terça-feira, 1 de abril de 2008

A Rainha * * * *

Se tem um Oscar que foi merecido nos últimos anos foi aquele conferido à extraordinária Helen Mirren pelo seu papel em A Rainha. Ellen tornou-se praticamente um clone da Rainha Elizabeth II, mas a semelhança física a que chegou não é nada diante de sua estupenda atuação, merecidamente consagrada.

Filmes sobre a Rainha da Inglaterra não são originais, tampouco novidade... A figura emblemática da grande monarca, desde Elizabeth I, é sem dúvida fonte de grande inspiração para a indústria cinematográfica, o que leva consequentemente ao risco da mesmice depois de tanta exploração do tema, mas não é o que acontece com esse longa que consegue ser histórico, dramático, humano e divertido, surpreendentemente divertido.

"A Rainha" nos leva para os bastidores de uma das maiores tragédias da história britânica - a morte de Lady Di. Mas, ao contrário do que pode parecer a princípio, não é este o foco da trama, é apenas um pano de fundo para mostrar grande parte dos conflitos que se sucederam à tragédia nos bastidores do poder, é um pano de fundo para mostrar a maneira como a família real teve de lidar com pressões vindas de todos os lados para tentar fazer a coisa certa diante da morte de uma figura tão carismática, acontecimento que abalou o mundo inteiro e que colocou em xeque todos os protocolos reais, principalmente pelo fato de Diana não pertencer mais à realeza quando de sua morte.

Quando acontece a tragédia que vitimou Lady Di, o Primeiro Ministro Tony Blair (Michael Sheen, também ótimo no papel), acabara de ser eleito, e a Família Real estava passando férias no Castelo de Balmoral. De início, os modernos e populares métodos de Tony Blair confrontam-se com as tradições invocadas pela Rainha, e aí começa o conflito que poderia colocar ambos definitivamente em posições opostas - a decisão sobre como seria o funeral de Diana - mas que acabou por aliá-los da maneira mais inesperada, principalmente porque, como vemos no filme, ambos corajosamente enfrentaram seus preconceitos, assumiram suas fragilidades e incertezas e buscaram a racionalidade para fazer o necessário e encontrar a saída mais elegante para lidar com um "acontecimento sem precedentes e para o qual não havia protocolo pré-estabelecido".

O filme mistura cenas de ficção com cenas reais da época da tragédia, e a pesquisa histórica é tão cuidadosa que alguns dizem que é praticamente um documentário dos bastidores do poder, quase não dá pra perceber quais são as cenas documentais e quais são as cenas ficcionais, o que não deixa de ser um grande atrativo, já que pode ser bem interessante desvendar, ou pelo menos conhecer uma parte tão importante da história contemporânea.

Eu disse no início deste texto que A Rainha é também um filme divertido, e talvez isso soe estranho já que estamos aqui falando de um assunto tão sisudo. Acontece que de tão caprichado, o roteiro consegue, mui respeitosamente, inserir aquele humor tipicamente britânico em diálogos afiadíssimos, e é impossível não rir em algumas cenas. Aliás, há uma cena particularmente divertida, em que a Rainha, pouco antes de sair para seu passeio matinal com seus muitos cachorrinhos, consegue silenciar os animais com um simples olhar enviezado e um levantar de mão, como quem diz: "esperem", ao que os cães obedecem fielmente, colocando-se um ao lado do outro e matendo-se absolutamente silentes até que a Rainha ordene que a acompanhem. Apenas uma amostrinha do inimaginável poder - e carisma, por que não dizer - dela, "The Queen".

Um filmaço. Permita-se, e surpreenda-se!

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