domingo, 7 de dezembro de 2014

Onde eu encontro a Poesia

Corri hoje a tradicional prova "Sargento Gonzaguinha" . 

15km debaixo de um Sol muito forte, levando meu corpo cansado ao limite e brigando minuto a minuto com a cabeça que insistia na ideia de desistir.

"Pra que passar por isso?", alguns poderiam me perguntar, afinal, se eu corro por prazer de fato parece não fazer sentido enfrentar tanto desprazer numa prova.

Acontece que o prazer é apenas mais um sentimento subjetivo que depende de perspectiva para ser sentido em maior ou menor grau, como aliás é a maioria dos sentimentos e sensações. E quanto mais difícil uma missão, maior é o êxtase de tê-la cumprido. Se tem uma coisa que eu tenho aprendido nessa vida é que na grande maioria das vezes quanto mais difícil, melhor ela é. 

E daí eu estava lá, sofrendo a cada passada, sentindo o peso das pernas já no km 8, 9, segurando um trotinho muito do sem vergonha e mesmo assim acabada, a vontade de desistir que não se afastava da minha cabeça, os corredores se distanciando e eu ficando pra trás... E então eu entrei no km 10, e no exato momento em que comecei a correr pela área da "Comunidade do Gato" (pra quem não conhece ou não é de SP, trata-se de um conjunto habitacional popular construído às margens da Marginal Tietê e que substituiu uma grande favela que havia no local), o shuffle do celular me mandou "That's My Way".

De repente eu não sentia mais minhas pernas... Eu simplesmente segui correndo/trotando, deslumbrada com aqueles grafites maravilhosos feitos nos predinhos, obras de arte tão cheias de sentimentos e significados colorindo a vida daquela gente sofrida que mora por ali, isso tudo enquanto o Edi Rock cantava "... encare a guerra de frente mesmo sendo ruim, somos soldados e sobreviventes sempre até o fim, olhe pra mim e veja o quanto eu andei, envelheci, eis-me aqui, nunca abandonei".

De repente, tudo era poesia.

Eu corri e cantei, corri e cantei, observando o colorido da comunidade e sendo observada com curiosidade por alguns poucos que circulavam por ali. Eu corri e cantei, enquanto sentia as lágrimas molharem meu rosto suado e embaçarem os óculos de Sol. Eu sacudi os braços, eu gritei, eu PIREI. E chorei. Chorei. CHOREI.

Foi catártico.

De repente minha vida passou diante dos meus olhos assim, como um videoclipe criado a partir da convergência de informações que, juntas, faziam todo o sentido: a letra da música, o sofrimento do percurso, o contraste do cenário, a vontade de desistir sendo minuto a minuto vencida pela vontade de terminar... desistir não era mais uma opção... Tudo era poesia. A poesia da MINHA VIDA. 

Saí de casa pra correr mais uma prova, e voltei extasiada. Jamais imaginei que viveria algo como o que vivi ali, naqueles poucos minutos em que corri pela Comunidade do Gato ao som de That's My Way.

Voltei transformada. À flor da pele. E mais certa do que nunca de que, aconteça o que acontecer, a luz do sol sempre vai iluminar o meu amanhecer, e se na manhã o sol não surgir, por trás das nuvens cinzas tudo vai mudar, a chuva passará e o tempo vai abrir, e a luz de um novo dia sempre vai estar pra clarear, iluminar, proteger e inspirar o meu caminho.

That's my way, and I go!



terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Eu me equilibro e requebro.

A gente veste a fantasia de mulher maravilha e fica ostentando força, energia, otimismo, disposição e alegria (genuina na maioria das vezes, amém!), e o mundo simplesmente acha que a vida é assim mesmo o tempo todo...

Não que eu esteja lá me importando muito com o que o mundo acha ou deixa de achar, mas de vez em quando é bom lembrar que no fundo é tudo uma questão de opção - SIM, OPÇÃO!, e depois que a gente entende que a vida vai sempre nos dar limões - apenas e tão somente limões, a gente ESCOLHE parar de reclamar do azedume e transformar tudo em caipirinhas (ou limonadas, para os abstêmios), porque é justamente aí que reside toda a graça e toda a grandeza de se viver.

Tudo tão clichê, tão filosofia de boteco... Mas é assim que é.

A gente aprende a partir da premissa de que tudo vai dar errado sempre - porque tudo sempre dá errado mesmo, em algum momento sempre dá merda, e o que vai fazer valer a pena cair e levantar mil vezes é o tanto que a gente vai conseguir "rir do" ou "aprender com" o tombo.

A gente aprende a parar de reclamar do inevitável e começa e entender que a felicidade definitivamente está nos menores e mais idiotas momentos e gestos, que a gente é capaz de sobreviver com quase nada, que a gente precisa de muito pouco pra seguir adiante, e que a gente precisa aprender a rir de piadas tontas e a experimentar coisas novas sem medo do que os outros vão pensar. 

Tudo tão clichê, tão filosofia de boteco... Mas é assim que é. 
Eu que o diga!


Já dizia Guimarães Rosa, o que a vida quer da gente é CORAGEM.


Estou num momento de recomeços, e não é fácil encarar recomeços aos 38 anos de idade, quando o mundo te cobra apenas resultados e conquistas, e te julga com base em tudo aquilo que NÃO sabe. Mas acontece que pode me faltar de um tudo nessa vida (e falta, viu?!), só não me falta coragem (exceto com relação a baratas, continuo tendo zero coragem de enfrentá-las), e com coragem eu sigo recolhendo meus limões, fazendo minhas caipirinhas, bebendo, caindo e levantando, um milhão de vezes se for preciso.

E tentando me divertir ao máximo no meio desse processo todo, porque eu vim nesse mundo foi pra gargalhar de doer a barriga mesmo (embora o choro às vezes seja inevitável).

A vida não é cor de rosa, nem de longe. Ela tem apenas 9758906434 trilhões de tons de cinza. Mas eu sou tinhosa, pego minhas canetinhas e vou pintando tudo da cor que eu quero. Só tem sentido se for assim. Até mesmo nos dias em que eu escolho pintar tudo do cinza mais cinzento que existe.

Porque, como diz essa letra maravilhosa do meu amado Lenine:

"saiba que minha alegria, como é normal todavia, com a dor é dividida. 
eu sofro igual todo mundo, eu apenas não me afundo em um sofrimento infindo. 
eu posso até ir ao fundo de um poço de dor profundo, mas volto depois sorrindo. 
em tempos de tempestades, diversas adversidades, eu me equilibro e requebro. 
é que eu sou tal qual a vara, bamba de bambu-taquara, eu envergo, mas não quebro!"

TOTALMENTE EU.


Apertem o play aí, que essa música é um hino. MEU HINO!





** E eu teria feito este post diretamente no facebook, como tem sido sempre, mas hoje uma nova colega de trabalho comentou sobre meus escritos, e me reacendeu a vontade de postar algo por aqui, pra tirar a poeira. Beijinhos procê, Narel! Obrigada pela inspiração! ;-)