domingo, 19 de julho de 2009

O Escafandro e a Borboleta


Jean-Dominique Bauby (vivido brilhantemente por Mathieu Amalric) foi um bom vivant, apaixonado pela vida e pelas mulheres, acostumado a desfrutar das regalias proporcionadas por sua fama no meio fashion editorial, já que era editor da famosa revista Elle francesa.

Aos 43 anos foi vitimado por um derrame cerebral que o deixou em coma durante cerca de 20 dias, após o que acordou plenamente lúcido, mas descobriu-se completamente paralisado, acometido pela rara síndrome de locked in, conseguindo movimentar apenas o olho esquerdo.

Com o auxílio de uma empenhada equipe médica, especialmente as fisioterapeutas do hospital, Bauby reencontra uma maneira de comunicar-se com o mundo, utilizando uma improvável técnica de piscar os olhos para formar palavras. E foi assim que conseguiu escrever suas memórias, publicadas através do livro homônimo que inspirou este excelente filme.

Apesar do tema trágico que poderia transformar o filme num dramalhão recheado de clichês, somos brindados com uma ode à vida e à morte, uma poesia em movimento na tela do cinema (ou da TV), tanto por mérito da visão pessoal de Bauby narrada em seu livro como pela magistral direção de Julian Schnabel (brilhante diretor não só neste filme mas também no já antigo Antes do Anoitecer, um dos meus filmes preferidos de todos os tempos)

Fecham o "pacote" com chave de ouro uma fotografia estonteante que conseguiu me teletransportar para o belíssimo litoral francês, ao som de uma trilha sonora inesquecível.

Não deixe de assistir "O Escafandro e a Borboleta".

Realmente Imperdível!

"Sua imaginação é a única coisa completamente livre. Pode te levar pra onde você quiser"


Você é Moralista?

Acompanhem comigo a seguinte historinha:

Personagem 1)
Juliana Paes, uma mulher linda, famosa, influente no meio artístico, atriz consagrada de muitas novelas, já posou nua para revistas masculinas e já fez tantos outros ensaios sensuais, tendo, inclusive, integrado uma famosa lista internacional de mulheres mais sexys do mundo.

Personagem 2)
Juliana Silva (fictício), uma mulher linda, anônima, que exerce um trabalho burocrático numa repartição pública, nunca mostrou seu corpo em público e é inclusive famosa entre os colegas por seu comportamento discreto e pelas roupas que veste, sempre muito comportadas e nada sensuais.

Pois bem. Um belo dia um famoso colunista de humor resolveu usar a personagem 1 em sua coluna, e cedendo à obviedade de seus estonteantes atributos físicos, fez uma piada de duplo sentido dizendo que ela "não era casta", em alusão à condição da personagem indiana vivida pela moça na novela do momento.

Muitos riram da piada. Outros, como eu, acharam-na bastante sem graça, apesar do esforço do carismático humorista. Até aí, ok... acontece com os melhores, e nem todo mundo consegue fazer piada boa todo dia.

Acontece que a personagem 1, protagonista da piada em questão, por alguma razão que não nos cabe compreender sentiu-se ofendida com o que foi dito/escrito, e procurou a Justiça para obter a reparação à ofensa sofrida, assim como para evitar que outras piadas fossem feitas a seu respeito pelo tal piadista.

A Justiça, por sua vez, entendeu que procedia a reclamação da personagem 1, entendeu ser legítima a ofensa por ela alegada e penalizou o humorista com uma multa pecuniária, além de proibi-lo de citar a moça em outras piadas.

Em razão de ambos os envolvidos no incidente serem figuras públicas que estão constantemente na mídia, criou-se todo um burburinho em torno do caso, sendo que a grande maioria das pessoas posicionou-se contra a personagem 1 e contra a decisão da justiça, defendendo que a liberdade de expressão deve prevalecer sempre e que a proibição imposta ao humorista era uma vergonhosa demonstração de censura.

É uma questão polêmica, por assim dizer, e cada um tem o direito de formar sua opinião e tomar o partido que quiser.

O problema não é a posição que a maioria das pessoas tomou. O problema, meus queridos, é a fundamentação desta posição, são os critérios que as pessoas utilizaram para chegar a esta conclusão. Este é o ponto.

Um famoso blogueiro, celebridade virtual e também real, formador de opinião e idolatrado pelos fãs de seu programa de *cof cof* humor ingeligente, rapidamente abordou o assunto no seu Blog, defendendo ferrenhamente o humorista e dizendo-se indignado com a atitude da atriz e a decisão da justiça. Abre seu post com uma fotografia sensual da atriz, e é nela que baseia todo o seu raciocínio:

Ora, se a moça já mostrou a bunda para o país inteiro, não pode sentir-se ofendida com uma mera menção em uma piada, pelo contrário: devia se sentir honrada por ser citada pelo humorista, como se a citação inclusive a elevasse a um patamar de respeito que ela perdeu no dia em que posou pelada.

Vocês entendem onde estou querendo chegar? Que P* de argumento é esse? Como pode uma pessoa supostamente descolada e modernex, uma pessoa supostamente politizada e que briga tanto pela democracia e pela igualdade dizer uma coisa dessas? Em qual escola esse moço aprendeu o sentido de democracia? Qual foi o conceito de igualdade que ensinaram pra ele?

Obviamente estou usando o Marcelo Tas apenas como exemplo. Porque lamentavelmente é nessa mesma linha de pensamento que a maioria dos indignados se baseou (ou, pior, foi esta linha de raciocínio que a maioria das pessoas copiou). As pessoas acham que o fato de a personagem 1 já ter mostrado seu corpo no vídeo ou em fotos tira-lhe o direito de se sentir ofendida. Como se aquele ensaio fotográfico da Playboy fosse o passaporte para o eterno desrespeito.

E não, não é. Cada um tem uma opinião particular sobre mulheres que vendem a imagem nua do seu corpo, e eu tenho a minha. Cada um tem uma opinião sobre mulheres que vendem o seu próprio corpo, e eu também tenho a minha. Mas considerando que vivemos num pais democrático, essas opiniões são apenas opiniões. Que podem, sim, ser expressadas como bem entendermos, pela liberdade de expressão tão propalada, mas que em momento nenhum tiram a legitimidade de quem quer que seja se sentir ofendido e buscar a reparação por uma ofensa.

Foi isso que Juliana Paes fez. Se para mim parece bobo processar alguém que disse apenas que ela "não tem casta", pode não ter sido tão insignificante pra ela. E quem sou eu pra medir o tamanho da ofensa que ela sentiu? Como posso eu saber de que maneira isso A atingiu?

A ofensa é personalíssima, meus queridos. Só sabe a dimensão quem a sofre. Quem está de fora fica apenas no achismo, e isso muda todo o contexto do que aconteceu.

E aí vocês vão me perguntar: Onde entra a personagem 2, a Juliana anônima?

Pois bem... suponhamos então que a ofendida fosse a personagem 2. Suponhamos que lá na repartição onde ela trabalha, um colega saísse dizendo para todos os outros que ela não era casta. Suponhamos que ela decidisse processar o colega de trabalho por sentir-se profundamente ofendida com a piada. E suponhamos que a justiça decidisse de forma parecida como no caso famoso.

O que vocês achariam? Ficariam também contra a moça neste caso?

Aposto que diante de uma situação assim, isoladamente, a maioria das pessoas que agora condena a atitude da Juliana famosa defenderia o direito da Juliana anônima, porque entenderiam que esta sim, teria uma honra a zelar. O fato de a personagem 2 nunca ter mostrado o corpo em público e ser uma pessoa discreta a tornaria legítima possuidora do direito de reparaçao por uma ofensa, ao contrário da personagem 1.

Quanto moralismo, não acham? Moralismo, machismo, preconceito, tudo ao mesmo tempo. E era aqui que eu queria chegar.

A verdade, meus queridos, é que julgar é fácil. E seguir a onda também. Difícil é refletir e tentar manter-se coerente com aquilo em que se acredita.

Não tenho nada contra José Simão, muito pelo contrário, gosto bastante dele, principalmente porque ele é muito carismático e bem humorado, mesmo quando (não raramente) faz piadas ruins.

Também não tenho absolutamente nada contra Juliana Paes, muito menos contra o fato de ela já ter mostrado seu corpo por aí. Acho-a lindíssima, inclusive, e também muito carismática.

No episódio propriamente dito, tendo a achar que ela exagerou, a piada foi besta e aparentemente inofensiva, não justificaria uma medida tão extrema como o processo. Mas isso é apenas o meu achismo. Certamente ela tem razões próprias para ter agido como agiu. E se foi ofendida, pois bem, que a Justiça repare. É assim que deve ser. Para quem já posou pelada ou não. (Igualdade, lembram?)

Pra finalizar, também não tenho nada contra o Marcelo Tas, e trouxe o assunto pra cá porque realmente fiquei inconformada com o grau de machismo e preconceito que ele expressou no post sobre o caso. Dizer que o fato de Juliana Paes ter posado pra fotos sensuais a torna imune a qualquer ofensa de cunho sexual é das coisas mais grotescas que ouvi nos últimos tempos.

Seria o mesmo que dizer que qualquer cidadão pode livremente bater a carteira de um político, e que sua atitude estaria justificada uma vez que o político também rouba dinheiro público. Seria o mesmo que dizer que um erro justifica o outro, ou avalisa o outro, e não é por aí.

Quem com ferro fere, com ferro será ferido? Claro que não! Os tempos da Lei de Talião já se foram. Agora quem manda é a democracia. Sem moralismos, sem machismo, sem preconceitos.

É isso.

O Banheiro do Papa


Imagine uma cidadezinha pequena localizada no interior de um país de 3o. Mundo, onde não há riquezas, não há trabalho, não há progresso, onde nada acontece e a rotina das pessoas é absolutamente previsível, dia após dia.

E então o Papa, Sua Santidade em pessoa decide visitar justamente esta cidadezinha perdida no mapa, fato este que, obviamente, será um marco na história do lugar e virará notícia no mundo todo.

Considere também que o Papa arrasta multidões por onde passa, de modo que é mais do que esperado que a tal cidadezinha, tão absolutamente pacata, tenha sua rotina violentamente alterada em razão do evento religioso.

Eis o cenário de "O Banheiro do Papa".

Baseado em fatos reais - em 1988 o Papa João Paulo II visitou a cidade de Melo no Uruguai (localizada próximo à fronteira com o Brasil) - este adorável filme (produzido pelo brasileiro Fernando Meirelles) retrata o processo de renovação das esperanças que toda a população de Melo viveu com a expectativa da visita do Papa, e a consequente oportunidade de mudança de vida que vislumbraram por conta das centenas de milhares de pessoas que eram esperadas na cidade para acompanhar o evento religioso.

O foco do filme está na personagem de Beto (César Trancoso) e sua família (esposa e filha adolescente). Ao perceber que praticamente todas as pessoas da cidade já tinham encontrado um negócio para explorar - alguns fabricariam artigos religiosos e a maioria venderia comida, Beto tem a brilhante ideia de fazer um banheiro, já que "depois de comer tudo que haveria pra se comer, obviamente as pessoas precisariam usar o banheiro".

Acompanhamos então sua dura e atrapalhada batalha para a construção do Banheiro do Papa, e mergulhamos num universo de tanta esperança, criatividade e otimismo mesmo diante de uma vida miserável que em determinado momento dá até vergonha de sermos (eu sou, às vezes), tão derrotistas ao menor obstáculo.

É um filme tão singelo e ao mesmo tempo tão grandioso... faz chorar mas também diverte tanto... é leve e ao mesmo tempo tão profundo...

Imperdível!

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Involução aérea

Eu sou do tempo em que viajar de avião era uma coisa bacana. Elitizada até. Chique. Porque as passagens custavam absurdamente caro, mas as aeronaves, ah... as aeronaves... Eram aquelas geringonças enormes e tão confortáveis que a gente até se sentia importante dentro delas. Era bacana, sabe? Era realmente legal.

Mas, vocês sabem, o tempo passa, o tempo voa, e a poupança Bamerindus continua numa boa...

E é impressionante como as coisas podem ir de um extremo ao outro em apenas alguns anos. Porque se antigamente viajar de avião era um privilégio para poucos afortunados que podiam unir conforto + segurança + rapidez (nessa ordem), hoje em dia é uma tortura para muitos desafortunados que precisam deixar até dignidade do lado de fora para conseguir embarcar no minúsculo teco-teco e tentar chegar ao seu destino sem nenhum conforto, em condições de segurança nebulosas, e nem sempre de maneira rápida, já que os horários marcados dos voos se tornaram meras informações referenciais que não necessariamente (quase nunca, na verdade) são cumpridas.

Aí hoje eu vi essa matéria veiculada no Bom Dia Brasil (link postado no twitter pelo @jlpedroso), e tive que rir. Porque, né? Deve ser uma piada, disfarçada de reportagem. Só pode! (estou me referindo ao conteúdo, e não à matéria em si... só pra esclarecer).

Porque quando a notícia é que a ANAC precisou fazer uma pesquisa pra concluir que os passageiros sofrem um certo desconforto por conta do mínimo espaço entre as poltronas, eu só posso concluir que eles estão tirando sarro da cara de todos nós.

Ou então todas as pessoas que trabalham na ANAC são alguma espécie de gnomos ou duendes ou anões que não medem mais do que 1 metro de altura e não pesam mais do que 30 quilos, única chance de eles nunca terem percebido antes que os aviões são latas de sardinha onde as pessoas viajam esmagadas e grudadas umas nas outras praticamente sem respirar.

Em que mundo essas pessoas vivem, que precisaram fazer uma pesquisa para tirar essas conclusões?

Eu queria muito que o Sr. Presidente da ANAC viajasse numa poltrona do meio num voo lotado de 4 horas de duração num aviãozinho furreca desses da nova Varig ou Gol e depois me dissesse se ele realmente acha que era necessária uma pesquisa pra concluir o óbvio.

Mas isso nem é o pior. O pior é que, de posse do resultado da tal pesquisa, qual é a sugestão da ANAC? Aumentar o tamanho das poltronas e reduzir o número de assentos, tornando a viagem minimamente confortável? NÃÃÃÃO!!! A sugestão é de obrigar as Cias. Aéreas a promover sessões de exercícios com os passageiros de voos de mais de 4 horas de duração, para evitar, sei lá, uma gangrena? Será que a ideia dele é que os comissários façam sessões de alongamento com os passageiros? Dentro dos aviões? E quer dizer então que agora os comissários vão precisar estudar educação física e os voos serão transformados em sessões de academia, onde se desafiará as leis da física tentando fazer 2 corpos ocupar um mesmo lugar no espaço???

Sabe, eu não teria acreditado nisso se me contassem. Mas vi o vídeo da matéria, né, e ouvi lá da boca do próprio homem. LOUCO. Absolutamente SEM NOÇÃO. Sugere isso a pessoas que já passam pela humilhação de ter que se esfregar umas nas outras para conseguir chegar à sua poltrona, como se todo o constrangimento do mundo já não fosse suficiente.

Eu sei que quem tem grana e vai viajar para lugares mais distantes pode se valer da 1a. classe e garantir algum glamour, mas e para voos de ponte aérea feitos quase que exclusivamente por aeronaves minúsculas? Eu sempre vejo altos executivos de empresas importantes se espremendo junto à ralé na ponte aérea... acho que nem eles conseguem se livrar disso.

Eu mesma viajo com uma frequência regular principalmente a trabalho. Tudo bem que não sou uma pessoa exatamente do tamanho padrão sugerido pela ANAC (leia-se anoréxica), e mesmo sendo Farta, estou longe de qualquer extremo, sou uma "quase magra", como disseram outro dia.

E sou mulher. E sou brasileira. E tenho curvas (bem) fartas, e essas minhas curvas (leia-se bunda, quadril, coxas) simplesmente não cabem nos 45cm do assento da lata de sardinha chamada avião. Não cabe. Não entra. Não encaixa. Não serve. A cada viagem eu desafio a física e dou um jeito de me espremer no assento, às custas de muito desconforto, dor e até marcas roxas que às vezes aparecem nas regiões espremidas. E isso, repito, porque eu sou apenas Farta, sem chegar ao extremo de ser realmente obesa.

Aí eu fico pensando o que acontece com as pessoas que são maiores do que eu, e elas não são poucas. Fico pensando na pane que pode se instalar se uma pessoa grande, acomodada na janela de alguma das fileiras tiver um pirepaque no meio do voo e precisar se levantar rapidamente. É impossível. Há uma engenharia elaborada instintivamente pelos passageiros a cada embarque / desembarque que permite que todos se acomodem de maneira razoavelmente organizada, mas isso requer muito constrangimento e muito senta-levanta-senta-levanta. E se houver uma emergência, bem... a coisa toda pode sair do controle.

(me ocorreu agora, como será que a mulher melancia viaja? taí uma pergunta que eu faria pra ela se a encontrasse... porque, né? o tamanho da pessoa... impossível que caiba nos 45 cm. da poltrona padrão, impossível! eu não caibo... como será que ela faz? compra 2 passagens? viaja em pé? senta no colo do comandante? se alguém souber, deixe a resposta aí nos coments, que dependendo da ideia posso adotar também)

Eu, confesso pra vocês, tenho um certo pânico desse aperto todo. Sou meio claustrofóbica. E sempre que faço check-in minto para o funcionário que tenho síndrome do pânico e por isso preciso viajar na fileira 1. Na maioria das vezes a mentira cola, e eu consigo pelo menos movimentar os pés durante a viagem, já que não há outra poltrona à minha frente. Mas às vezes eles desconfiam e vem com aquela ladainha de que os assentos da fileira 1 são reservados para portadores de necessidades especiais, blablabla, e aí eu sou obrigada a dar um pequeno piti do tipo "Ok, mas se eu tiver um surto durante o voo, posso colocar em risco a integridade física dos outros passageiros, e não sei se vocês querem isso. Depois não digam que não avisei".

Infalível! É claro que se aparecer alguém com uma necessidade especial real eu cedo o lugar, mas até hoje nunca aconteceu. Estatisticamente, aliás, é bem improvável que as 6 poltronas da fileira 1 tenham destino a pessoas nessas condições, então garanto logo a minha necessidade especial de ter ar para respirar e espaço para mexer os pés. É o mínimo.

Não vou nem comentar o serviço de bordo porque isso alongaria demais o post, vou apenas dizer que já estou com saudade da tão falada barrinha de cereias, e quando uma barrinha de cereais deixa saudade, bem... por aí vocês tiram suas conclusões. Quando eles te oferecem em um avião um pacotinho de bolacha murcha de uma marca que você nunca ouviu falar e que tem gosto de detergente, talvez seja hora de voltar a viajar de ônibus e recuperar um mínimo de dignidade, porque nos Aeroportos dignidade tem, mas acabou.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Então, Adeus!

Estou há dias resistindo à tentação de fazer uma post sobre Michael Jackson, porque não queria cair no lugar-comum nem parecer a oportunista que diz "eu sempre fui fã" só agora que ele morreu.

Mas a verdade é que eu também era fã. Não aquele tipo de fã obcecada que tem todos os discos e conhece todas as músicas e cada detalhe da história de vida do artista, não. Eu nunca fui esse tipo de fã de ninguém, não é o meu estilo, e quando gosto de um artista só o que importa pra mim, mesmo, é a sua arte.

Isso devia ser uma regra, mas infelizmente não é. Não vou ficar debatendo o papel da mídia nessa desconstrução dos mitos em busca de alguma sordidez que possa vender jornais porque não quero transformar esse post em algo chato, cansativo e óbvio. Vou apenas dizer que isso é extremamente negativo, porque muitas vezes uma obra de arte - seja ela uma música, um poema, uma pintura - é tão grandiosa quanto as adversidades vividas pelo artista, então esperar uma vida comum e exemplar dessas pessoas é uma grande bobagem.

E pra comprovar isso, basta que façamos uma rápida e superficial análise da vida de grandes ícones das artes. Desde Beethoven até John Lennon, passando por Leonardo Da Vinci, Janis Joplin, Ray Charles e Elvis Presley (só pra ficar em exemplos óbvios), temos sempre histórias de vida conturbadas que provavelmente contribuíram muito para a construção da obra dessas pessoas. É triste, mas a arte não é nada senão a expressão maior dos sentimentos mais íntimos.

Infelizmente vivemos um tempo em que a mídia, para vender notícia, impõe essa coisa de não se poder avaliar uma arte sem avaliar também a vida pessoal do artista, e uma coisa deveria ser totalmente separada da outra. Você não precisa aprovar a vida pessoal de um artista para gostar da sua obra. Você não precisa aprovar o comportamento bizarro e autodestrutivo da Amy Winehouse, por exemplo, para gostar da excelente música dela, assim como você não precisa concordar com as bizarrices de Michael Jackson para gostar do seu trabalho. Admirar o trabalho de um artista que tenha cometido algum deslize, alguma excentricidade ou até mesmo um crime não significa aprovar o comportamento "errado", porque uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.

Minha irmã Silvia escreveu lá no Orkut dela, e eu assino embaixo: "Michael Jackson, você foi incrível, e sua vida pessoal não é da minha conta".

Isso significa que sejamos contra ou a favor de algum comportamento bizarro que ele tenha apresentado, isso significa que concordamos com o estilo de vida que ele levava? Não, claro que não! Mas se estamos falando da admiração a um artista, devíamos nos ater à sua arte, concordam?

Michael Jackson foi uma grande vítima de sua própria história, desde a infância roubada e traumatizada pelo pai explorador e louco, até a convivência com a mídia sanguessuga que nunca lhe deu um único minuto de paz. Eu não sei você, que me lê, mas se EU tivesse passado por tudo o que Michael passou, com certeza seria também uma aberração, e das grandes.

E, sem polemizar, só queria dizer que eu tenho filho. E se um dia alguém encostasse 1 único dedo no meu filho, acordo financeiro milionário nenhum calaria a minha boca. Eu lutaria por justiça até meus últimos dias, com o único objetivo de ver o pedófilo atrás das grades (isso se eu não o matasse antes e fizesse justiça com minhas próprias mãos). Sendo assim, duvido muito das acusações que fizeram contra Michael. E como nada foi provado contra ele, não tenho razões para julgá-lo por aquele que seria, em tese, seu único crime realmente condenável (já que o que ele fez com o corpo dele não prejudicou a ninguém exceto a ele mesmo).

O fato é que a música de Michael Jackson fez parte da minha infância. Tenho 33 anos, então quando eu era criança de 7, 8 anos, ele já estava em carreira solo, e lembro muito bem como assistir aos videoclipes era hipnotizante, como a gente tentava imitar as coreografias, como tudo relacionado a ele era sempre muito grandioso, e como a música era sempre muito boa. Um artista completo - cantor, compositor, dançarino, produtor, ator, etc, etc, etc.

É o tipo de arte que as pessoas podem até não morrer de amores, mas dificilmente você encontra alguém que diz: "Ah, eu odeio essas músicas do Michael Jackson". É meio universal, sabe, supera a questão do gosto musical de cada um, é simplesmente Michael, diferente, único, incrível. Uma perda lamentada nos quatro cantos do mundo, como você pode ver Neste link, com as fotos das capas dos principais jornais.

Fiquei bem triste com sua morte. Ele era muito jovem e tinha muita vontade de retomar o controle da vida, amava seu público, queria fazer mais shows, queria sempre oferecer o melhor de si para o mundo, ainda que o conceito de melhor dele fosse diferente do nosso. Não dá pra saber o que se passava na cabeça dele, mas acho que aquelas emocionantes imagens dos últimos ensaios deixam isso tudo bem claro.

E depois de 12 dias da perda, veio o Funeral. Showneral, como muitos chamaram. Circo, como tantos outros criticaram. E na minha modesta opinião, foi simplesmente a homenagem mais linda que eu já vi na vida. Digno mesmo do Rei do Pop.

Que muita gente pode ter feito aquele "circo" pra tirar algum proveito da situação? Mas não tenham dúvidas! O ser humano é mesmo nojento e em qualquer situação tem sempre alguém querendo levar alguma vantagem. Sempre foi assim, sempre será. Só que isso não tira a legitimidade do sentimento verdadeiro de familiares, amigos e muitos fãs que estavam ali com o coração voltado exclusivamente para prestar uma reverência ao ídolo que partiu.

Achei muito coerente que tenham feito o funeral da maneira que fizeram. A vida de Michael Jackson foi pública praticamente desde que ele nasceu, não tinha sentido querer privacidade logo agora, que nada mais pode atingi-lo. A família dele é absolutamente bizarra e desestruturada, mas foi coerente pelo menos nesta decisão. Os fãs mereciam esta oportunidade de adeus, e ele mesmo merecia essa grandiosidade. E agora há de descansar em paz.

Sobre o Memorial, como eu já disse, foi lindo e emocionante. Não teve nada de circo (exceto a ridícula Mariah Carey com aquele decote totalmente inapropriado), foi muito respeitoso, digno, e com certeza um marco na história da música, que eu vi ao vivo e que vou lembrar pra sempre. Um típico funeral americano, com um toque "over" para deixá-lo à altura do adeus ao Rei do Pop.

Não consigo eleger um único momento marcante. O depoimento emocionado e sincero da pequena Paris foi de estraçalhar até os corações mais duros, e a homenagem de Stevie Wonder também tão sincera foi de arrepiar. E é com ela que encerro o post, fazendo minhas as palavras de Stevie.

Descanse em Paz, Michael.


terça-feira, 7 de julho de 2009

Falando sério (mas só um pouquinho)


Vi esta campanha no Blog do meu primo e resolvi espalhar a ideia por aqui também, embora talvez fizesse uma ressalva por achar que para cargos executivos a reeleição pode sim ser positiva (mas explico isso melhor em outra oportunidade).

Falar sobre política é algo sempre muito arriscado, e eu mesma tenho comprado algumas briguinhas por conta disso.

Porque tá rolando essa mobilização toda aí, né, por conta do Sarney, e coisa e tal. Todo mundo gritando "Fora, Sarney", todo mundo querendo queimar o velho em praça pública, como se tivessem descoberto assim, do dia pra noite, que, "Oh, meu Deus, ele não presta!"

Falo sem medo de errar que pelo menos 1/3 dessas pessoas inflamadas contra o Presidente do Senado provavelmente sequer conhecem a história do político José Sarney, provavelmente sequer conhecem detalhadamente os fatos que culminaram na atual crise da Casa, e estão bradando "Fora, Sarney" muito mais no embalo do que por convicção.

Tudo bem, ainda assim sobram 2/3 que, teoricamente, estariam defendendo uma posição legítima, e obviamente todos (inclusive o primeiro terço) estão no exercício mais do que legítimo de questionar, contestar, protestar.

Não sou contra o movimento e muito menos estou defendendo José Sarney, quero deixar bem claro. Esta questão inclusive provocou uma certa rusga entre mim e algumas pessoas no twitter - incluindo-se aí um velho amigo, o que me deixa bem chateada pela constatação de que, caramba! Talvez eu realmente não esteja conseguindo me fazer entender.

O que eu disse lá no Twitter, que provocou todo o mimimi, foi que eu estava (como de fato estou) de saco bem cheio desse carnaval "Fora Sarney". E que as pessoas deviam lembrar de dizer FORA para qualquer político na hora de elegê-los, naquele processo democrático pelo qual passamos periodicamente chamado ELEIÇÕES.

É muito fácil eleger as Raposas Velhas para depois ter contra quem gritar. É muito fácil votar em qualquer um, porque analisar um plano de governo ou uma proposta de campanha dá trabalho. Quem entra no site do candidato pra saber quais são suas plataformas na época da campanha? Quantos eleitores conhecem verdadeiramente os candidatos que escolhem para votar? Poucos... muito poucos.

E por causa dessa falta de memória absurda do povo brasileiro, por causa dessa preguiça vergonhosa que nós, eleitores, temos de estudar melhor nossos candidatos, é que pessoas como José Sarney, Fernando Collor de Mello e Renan Calheiros (só pra ficar nos exemplos óbvios) estão perpetuados no poder há tantos anos. Não podemos esquecer que todos eles estão onde estão legitimados pelo voto popular, pelo processo democrático das eleições, todos eles só são detentores do poder que possuem porque nós, brasileiros, entregamos esse poder por vontade própria nas mãos de cada um deles.

Entendem agora a minha linha de raciocínio? Qual o sentido em reeleger compulsivamente políticos conhecidamente imorais, ano após ano, para depois ficar fazendo essa algazarra de "Fora Fulano", "Fora Beltrano"? Como queremos ter alguma expectativa de decência no cenário político nacional, se nós sequer conseguimos mudar as coisas?

O poder está e sempre esteve (pelo menos nos últimos 20 anos) nas nossas mãos. E tudo que conseguimos fazer enquanto nação foi manter no poder os coronéis da estirpe de José Sarney.

A culpa é nossa. Exclusivamente nossa.

E por isso eu me irrito. E por isso eu acho patacoada ficar fazendo movimento virtual de #forasarney. E por isso a ladainha toda me enche o saco.

Claro, como eu já disse, temos o direito de protestar, temos o dever de cobrar e fiscalizar, e não há nada errado em promover uma mobilização pela moralidade. O que eu não aceito é que as coisas comecem e terminem na gritaria, no mimimi, no blablabla, e que o máximo que consigamos fazer seja barulho.

Quero muito vir aqui após as próximas eleições admitir que eu estava errada, ah, como eu quero, mas aposto e ganho que mais uma vez teremos a reeleição de pelo menos metade desta corja, e nada mudará. Não há a menor chance de mudança política sem que mudemos OS POLÍTICOS. Só não enxerga quem não quer.

Por isso esta "campanha" é tão bacana. E seria realmente bem legal se todo mundo tivesse por princípio não reeleger ninguém. É o que tenho feito há algumas eleições. Me recuso a votar em pessoas que já estão / estiveram exercendo algum cargo público. Mesmo que seja um político teoricamente bom, mesmo assim eu me recuso. Porque nunca saberemos se as coisas podem ficar melhores se não tentarmos mudar. Estou fazendo a minha parte.

Há risco de colocarmos no poder outras pessoas ruins? Sim, não temos garantias, e o risco de quebrar a cara é sempre grande... mas se for pra errar, que seja na tentativa de mudar... Porque errar conhecendo o erro, bom... aí vocês já sabem, né? É burrice!

P.S. só pra não dizer que não falei "das flores podres do nepotismo"
(e aproveitar e - tentar - desentalar um sapo gigante):

Nepotismo me enoja. Principalmente porque as pessoas criticam os outros políticos que empregam suas famílias, mas quando elas mesmas tem uma chance, bem... não hesitam em mamar nas tetas dos cofres públicos. Infelizmente tenho um exemplo disso muito próximo, uma parte da família, sabe, cheia de princípios e convicções e ostentações e blablablas, que passou a vida apontando com o dedo em riste o nariz sujo dos outros, mas que quando teve sua chance, bem... "deitou e rolou, e sujou o próprio nariz". E a sujeira? Sempre varrida para debaixo do tapete. Porque é assim que as pessoas são. No fundo o que todo mundo quer, sempre, é levar alguma vantagem.

Tô fora! E não posso falar mais nada, infelizmente...

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Cabelão (da sessão "papo de mulherzinha")

Esse negózdi que ter "cabelo bom" (aka liso) é o sonho dourado de toda mulher não é bem assim não, viu?

Dependendo da pessoa (aka EU), isso pode ser praticamente um pesadelo.

//Como assim, Bial?//

Explico: Eu tenho o cabelo mais lindo do mundo. Em todos os sentidos. Posso dizer que é inclusive um cabelo "fofo" enquanto pessoa, porque resistiu bravamente ao longo dos anos apesar da quase falta de cuidado da dona e do massacre de tinturas, luzes e afins, ou seja, ele me ama.

Só que, gente... é tipo mó cabelão, sabe, no meio das costas, lisão, e tal... E naqueles dias em que eu acordo meio estragada (tipo quase todo dia), me olho no espelho e vejo apenas aquela carona de crente que não muda há séculos. Coisa mais sem graça.

Me dá uma vontade absurda de mudar, radicalizar, tosar, raspar, qualquer coisa pra fugir da monotonia cabelão-lisão-sempre-igual. E é justamente ESTE o ponto onde eu queria chegar.

Eu simplesmente não posso encurtar meu cabelo. Mas de jeito nenhum. E a explicação é muito simples: Senso de ridículo.

Porque eu podia ter nascido com um rosto anguloso como o da Bündchen, eu podia ter um rosto triangular, quadrado, podia até ter aquele rostão meio comprido tipo cara-de-cavalo, mas, né? Tenho essa carona redonda como a lua cheia. E qualquer corte de cabelo curto me deixa parecendo uma bolacha trankinas, e eu realmente não tô a fim de ser abordada por crianças na rua ao ser confundida com o personagem dos pacotes de bolacha.

Não posso nem mesmo prender o cabelo, nem usar uma tiara, nada que exponha demais o carão. Então fico refém do cabelão no meio das costas, sempre solto, e mantê-lo assim dá um trabalho do cão. E como a maioria dos cabelos lisos, o meu também é bem oleoso, absurdamente oleoso, aliás, então tenho que lavar todos os dias se quiser ter uma aparência minimamente decente, e haja shampoo, e haja cuidado, e haja tempo de fazer todo esse ritual.

Entendem agora o que eu quero dizer com quase pesadelo? Não tá fácil não...

(* que post mais ridículo, quem quer saber sobre o meu cabelo? só vou publicar porque perdi uns minutos escrevendo, e não tem nada melhor pra substituir)

(** na verdade eu queria mesmo era escrever pra resmungar e tirar sarro de outras coisas como de costume, mas ando meio inibida com a patrulha dos anônimos moralistas que taí doida pra me chamar de mal amada mais uma vez, e como esses dias eu ando querendo evitar aborrecimentos, fiquei no post de inutilidade pública mesmo. Será que mesmo assim vão achar motivo pra me chamar de problemática?)

(*** a boa - ou má - notícia é que, vocês sabem, toda trégua tem um fim. volto logo, na boa e velha forma, porque os sapos entalados já começam a me causar engulhos, e mais cedo ou mais tarde, a coisa vai explodir)