures - Japão.

And The Dona Farta´s Oscar Goes To:
REVANCHE, da Áustria, e aqui o meu palpite é totalmente no chutômetro, já que não pude ver nenhum dos indicados.
ERREI. Ganhou "DEPARTURES"


MELHOR ROTEIRO ORIGINAL:
Wall.E;
Milk - A Voz da Igualdade;
Rio Congelado;
Na mira do chefe;
Happy-go-lucky.

And The Dona Farta´s Oscar Goes To:
WALL.E. Tudo bem que eu só vi os dois primeiros da lista, e posso estar cometendo alguma injustiça, mas, além de ser apenas um palpite, posso dizer que o roteiro de Wall.E é icrível, e por gostar demais dessa animação vou fazer figa e torcer para que leve o prêmio!
ERREI. Ganhou "MILK - A VOZ DA IGUALDADE"


MELHOR ROTEIRO ADAPTADO:
Quem Quer Ser Um Milionário?;
O Curioso Caso de Benjamin Button;
O Leitor;
Frost / Nixon;
Dúvida.

And The Dona Farta´s Oscar Goes To:
QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO?. Páreo duríssimo, todos os indicados possuem roteiros impecáveis que tornam a disputa dificílima, e qualquer surpresa é possível quando for revelado o premiado. Fico com Quem Quer Ser um Milionário apenas por ser fã do filme, meu critério de desempate nesta categoria.
ACERTEI!


MELHOR DIREÇÃO DE ARTE:
O Curioso Caso de Benjamin Button;
Batman - O Cavaleiro das Trevas;
A troca;
Foi Apenas Um Sonho;
A duquesa.

And The Dona Farta´s Oscas Goes To:
O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON. Sem dúvida é o merecedor nesta categoria, porque o filme é uma obra de arte irrepreensível.
ACERTEI!


MELHOR MIXAGEM DE SOM:
Batman – O Cavaleiro das Trevas;
Quem Quer Ser Um Milionário?;
O Curioso Caso de Benjamin Button;
Wall.E;
Procurado.

And The Dona Farta´s Oscar Goes To:
BATMAN - O CAVALEIRO DAS TREVAS. Eis uma categoria técnica que eu não tenho a menor idéia de como deve ser avaliada. Por isso mesmo minha opção é puro chute, só para tentar sair dos grandes favoritos nas demais categorias e votar mais uma vez num grande filme que merece mais do que só indicações.
ERREI. Ganhou "QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO?"


MELHOR EDIÇÃO DE SOM:
Quem Quer Ser um Milionário?;
Batman – O cavaleiro das trevas;
Wall.E;
Homem de Ferro;
Procurado.

And The Dona Farta´s Oscar Goes To:
QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO? Outro chute, porque sou incapaz de saber diferenciar a edição de som de um filme do outro. Na verdade nem sei muito bem a diferença entre edição de som e mixagem de som, então...
ERREI. Ganhou "BATMAN - O CAVALEIRO DAS TREVAS"


MELHOR TRILHA SONORA ORIGINAL:
A. R. Rahman - "Quem Quer Ser Um Milionário?";
Danny Elfman - "Milk - A Voz da Igualdade";
Thomas Newman - "Wall.E";
Alexandre Desplat - “O Curioso Caso de Benjamin Button”;
James Newton Howard – "Defiance".

And The Dona Farta´s Oscar Goes To:
A. R. RAHMAN, por Quem Quer Ser um Milionário? Simplesmente porque a Trilha Sonora deste filme é fantástica, contagiante, uma delícia!
ACERTEI!


MELHOR CANÇÃO ORIGINAL:
O Saya - "Quem Quer Ser Um Milionário?";
Jai Ho - "Quem Quer Ser Um Milionário?";
Down to Earth - “Wall.E”.

And The Dona Farta´s Oscar Goes To:
O SAYA ou JAY HO, e não vou escolher apenas uma porque na verdade nunca sei qual é uma e qual é outra, só o que sei é que as canções de Quem Quer Ser Um Milionário são ótimas, e o prêmio irá para uma das duas, com certeza!
ACERTEI!


MELHOR FIGURINO:
A Duquesa;
Milk - A Voz da Igualdade;
O Curioso Caso de Benjamin Button;
Foi Apenas Um Sonho;
Austrália.

And The Dona Farta´s Oscar Goes To:
A DUQUESA. Não vi o filme, e estou chutando apenas porque filmes de época costumam levar este prêmio. Na verdade todos os indicados são "de época", mas A Duquesa é de uma época mais distante, digamos assim.
ACERTEI!


MELHOR DOCUMENTÁRIO DE LONGA-METRAGEM:
The Betrayal;
Encounters At The End Of The World;
The Garden;
Man On Wire;
Trouble The Water.

And The Dona Farta´s Oscar Goes To:
THE BETRAYAL, no chute total.
ERREI. Ganhou "MAN ON WIRE"


MELHOR DOCUMENTÁRIO DE CURTA-METRAGEM:
The Conscience Of Nhem En;
The Final Inch;
Smile Pinki;
The Witness - From the balcony of room 306.

And The Dona Farta´s Oscar Goes To:
THE CONSCIENCE OF NHEM EN, outro grande chute.
ERREI. Ganhou "SMILE PINKI"


MELHOR EDIÇÃO / MONTAGEM:
Milk - A Voz da Igualdade;
O Curioso Caso de Benjamin Button;
Quem Quer Ser um Milionário?;
Batman – O Cavaleiro das Trevas;
Frost/Nixon;

And The Dona Farta´s Oscar Goes To:
MILK - A VOZ DA IGUALDADE. Embora eu não tenha qualificação técnica para avaliar a edição de um filme e de outro, fiquei muito impressionada com a edição de Milk, principalmente por mesclar imagens reais com imagens fictícias sem nos deixar perceber uma coisa ou outra. Se eu não estiver absolutamente enganada, isso é mérito da edição, então: Oscar pra Milk!
ERREI. Ganhou "QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO?"


MELHORES EFEITOS VISUAIS:
O Curioso Caso de Benjamin Button;
Batman - O Cavaleiro das Trevas;
Homem de Ferro.

And The Dona Farta´s Oscar Goes To:
O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON. Acho que é barbada essa categoria. Batman é excelente e tem efeitos especiais incríveis, mas Benjamin Button é um verdadeiro milagre dos efeitos especiais. Já ganhou!
ACERTEI!


MELHOR MAQUIAGEM:
O Curioso Caso de Benjamin Button;
Batman – O Cavaleiro das Trevas”;
Hellboy II – O Exército Dourado.

And The Dona Farta´s Oscar Goes To:
O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON. É bem verdade que Batman tem seu mérito principalmente por Coringa, que foi recriado graças ao talento de Heath Ledger e a um trabaho primoroso de maquiagem. Mas ainda assim acho que Benjamin Button leva essa.
ACERTEI!


MELHOR ANIMAÇÃO DE CURTA-METRAGEM:
Lavatory - Lovestory;
La Maison En Petits Cubes;
Oktapodi;
Presto;
This Way Up.

And The Dona Farta´s Oscar Goes To:
LAVATORY - LOVESTORY. No chute, e porque gostei do nome!
ERREI. Ganhou "LA MAISON EN PETITS CUBES"


MELHOR CURTA-METRAGEM:
Spielzeugland (Toyland);
Auf Der Strecke (On the Line);
Manon On The Asphalt;
New Boy;

And The Dona Farta´s Oscar Goes To:
SPIELZEUGLAND (TOYLAND), também no chute, e também pelo título.
ACERTEI!


É isso, pessoal. Daqui a pouco começa a festa de verdade e vamos conferir o que pessoas muito mais técnicas do que eu decidiram acerca dos filmes indicados neste ano. Quantas zebras teremos? Quantas barbadas? Como estarão as celebridades? Quem estará mais elegante? Quem estará pagando mico?

Depois eu volto pra fazer a conta dos meus erros e acertos, e pra comentar tudo aquilo que for digno de nota no Oscar 2009. Até lá!

domingo, 22 de fevereiro de 2009

O Lutador (Oscar 2009)

Randy "Ram" Robinson (Mickey Hourke) atingiu o auge do sucesso ao vencer uma "duríssima" luta com o então astro Ayatollah, há 20 anos. Tornou-se uma referência no ramo da luta livre, e desfrutou intensamente tudo que a fama e o sucesso lhe trouxeram.

20 anos depois do auge, Randy nada mais é que um homem decadente, enfrentando provavelmente o pior momento de sua carreira e de sua vida pessoal. Totalmente dependente de drogas anabolizantes e já bastante envelhecido para sua "profissão", ele não tem mais nada do dinheiro que ganhou nos velhos tempos, e luta para sobreviver trabalhando em um supermercado durante a semana e fazendo apresentações de luta nos finais de semana, juntamente com outros lutadores igualmente velhos e decadentes.

E então o pior acontece: Randy sofre um ataque cardíaco após uma de suas apresentações, e os médicos lhe recomendam que se afaste do "esporte". Ele então precisa buscar alternativas para sobreviver - como aumentar a quantidade de horas que trabalha no supermercado, e lidar com a amargura de ter que ficar distante daquela atividade à qual dedicou sua vida.

É neste momento que Randy se vê mais solitário do que nunca. A filha, negligenciada por ele a vida inteira não é nada aberta a uma reaproximação, e até mesmo sua melhor e única amiga Cassy (Marisa Tomei), uma prostituta decadente, parece não ter condições de atender suas novas necessidades de homem sozinho, doente, sem dinheiro.

Randy busca a redenção junto àquelas únicas pessoas importantes na sua vida, mas não é exatamente bom neste tipo de coisa, e acaba constatando depois de algum sofrimento e auto-flagelo que sua vida só tem um sentido, um único sentido, para o qual ele volta mais de corpo e alma do que nunca.

E é isso. Este é o filme, nada mais do que isso.

Quantas e quantas vezes já vimos histórias parecidas retratadas no cinema? Muitas! Quantos e quantos clichês pouco criativos eu escrevi na breve sinopse acima? Trocentos (e, acredite, são tantos que provavelmente esqueci de alguns).

Não há nada em "O Lutador" que lhe torne interessante o bastante para que esta falta de originalidade seja superada, tornando-o um filme bom, merecedor de toda a atenção que recebeu da mídia desmerecidamente, na minha opinião.

Um filme fraco, mal feito, clichê, previsível. E a tão elogiada atuação de Mickey Hourke, na verdade, nada mais é do que uma intepretação mediana, convincente mas de mérito duvidoso até porque a história da personagem se confunde demais com a história do ator.

Considero, aliás, injusta a indicação de Hourke ao Oscar de melhor ator. Eu não tinha visto o filme quando ele ganhou o Globo de Ouro e até achei que isso pudesse ler "legal", mas agora estou indignada com a injustiça, porque premiar um ator decadente que busca o ressurgimento das cinzas através de uma representação de algo que se aproxima muito de sua própria hístória pessoal é, no mínimo, oportunismo desleal, desleal inclusive com seus concorrentes na categoria, todos de longe muito mais merecedores do que ele.

Tudo bem que a "culpa" por isso tudo não é de Mickey Hourke, pelo menos não exclusivamente. Há uma indústria que manipula situações como essa, situações inclusive que acabam por tirar a credibilidade de determinadas premiações por ser capaz de transformar algo evidentemente ruim em algo digno de holofotes.

Mickey Hourke é uma pessoa que colheu durante muitos anos as tempestades das brisas que plantou. Não sou ninguém para julgá-lo e nem pretendo fazê-lo, apenas acho que ele nunca foi um bom ator quando se propunha a isso, e não é agora que merece ter visibilidade além da conta, ofuscando outros colegas muito mais talentosos e responsáveis.

Vi uma entrevista com ele na Oprah outro dia e ele inclusive parece uma pessoa afetada mentalmente por tudo o que viveu. Digno de pena, mas não de prêmios. Digno de piedade, mas não de recompensas.

Acho muito fácil um perdedor usar o recurso da emoção fácil para fazer-se de coitadinho e receber sua segunda chance na vida. O filme O Lutador usa esse recurso o tempo todo. E é muito fácil fazer isso: viver uma vida de equívocos conscientes pra depois, quando chegar o fim da linha, buscar um sentimentalismo apelativo para reverter a situação e parecer mais vítima do que algoz.

Situações como essas podem render bons filmes? Sem dúvida! Mas nem isso O Lutador conseguiu, tornando-se um filminho totalmente dispensável, uma verdadeira perda de tempo.

E, como se não bastasse o absurdo de Mickey Hourke concorrer ao prêmio maior do cinema como melhor ator, há ainda a indicação de Marisa Tomei na categoria de Atriz Coadjuvante, como a stripper decadente que se apaixona pelo protagonista (mais um clichê óbvio, só pra não perder o costume). Sim, Marisa Tomei é uma boa atriz e está muito melhor que Hourke no filme, mas a milhas e milhas de distância de ser digna da indicação, outro grande equívoco.

Sua interpretação é tão trivial que você pode imaginar qualquer outra atriz fazendo exatamente o memso papel e passanado exatamente as mesmas emoções, sem qualquer esforço. Nada de incrível, nada digno de nota.

E o Lutador resume-se a isso. Na minha modesta opinião, não vale nem mesmo como entretenimento descompromissado. É um filme toscão (como diria meu cunhado), no pior sentido da palavra "tosco", e eu recomendo que você utilize seu tempo vendo coisas muito melhores. Opções não faltam!



INDICAÇÕES AO OSCAR 2009:


Melhor Ator - Mickey Hourke;
Melhor Atriz Coadjuvante - Marisa Tomei.

Frost / Nixon (Oscar 2009)

Um presidente da república tem seu nome envolvido num grande esquema de espionagem e abuso de poder. O Congresso Nacional do país sente-se pressionado a tomar uma atitude concreta perante a sociedade e está prestes a votar a proposta de impeachment do presidente. O presidente não tem coragem de enfrentar a expulsão do poder e, na véspera da votação, renuncia ao cargo, escrevendo mais uma vergonhosa página na história política daquele país.

Poderíamos estar falando do Brasil, e sem dúvida há muita semelhança entre uma história e outra, mas... não, dessa vez não se trata do Brasil. Estamos falando aqui de um marco da história americana, quando o então Presidente Richard Nixon renunciou ao poder por estar fortemente envolvido no escândalo que ficou conhecido como Caso Watergate.

O escândalo Watergate já foi retratado no cinema através do excelente filme Todos os Homens do Presidente, e é novamente abordado agora em Frost / Nixon, um dos indicados ao Oscar de melhor Filme de 2009.

Só que desta vez não é o escândalo político o foco principal do filme. Richard Nixon (Frank Langella, maravilhoso) jamais havia assumido claramente seu envolvimento no caso Watergate, e essa questão incomodava demais a opinião pública e especialmente a imprensa. A reclusão de Nixon o tornou inacessível para a maioria das pessoas, e ele pretendia usar este tempo para arquitetar uma brilhante estratégia de retorno à política, o que foi estimulado pelo perdão que o novo presidente lhe concedeu por qualquer crime que pudesse ter praticado.

Do outro lado do Oceano, o pseudo-jornalista inglês David Frost (Michael Sheen), que na verdade era um "astro" apresentador de um programa de auditório, resolve ousar nos rumos de sua carreira, iniciando uma dura empreitada na tentativa de conseguir uma entrevista exclusiva com Richard Nixon.

Por trás da sua intenção de apenas entrevistar o ex-presidente americano, estava na verdade uma vontade quase megalomaníaca de escrever um marco na sua história profissional, já que julgava ser capaz de arrancar do escorregadio Richard Nixo a confissão e o pedido de desculpas que a imprensa americana jamais conseguiu.

Derrubando muitas barreiras e correndo riscos inimagináveis, Frost vai abrindo caminho para a conquista do seu objetivo, e é esta trajetória que o filme retrata. Desde os bastidores das negociações da entrevista até os bastidores dos dias de gravação e a própria entrevista reveladora foram retratados com bastante sobriedade e fidelidade. E é uma história interessante, com certeza!

Frost / Nixon não me despertou a menor curiosidade mesmo depois que soube que era um dos indicados ao Oscar de melhor filme e melhor diretor deste ano (dentre as 5 indicações que recebeu). Normalmente a indicação ao prêmio serve pra mim como estímulo a querer ver um filme, mas neste caso nem isso - me parecia algo muito específico e muito chato.

Mesmo assim, e apenas pra "fechar" minha seleção do Oscar (já tinha assistido os outros 4 indicados à categoria principal), resolvi assistir e comecei a ver o filme de maneira totalmente despretensiosa, sem expectavias e sabendo que poderia desistir em menos de 10 minutos. Ledo engano.

Eis aí um filme bem feito, no melhor sentido da expressão "bem feito". O roteiro - que descobri ser baseado numa peça teatral de autoria do próprio roteirista Peter Morgan (do excelente filme A Rainha), peça teatral esta que foi intepretada pelos mesmos protagonistas do filme, é absolutamente envolvente e consegue despertar o interesse até mesmo de alguém que não seja assim tão ligado a história política.

As interpretações são incríveis, tanto do apresentador-quase-playboy David Frost (Michael Sheen) como do frustrado ex-presidente Richard Nixon (Frank Langella), este último, aliás, merecidamente indicado ao Oscar de melhor ator deste ano, por sua interpretação magistral.

Particularmente, tive momentos de nojo e momentos de pena de Richard Nixon. Aquele que inicialmente parece ser apenas um político inescrupuloso capaz de qualquer coisa pelo poder, num momento de fraqueza aqui e outro ali acaba revelando ser apenas um homem amargo e frustrado pela rejeição, pela falta de amor, por nunca ter chegado a ser nada perto daquele grande ícone político que sempre sonhou ser. E isso é muito triste.

Frost / Nixon é, enfim, um filme surpreendente, justamente por não prometer nada extraordinário e ao mesmo tempo apresentar interpretações maravilhosas que, aliadas ao excelente roteiro e à competente direção, culminaram numa grande e boa surpresa.

Um ótimo filme! Vale conferir!


INDICAÇÕES AO OSCAR 2009:

Melhor Filme;
Melhor Diretor - Ron Howard;
Melhor Ator - Frank Langella;
Melhor Roteiro Adaptado;
Melhor Edição;

O Curioso Caso de Benjamin Button (Oscar 2009)

Benjamin Button (Brad Pitt) nasceu em New Orleans no mesmo dia em que o Mundo comemorava o fim da 1ª Grande Guerra.
Foi um parto bem difícil, e sua mãe não resistiu. Ao olhar para o pequeno bebê que acabara de tirar a vida de sua mulher, o pai de Benjamin entra em choque ao constatar que trata-se de uma criança portadora de uma doença grave - e rara - já que possui todas as características de um velho à beira da morte.

Desnorteado e considerando-se incapaz de criar (e amar) tal criatura, e num ato de desespero, o Sr. Thomas Button (Jason Flemyng) abandona o filho recém-nascido na porta de um asilo, onde Benjamin é acolhido, cuidado e adotado pela enfermeira Quennie (Taraji P. Henson), que vê naquele acontecimento muito mais que um acaso, mas um verdadeiro milagre de Deus.

Benjamin é criado num ambiente que não lhe poderia ser mais adequado, pelo menos naquele momento. Vai "crescendo" mas continua apresentando traços fortíssimos de velhice extrema, e aos poucos está absolutamente integrado à rotina dos outros velhinhos que vivem no lugar. Acaba aprendendo ainda muito jovem a lidar com a perda, já que as mortes são uma ocorrência comum no asilo, mas ao contrário de seus colegas Benjamin parece cada dia mais renovado, revigorado, cada dia ele parece estar mais forte.

Ainda criança ele conhece a espevitada Daisy (Cate Blanchett na fase jovem/adulta), uma garotinha que passa finais de semana com a avó - interna do asilo - e embora tenham a mesma idade, Benjamin mais parece avô da menina por conta de sua aparência física. A identificação emocional, no entanto, é indiscutível, e a dupla burla uma regra aqui e outra ali de modo a conseguir viver aventuras que marcariam para sempre suas vidas.

Benjamin "cresce", alcança a maioridade e decide explorar o Mundo. Ainda com a aparência de um "tiozinho", mas já bem mais remoçado, consegue trabalho num navio rebocador, e impressiona a todos com sua disposição cada dia maior. Viaja pelo mundo, conhece lugares, pessoas, mulheres. Alista-se no Exército e participa na 2ª Guerra Mundial, e é sempre um sobrevivente, já que está cada dia mais e mais remoçado e revigorado, além de ser protegido de qualquer tipo de desgraça por algum tipo de força superior.

Reencontra Daisy e depois de muita reviravolta eles finalmente conseguem viver o amor que sempre nutriram desde a infância, e a partir daí a história torna-se incontável, porque algumas surpresas não podem ser reveladas - precisam ser "saboreadas" por quem assistir o filme até o final, final, aliás, que é extraordinariamente emocionante, assim como foi o nascimento de Benjamin.

Algo que tem me deixado muito confusa sobre este filme é que quase todo mundo que o viu me disse apenas ter "gostado", sem muita empolgação. Eu não consigo me conformar com isso, porque pra mim O Curioso Caso de Benjamin Button foi um filme de arrepiar, daqueles que eu vou ver outras vezes e sobre o qual vou sempre conversar quando o assunto for cinema.

Um filme que realmente me tocou, me fez rir, me fez chorar, me emocionou profundamente e me deixou boquiaberta diante da tela por mais de 2 horas (2h30, na verdade).

Trata-se de uma fábula sobre a vida, sobre velhice x juventude, sobre vida x morte, sobre amor x desamor. Trata-se de uma fábula contada lindamente por um roteiro excepcional - adaptado de um conto americano do escritor Scott Fitzgerald, que consegue dar ritmo a um filme de longa duração sem que a gente tenha aquela vontadezinha de adiantar algumas partes.

O Curioso Caso de Benjamin Button é tecnicamente brilhante - não são à toa suas 13 indicações ao Oscar - com destaque para maquiagem, efeitos especiais, fotografia e direção de arte. Certamente arrebatará muitas estatuetas nestas categorias mais técnicas.

É mais uma parceria do Diretor David Fincher (de Seven - Os Sete Pecados Capital e Clube da Luta, dentre outros) e o superastro Brad Pitt. Neste filme ambos encontram-se num momento de maior maturidade profissional e eu diria até mesmo de maior entrega, e o resultado não poderia ser melhor.

Mas antes de falar de Brad, falemos de Cate.

Cate Blanchet - que acabou ficando fora do páreo do Oscar porque a briga para o posto de melhor atriz deste ano está mesmo bastante acirrada - está mais linda do que nunca. Interpreta uma Daisy que vai da adolescência até a 3ª Idade sem perder 1 pingo de sua elegância invejável, dá até raiva. Está aqui numa atuação muito intensa, muito comovente, muito especial.

Brad Pitt, por outro lado, cala definitivamente a boca daqueles que (ainda!) insistem em colocar em dúvida sua competência enquanto ator como se sua beleza fosse seu único passaporte para o sucesso. Há uma química entre Brad e Cate no filme que é algo de deixar o queixo caído. É impressionante como ambos se doaram para viver esta história tão intensa, e no caso de Brad a indicação para o Oscar é sem dúvida merecida, e eu ousaria dizer inclusive que ele DEVE levar a estatueta.

Claro que Brad Pitt é absolutamente perfeito, fabuloso, lindo, estonteante. Provavelmente o homem mais lindo da história de Hollywood, pelo menos da história mais recente, digamos assim. Sua beleza é de doer os olhos, é de babar, é de ficar inconformado...

Como pode haver no mundo um ser humano com tamanha perfeição? Eu sou, sim, fã de Brad Pitt, mas o sou principalmente porque ele se propõe desafios e mostra a que veio. Esses dias, por exemplo, assisti "Queime Depois de Ler", filme onde o galã faz o papel de um personal trainner caricato, canastrão, brega e metido a sedutor barato. Um papel que inclusive pouco explora sua beleza, e talvez justamente por isso um papel onde ele está encantador.

Em Benjamin Button, além da competência da equipe técnica que foi responsável por transformações admiráveis na aparência física de Brad (que passava por sessões diárias de cerca de 5 horas de maquiagem para caracterização de Button), há uma parcela muito grande de mérito próprio de sua interpretação altamente inspirada. Merecedora do Oscar, merecedora dos aplausos de parte da crítica que vem recebendo e, sobretudo, merecedora da audiência de todos que puderem vê-lo.

A mais a mais, ainda que o filme não fosse assim tão bom, já valeria o ingresso só pela oportunidade de ver Brad Pitt em várias caracterizações, rejuvenescendo cada vez mais. Se vê-lo "ao natural" já é de tirar o fôlego, ver suas transformações ao longo do filme - cada vez mais jovem e mais lindo... É de matar!

Outra participação relativamente pequena mas que me emocionou muito na história (por incrível que pareça), foi da magrelona, brancona e sem graçona Tilda Swinton, que vive com Benjamin uma linda história de amizade e amor, e que no final do filme ressurge com uma das cenas que mais me tocaram bem lá no fundo do coração. Uma grande lição do poder do amor, especialmente amor próprio.

Apesar de eu estar muito dividida entre Benjamin Button e Slumdog Millionaire, eu daria o Oscar de melhor filme para Benjamin Button de consciência tranquila, por ser indubitavelmente um filme fantástico! (ao pé da letra, aliás)

IMPERDÍVEL! (assim mesmo, em caps lock)


INDICAÇÕES AO OSCAR 2009:

Melhor Filme;
Melhor Diretor - David Fincher;
Melhor Ator - Brad Pitt;
Melhor Atriz Coadjuvante - Taraji P. Henson;
Melhor Roteiro Adaptado;
Melhor Direção de Arte;
Melhor Fotografia;
Melhor Mixagem de Som;
Melhor Trilha Sonora Original - Alexandre Desplat;
Melhor Figurino;
Melhor Edição;
Melhores Efeitos Especiais;
Melhor Maquiagem.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Pausa para um momento de RABUJICE

Só o fato de ter que dar esta pausa no meu "Especial Oscar 2009" já me deixa rebugentíssima...

Mas eu preciso falar, e pra não sair por aí falando e ferindo sentimentos, vou falar aqui, sem endereço, sem destinatário, pra ninguém (antes que apareçam pessoas magoadíssimas com a minha insensibilidade), vou apenas falar, falar e falar.

Estou de saco cheio, estou cansada, estou estressada, estou correndo como louca (como sempre), estou trabalhando muito, muito mesmo, e não tenho tempo pra fazer quase mais nada que não seja trabalhar, correr, trabalhar, correr, trabalhar, correr.

Quando eu não estou fazendo nem uma coisa nem outra (momento raríssimo que nem sei mais se existe), eu faço as poucas coisas nessa vida que me dão prazer, como dormir, ficar com minha família sem fazer nada, ver filmes, escrever, ler, etc. E entre coisas que me dão prazer NÃO está incluído BATER PAPO AO TELEFONE, porque eu ODEIO MAIS QUE TUDO NO UNIVERSO FALAR AO TELEFONE.

Tenho que suportar essa tortura zilhões de vezes por dia com meus clientes chatérrimos que me ligam de 5 em 5 minutos pra peguntar idiotices, mas suporto e ainda faço voz de quem tá gostando porque, né? É meu ganha pão, e o maldito cliente tem que ter sempre razão, senão não paga meus honorários no final.

Atendo absolutamente todos os meus clientes, às vezes administro 2 ligações ao mesmo tempo, às vezes participo de malditas conference calls com 3, 4 ou 5 pessoas falando e reclamando ao mesmo tempo (quem inventou isso? filhodaputa!), e assim vou sendo torturada pela necessidade do dinheiro, porque, afinal, quem mandou eu querer ser advogada nessa vida, né não? Tome! Bem feito pra mim! Me lasquei!

Eu podia estar por aí, vendendo roupas em lojas, fabricando peças de automóveis, construindo casas ou desenvolvendo sistemas de computadores em salas fechadas sem ser incomodada, eu podia tá robându, eu podia tá matându, mas se eu escolhi ser Advogada tenho que ter saco pra aguentar gente chata me passando problema atrás de problema. E isso, acreditem em mim, não é legal! Não é NADA legal.

O Telefone é um dos meus instrumentos de trabalho e é por isso que eu o odeio tanto. Porque a essência do meu trabalho me torna totalmente dependente de telefone, e não há a menor graça nisso. E odeio mais ainda o Celular, que tornou as pessoas obcecadas pelo imediatismo.

Antigamente a pessoa te ligava no telefone fixo e se você não estava, NÃO ESTAVA. Ela TINHA que esperar você voltar de qualquer jeito, e por mais urgente que fosse o assunto essa era a única opção que ela tinha. E o Mundo nem acabou por causa disso, nenhuma empresa foi à falência, não instaurou-se a 3ª Guerra Mundial nem ninguém morreu, pelo contrário: Todo mundo vivia perfeitamente em ordem, sabendo que às vezes era preciso saber esperar. Simples assim.

Mas aí inventaram o telefone celular, e a situação virou isso que existe agora: A pessoa liga no seu celular e você não atende - porque não pode, porque está em outra ligação, porque está no trânsito, porque está com dor de barriga no banheiro, porque está no meio de um exame ginecológico, porque está comendo, porque está trepando, porque está trabalhando, porque está falando com outra pessoa, porque está no meio de um raciocínio que demorou horas pra desenvolver e concluindo um trabalho importante, ou simplesmente porque não quer. E você vai lá e dá o recado (pra bom entendedor) não atendendo a ligação, como quem diz: "Agora não posso, tenta mais tarde".

Mas o que as pessoas fazem? Elas ligam de novo. E de novo. E de novo. E de novo. E de novo. E de novo.

E de novo.

E de novo.

Simplesmente porque na cabeça doente delas se você tem um celular significa que você tem que atendê-lo sempre, imediatamente, esteja onde estiver, fazendo o que for. QUEM DISSE que tem que ser assim, heim?

Não é um inferno? Fala pra mim se isso é vida, fala! Certeza que o telefone celular é obra do CAPETA, mas é certeza! Por causa dele muita gente tem enlouquecido e cometido barbaridades que podem levá-las diretamente para os quintos dos Infernos, e eu estou prestes a entrar neste grupo.

Não aguento mais, estou à beira de um ataque de nervos, e acabei de destruir um aparelho porque, né? Depois de 16 chamadas perdidas do mesmo número, era isso ou assassinato, então matei o aparelho - já que isso ainda não é crime, e pronto. Livrei-me da cadeia, porque eu só gostaria de ir pra cadeia se soubesse que lá não existe esse insrumento do Cão chamado telefone celular. Mas o troço é tão demoníaco que, né? Até nas cadeias de segurança máxima, meu povo! Até nas cadeias!

ODEIO CELULAR. ODEIO. ODEIO. ODEIO.

Atendo todos os clientes, como eu já disse, porque PRECISO, e só por isso. E não atendo nada mais, MUITO MENOS se for de dia, durante meu expediente. Não há espaço no meu dia de trabalho para bater papo ao telefone, desculpe. Porque meu dia é de trabalho e eu trabalho, e não há espaço pra outras coisas que me tirem o foco das zilhões de coisas que tenho pra fazer sozinha. Será que está claro? Preciso desenhar?

Povo acha que porque eu trabalho em casa fico o dia todo de pernas pro ar assistindo Sônia Abraão. Povo acha que porque eu trabalho em casa estou sempre disponível, sem nada pra fazer. Dá um ódio isso! Povo só vê as pinga que nóis toma mas nem vê os tombo que nóis leva. É um caráleo!

Eu não tenho um chefe que vai depositar meu salário no fim do mês mesmo que eu não tenha sido uma boa funcionária. Eu não tenho a Previdência Social pra me pagar se eu ficar doente. Eu não tenho pai rico, nem marido rico, nem merda nenhuma. Eu tenho minha profissão e tenho que fazer dinheiro dela um dia após o outro, porque se eu ficar 1 dia batendo papo no telefone e não trabalhar, então eu vou ficar 1 dia sem ganhar dinheiro, e meus credores nem querem saber disso, certo? Todo mundo tem contas pra pagar, não tem? Pois então!

Isso significa que sou uma doente louca sem amigos que não fala com ninguém? Quase, mas não é exatamente isso. Eu simplesmente AMO as pessoas, AMO meus amigos e AMO bater papo com meus amigos, sobre coisas úteis ou inúteis, a qualquer hora do dia ou da noite, eu REALMENTE adoro bater um bom papo, mas NUNCA, JAMAIS, EM HIPÓTESE ALGUMA gosto de fazer isso POR TELEFONE.

NÃO! NÃO! NÃO!

Eu corro igual uma louca no meu HORÁRIO DE EXPEDIENTE justamente pra que fora dele eu possa encontrar os amigos e fazer coisas com eles, desde sair pra tomar um chopp até trocar recadinhos bestas nos Orkuts e Blogs da vida.

Daí outro dia alguém me falou: "Ah, mas você posta no Blog durante o dia que eu já vi!", com se isso significasse que antes de postar no Blog eu devesse obrigatoriamente escolher outras coisas - como falar ao telefone.

E não, obrigada, mas eu não tenho que escolher nada que eu não esteja a fim de fazer. É muito raro eu ter momentos vagos durante o expediente - até porque, vocês sabem, além de adEvogada eu tenho a casa-sem-empregada, o marido, o filho, o lavar/passar/cozinhar, e tudo mais. É muitíssimo raro, mas quando tenho uma folguinha, pode ter certeza que tudo que eu MENOS quero é falar ao telefone, até porque eu faço isso o tempo todo quando estou trabalhando, lembram? Então... se eu tiver folgas durante o dia, ou até mesmo um dia inteiro mais calmo, eu vou fazer qualquer coisa menos falar ao telefone. Eu vou até a casa ou o trabalho do amigo ou da amiga pessoalmente pra bater papo, se for o caso, mas não vou ligar pra fazer isso, MAS NÃO VOU MESMO!

Passei a vida inteira sendo aquela pessoa legal que renuncia à sua própria vontade pelos outros - parentes, amigos, conhecidos. Passei a vida inteira ignorando minhas vontades pra fazer o que seria legal pra todo mundo, mesmo que não fosse legal pra mim.

E sabe o que eu ganhei??? Sabe, né? (**insira aqui palavrão impublicável**)

Pois então. Agora o negócio é diferente. É a minha vontade primeiro, e se não estiver bom pra todo mundo, fodam-se todos!

Eu não tenho que ficar batendo papo no telefone porque as pessoas querem que eu faça isso. Eu não tenho que escrever mais ou menos no MEU BLOG porque tem alguém monitorando se eu posto durante o expediente ou não. Eu uso o tempo vago que tenho como eu quiser, e pronto!

Eu sou assim, insuportável, louca, chata, estressada, ranzinza, desequilibrada, exagerada e mais um monte de coisas ruins que vocês sabem. E sou também legal, muito legal. E sou generosa, muito generosa. E mais um monte de outras coisas boas que quem quer descobre sem precisar ficar falando comigo no telefone. Faz parte do meu pacote, indivisível. Muito prazer!

Beijos, e NÃO ME LIGUE, a menos que seja realmente URGENTE! Me escreva, me mande email, telegrama, sedex, fax, carta, sinal de fumaça, torpedo, sms, recado no orkut, no facebook, via rádio, qualquer coisa que eu respondo na hora ou na primeira hora que eu puder, mas não me ligue se não for extremamente necessário. É sério.

Pela atenção, obrigada!
P.S. E antes que comecem a pipocar comentários com conselhos sobre a necessidade de eu rever a minha profissão, saibam que NÃO, eu NÃO odeio ser Advogada, muito pelo contrário: Tái uma coisa que eu amo nessa vida... A minha profissão, fui feita pra ela e ela pra mim, e modestamente eu sou muito boa no que faço! Acontece que na vida nem tudo são flores e até o poeta mais brega já disse que toda rosa tem seus espinhos, de modo que uma parte muito chata do meu trabalho é essa que escrevi aí, e se eu suporto o que suporto é justamente porque amo o que faço, e, lógico... pagando bem, que mal tem? hehe!
a

domingo, 15 de fevereiro de 2009

O Leitor (Oscar 2009)

Berlim pós-guerra, meados da década de 50: Michael (interpretado por David kross na juventude e Ralph Fiennes na fase adulta), um adolescente de 15 anos conhece a jovem e misteriosa senhora Hanna Schmitz (Kate Winslet) absolutamente por acaso - passa mal ao voltar pra casa e ela o ajuda, na rua. Diganosticado com escarlatina, o rapaz fica acamado por cerca de 3 meses, mas a imagem da linda mulher que o ajudou não lhe sai da cabeça.

Recuperado, Michael procura a tal mulher para agradecer a ajuda, e após dois ou três encontros "forçados" pelo rapaz eles cedem a seus impulsos e iniciam uma tórrida relação quase que exclusivamente carnal, onde a mulher mais velha inicia a vida sexual do menino inexperiente.

Michael visita Hanna todas as tardes após a aula. Lê para ela trechos de romances que estuda na escola, e essa se torna a "preliminar oficial" do casal. Michael parece apaixonado, o que é de se esperar de um jovenzinho de 15 anos, e Hanna parece não perder aquela dureza que lhe toma desde o olhar até as mais simples atitudes, uma mulher totalmente dura e embrutecida pela vida.

O romance dura apenas um verão, e num dia qualquer, sem qualquer justificativa, Hanna vai embora sem se despedir e Michael nunca mais a vê. Os anos se passam e, já em meados da década de 60, o rapaz está cursando Direito na Universidade. É então convocado pelo professor para assistir um importante julgamento que tem mobilizado a opinião pública alemã - o julgamento de alguns criminosos de guerra acusados de terem trabalhado nos campos de concentração do regime nazista.

E é neste julgamento que Michael reencontra seu passado. Hanna é uma das acusadas, e ele vai descobrindo aos poucos, no curso do julgamento, toda a história imunda do passado repugnante daquela mulher que lhe apresentou à vida adulta anos antes. Sentimentos altamente conflitantes tomam conta de Michael, que parece querer lutar contra os fatos para encontrar uma forma de desacreditar nas acusações que pairam sobre Hanna, e ao mesmo tempo vai constatando que isso é impossível através da história que vem à tona durante o julgamento.

Ainda durante o julgamento, Michael descobre que Hanna guarda outro segredo, e ele percebe que este segredo é para ela muito mais importante do que seu próprio passado sombrio, capaz de fazê-la assumir coisas que não fez apenas para não ter que revelá-lo. Ele cogita interferir para mudar o destino da mulher, mas não tem coragem, e a sentença final traça um triste destino para aquela que até outro dia lhe saciava na cama.

Michael vive atormentado por esta história, muito mais pelo fato de saber uma parte da verdade que Hanna ocultou do mundo e que interferiu tanto em sua condenação, e não encontra paz de espírito até o dia em que, relembrando os tempos de romance quando lia para ela, decide gravar fitas com a leitura de livros e enviar para ela na cadeia.

As caixas de fitas chegam sem identificação, mas à primeira fala Hanna já identifica o autor do presente. Isso torna-se seu estilo de vida, e é através destas fitas e dos livros a que tem acesso que ela acaba conquistando seu maior tesouro dentro da prisão.

Não há muito mais o que falar sobre O Leitor sem revelar o seu mistério. O que posso dizer é que este é um filme que me surpreendeu bastante - positivamente. Eu não esperava tanto.

Quando digo que o páreo da disputa pelo Oscar está duríssimo este ano, por favor, acreditem em mim! Estou completamente dividida.

A questão crucial em O Leitor é que o filme provoca sentimentos tão conflitantes que eu mesma fiquei meio desnorteada depois. Porque odiamos os nazistas, sempre. Odiamos o que houve na segunda guerra mundial, odiamos saber que existiu o Holocausto e odiamos imaginar que pessoas normais possam ter cometido todas aquelas crueldades.

E aí o filme nos coloca diante de uma mulher áspera, grosseira, esquisita, uma mulher que demonstra claramente carregar uma amargura muito grande na vida, que deixa latente sua falta de doçura e ao mesmo tempo, nos sensibiliza com seu amor pelos romances e pelos livros, e pela vergonha que carrega dentro de si guardada a 7 chaves. Esta mulher, nazista e criminosa de guerra é condenada a pagar pelo que fez, e desperta no espectador - pelo menos despertou em mim - um desconhecido sentimento de piedade e compaixão.

Uma história muito perturbadora, e Kate Winslet arrebenta na interpretação. Impressionante o talento dessa lindíssima atriz. Impressionante a capacidade que ela tem de construir personagens assim, com tanta densidade e com tanta verdade. Acabei de assistir também Revolucionary Road com ela, e fico impressionada com os extremos a que Kate é capaz de chegar. E linda, sempre, sempre, sempre.

O papel de Hanna Schmitz seria originalmente de Nicole Kidman, mas ela não pode aceitá-lo por conta da gravideza. Penso que isso foi o que de melhor poderia ter acontecido à produção, porque mesmo conhecendo o talento e a competência de Nicole, não consigo imaginar uma Hanna que não fosse vivida Kate Winslet.

Ela está fantástica no papel, perfeita, mereceu o Globo de Ouro de melhor atriz coadjuvante que ganhou por este filme e está forte na disputa pelo Oscar de Melhor Atriz, embora estejam dizendo que o fato de ela ter sido indicada na categoria principal e não como coadjuvante possa lhe prejudicar. Eu não acho, até porque tudo que Kate não é em O Leitor é coadjuvante. Ela "carrega" o filme com sua competência, e merece ter seu trabalho brilhante reconhecido com o prêmio.

O roteiro - adaptado do best-seller internacional "O Leitor" de Bernhard Schlink, é caprichado e amarra todas as situações sem deixar aparas, mas comete uma grande falha ao deixar de explorar um debate importantíssimo que o filme abre num determinado momento:

Por quê condenar meia dúzia de criminosos de guerra se o Nazismo ocorreu abertamente, se tantas pessoas sabiam do que acontecia e ningúem fez nada para mudar a história na época? Os cúmplices da tragédia seriam menos responsáveis do que seus executores? Como o mundo pode deixar que algo tão absurdo acontecesse sem tomar uma medida para evitar? Não seriam todos culpados, afinal?

Eu mesma, toda vez que leio um livro ou vejo um filme sobre o Holocausto me faço esta pergunta. Me pergunto como o Mundo pode deixar aquilo acontecer sem fazer nada, como foi possível que tantos judeus fossem exterminados aos olhos de um mundo que cegou diante da guerra, e como todas estas pessoas são igualmente responsáveis pela tragédia.

O Leitor levanta este debate num determinado momento, mas acaba por deixá-lo de lado e isso foi uma falha significativa, porque foi-se uma grande oportunidade de abrir uma discussão ainda mais complexa.

Esta falha não chega a comprometer o resultado, até porque o filme já aborda questões complexas demais. Eu amei o filme, e ainda estou meio passada com toda essa história, com todas as suas contradições e com as consequências duríssimas que marcaram definitivamente a vida dos envolvidos.

Acho que praticamente não tem chances de levar o Oscar - nem de melhor filme, nem de melhor diretor, e provavelmente as maiores chances do filme na premiação estejam nas mãos de Kate Winslet, que merece muito levar a estatueta pra casa desta vez. A disputa está duríssima porque há no páreo Meryl Streep num papel arrasador em Dúvida (resenha em breve), e na verdade todas as indicadas possuem chances reais de faturar neste ano, mas vou torcer muito por Kate, há anos injustiçada no prêmio.

Por ser um belo filme, por conter uma linda história de amor, por ter Kate Winslet linda e arrasando e por ser uma outra visão (muito perturbadora) sobre o nazismo, é que O Leitor é um filme obrigatório para quem gosta do bom cinema, e você deve assiti-lo assim que puder!


INDICAÇÕES AO OSCAR 2009:


Melhor Filme;
Melhor Diretor - Sthephen Daldry;
Melhor Atriz - Kate Winslet;
Melhor Roteiro Adaptado;
Melhor Fotografia.

Milk - A voz da Igualdade (Oscar 2009)

Porque é possível mudar o mundo, e algumas pessoas vão lá e mostram como.

Não faz muito tempo, escrevi aqui no Blog sobre a minha indignação com a postura conservadora de muitos políticos e uma parte considerável da sociedade que se posicionava contra a criminalização da homofobia. Minha vontade real era (é) sair às ruas protestando contra este absurdo, gritar aos quatro cantos o que eu penso sobre pessoas preconceituosas e deixar bastante claro o meu ideal de igualdade.

Obviamente minha vontade de protestar ficou (bem) limitada a um texto meia-boca aqui neste espaço, porque ir além é algo que requer dentre outras coisas coragem e determinação, e isso poucas pessoas têm de verdade. Uma pena, porque são estas qualidades que tornam qualquer mortal capaz de mudar o mundo, e a cinebiografia Milk - A Voz da Igualdade nos traz um destes retratos magníficos que marcou história e transformou vidas.

Harvey Milk (o magnífico Sean Penn) migrou para São Francisco numa época em que aquele parecia ser o lugar mais tolerante dos EUA para pessoas que, como ele, tinham uma opção sexual diferente da "padrão". E ser mais tolerante não necessariamente significa que sua opção sexual fosse livremente aceita, mas foi ali que encontrou o caminho aparentemente menos espinhoso para iniciar sua jornada, sendo que nem ele mesmo seria capaz de imaginar onde conseguiria chegar.

No início da década de 70, aos 40 anos, Milk queixava-se de não ter feito nada do que pudesse se orgulhar na vida, e num momento "virada de mesa" resolveu abrir um negócio no comércio local, que logo tornou-se uma referência para o público gay e movimentou bastante a economia da cidade.

Claro que a maioria conservadora não aprovou aquela "novidade", e não foram raros os episódios de abuso policial e de homosexuais agredidos imotivadamente, tudo em nome da moral e dos bons costumes.

Cansado de ser constantemente acuado e ver os amigos violentados por uma sociedade preconceituosa, e ciente do poder que possuía por conta de seus carisma e tino natural para a política, Harvey acabou por ingressar nesta carreira, construindo uma trajetória que, após muitas derrotas, acabou por coroada com sua eleição para um cargo legislativo em São Francisco, tornando-se o primeiro homem assumidamente gay a ocupar tal posição.

Uma trajetória que marcou a história americana principalmente por ter começado a construir um olhar diferente para os gays. E que angariou importantes conquistas à causa.

Harvey Milk foi assassinado por um adversário político em 1978, mas deixou seu legado aos colegas igualmente comprometidos com os ideais de igualdade, e frutos deste trabalho são colhidos aos poucos, até hoje.

Eis mais um forte concorrente ao Oscar de Melhor Filme deste ano. Provavelmente com menores chances que os favoritos Slumdog Millionaire e Benjamim Button, mas igualmente valioso, e se der uma "zebra" e a estatueta for para Milk, não haverá nenhuma injustiça!

Encontramos aqui um Gus Van Sant diferente daquele ousado diretor de filmes marcantes como Gênio Indomável e Paranoid Park (este último que eu assisti há pouquíssimo tempo). Aqui ele apresenta um trabalho um pouco mais tradicional, talvez porque tenha entregue ao seu protagonista a tarefa de surpreender, e Milk o faz muito bem.

Aliás, um dos méritos do filme é segurar bem a onda e não se deixar cair no lugar-comum de transformar Harvey Mlk em um santo, coisa que ele também não era. Apesar de ser uma abordagem mais superficial, várias fraquezas do protagonista são mostradas ou insinuadas aqui e ali, e isso só o aproxima ainda mais do público, tornando esta uma cinebiografia digna e respeitável.

Harvey Milk conhece aquele que foi provavelmente seu mais intenso amor - Scott (James Franco) de uma maneira totalmente casual e ousada. Logo numa sequência inicial do filme percebemos sua dificuldade de lidar com os sentimentos e com a solidão, e esta questão reaparece num outro momento, quando ele rapidamente substitui o posto do ex-amor por um novo amor. Um ser humano normal que tem suas fraquezas e, apesar da grandiosidade enquanto figura pública, era apenas um coração em busca de amor e aceitação na sua vida pessoal.

O roteiro é muito bem elaborado e mantém um ritmo bem interessante. Cenas de ficção são mescladas com cenas reais das épocas de campanha de Milk, e em determinados momentos é quase impossível diferenciar o que é real do que não é.

Sean Penn é um dos grandes atores de sua geração. Já provou isso muitas vezes, vivendo muitos personagens marcantes de todos os estilos em todo tipo de filme. Imagino que isso seja ruim para o ator, porque vai lhe tirando o fator surpresa filme após filme (a gente já meio que sabe o que esperar), mas neste Sean teve a vantagem da semelhança física com o Harvey Milk real (comprovamos isso com as várias cenas reais inseridas no filme e especialmente no final), e construiu brilhantemente o personagem sem cair no estereótipo fácil, dosando do jeito certo o estilo semi-afetado do protagonista

Aliás, justiça seja feita, o destaque nem fica só para Sean Penn. Todo o elenco é responsável por este resultado quase documental, há muita entrega por cada um dos atores envolvidos e isso fica muito claro, e torna o filme ainda mais saboroso de se assistir, porque cada gota de dedicação dos envolvidos transparece na delicadeza das cenas mais singelas até a fúria das cenas mais acaloradas.

Um filme apaixonante, uma história admirável, um legado incrível deixado por um ousado rapaz de meia-idade que teve sua vida brutalmente interrompida aos 48 anos, no auge de sua tão almejada carreira política. Até nisso há poesia, se formos ver direito... Porque o fato de Milk ter sido assassinado nas condições em que foi de certa forma mexeu ainda mais com os ativistas da causa, e talvez isso tudo - emblemático demais - seja o combustível de muita gente até hoje.

Antes de concluir, só mais uma curiosidade: Eu, particularmente, não sabia, mas a Parada Gay (que acontece em muitas cidades aqui no Brasil todos os anos) teve sua origem justamente lá em São Francisco, na época da militância de Harvey Milk.

Mais um filme na lista dos IMPERDÍVEIS. Não deixe de conferir!

INDICAÇÕES AO OSCAR 2009:.

Melhor Filme;
Melhor Diretor - Gus Van Sant;
Melhor Ator - Sean Penn;
Melhor Ator Coadjuvante - Josh Brolin;
Melhor Roteiro Original;
Melhor Trilha Sonora Original - Danny Elfman;
Melhor Figurino;
Melhor Edição.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Quem que ser um Milionário? (Oscar 2009)

Quem quer ser um Milionário???

Esta frase, proferida numa das sequências iniciais do filme e associada à música e aos aplausos que vêm na sequência nos remetem imediatamente ao famoso Show do Milhão que já tivemos em versão tupiniquim há alguns anos. E é mais ou menos por aí mesmo.

Só que agora o cenário é a Índia. A grande, mística, populosa e desorganizada Índia. E "Who wants to be a Millionaire" é por lá um fenômeno de audiência.

No centro de um luminoso cenário estão 2 pessoas - o famoso apresentador do programa e o ousado rapaz que está prestes a responder a última pergunta e ganhar 20 milhões de rúpias. Mas uma sirene avisa que o tempo do programa acabou, e o suspense é transferido para a noite seguinte, quando o participante deverá voltar para decidir se responde ou não a pergunta milionária.

Na saída do show, no entanto, Jamal Malik (Dev Patel), que tem apenas 18 anos de idade, é aprisionado por 2 investigadores de polícia contratados pelo apresentador do programa para averiguar uma suspeita de fraude, já que parece impossível que alguém nascido e criado nas favelas de Mumbai conseguisse ter conhecimento para - sozinho - responder todas as perguntas corretamente.

Utilizando-se de métodos nada apropriados a polícia interroga Jamal violentamente, e com muito sacrifício o rapaz consegue convencer os policiais a ouvirem sua história de vida e, consequentemente, entender através de cada fato isolado como encontrou a resposta para cada um das perguntas do programa dentro da sua história pessoal. E é para lá que somos levados, através de flash-backs.

Uma história recheada de desgraças e miséria, dor e superação, aventuras e conquistas. Jamal e seu irmão Salim moravam com a família na grande favela dos arredores de Mumbai, até o dia em que ficaram órfãos. A partir daí, crianças entregues à própria sorte, foram sobrevivendo um dia após o outro, cometendo pequenos delitos e sofrendo toda sorte de violência, situação típica de quem vive nas ruas.

O cenário é uma Índia muito menos charmosa do que aquela que atrai os turistas ocidentais, e a forma como a miséria e as feridas daquela sociedade à beira do caos são expostas me fazem lembrar muito - salvadas todas as proporções, logicamente - do nosso "Cidade de Deus".
Também relembrei durante o filme a comovente história da empregada doméstica Bhima, que eu já apresentei aqui no blog quando escrevi sobre o livro "A Distância entre Nós". Este livro me mostrou uma descrição nada turística da Índia, e várias cenas do filme me remeteram às detalhadas descrições da favela onde Bhima morava.

E é nesta Índia injusta, miserável, pobre, suja e lotada (dentre tantos outros adjetivos pouco lisonjeiros) que Jamal e seu irmão vivem aventuras dignas dos melhores livros do gênero, crescem e aprendem lições preciosas, sofrem perdas irreparáveis e se transformam em adultos cujo caráter reflete basicamente a própria história de cada um deles, quase como se fosse um conto de fadas às avessas. No meio deste caos, surgem amizades marcantes e uma linda história de amor, daquelas de deixar mocinhas suspirando e com lágrimas nos olhos, e acho que é nesta sutileza que encontra-se o principal e maior mérito de Quem quer ser um Milionário, um dos favoritos ao Oscar de melhor filme e direção, dentre outros.

Sem dúvida é uma empreitada espetacular, ousada, corajosa. Danny Boyle é meu favorito ao Oscar de Diretor, e merecidamente já ganhou o Globo de Ouro na categoria. Há que ser muito, muito, mas muuuuuito bom para obter o resultado que vemos em Slumdog Millionaire.

Sucesso no Globo de Ouro e em outras premiações pré-oscar, Quem quer ser um Milionário é meu segundo-favorito. Porque eu o assisti e na mesma hora tive certeza que era o melhor filme do ano, de longe. Mas depois eu vi Benjamin Button (escreverei sobre ele em breve) e fiquei dividida, então eu tenho 2 favoritos, e pronto!

Acabo tendendo a torcer um tiquinho mais por este aqui porque estamos comparando Davi e Golias, e considerando-se os recuros de cada uma das produções, talvez eu decidisse finalmente dar o Oscar a Slumdog Millionaire por somar ainda mais este mérito: Ser excelente e um sucesso sem tantos investimentos ou grandes astros de Hollywood como atrativo.

Outro destaque é a trilha sonora, a cereja do bolo, por assim dizer. No final do filme, inclusive, há uma sequência de dança deliciosa e divertidíssima, que deixa qualquer um com vontade de sair dançando por aí, imaginando que a vida pode e deve ser bela, que o amor existe e que tudo nesta vida é possível. TUDO.

Eis um filme imperdível. Confira!


INDICAÇÕES AO OSCAR 2009:

Melhor Filme;
Melhor Direção - Danny Boyle;
Melhor Roteiro Adaptado;
Melhor Fotografia;
Melhor Montagem;
Melhor Trilha Sonora Original;
Melhor Canção - Jay Ho;
Melhor Canção - O Saya;
Melhor Edição de Som;
Melhor Mixagem de Som.

A Troca (Oscar 2009)

Baseado em fatos reais, A Troca conta a dolorosa história de Christine Collins (Angelina Jolie), uma mãe solteira que trabalha no serviço telefônico de Los Angeles em meados da década de 20.

Procurando dar o melhor possível a seu único filho Walter, Christine trabalha há anos na mesma companhia telefônica local, e faz a linha "funcionária padrão", daquelas que quase nunca dizem não a uma solicitação extraordinária. E foi numa destas ocasiões que precisou deixar o Walter sozinho em casa, enquanto passava mais um dia trabalhando em jornada extra. Ao voltar pra casa, no entanto, Christine não encontrou o filho como de costume, e iniciou sua dramática jornada em busca do paradeiro do menino.

Após 5 meses de investigações e buscas, a polícia finalmente alega ter encontrado Walter. Aproveitando-se da situação para ganhar alguma publicidade positiva, já que enfrentava uma das piores crises de sua história, a Polícia de L.A. arma um verdadeiro circo para promover o "encontro" entre mãe e filho, usando a história para tentar manipular a opinião pública e da mídia.

Entretanto, na mesma hora em que cruza seu olhar com o do garoto apresentado Christine percebe que não é seu filho e tenta esclarecer a confusão, mas é impedida porque a Corporação parece bem determinada em provar o contrário e manter a publicidade positiva a qualquer custo.

Este é o ponto de partida para a jornada de Christine Collins em busca da verdade e de sua esperança inesgotável de encontrar o filho verdadeiro. Ela é colocada à prova a todo momento, contestada e acuada pelas autoridades que valem-se de sua condição de mãe solteira para humilhá-la, e chega a ser submetida a um tratamento psiquiátrico forçado por supostamente ter renegado o próprio filho.

A sucessão de barbaridades que se segue é assustadora e revoltante, e num determinado momento parece que aquela frágil figura de uma esquálida Christine não vai suportar. Mas suas força de mãe é muito maior do que se pode supor, e é daí que ela tira seus últimos fiapos de energia para encontrar a verdade definitiva, apesar de tanta dor.

A Troca é uma história triste, chocante e profundamente comovente, de fazer chorar (e muito). E obviamente para quem é mãe (como eu), o apelo sentimental é ainda maior. Não há como supor nem por aproximação o tamanho da dor de uma mãe que tem um filho sequestrado, que perde um filho sem saber efetivamente o que aconteceu. Da mesma forma, não há como dimensionar a capacidade de superação de uma mãe quando o que está em jogo é a segurança de seu filho. E é exatamente isso que o filme retrata.

Outros acontecimentos paralelos surgem no contexto, como a grave crise institucional da Polícia de L.A., altamente corruptível e desacreditada, e o drama vivido por outras famílias que também perderam seus filhos misteriosamente. Mas o foco acaba ficando quase que exclusivamente na luta de Christine Collins, e o filme acaba virando um presente para Angelina Jolie que, competentemente e aproveitando-se muito bem da oportunidade, foi lá e buscou sua merecidíssima indicação ao Oscar de melhor atriz.

Sobre a atuação de Angie, aliás, preciso dizer que tenho sentimentos contraditórios. Ao mesmo tempo em que reconheço o capricho de sua atuação inspirada, fico com um pézinho levemente atrás por ver La Jolie num papel que remete tanto à atriz enquanto pessoa.

O que estou querendo dizer? Bem, preciso confessar que em vários momentos do filme me vinha à cabeça a imagem de Angelina e seus muitos filhos, até porque esse lado mãe da atriz foi muito explorado pela mídia - e por ela mesma - nos últimos anos, de modo que às vezes o papel no filme e o momento pessoal da atriz pareciam uma coincidência forçada demais, sei lá... Isso me incomodou um pouco, assim como me incomodou (e chocou) a excessiva magreza da atriz (que chega a parecer anoréxica).

Não sei se foi uma exigência do papel, mas o fato é que a magreza foi inclusive explorada por muitos ângulos da câmera, e em alguns momentos Angelina parece apenas um cabide ambulante com roupas acomodadas por cima. Considerando-se o estilo de roupas que as mulheres usavam na década de 20, e associando esse figurino ao chapéu que Christine Collins não tira da cabeça, temos no filme uma Angelina Jolie muito diferente daquela que nos acostumamos a ver em outros tantos filmes.

Particularmente, acho Angelina Jolie simplesmente espetacular. Se ela não é "A" mais linda é certamente UMA DAS 5 mulheres mais lindas do mundo na atualidade. Mas essa magreza exagerada tirou muito do seu brilho, deixou-a muito mais velha e com aparência nada saudável, e espero sinceramente que ela recupere a boa forma logo, até porque ela tem um monte de filhos pra criar e nem vai dar conta de carregar nenum deles com aquele corpinho franzino.

A indicação ao Oscar foi merecida, sem dúvida, e digo isso conscientemente porque já vi quase todas as outras indicadas. É bem difícil analisar e comparar atuações tão diversas como as das indicadas deste ano, e avaliar esta atuação de Angelina Jolie, especificamente, é ainda mais difícil, já que estamos falando de uma atuação forte mas contida, muito contida. Completamente diferente de seu outro papel de destaque, que inclusive lhe rendeu o Oscar de Atriz Coadjuvante há alguns anos, por Garota, Interrompida!

Se ela leva a estatueta? Não sei... Particularmente acho e espero que não, tenho outra favorita que revelarei na resenha do respectivo filme. Lá no fundinho, na verdade, eu adoraria ver o casal 20 de Hollywood subir ao palco e levar pra casa cada um seu respectivo Oscar. Angie e Brad ganhando Oscar no mesmo ano seria histórico, sem dúvida, e não seria nenhuma injustiça. Mas eu duvido que isso aconteça. Este ano, na verdade, ele tem mais chances do que ela, então vamos aguardar para ver... Dia 22 tá aí, façam suas apostas!

Para finalizar, preciso dizer que fiquei meio chocada quando vi que a direção do filme é de Clint Eastwood. Porque não tem muito a ver com o estilo dele, se é que vocês me entendem. Como eu fui ao cinema para ver outro filme e acabei vendo A Troca meio por acaso, não tinha nem prestado atenção no nome do diretor, e quando vi nos créditos finais fiquei meio incrédula.

O filme é bom, e apenas bom. Acho que poderia ser ótimo se o roteiro tivesse uma linha um pouco diferente. Podia ser um filme mais curto (são 2h20!), podia ter um pouco mais de surpresas ou momentos de reviravolta, e fatos paralelos poderiam ter sido explorados como importantes trunfos para manter o ritmo do filme. Esta falha do roteiro compromete inclusive a direção de Eastwood - monótona demais, e talvez por isso mesmo eu tenha me surpreendido tanto, neste caso negativamente.

Vale ver pela história, pelo capricho técnico e visual que inclusive renderam ao longa outras indicações ao Oscar, por ser um filme bom e, claro, por Angelina Jolie.

Confira, e depois me conte o que achou!


INDICAÇÕES AO OSCAR 2009:

Atriz - Angelina Jolie
Direção de Arte
Fotografia