terça-feira, 25 de agosto de 2009

A História do Rodeio

Prontos para mais uma trapalhada da Dona Farta? Então senta que lá vem história!

Eu não tenho a menor ideia de como funciona o calendário do mundo dos Rodeios, só o que eu sei é que sempre nesta época do ano rola uma overdose do "movimento caipira" por conta da etapa mais famosa, a tão falada "Festa do Peão de Barretos".

Não é a minha praia, qualquer um que me conheça um tiquinho sabe disso, mas é também verdade que não posso renegar meu passado e tenho que admitir que houve um tempo em que eu era "mais aberta", digamos assim, ao mundo sertanejo. E neste tempo, há uma quantidade considerável de anos atrás, havia todo um glamour em torno do Rodeio de Barretos, e todo mundo que era cool de verdade tinha que participar pelo menos uma vez da festa.

Ah, os vinte e poucos anos! Bons e Bizarros tempos!

Eu tinha comprado meu primeiro carro havia pouco tempo, e estava ainda vivendo aquela fase de empolgação, de querer rodar o mundo guiando meu possante, de curtir minha liberdade, essas bobagens... E então um belo sábado acordei e ouvi alguma coisa na TV sobre a Festa do Peão de Barretos. Era o último final de semana do evento, e todos os telejornais faziam reportagens especiais a respeito, e aquele zumzumzum todo imediatamente me acendeu a luzinha da ideia: "É pra lá que eu vou!".

Liguei pra uma amiga e a convidei para ir comigo pra Barretos, como se convida alguém para ir ali na esquina, tomar um café. A amiga não se fez de rogada e aceitou na hora. Passei para pegá-la e no finalzinho da tarde caímos na estrada.

Não tínhamos a menor ideia de onde ficava Barretos. Não tínhamos noção do que encontraríamos por lá. Apenas nos jogamos na estrada e, perguntando aqui, perguntando ali, conseguimos descobrir mais ou menos qual seria o melhor caminho. Em um dos muitos postos de beira de estrada em que paramos pra pedir informações nos explicaram que teríamos que sair da estrada principal (acho que era Anhaguera, mas não tenho mais certeza), e pegar uma estradinha vicinal que nos levaria até a cidade de Barretos.

Já era noite, estávamos na estrada há pelo menos 3 horas e, contrariando toda a prudência recomendada pelas pessoas mais sensatas nos enfiamos na tal estradinha vicinal, uma via com sinalização péssima, iluminação inexistente, cercada pelo nada e que parecia levar a lugar nenhum. Tipo aquelas estradas de filmes de terror, de onde nunca se consegue sair...

Mas aos vinte e poucos anos a gente mal toma conhecimento do medo, e a empolgação de estar quase chegando à famosa Festa do Peão de Barretos superava qualquer outro sentimento. Vimos estrelas cadentes no caminho (e eu quase perdi a direção do carro de tanta emoção), vimos túneis que não existiam (eram apenas ilusão de ótica pela sombra das árvores na escuridão), vimos pessoas à margem da estrada - pessoas que não eram reais, e mais uma infinidade de coisas inexplicáveis, mas estávamos numa espécie de transe e nada disso nos dissuadiu de chegar à cidade.

Depois de muito tempo, nem me lembro mais quantas horas, de fato nós chegamos a Barretos. Fomos seguindo o "fluxo" até encontrar uma fila imensa de carros parados numa estrada de terra (de TERRA, guardem esta informação), e então nos informaram que aquela era a fila para chegar ao Parque do Peão. Foi meio frustrante, porque na nossa imaginação a chegada seria um pouco mais glamurosa, mas não tínhamos outra alternativa, então ficamos na fila de carros, que andava uns 2 ou 3 metros a cada 10 minutos.

Num determinado momento começou a rolar uma festinha à parte da galera da fila dos carros, o pessoal descia do carro pra comprar ou compartilhar bebida, paquerar, causar, essas coisas que a gente faz aos vinte e poucos anos. Eu e minha amiga encontramos um vendedor de chapéus e tratamos de nos paramentar, e então começamos a "pagar de gatinhas" a bordo do meu possante, vidros abertos, música quase alta, caras e bocas, aquela coisa... Não demorou para os cowboys chegarem, e assim fomos administrando a lenta fila até a chegada ao Parque do Peão, entre uma paquerada e outra, uma gracinha aqui, um fora ali, estávamos "nos achando"... De repente fazia muito sentido tudo o que diziam sobre o Rodeio de Barretos...

Já era bem tarde (por volta da meia-noite, eu acho) quando finalmente conseguimos estacionar no Parque. Largamos o carro lá no meio do estacionamento gigante e lotado e fomos explorar a festa. Na verdade a gente nem sabia o que exatamente se faz em uma festa de peão, mas mantivemos a pose blasè e fomos andando no meio das barracas, observando os outros, tentando entender o que tava rolando.

Decidimos que pagar o ingresso pra ver o Rodeio não era uma alternativa, já que não entendíamos patavina de bois, touros ou cavalos, e ao que parecia era na área livre da feira que as coisas aconteciam. Ficamos por ali, circulando, bebericando um negócinho aqui, outro ali, e quando a noite começou a ficar monótona nos jogamos em uma balada que parecia ser "o lugar". Por fora era apenas uma tenda montada no meio do Parque do Peão, mas por dentro era a reprodução fiel das mais badaladas casas noturnas da Capital, com a diferença que os Mauricinhos e Patricinhas de SP estavam ali travestidos de cowboys e cowgirls.

Em pouco tempo arrumamos companhia, e quando nos demos conta já estava amanhecendo, e a balada terminando. Saímos da tenda ainda escura acompanhadas dos nossos paquerinhas, e foi à luz de uma linda manhã de domingo que fomos confrontadas com a nossa realidade. Estávamos encardidas. Marrons. Parecíamos uma escultura de terra, algo assim. Era possível enxergar apenas nossos olhos e os chapéus, mas o resto era só poeira. Minha amiga olhou minha mão e fez um sinal discreto, e quando eu prestei atenção vi que até minhas unhas estavam tomadas pela terra, parecia que eu tinha cavado uma sepultura com as mãos. Um horror. E os rapazes também não conseguiram evitar uma certa cara de espanto ao nos enxergar melhor, à luz do dia.

Bem diz o ditado que à noite todos os gatos são pardos. Na noite anterior e na madrugada dentro da balada escura tudo parecia plenamente normal, e ficamos nos perguntando como ficamos daquela cor, em que momento desde a nossa chegada a Barretos a terra grudou no nosso corpo sem que tivéssemos percebido.

Os paqueras, obviamente, arrumaram uma desculpa e se mandaram, e eu e minha amiga decidimos que precisávamos encontrar algum lugar pra tomar um banho e trocar de roupa, já que pretendíamos ficar na festa também no domingo, pelo menos até o começo da noite.

Camelamos até o estacionamento gigante e demoramos um bom tempo pra encontrar meu carro, porque a situação já estava bem diferente da noite anterior, e também porque eu estava procurando um carro azul (eu tinha um corsinha azul lindo), quando na verdade devia estar procurando um carro marrom. Desacreditei quando reconheci meu carro pela placa e vi que também ele tinha mudado de cor, consumido pela poeira. Quase infartei quando abri as portas e constatei que o marrom não estava só do lado de fora, mas também - e principalmente - do lado de dentro. Poeira por todo lado, painel, bancos, volante, tapetes, tudo marrom, tudo terra, tudo imundo.

Chorei.

Então nos ocorreu que aquela poeira toda provavelmente veio da estrada de terra onde ficamos paradas por horas na noite anterior, e só o que nos consolou foi pensar que, bem... talvez todo mundo estivesse com o carro marrom, e talvez o marrom virasse realmente tendência da estação, algo como "moda Barretos", algo assim...

O fato é que não conhecíamos nadica de nada da cidade, não sabíamos nem pra que lado ficava o centro, onde poderíamos encontrar um lugar pra tomar banho e trocar de roupa, não sabíamos nada e tivemos que descobrir tudo perguntando aqui e acolá. Encontramos um posto de gasolina de beira de estrada que tinha banheiro imundo com chuveiro - aka bica meia-boca, mas foi lá mesmo que nos viramos e tentamos recuperar um tiquinho de dignidade. O moço do posto também tentou dar um jeito do carro imundo - sem muito sucesso, mas nós já limpinhas, de dentes escovados, banho tomado e roupa trocada ficamos novas em folha, e partimos para a exploração da cidade, tomar café da manhã, essas coisas.

Perto da hora do almoço retornamos ao Parque do Peão, porque segundo nos informaram era nesse horário que o movimento recomeçava. Estávamos cansadas, tínhamos virado a noite sem dormir, mas a empolgação de vivenciar Barretos intensamente era maior, além do que queríamos exibir nossos recém adquiridos celulares Nokia da BCB (vulgo tijolão), ostentando nosso "brinquedinho" orgulhosamente preso na cintura, de modo que lá estávamos nós debaixo de um Sol de 50 graus andando pra lá e pra cá, sendo laçadas por um cowboy engraçadinho aqui, sendo galanteadas por outro cowboy acolá, e depois de muito vai e vem entre barracas decidimos parar em um quiosque pra beber alguma coisa.

Inteligentíssimas que éramos, achamos apropriado tomar um porre de Amarula. Muito apropriado. Várias doses depois, estávamos consideravelmente bêbadas naquele Sol infernal, bêbadas de A-ma-ru-la! Decidimos tirar um cochilo no carro pra estar "inteira" à noite, e voltamos aos trancos e barrancos até o estacionamento lááá longe, entramos no carro, deitamos os bancos, ligamos o ar frio (não ar condicionado, ar frio, sabe, aquele da ventilação?), ar frio este que na verdade estava fervendo, já que o carro estava debaixo do Sol escaldante, mas mesmo assim conseguimos pegar no sono, porque bêbado, vocês sabem... dorme em qualquer canto, de qualquer jeito...

Horas depois, não sei bem quantas, acordamos torradas, suadas, com o corpo todo doendo, praticamente desidratadas pelo Sol e pelo ar quente do carro. Nosso humor já não era mais o mesmo, tenho que confessar, e a sensação incrível de estar em Barretos também desaparecia subitamente. Mesmo assim retornamos ao Parque do Peão para mais umas voltinhas e azaração (e hidratação, desta vez apenas com água). Já estava anoitecendo, e o senso de responsabilidade nos fez decidir ir embora, já que ambas trabalharíamos na segunda-feira de manhã. Sensação de alívio, preciso confessar.

O problema é que chegamos ao carro e quem disse que ele pegava? Eu girava a chave no contato e não havia sequer um sinalzinho do motor, nada, silêncio absoluto. A princípio estranhamos, mas alguns minutos depois lembramos das horas dormidas com o ar ligado, e nos ocorreu que, bem... talvez isso tivesse descarregado da bateria! Inteligentíssimas!

A alternativa era tentar dar o famoso tranco, mas minha amiga se irritou comigo muito rapidamente, porque eu realmente não sabia (e não sei até hoje) esse negócio de dar tranco em carro... Faço tudo do jeito errado e a pessoa que está empurrando fica sempre fula da vida com o esforço em vão. Depois de vários minutos de paspalhice nossa - 2 moças completamente fora de controle tentando colocar um carro em movimento - apareceram alguns caras e se ofereceram pra nos ajudar, não sem antes fazerem toda sorte de piadinhas envolvendo mulheres e volante. Ódio!!!

Só sei que com muito sacrifício conseguimos sair daquele lugar, com uma única certeza: Jamais retornar. A verdade é que foi meio traumático. Estávamos tão cansadas que nem conseguimos voltar direto pra São Paulo, precisamos fazer uma parada estratégica na casa da minha irmã que na época morava em Rio Claro (mais ou menos o meio do caminho entre Barretos e São Paulo), dormimos por lá e pegamos a estrada de volta pra Sampa na segunda-feira de manhã, e fomos ambas direto para o trabalho, onde, obviamente, não produzimos absolutamente nada.

Ficamos estragadas por dias. Meu carro nunca mais voltou a ser a belezura que era antes, mesmo depois de várias lavagens completas e lavagens do estofamento. Mas nada disso tinha importância diante da cara de espanto / admiração que as pessoas faziam quando contávamos que tínhamos ido para a Festa do Peão de Barretos. Naquela época, pelo menos, isso era status. E aos vinte e poucos anos, bem... a gente faz (quase) qualquer coisa pra impressionar.

Seguuuuuuura Peão!

terça-feira, 18 de agosto de 2009

O Dia DELA

Hoje minha mãezinha completaria 53 anos... Estaria ainda muito jovem, cheia de planos e sonhos, cheia de energia como ela sempre foi...

Mas a vida é injusta e ela partiu antes mesmo de chegar aos 50 anos, e agora o dia 18 de agosto é apenas um dia triste, daqueles em que a saudade aperta e a ausência dói ainda mais...

Muita saudade, Mãe!
Te amo pra sempre!!!




terça-feira, 11 de agosto de 2009

Era uma vez...

...Duas pessoas que se conheceram e flertaram, e então se apaixonaram, e namoraram, e procriaram, e foram morar juntos, e depois de muitos anos finalmente se casaram, e então se separaram, e, separados, se reapaixonaram, e então voltaram a namorar...



Let's stay together...

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

O que eu também não entendo...

Sabe quando você deseja muito uma coisa, tanto que acaba idealizando-a inconscientemente, e transformando-a em algo que ela não é de verdade?

E aí depois de muito sacrifício e empenho você finalmente consegue esta coisa?

E então percebe que aquilo não é exatamente do jeito que você pensou, porque, afinal de contas, você idealizou algo que não existe?

A vida é muito sacana e vive dando essas rasteiras na gente. Ou talvez a culpa seja mesmo da mente humana, tão doentia...

Por que a gente quase nunca consegue sincronizar razão e emoção?

Por que a gente complica o que é simples o tempo todo, quando inteligente mesmo seria fazer o exercício inverso?

Que prazer sádico se esconde em nosso cérebro, que é capaz de nos levar a atitudes às vezes tão inteligentes, e em outras vezes tão estúpidas?

Aliás, de onde surge tanta estupidez assim, do nada? Uma estupidez capaz de fazer uma pessoa contradizer todos os seus princípios e agir como um ser irracional?

Como sair deste engodo? Como reencontrar o equilíbrio e começar de novo?

A única certeza que eu consigo ter no meio de tantas questões sem respostas é que ninguém nos conhece completamente. Muito menos nós mesmos.

Eu não me conheço. Não me reconheço. E me surpreendo o tempo todo... E quando eu acho que encontrei a resposta que precisava aparece uma nova questão que eu nem sabia que estava dentro de mim, e aí o complicado fica mais complicado, e a solução cada vez mais distante.

Talvez seja isso. Talvez o grande desafio da vida não seja compreender nada nem ninguém, senão a nós mesmos.

E como a autocompreensão é algo impossível, o segredo é aprender a administrar o caos. Ou sucumbir. Ou apenas deixar rolar, e ver no que vai dar. Até um terremoto mudar as rotativas.

É isso.