Corri hoje a tradicional prova "Sargento Gonzaguinha" .
15km debaixo de um Sol muito forte, levando meu corpo cansado ao limite e brigando minuto a minuto com a cabeça que insistia na ideia de desistir.
"Pra que passar por isso?", alguns poderiam me perguntar, afinal, se eu corro por prazer de fato parece não fazer sentido enfrentar tanto desprazer numa prova.
Acontece que o prazer é apenas mais um sentimento subjetivo que depende de perspectiva para ser sentido em maior ou menor grau, como aliás é a maioria dos sentimentos e sensações. E quanto mais difícil uma missão, maior é o êxtase de tê-la cumprido. Se tem uma coisa que eu tenho aprendido nessa vida é que na grande maioria das vezes quanto mais difícil, melhor ela é.
E daí eu estava lá, sofrendo a cada passada, sentindo o peso das pernas já no km 8, 9, segurando um trotinho muito do sem vergonha e mesmo assim acabada, a vontade de desistir que não se afastava da minha cabeça, os corredores se distanciando e eu ficando pra trás... E então eu entrei no km 10, e no exato momento em que comecei a correr pela área da "Comunidade do Gato" (pra quem não conhece ou não é de SP, trata-se de um conjunto habitacional popular construído às margens da Marginal Tietê e que substituiu uma grande favela que havia no local), o shuffle do celular me mandou "That's My Way".
De repente eu não sentia mais minhas pernas... Eu simplesmente segui correndo/trotando, deslumbrada com aqueles grafites maravilhosos feitos nos predinhos, obras de arte tão cheias de sentimentos e significados colorindo a vida daquela gente sofrida que mora por ali, isso tudo enquanto o Edi Rock cantava "... encare a guerra de frente mesmo sendo ruim, somos soldados e sobreviventes sempre até o fim, olhe pra mim e veja o quanto eu andei, envelheci, eis-me aqui, nunca abandonei".
De repente, tudo era poesia.
Eu corri e cantei, corri e cantei, observando o colorido da comunidade e sendo observada com curiosidade por alguns poucos que circulavam por ali. Eu corri e cantei, enquanto sentia as lágrimas molharem meu rosto suado e embaçarem os óculos de Sol. Eu sacudi os braços, eu gritei, eu PIREI. E chorei. Chorei. CHOREI.
Foi catártico.
De repente minha vida passou diante dos meus olhos assim, como um videoclipe criado a partir da convergência de informações que, juntas, faziam todo o sentido: a letra da música, o sofrimento do percurso, o contraste do cenário, a vontade de desistir sendo minuto a minuto vencida pela vontade de terminar... desistir não era mais uma opção... Tudo era poesia. A poesia da MINHA VIDA.
Saí de casa pra correr mais uma prova, e voltei extasiada. Jamais imaginei que viveria algo como o que vivi ali, naqueles poucos minutos em que corri pela Comunidade do Gato ao som de That's My Way.
Voltei transformada. À flor da pele. E mais certa do que nunca de que, aconteça o que acontecer, a luz do sol sempre vai iluminar o meu amanhecer, e se na manhã o sol não surgir, por trás das nuvens cinzas tudo vai mudar, a chuva passará e o tempo vai abrir, e a luz de um novo dia sempre vai estar pra clarear, iluminar, proteger e inspirar o meu caminho.
Voltei transformada. À flor da pele. E mais certa do que nunca de que, aconteça o que acontecer, a luz do sol sempre vai iluminar o meu amanhecer, e se na manhã o sol não surgir, por trás das nuvens cinzas tudo vai mudar, a chuva passará e o tempo vai abrir, e a luz de um novo dia sempre vai estar pra clarear, iluminar, proteger e inspirar o meu caminho.
That's my way, and I go!