segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

O Último Rei da Escócia


Uma visão íntima de mais um "grande" Ditador Africano, o General Idi Amim. É isso que assistimos em "O Último Rei da Escócia", filme de ficção baseado em fatos reais narrados pelo também real Dr. Nicholas Garrigan, escocês que foi o "médico particular" do General durante alguns anos.

Este é mais um filme revelador sobre os conflitos que dominam os países africanos. Eu sempre digo que gosto desse tipo de filme porque acabo aprendendo sobre uma parte nojenta da história mundial à qual não tive acesso de outra forma. Foi assim com os ótimos filmes "Hotel Ruanda" e "Diamante de Sangue", ambos já comentados aqui no Blog. E hoje, mais um soco no estômago, mais uma história de terror real, mais uma história de miséria, de morte, de intolerância...

O General Idi Amim foi "alçado" ao comando de Uganda em meados da década de 70. Imaturo, despreparado, de origem pobre e de princípios frágeis, ele não tem nenhuma base sólida para comandar o país. Tem a seu favor apenas o carisma e a força do poder, duas coisas que não hesita em usar.

O Dr. Nicholas Garrigan é um recém formado médico escocês que, na mesma época, decide abandonar a monotonia de sua vida "certinha" junto aos pais e partir para a África, em busca de "salvar o mundo" mas, muito mais do que isso, em busca de aventuras. Assim como Amim, é também imaturo, até por ser muito jovem, e embora tenha sido criado dentro de muitos princípios "cristãos", é facilmente seduzido por tudo aquilo que nunca fez parte de seu cotidiano.

O destino dessas duas personagens reais cruzam-se subitamente. Dr. Garrigan vai à Uganda e começa a trabalhar como médico de uma aldeia, junto a outros missionários brancos europeus, bem na época da euforia da população pela chegada ao poder de Amim. Fascinado pela cultura africana e pelo carismático "novo presidente", Dr. Garrigan não consegue resistir ao convite para ser médico pessoal do General, função esta que não demoraria em se tornar uma espécie de "Primeiro Ministro", tamanha a confiança e a lealdade que o ditador via no médico.

E é assim, de camarote, que o Dr. Garrigan vai acompanhando a ascensão e a decadência daquele que inicialmente era um "ídolo". A imaturidade de ambos, cada um à sua maneira, faz com que fiquem cegos um para com os "defeitos" do outro, e faz com que durante muito tempo confiem plenamente apenas um no outro. Mas a situação ilusória não perdura muito, e chega o momento em que o médico enxerga com maior clareza as atrocidades cometidas pelo seu "chefe", começa a entender que o país está atolado em uma verdadeira guerra, e que todos aqueles que ousam contrariar o presidente somem misteriosamente. Tentar fugir de todo aquele universo já não é mais possível, até porque o Dr. Garrigan, de certa forma, faz parte de tudo... Tentar fugir das garras de Idi Amim torna-se uma aventura quase cinematográfica para o Dr. Garrigan, e isso custaria, ainda, a vida de muitas pessoas.

Surreal... É isso que posso dizer da história que acabei de assistir... Não dá pra acreditar que tudo isso tenha acontecido há tão pouco tempo, que haja tanta podridão na história mundial recente e que a África comporte tantas atrocidades... É chocante o que um poder ditador pode fazer com seu povo... chocante mesmo...

Entretanto, neste filme especificamente, muito mais do que a questão do terror do povo de Uganda, me causou mais impacto a questão do "poder da sedução"... Vou me aprofundar nesse assunto no próximo post, já que isso veio de encontro a uma série de outras coisas sobre as quais eu queria escrever, mas é impressionante em "O Último Rei da Escócia" o poder da sedução sobre ambos os protagonistas... é impressionante como Idi Amim consegue seduzir o jovem médico a trabalhar pra ele, mesmo contra a vontade inicial do rapaz, e é impressionante como o jovem rapaz também consegue, à sua maneira, seduzir o Ditador a ouvir e seguir o que diz.

"O Último Rei da Escócia" é um excelente filme... eu diria que o roteiro é o ponto alto, muito bem trabalhado, como se fosse uma ficção com início (a sedução, a ilusão), meio (a descoberta da realidade, o cair da ficha), e fim (a tentativa de consertar tudo). Pena mesmo é que não seja apenas ficção, e que tantos civis tenham sido trucidados durante os anos em que durou o regime do louco Idi Amim.

Quando deposto, o ditador foi exilado no Oriente Médio, e ainda viveu até pouco tempo atrás, tendo morrido apenas em 2003.

A atuação de Forest Whitaker foi merecidamente premiada com o Oscar e o Globo de Ouro no ano passado. Realmente, o talentoso ator dá um tom muito preciso ao ditador, e no final do filme, quando passam algumas cenas do verdadeiro Idi Amim, é de arrepiar a semelhança física e nos trejeitos que vemos nos dois - o ator e o verdadeiro ditador.

O jovem ator que interpreta o médico - James McAvoy, eu não conhecia de outros papéis, mas também não deixou a desejar, e fez uma bonita frente ao veterano Forest, contribuindo muito para bom resultado.

Assim que puder, assista "O Último Rei da Escócia". É um ótimo filme, e mais que entretenimento, uma lição de história, história triste, é verdade, mas não deixa de ser história, história da nossa própria raça, e a talvez mais cruel de todas as raças - a humana.

Um comentário:

Anônimo disse...

Realmente é um excelente filme, e excêntrico é também seu blog! Parabéns!