sábado, 30 de janeiro de 2010

Troca

Não tô comprando, nem vendendo, nem doando, nem recebendo doações. No momento, só estou aceitando troca. De preferência SEM troco. Porque esse negócio de troca com troco acaba deixando alguém em desvantagem. E desvantagem é o Freddy Krugger da vez, é a palavra do espanto, é tudo que me dá mais medo, é tudo do que eu mais quero fugir.

Porque viver em desvantagem é um saco, sabe? Não vou nem dizer que é insuportável porque não é, a gente pode muito bem passar a vida todinha no vermelho que, se não contar, muita gente nem vai perceber. Exceto, é claro, aquele nosso eu de verdade, que existe bem lá dentro e que, coitado, segura ou pelo menos tenta segurar todas as barras que criamos.

Estou falando de relações, caso ainda não tenha ficado claro.

Uma das constatações mais duras que tenho feito nos últimos tempos está relacionada a isso. A gente estabelece relações muito loucas na vida, algumas que não fazem o menor sentido quando olhamos assim, “de fora”, e o pior de tudo é que muitas vezes a conta é tão desencontrada que uma das partes acaba sempre perdendo, às vezes perdendo muito.

A verdade é que não dá certo comprar, nem vender, nem doar, nem receber doações. Porque zerar mesmo, a gente só zera com troca, e é isso que eu estou buscando, às custas de mudanças bruscas que, obviamente, serão mal interpretadas – não me iludo, não se iluda.

Me peguei pensando outro dia em quantas pessoas só me sugam, sabe? E nem estou falando daquela coisa mesquinha e planejada de quem faz isso “de propósito”, estou falando mesmo é de parasitas que sequer percebem o quão parasitas estão sendo. Isso vai desde aquela amiga que joga sempre um “Ah, você precisa organizar aquele jantar com a turma porque só você consegue organizar um evento deste porte” (e assim, numa jogada que tentadoramente parece lisonjeira – você é a líder da turma – acaba jogando mais uma vez uma tarefa chata e trabalhosa no seu colo), até aquele parente que vem sempre com um problema no qual você é especialista com o argumento de que “só alguém com a sua competência pode ajudar”.

Percebem como o sanguessuga vem quase sempre travestido de admirador? Porque isso facilita as coisas, né? Quem consegue dizer não depois de um elogio? Quem consegue dizer não quando as pessoas parecem fazer questão de deixar claro que SÓ VOCÊ pode resolver determinado problema, quando as pessoas fazem questão de (fingir) que você é insubstituível?

E aí a gente, besta que é, cai na tentação e acaba mantendo essa relação doente, em que uma parte está sempre tirando vantagem e a outra – olha o bicho papão aí, gente! – em total desvantagem. E isso tem um preço, e pra mim, esse preço é bem alto.

Cansei. Mas cansei mesmo, cansei muito, cansei totalmente. Odeio essa sensação de ser OTÁRIA e odeio perceber como as pessoas tem facilidade em me fazer de besta. Não quero mais, acabou, já era.

Estou tentando me afastar de algumas pessoas que não tem nada para me oferecer EM TROCA. É duro, porque existem variáveis que ficam ali te tentando a manter o caminho mais fácil do “Ah, não me custa nada mesmo”, mas preciso ser forte, preciso ser! Preciso manter o foco e analisar tudo matematicamente, se quiser obter os resultados exatos que preciso agora.

Eu quero gente que me desafie, eu quero gente que me enriqueça, eu quero gente que me mostre outras visões das coisas, eu quero gente que me conteste, eu quero gente que possa também me dar, sem ficar a vida inteira só tirando.

É doloroso, mas é hora de romper vínculos e parar de fazer negócios nada lucrativos. A lojinha está fechada, e só pode entrar quem souber a senha.

A partir de agora, só aceito TROCA.


** A título de esclarecimento, este texto já foi publicado em outros lugares há algum tempo, mas SIM, a autoria é minha e SIM, por razões que não vem ao caso, faz sentido publicá-lo aqui no meu cantinho agora.


quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

E se a roda enguiçar?

Algumas coisas na vida são tão perfeitas que a gente não consegue nem fugir do clichê.

E uma dessas obviedades é o fato de que ela - a vida - é perfeitamente cíclica.

Uma roda-gigante real, onde num momento se está lá no alto, e no momento seguinte inevitavelmente se estará lá embaixo.

Não há como evitar, a menos que se pule pra fora da roda no meio do caminho, mas aí seria o fim da brincadeira, e brincar de roda gigante só tem sentido quando se dá muitas voltas, porque a cada subida e a cada descida muda o cenário e mudam as sensações, e é isso que faz a experiência de girar, e girar, e girar realmente valer à pena.

Ainda assim, por mais que eu tenha essa consciência, fico sempre receosa quando passo por uma fase boa, já que de certa forma ela é o prenúncio de tempos difíceis.

O ruim do bom é que as expectativas tendem a ser mais negativas. É a probabilidade. É a estatística. É o princípio matemático da vida.

É a vida girando.


O que nos leva a uma outra questão, que é o quanto de energia estamos dispostos a empregar no caos.

Se sabemos que ele virá, por que será que não conseguimos encará-lo de forma diferente? Por que será que nunca nos preparamos para as dificuldades que instintivamente sabemos que vamos enfrentar?

Estatísticas (de novo elas!) mostram que por mais que tentemos influenciar fatores externos para nos proteger de um período difícil, ainda assim é pouco provável que tenhamos êxito.

Não conseguimos mudar as pessoas. Nem a ordem natural do ciclo. A roda é perfeita e gira de um jeito só. Não à toa, é das maiores invenções da humanidade.

E se não podemos mudar o funcionamento da roda, nos resta apenas tentar mudar individualmente, internamente, aquela mudança para a qual não dependemos de mais ninguém a não ser de nós mesmos, única forma de passar a encarar os problemas com mais coragem e menos drama.

Porque, repito, fatalmente chegará o momento em que sua roda te levará para o nível mais baixo, e se não há como fugir disso, até por instinto de sobrevivência, talvez inteligente mesmo seja mudar o comportamento e aliviar a passagem pelas trevas, ao invés de dramatizá-la.

Sofremos muito nessa vida. Minha mãezinha sempre dizia que "nascemos pra sofrer", e por mais que essa pareça uma afirmação amargurada, acreditem, não é. Se nascemos pra sofrer, o que vier diferente disso é lucro, concordam? Eis o pulo do gato!

Algumas pessoas se entregam ao sofrimento. Se deixam tomar por uma espécie de conformismo e resignação que não só as deixam estacionadas sem evoluir como as coloca no pior patamar: Aquele de quem se entrega à autopiedade, tem pena de si mesmo e se conforma em viver uma vida exercendo apenas o papel de vítima miserável da própria sorte.

Pessoas que se comportam assim possuem o estranho poder de fazer a roda enguiçar. A roda gira até o nível mais baixo e simplesmente pára. Fica lá muito mais tempo do que ficaria, enquanto seu passageiro valoriza cinematograficamente cada segundo de sua passagem pelas trevas, conseguindo involuir, quando tinha tudo pra evoluir.

É preciso um mínimo esforço pra evitar que isso aconteça. Porque, não se engane, a tentação da autopiedade é poderosa, e consegue dominar até pessoas tidas como fortes e bem resolvidas. É cômodo. Atrai holofotes. Atrai atenção e alimenta a resignação de quem não quer se esforçar além do previsível pra fazer a roda girar.

Lute contra seus infortúnios e vire o jogo. Encare a vida de frente, tenha coragem, não se vitimize dos problemas porque eles acometem a você, a mim, a todo mundo. E a maneira como você vai encará-los é que abrirá teus olhos para enxergar outras belezas quando chegar novamente a hora de a roda girar, e você subir.

O fim é sempre o mesmo. Subir e descer, todos vamos. O que torna as pessoas maiores ou menores, melhores ou piores, é a dinâmica, a originalidade e a criatividade que conseguem ter para lidar com as oscilações previsíveis, tornando a vida sempre interessante, fazendo-a sempre valer à pena.

Eu, pessoalmente, quero mais é girar. E apesar do medo dos momentos de descida, uma certeza eu tenho: Farei tudo ser diferente, sempre, até no pior sofrimento. Porque não vim nesse mundo pra viver de obviedades. De previsível, basta o movimento da roda. O que depende de mim, será sempre imprevisível. É muito mais interessante!

E se todo mundo faz de um limão uma limonada, eu faço é uma caipirinha.

Porque viver, pra mim, só se for com prazer!

domingo, 24 de janeiro de 2010

Aconteceu de Novo!

Vocês devem estar lembrados da história de Miss M, a moça que queria fazer um 2010 diferente. É recente, aconteceu outro dia e eu contei aqui, em detalhes.

Pois então. Nem ia fazer outro post porque seria praticamente um "copy/paste", mas como muita gente se solidarizou com Miss M, sinto-me na obrigação de dizer pra vocês que, SIM, aconteceu de novo!

Pobre Miss M...

A ocasião, no caso, era a celebração do aniversário de uma amiga. Da melhor amiga de Miss M, Miss G.

5 amigas no total. 5 lindas mulheres, livres, leves, soltas, felizes, resolvidas, produzidas, totalmente dispostas a causar tudo que fosse possível no "Miss G's Day".

A celebração aconteceu em várias etapas, começando numa light reuniãozinha de meninas numa noite, um papo mais animado num barzinho noutra noite, e o ápice ocorreria na balada "rock'n roll", onde (quase) tudo é permitido e onde as possibilidades das meninas, digamos assim, são mais equilibradas.

Partiram. Chegaram. Causaram.

Adentraram o lugar no exato momento em que a banda começava a tocar Kiss - "Rock'n Roll All Night", e Miss M não pôde deixar de pensar que, puxa, aquilo devia mesmo ser um bom sinal. A casa estava cheia, muito mais do que da última vez, e o número de pessoas interessantes saltava aos olhos. Todos os tipos, para todos os gostos, de todas as faixas etárias, um mar de possibilidades.

Miss P e Miss G, as amigas mais sagazes de Miss M, logo ligaram seus radares e identificaram dezenas de alvos com pontencial. Em pouco tempo algumas fichas já estavam lançadas, mas Miss M, sempre mais cautelosa, apenas observava e curtia intensamente a boa música.

E não demorou para que rolasse o dejà vu...

Numa rápida olhada em volta Miss M percebeu que havia uma pessoa olhando-a. Olhando-a não, devorando-a com os olhos. Uma pessoa que sequer piscava enquanto acompanhava cada um dos seus movimentos.

Ficou confusa, achou que fosse impressão e comentou com as amigas, pedindo que elas avaliassem se a situação era mesmo o que parecia ser. Em poucos minutos todas as amigas confirmaram: Sim, Miss M estava sendo alvo do primeiro freak da noite, um moço meio ruivo, meio albino, cabelo desgrenhado, barba por fazer, aparentava ser muito jovem mas também tinha expressões de alguém bem mais velho, uma figura bem peculiar, mas não foi nada disso que assustou Miss M.

Na verdade o rapaz era mesmo muito, muito esquisito. Olhava pra Miss M de um jeito altamente assustador, e por um instante ela agradeceu por estar com suas amigas para constatar que não, não era um exagero da sua cabeça. O cara era realmente um freak-freak, daqueles que se destaca em qualquer multidão.

Rodeou Miss M por uma boa parte da noite. Não lhe desgrudava os olhos, não a perdia de vista. A galera enlouquecida vibrando com a banda e ele lá, parado, com a mão no queixo e o olhar fixo em Miss M. Assustador. Parecia cena de filme.

Miss M e suas amigas foram se misturando entre as pessoas, tentando relaxar apesar da presença desconfortável do freak ruivo, tentando interagir com outras pessoas, e depois de muito tempo o rapaz desapareceu. Alívio geral. A noite recomeçava para Miss M, aparentemente pra valer.

Sensação esta que durou pouco mais de 5 minutos. Porque foi no intervalo entre uma entrada e outra da banda, quando as pessoas se dispersam um pouco e a adrenalina baixa, que as amigas de Miss M a alertaram sobre outra presença bizarríssima: "Reginaldo Rossi Albino".

Não sabe quem é Reginaldo Rossi? Espia aqui. Agora visualize-o albino, com o mesmo olhar, o mesmo cabelo, a mesma idade, o mesmo "charme". Eis o segundo freak que colou em Miss M na noite. Porque, claro, não preciso nem falar que o alvo do Reginaldo Rossi Albino era Miss M, né? Óbvio! Quem mais na face da terra atrairia alguém tão tão tão tão tão bizarro?

Ninguém, senão nossa heroína!!!

Deu muito trabalho despistar o freak number two. Porque ao contrário do primeiro, esse era mais ostensivo. Fazia questão de tentar flertar com Miss M, que já estava pirando porque pra todo canto que olhava cruzava o olhar com aquela aberração. Teve vontade de sair correndo, mas foi contida pelas amigas e pela banda que voltou ao palco trazendo de volta a multidão dispersa e, com ela, alguma distância do Reginaldo Rossi Albino. Alívio.

Miss M já tinha desistido de qualquer possibilidade. Decidiu curtir o final da balada se jogando no rock'n roll, foi pra frente do palco e cantou, gritou, dançou, chacoalhou a longa cabeleira vigorosamente pra frente e pra trás, e mais uma meia dúzia de clichês roqueirísticos que lhe fizeram se sentir protegida de qualquer freak que pudesse se aproximar.

Enquanto isso suas amigas circulavam pelo local, porque, ao contrário de Miss M, as amigas costuma ter melhor sorte em suas investidas. E ela lá, na frente do palco, feliz da vida porque, de tudo de tudo, mais uma vez teve pelo menos boa música, um show fantástico altamente revigorante.

Já estava quase amanhecendo quando os instrumentos calaram e a balada chegou ao fim. A casa esvaziando devagarinho, Miss M e suas amigas finalmente sentaram-se para descansar os pés moídos pelos saltos altíssimos e esperar até que a fila do caixa diminuísse e pudessem ir embora.

Conversavam animadamente, cada uma contando seus próprios "causos" vividos naquela noite, quando Miss M, distraída, foi cutucada por um mocinho oriental que trazia consigo o "amigo" também oriental, uma versão anã de um lutador de sumô, talvez seja essa a melhor definição.

O amigo mais descolado (e menos freak) disse que estava intercedendo pelo outro amigo (o lutador de sumô anão), pois ele estaria "interessado" em Miss M e teria observado-a a noite toda.

Miss M quase engasgou quando se deu conta de que sua noite de terror ainda não havia acabado, mas conseguiu engolir em seco e sorrir (porque ela nunca é cruel ou grosseira), e apenas disse gentilmente que a noite já estava acabando e ela já não estava mais disposta e conhecer ninguém.

Mas freak que é freak, vocês sabem, não desiste fácil, então apesar das negativas educadas de Miss M, o pequeno lutador de sumô não arredou pé, e ela ficou ali, cercada, sem conseguir sair do lugar.

Teve vontade de gritar pedindo socorro, mas a casa já estava bem vazia e as poucas pessoas que ali permaneciam pareciam alteradas demais para lhe oferecer qualquer tipo de ajuda. Também não parecia muito sensato pedir socorro quando seu algoz era uma versão miniatura de um lutador de sumô, então apenas muniu-se de coragem, respirou fundo para conseguir ser suficientemente grosseira e saiu quase correndo em direção ao banheiro, empurrando os freaks e largando-os falando sozinhos.

No banheiro, confrontou-se com o próprio reflexo no espelho, a aparência já entregando o cansaço de quem curtiu intensamente a noite, a maquiagem levemente borrada, os cabelos bagunçados, mas ainda assim um reflexo bonito.

Perguntou-se mentalmente o que será que haveria em si para atrair tantos freaks, SÓ os freaks, e mais uma vez cedeu à gargalhada inevitável, porque questões como essa só podem ser isso: Uma piada da vida.

E se a vida é uma piada, ou lhe faz de piada, Miss M apenas ri.

Porque, afinal de contas, melhor ser uma piada do que passar a vida em branco.

Pelo menos as piadas perpetuam-se, e sempre haverá alguém pra lembrar delas.

Que assim seja!

domingo, 17 de janeiro de 2010

Deixe eu tocar sua Alma

Talvez eu me repita um pouco aqui, já que falei bastante sobre "intensidade" no último post. Mas o fato é que reflito todos os dias sobre todas essas minhas quase-certezas, e uma ou outra ideia vai surgindo, de modo que eis-me aqui novamente pra falar sobre o sentir, tão clichê, tão óbvio, e ao mesmo tempo tão misterioso.

De uma maneira bem simplista, podemos dizer que existem relações que se desenvolvem com base na matéria, e relações que se desenvolvem com base na alma. Em raros casos há uma conjunção de alma e matéria, e poucos privilegiados vivem o relacionamento ideal de quem ama a matéria e consegue tocar a alma do outro. O Nirvana. Muito mais ideal do que real.

Voltemos à realidade, e pensemos no mundo como ele está hoje. As pessoas tem medo de se relacionar, e por conta disso as histórias tem ficado cada vez mais vazias. Acaba prevalecendo quase sempre a atração da matéria - corpo, pois a alma fica blindada pelo medo que todo mundo tem de "quebrar a cara". Um pseudo instinto de auto-preservação que no fim das contas é apenas mais um grande fail.

E daí chegamos a uma configuração de mundo totalmente fake, onde as pessoas enganam às outras e, o que é pior, enganam a si mesmas, sob o frágil argumento de que é melhor negar um sentimento do que se machucar depois.

Qual o sentido disso, alguém consegue me explicar???

Porque eu sinceramente não vejo sentido em viver uma vida se não for pra correr riscos. Aliás, o que torna tudo mais emocionante e interessante é o medo do inseguro, é o mistério daquilo que não controlamos, é o fator surpresa que nos espera no próximo minuto, e não um planejamento burocrático que faça da vida apenas uma rotina previsível e sem graça. Não há como se proteger daquilo que não controlamos. E abrir mão de sentir para não correr esse risco é algo assustador, é como escolher uma vida robótica quando se pode viver uma vida real.

Respeito opiniões contrárias, sem dúvida, mas não consigo deixar de pensar: Até que ponto vale à pena essa auto-proteção? Até que ponto vale à pena renunciar às emoções para manter um controle que supostamente nos mantém distantes de todo o sofrimento?

Cada vez mais eu vejo pessoas que não dizem "eu te amo" simplesmente por medo de abrir a guarda. Cada vez mais eu vejo pessoas que ocultam sentimentos de maneira proposital, pra vender uma imagem durona que não se sustenta por 10 minutos. Cada vez mais eu vejo pessoas renunciando às deliciosas emoções provocadas pelos sentimentos, em prol de um controle fictício que elas acham que tem, mas que no fundo ninguém tem.

Porque, não se iludam, quebrar a cara todos nós vamos, mais cedo ou mais tarde. Em relacionamentos afetivos, então, isso é mais certo ainda! E se for pra quebrar a cara, a mim parece mais lógico que seja por uma experiência intensa do que por uma experiência não vivenciada.

Prefiro sofrer por ter dito um milhão de vezes "eu te amo", do que sofrer por nunca tê-lo dito. Porque no fim, acabamos todos no mesmo lugar. O que muda é o caminho. E nada substitui a deliciosa sensação que é sentir borboletas no estômago, frio na barriga, arrepios, vontade de repetir mil vezes frases românticas e cometer todos os clichês das histórias de amor. É isso que faz a vida valer à pena. É isso que nos empurra pra frente.

Não, não quero ser fake. Não quero ser falsamente forte, controlada, centrada. Quero ser alma, 100% alma, fragilmente alma, intensamente alma. Quero tocar sua alma, e quero que a minha alma seja tocada. A matéria não importa, haverá sempre quem goste e quem não goste, mas o que fica mesmo é a lembrança da intensidade, aquela que vem da alma, e que só existe se a gente se permitir sentir, sem barreiras.

Perguntei pra vários amigos qual foi a melhor experiência sexual que já tiveram. 99% relataram experiências que eventualmente envolviam parceiros fisicamente perfeitos, mas que sempre envolviam muita entrega, muita intensidade, muita emoção. Ninguém nunca esquece um "eu te amo" dito durante o sexo. Ninguém nunca esquece os sons do corpo quando há entrega verdadeira, por mais carnal que seja a relação.

Já um corpo perfeito, um músculo sarado, um detalhe físico modelo, esses a gente esquece rapidinho. Porque o que não é sentido, dura apenas um olhar, apenas o tempo que se vê, e vai embora da memória num piscar de olhos. Mas o que é vivido à flor da pele, com intensidade e entrega, fica lá, registrado nos poros, tatuado na alma, e é o que faz a vida ter sentido de verdade.

Eu sou dessas. Dou alma e quero alma. E quebro a cara. E levanto, sacudo a poeira, e começo de novo. Porque pra mim só tem sentido se for assim.

Que dure 1 segundo, mas que seja intenso, que seja verdadeiro, sem economia, sem ressalvas, sem barreiras. Que dure 1 segundo, mas que seja tudo que puder ser.

É o que vale!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A arte de Sorrir cada vez que o Mundo diz NÃO

Já é madrugada e mais uma vez estou aqui.

Devia estar dormindo, coisa que tenho feito muito pouco ultimamente, mas até o sono anda exercitando a arte de me abandonar, então não me culpem pelas olheiras profundas e pelo eventual mal humor.

Uma hora isso tudo se acalma, e então terei apenas olhos inchados de quem anda dormindo demais. É sempre assim. Ou 8 ou 80. Nunca um meio termo.

Meio termo. Taí um negócio lindo na teoria, mas absolutamente difícil na prática. Eu pelo menos nunca consigo. Porque sou dessas pessoas que é de fato 8 ou 80. Não consigo ser metade. Sou sempre inteira, para o bem e para o mal. Para o 8 e para o 80.

E não, isso não é motivo de orgulho, muito pelo contrário, até porque ser assim é uma atitude pouco inteligente. Estúpida, na verdade. A gente vive com a guarda aberta, e soldado que vai pra guerra e não sabe se defender só tem um destino: Toma tiro. Às vezes morre. Às vezes fica com sequelas. Raramente sobrevive ileso.

Pessoas como eu, que se deixam dominar por emoções invariavelmente burras e que nos levam a caminhos acidentados, sofrem. Não só pelos tombos que levam - esses a gente acaba tirando de letra - mas também, e principalmente, pela rejeição das pessoas que temem serem amadas com devoção.

É aí que entra a letra da música que eu estava ouvindo e que, não por acaso, me inspirou a vir aqui escrever essas bobagens.

Brincar de Viver, cuja versão mais linda é esta, na voz da Diva Bethânia:


"A arte de sorrir cada vez que o mundo diz não". E então a gente percebe que é este o caminho. Não adianta lutar contra a natureza daquilo que se é. E se não há como mudar o imutável, adaptemo-nos a ele!

Sou 8 ou 80, e em ambos os casos, sempre inteira. Sem meio termo, sem ponderação, sem moderação.

Porque se é pra sofrer, que seja o sofrimento mais doído do mundo;

Se é pra amar, que seja o amor mais sublime do planeta;

Se é pra se entregar, que seja de corpo e alma;

Se é pra querer, que seja com toda a força do Universo.

Prefiro viver 100 anos em 10 do que 10 anos em 100. Quantidade nunca siginificou qualidade, e quando falamos de Sentimentos, isso é ainda mais importante.

Emoção é um momento. É uma construção involuntária dos sentidos do corpo que culminam numa reação nem sempre perceptível ao outro, mas que pode mudar vidas. E emoção não se reconstrói. Perdido o momento, já era. Perdeu-se aquilo que não se recupera, e que muitas vezes era o que de mais valoroso poderia existir.

Por isso essa minha urgência, essa minha agonia. Prefiro amar perdidamente alguém por 1 dia do que amar mais ou menos por 1 ano. Já vivi ambos os casos e, acreditem, por mais que tenha sempre me machucado - muito - ainda assim prefiro as cicatrizes das pancadas mais fortes do que os arranhões de emoções xinfrins.

Cicatrizes escrevem histórias. Arranhões somem com o tempo, e tornam-se apenas isso: Insignificâncias esquecidas.

Não é fácil viver assim. Não é fácil SER assim. Porque rola toda uma paranoia nas pessoas, e elas costumam ter ressalvas com gente que demonstra demais suas emoções, com gente que AMA demais ou odeia demais. E aí vem os "nãos".

E os nãos também machucam, muito. Reprimem. Às vezes matam aquela emoção que a gente sabe que nunca mais vai nascer. Mas ainda assim, como diz a música:

"...E eu desejo amar
A todos que eu cruzar
Pelo meu caminho
Como eu sou feliz
Eu quero ver feliz
Quem andar comigo...
Vem..."

Portanto, sigo exercitando "A arte de sorrir cada vez que o mundo diz NÃO".

Às vezes choro, é verdade, mas o choro também é intenso, daqueles que lava a alma. Nada que uma caixa de lenços não resolva. Se rolar um bom colo, melhor ainda. E então a gente se recupera, e a história não tem fim, e continua sempre que alguém responde sim...

E então posso voltar a brincar...

Brincar de Viver!

domingo, 3 de janeiro de 2010

A História da moça que queria "fazer um 2010 diferente"

Essa é uma história no mínimo curiosa, que precisa ser compartilhada com o mundo.
Para proteger a identidade real dos envolvidos todos os nomes serão trocados, e chamaremos a protagonista de "Miss M", e sua amiga de "Miss P".


Pois bem.

Miss M acaba de sair de um ano conturbado. Problemas, problemas e mais problemas, e pouquíssimo prazer. Nenhum prazer, na verdade. Reclusão. Trevas. Trevas e mais trevas.

Sua amiga Miss P, que não teve um ano muito diferente, consegue ser um pouco mais ousada diante da vida, e ao contrário de Miss M não demorou pra reencontrar o prazer de viver, mesmo depois de todos os percalços de 2009.

Amigas servem (também) pra essas coisas, então Miss P, já experiente na arte de reencontrar diversão e prazer, finalmente conseguiu tirar a amiga da toca, já que Miss M pretende de fato fazer de 2010 um ano diferente.

Saíram. Foram para a "balada". Nada óbvio ou previsível, porém. Não "qualquer" balada. Decidiram reeditar um programão que era infalível alguns anos atrás, até porque nenhuma balada se mantém na ativa por mais de 25 anos se não tiver méritos reais. E era com isso que elas contavam.

Na pior das hipóteses teriam boa música. Ótima música. Rock'n Roll all Night. E público seleto.

De fato.

Apesar da aura meio decadente do bom e velho bairro do Bexiga, que não ostenta mais o movimento frenético de anos atrás, a famosa casa da Rua 13 de Maio continua a mesma.

Déjà Vu, e Miss M, que não frequentava o lugar há anos, de repente sentiu-se segura e confiante. Em casa. Aquele sempre foi um dos seus ambientes preferidos. Aquele sempre foi o tipo de público com o qual gostava de badalar. Nada de pitboys, exibicionistas ou megalomaníacos crônicos (à exceção de um gato pingado aqui, outro ali). Gente interessante. Gente incomum e interessante.

Quantidade de homens e mulheres num estranho desequilíbrio: muito mais homens do que mulheres. Miss M começava a entender a insistência de Miss P em ir especificamente àquele lugar. Isso não acontece hoje em dia em lugar nenhum do mundo, pelo que se sabe. E teoricamente, faz toda a diferença. TEORICAMENTE.

Parabólicas ligadas, potenciais alvos foram detectados, e a sintonia parecia recíproca. Olhares, olhares, olhares... Olhares, olhares e mais olhares... Olhares... OlharezzzzzzzZZZZZZZzzzzzzzzzz

Porque taí uma coisa que mudou bastante desde os velhos tempos. As pessoas olham. Trocam olhares. E param por aí. No começo, parecia interessante, divertido até, mas 2 horas depois Miss M já estava desanimando. Se jogou na pista e cantou todo o repertório de Pink Floyd, Led Zeppelin, The Who e outros dinossauros em coro com a excelente banda de tiozinhos sessentões, porque, afinal, pelo menos boa música. É. Era esse o consolo.

Miss P, mais confiante e sagaz, ia mudando seu alvo de acordo com seu feeling. É inevitável admitir que as exigências vão diminuindo com o passar da noite, mas ainda assim melhor manter alguma possibilidade viva. E a verdade é que Miss P está certa.

Tanto que quando tudo parecia perdido e o Rocky Balboa deixava claro que não ia sair da passividade, Miss P encontrou um novo alvo. E foi esse alvo (proporcionalmente improvável, digamos assim), que possibilitou que ela encerrasse a noite num brilhante placar de vitória. 1 x 0. Com louvor, segundo ela mesma disse.

Enquanto isso Miss M, já conformada com todos aqueles olhares que não viraram nada mais além de olhares, continuava curtindo o show. De repente notou a presença de algumas criaturas cuja bizarrice se destacava. E notou também que estas mesmas criaturas eram aquelas que estavam sempre por perto, rodeando-a, desde o começo da noite. Franziu a testa. Coçou os olhos e olhou de novo. Será que era ela mesma o centro das atenções das 3 criaturas mais incomuns do lugar?

Continuou dançando. Enquanto Miss P se atracava com um moço baixinho no canto do salão. Miss P sentada, e o mocinho em pé. Ambos do mesmo tamanho. Daí a improbabilidade proporcional antes citada. Bobagem. Miss P tá aí pra provar pra gente que tabú é bobagem, e que derrubar paradigmas é mesmo fundamental em dias como os de hoje.

De repente Miss M, encostada no bar tomando sua coca-cola light, é abordada por uma criatura que a princípio lhe causou espanto, já que parecia uma criança. Ela pensou, confusa: "Será que permitem a entrada de crianças neste lugar?". Olhando melhor, no entanto, e ainda com certo espanto, percebeu que não era criança. Era apenas um rapaz pequenininho. Bem pequenininho. Baixinho. Magrinho. De cabelo comprido e descendência oriental. Usava óculos e aparelho nos dentes. E parecida um boneco do Playmobil. Fofo. Parecia uma miniatura de gente. Fofo. Bizarramente fofo.

"E aí, gata, rola um beijo no japinha?", foi a abordagem do Playmobil. Miss M segurou o riso e tentou controlar a cara de espanto, porque sua amiga Miss G (essa não estava in loco, mas é uma das entusiastas da volta de Miss M ao "mercado") já tinha dito que a regra fundamental é ser gentil. Sempre. Até com os freaks.

Ela apenas sorriu meio constrangida e disse: "Ah... é... rs... não, meu bem, não rola!". O Playmobil ainda insistiu: "Aposto que você nunca beijou um japinha! Não quer experimentar? Garanto que não vai se arrepender!". E Miss M, num esforço descomunal pra manter a gentileza mais uma vez disse, com doçura: "Tenho certeza que deve ser muito bom. Mas, não, meu bem. Não estou a fim".

Largou a coca-cola light pela metade sobre o balcão do bar e inventou uma oportuna ida ao banheiro, onde jogou umas gotinhas de água fresca na nuca e tentou recobrar o foco. "Foco, Miss M, foco! A noite ainda não está totalmente perdida. Volte para a pista e faça a sua parte!"

Voltou. Notou que o Playmobil abordava um novo alvo (japinha persistente!), e também notou que os outros 2 esquisitões permaneciam no seu encalço. Abstraiu. Cantou acaloradamente uma de suas músicas preferidas - "Mama, I comming home", brilhantemente interpretada pela banda de sessentões, e quando repetia o refrão com os braços ao alto, foi abordada pela criatura freak number two: "João e o Pé de Feijão". Um moço tão grande quanto esquisito. Grande mesmo, tipo uns 3 metros de 40 de altura. Gigante. Meio desengonçado. Quando se pôs ao lado de Miss M, que também é grande e com seu salto de 15cm ultrapassava 1,80 de altura, ficou evidente que não era um rapaz comum. Muito, muito grande. O pescoço de Miss M doía de tanto que se retorcia para alcançar-lhe o rosto.

Pareceu gentil: "Oi, você vem sempre aqui? Essa banda é boa, né?" - a voz soou aos ouvidos de Miss M ainda mais freak. Gentil, quase doce, mas meio assustadora. "Err... oi... não, não venho sempre aqui... e sim, a banda é boa sim!", Miss M esboçou um sorriso amarelo.

O rapaz ainda perguntou o nome de Miss M, que mentiu chamar-se Maria, e tentou apresentar-se, mas depois que Miss M associou o olhar do rapaz ao olhar do king kong do filme, deu um jeito de se afastar, novamente usando a desculpa de ir ao banheiro. Era um moço muito, MUITO esquisito. Muito.

Mais gotas de água na nuca, uma longa olhada para seu reflexo no espelho, e Miss M decide voltar à pista em sua última tentativa de fechar a noite dignamente. Já estava começando a ficar assustada com aqueles acontecimentos.

Voltou ao som de "Can't Buy me Love", e dançava freneticamente quando o freak number three cutucou-lhe, entregou-lhe um papelzinho dobrado e disse: "Por favor, espere eu sair e leia".

Ficou paralisada observando o moço "X-Tudo" carregar seu pesado e enorme corpo em direção à saída do bar, de maneira totalmente desajeitada. Um moço simpático, até, e Miss M não o classificou como freak por conta de seus prováveis 200 quilos, nããão! Foi só mesmo pelo jeito muito estranho como ele dançava, sacudindo todas as partes sacudíveis do seu corpo até quando a música era lenta. Parecia meio fora de controle. Isso era realmente esquisito.

Miss M procurou um canto mais iluminado e leu o bilhete. Um cartão de visitas do rapaz, na verdade, com praticamente todos os dados da sua vida, e no verso algumas palavras escritas com uma letra bem bonita, mas formais demais para serem levadas a sério:

"Não sei porque travei, ao te ver tão linda nesse novo ano. Talvez uma timidez que hei de mostrar ser um engano... Como as resoluções que traçamos. Espero, sinceramente, que os planos no futuro digamos: Alcançamos. Assinado: X-Tudo".

Miss M riu. Leu de novo e riu de novo. E pensou que, puxa... talvez fosse melhor guardar em local seguro o cartão do X-Tudo. Porque, né? Nunca se sabe o dia de amanhã...

Zero X Zero, era o placar da noite de Miss M. "Por que mesmo o X-Tudo tinha ido embora, heim!? Podia ter esperado, né? Sei lá... de repente..."

Seus pensamentos foram interrompidos por Miss P, que finalmente desatracara-se do mocinho, porque era chegada a hora de partir. Elas deram ainda uma boa olhada ao redor, e lamentaram-se por todas as possibilidades que não vingaram. Foram ao banheiro e se observaram, diante do espelho. Miss M inconformada com seu fracasso, tentando encontrar algum defeito em seu bonito rosto balzaquiano que pudesse justificar a atração de todos os freaks num mesmo local, numa mesma noite.

Depois de 5 segundos de lamentações, caíram na gargalhada. E assim voltaram pras suas casas, rindo das próprias desgraças. Porque Miss M pode até fracassar em suas tentativas de voltar à vida ativa nas baladas noite afora. Mas uma coisa ela jamais vai permitir: O aparecimento de rugas.

Então ela ri. Ri sempre. Ri de tudo.

E assim a vida fica leve, e a treva vira luz.

(...)