quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Crescer Dói

Eu quero colo quando eu chorar;
Eu quero beijo quando eu sorrir;
Eu quero receber carinho quando eu me machucar;
Eu quero ganhar um sorriso quando eu falar ou fizer alguma bobagem;
Eu quero que façam festa quando eu acertar;
Eu quero que me repreendam com amor quando eu errar;
Eu quero que me façam cafuné até que eu consiga pegar no sono;
Eu quero que me deixem dormir até meu corpo desejar acordar;
Eu quero ganhar um "Bom Diiiiia" animado e sincero quando eu acordar;
Eu quero ganhar um beijo na testa quando eu resmungar;
Eu quero que meu alimento esteja pronto quando eu sentir fome;
Eu quero ser aquecida quando eu sentir frio;
Eu quero que me lembrem das coisas que eu esqueço de fazer;
Eu quero que me digam que tudo vai ficar bem quando eu estiver triste;
Eu quero ganhar um abraço de urso quando eu estiver quietinha;
Eu quero ser mimada quando eu estiver manhosa;
Eu quero ser elogiada de surpresa, sem nenhum motivo especial;
Eu quero ganhar presentes divertidos;
Eu quero ganhar balas, bombons e caramelos;
Eu quero ser levada pra passear;
Eu quero brincar de guerra de travesseiros até perder o fôlego;
Eu quero gargalhar de uma besteira qualquer;
Eu quero que cuidem de mim quando eu estiver doente;
Eu quero que se preocupem comigo;
Eu quero que se orgulhem de mim;
Eu quero ser protegida;
Eu quero ser amada incondicionalmente;
Eu quero ser a razão da vida de alguém;
Eu quero ir pra Neverland e ser criança pra sempre;
Eu quero pó de pirlimpimpim.

(e eu queria também voltar pro útero da minha mãe, onde tudo era calmo, onde eu estava protegida e aquecida, onde eu estava plenamente confortável e feliz)

CRESCER DÓI. E em alguns dias dói de uma maneira quase insuportável.


quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Constatação [2]

Tem gente que só vai prestar pra alguma coisa (e olhe lá), quando deixar de existir...

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

#ProntoFalei!

Odeio Regras.

...

Na condição de seres humanos civilizados (?), temos que nos sujeitar a uma infinidade de regras que ditam a maneira como temos que viver. Uma interminável enciclopédia de regras morais, religiosas e comportamentais que definem tudo aquilo que podemos fazer, o que não podemos fazer, e como podemos fazer aquilo que nos é autorizado fazer. Boring!

Mas, ok. É assim o Mundo Contemporâneo, e dizem inclusive que devemos ser agradecidos aos nossos antepassados por terem construído uma sociedade civilizada que nos proporciona viver hoje de maneira minimamente organizada (??) e livre (???).

(há controvérsias, porque pra mim os conceitos de civilidade, organização e liberdade são bem diferentes de muita coisa que vemos por aí, mas o objetivo deste post não é contestar os estudos dos Sociólogos, Filósofos e afins, então, mais uma vez, ok.)

...

O que eu queria falar mesmo é que eu Odeio Regras "desnecessárias", aquelas que não constam de nenhuma lei, mas que as pessoas insistem em inventar e adotar em suas vidas e - eis o ponto - tentam impor para os outros como se fossem verdades absolutas.

Uma mania doentia de tentar sistematizar tudo, como se a vida precisasse ser limitada a um quadradinho óbvio e previsível.

E então as pessoas criam regras para usufruir de sua já limitada liberdade. Regras para namorar, Regras para transar, Regras para conversar, Regras para dançar, Regras para interagir, Regras para comer, Regras para expressar uma opinião, Regras, Regras, Regras e mais Regras, que não tem outro objetivo senão mascarar a própria falta de coragem de quebrar barreiras e expandir os horizontes.

Porque a vida não é um cercadinho, mas viver "protegido" dentro dos limites de uma série de regras é muito mais fácil e exige menos coragem, menos ousadia, menos criatividade.

Se todo mundo diz que tem que ser de tal jeito, então uma manada de "maria-vai-com-as-outras" rapidamente pula pra dentro do cercadinho e passa a agir daquela forma, sem sequer refletir sobre como poderia ser se outras formas fossem experimentadas.

Chato. Chato. Chato. Muito Chato!

Já não basta a Sociedade, a Igreja e as Leis Civis me ditarem como viver, ainda tenho que me preocupar com a maneira que os outros ACHAM que é certo viver? Até as coisas mais simples? Até como exercitar a MINHA liberdade?

Acho que é por isso que sou uma mente tão inquieta. Não há um único dia em que eu não me indigne com alguma regra idiota que tentam me impor, como se todo mundo soubesse melhor do que EU o que é melhor para a MINHA vida. E daí vem sempre aquela ladainha:

"ah, mas você precisa se encaixar",
"ah, mas agindo assim você vai chocar",
"ah, mas se você fizer isso todo mundo vai comentar",
"ah, mas você tem que se preservar",
"ah, mas você vai se machucar",
"ah, desde que o Mundo é Mundo é assim que as coisas são",
"ah, mas não é assim que se faz"

Onde é que estas regras estão escritas que eu não tô sabendo? Por que diabos eu não posso fazer as coisas que quero fazer, do jeito que quero fazer, na hora que eu quero fazer?

Não sou ingênua e sei muito bem que tudo na vida tem seu preço, inclusive e especialmente nossas escolhas, mas e se eu estiver a fim de pagar o preço, qual o problema? As pessoas não podem se recolher às suas insignificâncias e me deixar quebrar a cara sozinha? E se eu não quebrar a cara? E se essas escolhas, por mais caras que me sejam, me fizerem feliz?

Eis uma das maiores chagas da humanidade: MEDIOCRIDADE.

O mundo está infestado de gente de pensamento pequeno, limitado pelo cercadinho, gente que acha que é melhor viver de um jeito "aceitável" do que ousar, gente que no fundo é apenas covarde, e como não consegue assumir a covardia sozinho, fica querendo arrastar para o limbo qualquer um que se proponha a voar.

Gente megalomaníaca e vaidosa que acha que o mundo gira ao redor do próprio umbigo e que por isso todo mundo tem que fazer as coisas segundo as suas convicções.

Tô bem cansada de gente assim. BEM CANSADA.

No meu Mundo ideal, à exceção das regras "obrigatórias", cada um poderia viver do jeito que quisesse, e ninguém teria nada a ver com isso. É utopia, eu sei, mas não vou deixar de me indignar nunca!

Ninguém precisa aceitar nem aprovar o jeito de viver e as escolhas do outro, apenas respeitar. E é só isso que eu quero: RESPEITO. Ao que eu sou, ao que eu faço e à maneira como eu vivo. Quando eu quiser um conselho ou quiser conhecer outra opinião, eu PEÇO.

Como diria uma certa pessoa aí, "ME DEIXEM SER!"


#prontofalei

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Faça uma Lista

Eu sei, eu sei, postar letra de música é muito chato, mas... Faça uma lista!

...

Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?
Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?

(Com um beijo muito especial e cheio de saudade para o meu amigo Elieser Leite, que me apresentou essa música pela primeira vez, há muuuuuuitos anos...)



segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Naquela Noite...

Naquela noite cinzenta de terça-feira Ela acordou surpreendentemente lúcida, apesar de sua absoluta fragilidade...

Observou com alguma dificuldade o movimento no seu quarto sempre cheio de visitas, tentando identificar os rostos e vozes que lhe rodeavam.

Fixou o olhar por alguns instantes no vazio, e sorriu para as pessoas, tentando esconder o fato de que já não mais as reconhecia.

Voltou seu olhar cansado para as filhas, que estavam como de costume aos pés do seu leito, e balbuciou baixinho: Flávia... Sílvia... Lígia... e mais uma vez sorriu.

Parou por uns instantes, novamente olhando para o vazio, e continuou, apreensiva: "Onde está a Cátia?"

Rapidamente lhe explicaram que a Cátia estava a caminho, e só então Ela se tranquilizou. Fechou os olhos e adormeceu, enquanto as filhas massageavam suavemente seu frágil corpo judiado por longos dias sobre a cama hospitalar.

Naquela mesma noite cinzenta de terça-feira, já bem tarde, Ela acordou pela última vez. Olhou satisfeita para as 4 filhas que permaneciam vigilantes ao seu redor, e num esforço descomunal esboçou um comentário orgulhoso para a enfermeira: "Essas são as minhas filhas. Estão todas aqui!".

Fixou seu olhar cansado nas filhas, observando atentamente cada rosto, como se estivesse tentando gravar a imagem feito uma fotografia dentro de si. Sorriu, e através daquele seu último e sincero sorriso disse às filhas tudo que queria dizer, transmitindo-lhes toda a sua infinita sabedoria, pela última vez.

...

Naquela noite cinzenta de 20 de Setembro de 2005 minha mãe deu seu último sorriso e seu último suspiro, e então partiu para descansar em paz depois de tanta dor e sofrimento, não sem antes se despedir de nós, as 4 filhas que ela sempre fez questão de manter unidas, as 4 filhas das quais ela tanto se orgulhava, as 4 filhas que foram a razão de toda sua existência, até seu último segundo.

Há 5 anos Ela partiu para irradiar sua luz e grandeza em algum lugar além do arco-íris... Mas continua viva dentro de nós, a mesma mãe vigilante e onipresente que sempre foi, cuidando de tudo com a mesma devoção, porque Ela é dessas:

Uma grande mãe;
Uma grande mulher;

Simplesmente a melhor que já existiu!



SAUDADES INFINITAS...

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Sonhos Possíveis

Desde que me entendo por gente, meu avô (pai da minha mãe) é fã do Silvio Santos. E como tal, sempre viu todos os programas e sempre acreditou piamente em tudo que fosse associado ao "Homem do Baú". Comprava o Carnê do Baú da Felicidade sonhando em ser sorteado para rodar o pião da casa própria, escrevia cartas para o programa Porta da Esperança, para o Show do Milhão, e comprava religiosamente cada uma das TeleSenas lançadas.

Aos domingos, durante os sorteios das cartas ou dos números da TeleSena, ele se sentava o mais próximo possível da TV e, munido da sua caderneta e da sua caneta bic azul, fazia mil anotações: os números sorteados, a quantidade de ganhadores, os prêmios extras do mês, etc e tal.

Era uma cena no mínimo engraçada, e a gente sempre fazia piada desse fanatismo todo do vô pelo Seu Silvio. Ele ficava bravo, e não hesitava em nos explicar - munido das estatísticas cuidadosamente apuradas no caderninho - suas grandes chances de ganhar. Falava, falava, falava. Fazia planos sobre o dia em que seria chamado para ir ao Programa, seus olhos brilhavam quando ele mencionava o momento em que estaria frente a frente com seu ídolo, e brilhavam mais ainda quando ele fazia mil planos sobre como gastaria o dinheiro ganho. Víamos todo aquele blablabla apenas como um sonho bobo, ingênuo até. Quase um devaneio.

Meu avô foi envelhecendo, ficando mais ranzinza, cheio de manias, mas nunca largou mão das suas TeleSenas e dos seus domingos grudados à frente da televisão.

Certo dia, conversando com minha mãe sobre estes assuntos, ela fez um comentário que mudou toda a minha visão daquela situação, até então apenas cômica:

"O sonho da vida do seu avô é ganhar na TeleSena e conhecer o Silvio Santos. Ele vive pra isso."

De repente caiu a minha ficha. Aquilo que pra nós era apenas um comportamento bobo e motivo de piada era, na verdade, um SONHO do meu avô. "O" SONHO, que como qualquer sonho deveria ser antes de mais nada RESPEITADO, quiçá compartilhado.

Nunca mais zombei do meu avô por causa disso. Tudo bem que ainda vemos alguma graça na situação, muito mais pela maneira metódica como ele compra, controla e guarda suas TeleSenas do que pelo sonho de ganhar propriamente dito. Mas mesmo assim, desde aquele dia, passei a respeitar muito o sonho do meu avô, porque se é um sonho dele, ora bolas, é um sonho e pronto! Cada um tem o(s) seu(s), e o dele é este.

Recentemente estive no Interior de SP visitando-o, infelizmente ele está muito doente, e numa de nossas conversas perguntei sobre as TeleSenas. Ele me disse que ainda acredita que pode ganhar, e quando não pode ele mesmo ir até a banca de jornais comprar a nova edição, pede pra que alguém o faça, e continua acompanhando os sorteios religiosamente todos os domingos, anotando ele mesmo os números, porque ele não confia em ninguém pra fazer algo tão importante!

Um sonho que atravessou anos, décadas, e que permanece com meu avô até hoje. E o que mantém esse sonho junto dele é a esperança de que um dia ele vá se realizar, é a fé que ele tem de que pode efetivamente ser sorteado ou completar os números, é a certeza que existe dentro dele de que este é um sonho possível, independentemente do que os outros pensem. Por isso ele persevera e faz o que está ao seu alcance enquanto pode.

E quem sou eu para zombar do sonho do meu avô? Quem sou eu para dizer que o sonho dele é bobo, não é possível? Quem sou eu para dizer pra ele desistir e parar de gastar dinheiro com TeleSenas, se este é o caminho que ele encontrou para buscar a realização???

...

Todos temos nossos sonhos. E se os temos, por mais absurdos que eles possam parecer, é porque existe em algum lugar dentro da nossa alma a certeza de que eles são possíveis. Então os alimentamos, e buscamos à nossa maneira o caminho para concretizá-los.

Mais do que sonhar, temos um prazer inexplicável em compartilhar nossos sonhos, em falar sobre eles, em dar asas à imaginação e nos imaginar no futuro, quando tudo se tornar real.

Qual seria a graça de realizar um grande sonho e não poder dividir pelo menos a felicidade daquela realização com alguém? 10 entre 10 pessoas que sonham em ganhar na MegaSena, por exemplo, começam suas listas sobre "o que vou fazer com meu milhão" relacionando coisas como "ajudar a família", "comprar um casa para não sei quem", e por aí vai.

A grandeza dos sonhos - dos mais simples aos mais extravagantes - não comporta egoísmo. A dimensão de uma realização está diretamente vinculada à expectativa do prazer de compartilhar os resultados.

E então dividimos nossos sonhos com as pessoas em quem confiamos. Despimo-nos dos nossos pudores e abrimos nossos corações para - sem medo de fazer papel de bobos - externar nossos maiores anseios, esperando encontrar no outro aquela mão amiga que vai nos apoiar e quem sabe até ajudar - ainda que esta ajuda seja apenas uma palavra de otimismo - a seguirmos na nossa busca.

O problema é que da mesma forma que a grandeza de um sonho não comporta egoísmo, a pequeneza do ser humano é essencialmente egoísta, e é aí que o caldo entorna.

Porque as pessoas estão ocupadas demais sonhando seus próprios sonhos para darem atenção aos sonhos alheios. Não estão nem aí para os sonhos que não são delas, e tendem a diminuir o valor do que é importante para o outro, muitas vezes até ridicularizando o sonho como se fosse algo totalmente fora de propósito.

Frustrante!

Você divide um sonho com alguém especial e este alguém não dá a menor atenção àquilo que é tão importante pra você. Você espera um apoio - ainda que velado - ao seu grande anseio, e a outra pessoa sequer toma conhecimento do quanto aquilo significa na sua vida. Não se envolve, não se empolga, não acredita. Tira do sonhador o prazer de compartilhar o sonho, tudo porque não consegue ver importância em nada que não lhe diga respeito diretamente.

Como observadora da vida alheia (e da minha própria) há anos e anos, posso dizer que isso sempre foi um comportamento que me saltou aos olhos de uma maneira muito lamentável. É impressionante como as pessoas não prestam atenção aos detalhes, é impressionante como as pessoas não se envolvem verdadeiramente umas com as outras, é assustador constatar que as pessoas são capazes de manter um relacionamento por meses, anos, décadas, sem nunca conhecer verdadeiramente quem está do outro lado.

Porque - e era aí que eu queria chegar - você só conhece verdadeiramente alguém quando conhece também os seus sonhos. E em qualquer relacionamento - familiar, amoroso, de amizade - isso faz toda a diferença!

Compartilhar uma vida é muito mais que compartilhar o cotidiano e fazer coisas juntos. Compartilhar uma vida é, antes de mais nada, compartilhar sonhos.

Sonhos grandiosos, Sonhos bobos, Sonhos possíveis, Sonhos impossíveis. Se é o Sonho de alguém, há que ser respeitado. Se é o sonho de alguém especial, então, há que ser também compartilhado!

Como já cantava Raul, "Sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só; Mas Sonho que se sonha junto, é realidade."

sábado, 11 de setembro de 2010

O lado brilhante da Vida

"A Felicidade só é Real quando compartilhada"
(Chris McCandless / Alexander Supertramp)

A frase acima, que ouvi pela primeira vez no filme "Na Natureza Selvagem", virou um mantra pra mim. Considero-a de uma sabedoria ímpar, e de aplicação fundamental à vida.

É muito difícil começar este post sem parecer piegas ou escrever frases de efeito que soem como autoajuda barata, e talvez eu não consiga fugir dos clichês, mas algumas coisas, por mais óbvias que sejam, precisam ser ditas de vez em quando, já que o óbvio, de tão óbvio, muitas vezes acaba sendo negligenciado.

Desde que perdi minha mãe tenho tentado tornar a minha vida mais leve. O sentido de tudo mudou desde aquele fatídico dia 20 de setembro de 2005, e a grande lição que ficou é que - olha o clichê aí! - a vida é muito curta, e podemos não ter tempo de aproveitá-la se deixarmos toda a diversão e todo o prazer sempre para amanhã.

Isso significa, dentre outras coisas, tentar manter o alto astral, tentar manter o bom humor, e rir muito, sempre, inclusive e especialmente das minhas próprias mazelas.

A vida é dura, todo mundo já sabe. Os problemas não dão trégua, a Lei de Murphy é implacável, e justamente por isso na maioria das vezes, quando tudo vai mal, o melhor remédio - senão o único - é o bom e velho "levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima", não sem antes soltar uma sonora gargalhada.

Sim, o Bom Humor é essencial à vida. ESSENCIAL mesmo! Não consigo conceber uma vida "vivível" se levarmos tudo a ferro e fogo, se nos entregarmos a todos os sofrimentos, se deixarmos que o perigosíssimo mau humor nos domine.


Esses dias postei uma frase no twitter que resume bem o que quero dizer:

"O Bom Humor é contagioso, e o Mau Humor é muito perigoso. Todo Mundo tem seus dias difíceis, mas escolher a Amargura como estilo de vida é desperdício!"


De maneira um pouco mais "poética", diz Marla de Queiroz:

"A mesma articulação que tenho para reclamar, tenho para agradecer; E se posso me adornar com alegria, não é a tristeza que eu vou tecer."


O que me espanta e acabou me inspirando a escrever este post é ver como certas pessoas ESCOLHEM viver uma vida pesada, mau humorada, amargurada. É ver como tanta gente bacana se torna totalmente dispensável ao optar por vestir a burca do mau humor sem esboçar a menor resitência.

Essas pessoas - que estão por todos os lados - acabam por exercer um poder altamente nocivo a quem os cerca, vitimizam-se de qualquer situação que lhes tire da zona de conforto, e acabam por direcionar sua mira - consciente ou inconscientemente - a toda e qualquer pessoa que esboce o menor sinal de felicidade.

Vejam que não estou falando apenas do bom e do mau humor óbvios, e nem quero subestimar a inteligência de quem me lê explicando isso. Há vários tipos de bom humor, do pastelão ao sarcasmo, do escracho à ironia. Eu mesma adoro todos os gêneros, e muitas vezes tenho explosões de ira que no fundo são apenas uma forma de fazer piada comigo mesma, em geral acabo me divertindo até mais que os outros, principalmente pela sensação gostosa de descobrir que consegui transformar um pequeno caos numa afiada "auto-piada", do tipo "isso só acontece comigo!"

A diferença entre quem se utiliza do sarcasmo, ironia e afins para o amargurado crônico está justamente na capacidade de superação do problema, na capacidade de virar o disco e seguir adiante, na capacidade de deixar de lado as lamentações e seguir leve, divertindo-se com o caótico exercício que é viver.

Alegria incomoda muita gente. Se for uma alegria sem motivo aparente então - aquela típica das pessoas leves e bem humoradas que escolhem começar o dia bem, que escolhem rir a chorar - pode até mesmo despertar o ódio dos mau humorados doentes; para eles não basta a própria amargura: há que se contagiar o mundo para obter algum conformismo.

Deprimente. Enganam-se achando que os alegres tem uma vida melhor, mas muitas vezes é exatamente o contrário, o que muda é o ponto de vista, o que muda é a leveza da alma.

Repito-me: Todos temos problemas, a vida não é fácil pra (quase) ninguém, e até temos direito aos nossos dias de fúria esporadicamente, ninguém é de ferro e extravasar o mau humor às vezes é necessário, mas há que se ter cuidado para que isso não vire um estilo de vida, sob pena de nos tornarmos pessoas dispensáveis, desagradáveis, indesejáveis.

Não há coisa melhor do que compartilhar da companhia de alguém que saber rir e fazer rir, até das bobeiras mais bobas. Não há coisa melhor do que deixar-se contagiar pelo alto astral de alguém que irradia luz, leveza, espirituosidade. Não há coisa melhor do que compartilhar a felicidade, porque ela sim, como dizia Chris McCandless, só é real se for compartilhada.

Apesar de todas as mazelas, há sempre um lado brilhante em qualquer situação. Por mais difícil que pareça, há. Às vezes é preciso um certo esforço pra mudar o ângulo e conseguir enxergar a situação sob um ponto de vista diferente, mas procurando com empenho a gente sempre encontra. É tudo uma questão de escolha.

A vida é uma grande piada, daquelas bem escrachadas, às vezes até de mau gosto. Restam-nos duas opções: Rir e manter a pele boa ou Chorar e ficar cheio de rugas.

Quem não consegue enxergar a graça perde toda a diversão.

Prefiro ser uma "boba-alegre" do que uma "esperta-triste". Prefiro rir de mim mesma do que chorar e fazer com que os outros tenham pena de mim. Prefiro ser leve e sorridente do que pesada e carrancuda. Não estou nessa vida a passeio; se posso me divertir, então é isso que vou fazer!

E quando chegar o fim, o meu epitáfio será:

"Vim, vivi e me diverti"

Always look on the bright side of life!



sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Para virar um livro: A História da Caneta

Mais uma repostagem para enriquecer a campanha para o 2o. Concurso BlogBooks (para votar no Blog Dona Farta, clique aqui).

"A História da Caneta". (publicada originalmente em 13/02/2008)

Outro dia eu estava assitindo um filme, e numa cena aparecia um cara escrevendo com uma caneta tipo "kilométrica" (vocês lembram dessa caneta?)... Nunca mais vi uma dessas na vida, acho que nem fabricam mais... Mas na hora me bateu uma nostalgia, e eu comecei a lembrar de como eu curtia material escolar na minha época de estudante...

Todo começo de ano era um deleite: material novinho, cadernos impecáveis, canetas novas, estojo novo, e eu, assim como a maioria das meninas, curtia muito começar o ano na escola, adorava arrumar a mochila, coisas assim...

Só que eu fui estudante em outros tempos, lá nos idos dos anos 80, quando não havia essa avalanche de opções de material escolar no mercado como tem hoje em dia... Não havia tantos cadernos de personagens, trocentos tipos de lápis de cor, mochila de rodinha e afins, coisas que hoje, mãe que sou, sei que custam uma fortuna! E isso era bom, porque diminuía o abismo social entre estudantes, já que todo mundo tinha coisas parecidas, lápis de cor era apenas lápis de cor, tudo igual, e assim por diante.

Na época da História da Caneta, eu devia ter uns 12 anos, estava na 6ª série, se não me engano, e era muito pobre, portanto meu material escolar era o básico do básico: lápis preto nº 2, lápis de cor de 1 dúzia, caneta Bic, e outros itens essenciais. Como toda menina, eu adorava "florear" meus cadernos e trabalhos com muitas cores, escrevia o título da matéria de vermelho, sublinhava, fazia frufruzinhos em volta, coisas assim... Não tinha canetinhas hidrográficas, porque custavam caro, mas eu me virava bem com minhas duas canetas Bic - uma vermelha e uma azul, e meus cadernos eram impecáveis.

Eis que um dia aparece uma amiga de classe - a Simone - com uma novidade que me deixou extasiada! Ela tinha ganhado da mãe uma Caneta Bic 4 Cores, que era lançamento, e quando eu vi aquilo fiquei paralizada! Como poderia haver uma caneta que tivesse 4 opções de cores pra se escrever? Tinha até tinta verde! Isso era uma maravilha!

Essa caneta custava uma fortuna pra época, era uma extravagância que poucas mães poderiam fazer em favor dos filhos, e lembro que da nossa classe a Simone era a única que tinha uma "Bic 4 Cores". Vivia se exibindo com seus cadernos e trabalhos escritos em 4 cores, e eu morrrrrrriiiiiaaaaa de inveja!

Um belo dia criei coragem e fui falar com a Simone. Queria passar umas lições à limpo em casa, e pensei que meu caderno ficaria lindo com tantas cores pra eu destacar os títulos das matérias. Pedi a caneta emprestada, falei que seria só por um dia, que eu levaria pra casa, usaria, e devolveria no dia seguinte. Ela titubeou um pouco, disse que sua mãe não gostaria de saber que ela tinha emprestado a caneta, mas como era "boazinha", acabou me emprestando...

Naquele dia eu voei pra casa, porque queria aproveitar muuuuuuuuito a caneta! Já no ônibus, voltando, ficava segurando a Bic 4 Cores na mão e apertando os botõezinhos que a faziam mudar de cor... o "tic tic" da mudança das cargas lá dentro da caneta me deixava maravilhada (gente, juro que eu não era retardada, mas era novidade, então eu ficava maravilhada mesmo!).

Só que tem um pequeno detalhe que eu preciso confessar: Além de ser uma "pessoa que cai" (isso vocês já sabem!), eu também sempre fui, e sou até hoje, uma "pessoa que quebra as coisas"... Não sei o que acontece comigo, mas a vida inteira, era só eu pegar alguma coisa emprestada com alguém e, batata! O negócio quebrava! Já passei muitos apuros por conta disso!

Nem preciso dizer que não foi diferente com a Bic 4 Cores da Simone, né? Eu estava lá em casa, passando o caderno à limpo, escrevia 2 linhas e me distraía brincando de mudar as cores da caneta, "tic tic" pra cá, "tic tic" pra lá, e daqui a pouco voa uma molinha que saiu não sei de onde... Assustei, mexi na caneta e vi que ela não estava mais funcionando, tinha travado em uma cor... Entrei em pânico, corri atrás da molinha, tentei descobrir de onde ela tinha se soltado, abri a caneta (girando-a ao meio), desmontei tudo, e aí que o negócio ficou pior, porque eu sequer consegui fechar a caneta novamente com todas as cargas dentro... Mexi em tudo que era possível tentanto consertar o mecanismo da troca de cores, mas não teve jeito... a caneta tinha mesmo quebrado!!!

Jesus Maria e José! O que eu ia fazer? Minha mãe não podia nem sonhar que eu tinha pego uma "caneta tão cara" emprestada, porque minha mãe não gostava que a gente pegasse coisas emprestadas com os outros, e se soubesse que eu tinha pego a caneta e ainda por cima quebrado, nossa... comeria meu fígado!

E agora??? Eu não tinha alternativa... teria que tentar juntar o dinheiro pra comprar uma caneta nova pra Simone, mas isso demoraria, bem... demoraria um bocado!

Eu não ganhava mesada, nunca ganhei. Eu não ganhava dinheiro para o lanche porque a escola oferecia merenda (era tão ruim!), e no máximo meu pai me dava todo dia algo tipo 20 centavos, pra eu comprar um salgadinho na barraquinha da tia que ficava na porta da escola na hora da saída!

Fiz as contas... a Bic 4 Cores devia custar, sei lá, o equivalente a uns R$ 10,00 em dinheiro atual, portanto eu teria que juntar o dinheiro de 50 dias, ou 10 semanas, pra conseguir comprar uma caneta nova pra Simone! Considerando que tinha dias em que nem os 20 centavos meu pai me dava, considerando os dias não-letivos, caramba! Eu demoraria meses pra conseguir pagar a caneta! E agora???

No dia seguinte fui falar com a Simone... antes de pronunciar a primeira palavra, claro, eu já estava chorando (porque eu sou também uma pessoa "que chora", lembram?). Entre soluços e fungadas consegui dizer pra ela que a caneta tinha quebrado, e que eu não tinha como pagar uma nova imediatamente! O que eu lembro foi que ela arregalou os olhos e disse: "Nossa, e agora? Minha mãe vai me matar!"

Ou seja, éramos duas inocentes meninas na pré-adolescência com o maior problema de nossas vidas - a caneta Bic 4 Cores! Pensem num desespero!!!

A Simone me perguntou quando eu poderia comprar uma caneta nova, eu expliquei pra ela que não podia contar pra minha mãe senão ela me engoliria viva, mas que iria juntar o dinheirinho de todo dia, e tal... Daí ela perguntou em quanto tempo eu achava que conseguiria fazer isso, e, bem... não tive coragem de dizer pra ela que demoraria meses... Dei uma enrolada, disse que tentaria uma graninha extra com meu pai, e ela ficou de tentar enrolar a mãe dela também, pra que ninguém descobrisse nossa história da caneta!

A partir desse dia, minha vida na escola se tornou um martírio... Eu acordava já pensando na desculpa que daria pra Simone pra protelar a entrega da caneta nova por mais um dia, e assim por diante... Morria de medo de ela contar o que tinha acontecido pra mãe dela, e chegava a ter pesadelos imaginando a mãe dela indo falar com a minha mãe, e minha mãe acabando comigo... nossa... vocês não têm noção de como eu sofri com essa história!

Em geral a Simone era boazinha, ficava meio brava por eu enrolar mais um dia, e mais um dia, e mais um dia, mas foi levando... às vezes ficava mais estressada e ameaçava contar tudo pra mãe dela, daí eu implorava pra que ela não fizesse isso! E mais um dia se passava...

Bom, pra encurtar a história, de algum modo consegui sensibilizar minha amiguinha, e os meses acabaram passando... eu nunca que dava conta de juntar todo o dinheiro que era preciso pra comprar a caneta, mas estava me esforçando... E naquele ano, no último dia de aula, consegui devolver a Bic 4 Cores pra Simone... Ficamos praticamente o semestre inteiro vivendo em função do sofrimento da história da caneta, e nem eu, nem ela, tivemos nossos cadernos coloridinhos pelas 4 cores!

Recentemente nos reencontramos, eu e a Simone, e demos muita risada dessa história... Hoje em dia, ainda bem!, temos condições de ter quantas Bics 4 Cores desejarmos, essa caneta, aliás, já nem é mais "grande coisa", custa bem mais barato, e eu mesma, de tão traumatizada que fiquei, tenho praticamente uma coleção... rsrs... tem a Bic 2 Cores, a Bic 3 Cores, a Bic 4 Cores e até a Bic 10 Cores!

Que saudade do tempo em que meu maior problema era ter que pagar uma caneta!

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Para virar um livro: A História de um Delírio Consumista

Mais uma repostagem para enriquecer a campanha para o 2o. Concurso BlogBooks (para votar no Blog Dona Farta, clique aqui ).

"A História de um Delírio Consumista". (publicada originalmente em 24/01/2008)


O ano era 1994... ano em que mudei de emprego e comecei a trabalhar numa grande empresa de comunicação... Como toda grande empresa (nos tempos das "vacas gordas"), recebíamos vários "mimos" no final do ano, e neste meu primeiro ano de empresa eu estava alucinada com tantos brindes, cestas, presentes, etc...

Um dos "presentes" de final de ano que ganhamos foi um "vale-compras" de um valor razoável, não me lembro exatamente o valor, mas devia ser algo em torno de uns R$ 400,00... Pra mim, aquilo era uma "fortuna", primeiro porque não era salário, era um "extra", e segundo porque eu não ganhava tanto na época, pagava faculdade, tinha muitas despesas, então receber uma grana assim pra gastar no que eu quisesse foi realmente de encher os olhos...

O tal vale era da rede Eldorado, uma rede que não existe mais, mas que na época tinha Loja de Departamentos e Supermercados.

Coisa de 10 dias, talvez uma semana antes do Natal, eu saí mais cedo do trabalho pra ir ao médico. Depois da consulta, me ocorreu que eu estava praticamente "do lado" do Shopping Eldorado, onde havia tanto a Loja de Departamentos da rede Eldorado como o Supermercado. O vale-compras estava na bolsa, e eu pensei: "por que não gastá-lo HOJE"???

Fui alegre e retumbante para o Shopping. Uma caminhadinha pequena, e num instante eu estava no paraíso de consumo! Rodei por toda a Loja de Departamentos, fuçei muito, provei algumas roupas, pensei em comprar várias coisinhas pra mim, mas de repente me deu um estalo:

Era mês de Natal, e eu devia gastar aquela grana no Supermercado, pra comprar comidas natalinas e tranqueiras pra casa, coisa que não tínhamos no dia-a-dia por conta da dureza, por ser tudo muito caro... Pensei nas minhas 3 irmãs e na farra que faríamos com danones, salgadinhos, bolachas, etc... Pensei na minha mãe e na felicidade dela com a ceia de Natal incrementada por itens que normalmente não podíamos comprar...

Não tive dúvidas. Larguei todas as roupas lá no meio da loja e desci para o piso inferior, onde funcionava o Supermercado. Peguei um carrinho e comecei a passear pelas gôndolas, delirando, pensando que pela primeira vez na vida eu podia encher um carrinho sem me preocupar, porque eu tinha como pagar! Comecei a viajar com a sensação maravilhosa que é desfilar pelos corredores de um supermercado sem preocupação com a conta no caixa... sem precisar fazer somatórias mentais de cada item para não "ultrapassar" o orçamento...

Sim! Eu estava no paraíso!!! E queria mais era gastar, comprar muita coisa gostosa, chegar no caixa e exibir meu robusto vale-compras... quem sabe até sobraria um "contra-vale", né, porque era tanto dinheiro, que eu nem tinha certeza se seria capaz de gastá-lo...

E lá fui eu... num vai-e-vém controlado por todos os corredores (para não correr do risco de esquecer nenhum deles), fui abastecendo o carrinho... Tanta coisa legal, tanta novidade... coisas que eu nem sabia que eram vendidas em um supermercado...

Neste ponto da história, preciso fazer um parênteses e esclarecer que eu não era exatamente uma "caipira que nunca tinha visto um supermercado"... Não era bem assim, mas a verdade é que cresci num bairro muito pobre, nosso orçamento doméstico era extremamente apertado, e nunca fizemos compras de mês em grandes redes de supermercados, isso na nossa infância era um sonho distante, porque o máximo que meu pai conseguia era reservar o dinheiro do mercadinho que tinha no final da rua, onde ele e minha mãe iam pra comprar arror, feijão, óleo, açúcar, macarrão, etc... essas coisas básicas de dia-a-dia, não sobrava grana pra extravagâncias...

Voltando ao fatídico dia, lá estava eu abastecendo meu carrinho... Perú para o Natal, frios, refrigerante, sidra, bolachas, chocolates, danones, muitos danones, panetone, congelados, bom-ar (lembro bem de ter pego 2 frascos de bom-ar porque minha mãe sempre dizia que achava uma delícia, tinha sentido o cheirinho na casa de alguém, mas era sempre muito caro pra ela comprar), sabonete, pasta de dente, fui pegando tudo que me dava vontade de pegar...

Cheguei na sessão de hortifruti e o carrinho já estava relativamente cheio... Daí parti para a maçã (coisa que nunca podíamos comer porque custava muito caro), uva, manga, mexerica, pêra, melão, ameixa, verduras, legumes... me acabei na "feira", comprei muita coisa...

Já com o carrinho cheio, dei mais uma volta no supermercado inteiro, pra ter certeza de que não estava esquecendo de nada... Lembrei dos salgadinhos, e peguei vários pacotes pra mim e pras minhas irmãs... Elma-Chips, porque a gente nunca comia, quando muito comíamos aqueles vendidos nos saquinhos pelos ambulantes no ponto de ônibus. Lembrei também do bolinho Ana Maria, da Bisnaguinha e do pão de forma... Refiz a lista mentalmente e concluí que já tinha pego tudo, então fui para o caixa.

Me assustei quando cheguei ao caixa e consegui enxergar a rua, e vi que já era noite (eu tinha entrado no supermercado ainda estava dia)... Quanto tempo eu tinha passado lá dentro? Olhei no relógio e vi que já passava das 21h30, portanto eu tinha ficado no supermercado pelo menos umas 3, 4 horas inteiras...

"Que maravilha... esse lugar é um Paraíso!!!" Fiquei me perguntando porque tanta gente reclama de ter que fazer supermercado... como alguém podia não gostar? Era tão bom... Lamentei por minha mãe e minhas irmãs não estarem comigo, porque elas com certeza teriam se divertido também!

Fui colocando as compras no balcão do caixa, de peito estufado, orgulhosa por ter feito a escolha certa sobre como gastar o meu vale-compras! A conta deu um pouco mais do que o valor do meu vale, passou só um pouco, e ainda bem que eu tinha um dinheirinho na carteira pra pagar a diferença! Enquanto eu pagava, um funcionário do supermercado já tinha embalado tudo nas sacolinhas, e minhas compras já estavam acomodadas dentro do carrinho.

Pronto! Agora eu podia ir embora pra casa... Estava doida pra chegar em casa cheia de compras, minhas irmãs ficariam eufóricas, iam abrir as sacolas todas ao mesmo tempo, iam delirar com tanta guloseima! Fui empurrando o carrinho pra fora do supermercado, e quando cheguei no portão lateral do Shopping Eldorado, aquele que dá para uma passarela sobre a Avenida Eusébio Matoso, foi que minha ficha caiu:

Como é que eu ia embora pra casa carregando tudo aquilo??? Engoli seco, fiquei atordoada, encostei no portão e pensei: "PQP, ferrou! Como sou burra!!!"

Eu não tinha carro! E não poderia levar o carrinho do supermercado comigo, não poderia ir andando até minha casa simplesmente empurrando um carrinho cheio de compras! Onde é que eu estava com a cabeça???

Respira, Farta, Respira! Tem que haver um jeito! Eu poderia ligar pra casa e pedir pro meu pai vir me buscar, mas meu pai também não tinha carro! Eu poderia ligar pra casa e pedir pro meu pai vir me encontrar pra me ajudar a carregar tudo, mas não tínhamos telefone em casa! E agora?

Olhei no relógio, e já passava das 22h00... Estava bem tarde, meus pais inclusive deviam estar preocupados, porque já tinha passado muito do horário em que eu costumava chegar quando não estava em aula... Caramba! Eu ia levar uma bronca!!!

Fiquei por alguns minutos ali, parada no portão de saída, olhando as pessoas passarem apressadas por mim... O movimento aumentou na saída do Shopping justamente porque estava no horário de fechamento, várias lojas fechando, e as pessoas indo embora, e eu ali, sem saber o que fazer... Pensei que talvez se eu ficasse ali parada uma hora acabaria aparecendo uma alma generosa que me ofereceria uma carona... Ou talvez um conhecido que se propusesse a me ajudar...

Não adiantou... as horas começaram a voar, até que eu olhei pra passarela sobre a avenida e pensei: "Talvez eu consiga atravessá-la carregando as sacolas... E se conseguir atravessá-la, chego no ponto de ônibus do outro lado e ponho as sacolas no chão enquanto espero o ônibus, e quando o ônibus chegar terei apenas o trabalho de colocar tudo pro lado de dentro, e depois estará tudo resolvido, rapidamente eu chegarei em casa! É, acho que dá!".

Organizei as sacolas todas da melhor forma que pude... fui diminuindo a quantidade de sacolas, colocando o máximo de itens que cabia dentro de cada uma, reforçando as mais pesadas com outra sacolinha, e depois de um tempão nessa arrumação fui pros finalmentes... Fui colocando as sacolas no braço, uma a uma, cada um dos braços lotados de sacolas. Encaixei todas... E lá fui eu... Praticamente uma "mulher-sacola"... Quase não dava pra me enxergar no meio daquele volume...

Um esforço sobrehumano e consegui levantar com aquele peso todo... um, dois, três passos, coloca tudo no chão de novo, respira! Outra vez! E mais outra... Acho que demorei mais de meia hora pra conseguir atravessar a passarela... As pessoas passavam e me olhavam como se eu fosse uma alienígena, talvez não acreditassem que eu estivesse sozinha tentando carregar aquilo tudo, talvez achassem mesmo que eu fosse doida, sei lá...

Cheguei no ponto de ônibus, larguei tudo no chão, meus braços estavam roxos, marcados pela alça das sacolas, e eu ofegante, quase morrendo... Todo mundo me olhando... Que vergonha!!! Olhei no relógio, e passava das 23h30... Pensei: "Meu Deus, vou pegar o último ônibus! Minha mãe vai me matar!!!".

Logo chegou o ônibus, e então um rapaz caridoso se ofereceu pra me ajudar. Pediu para o motorista abrir a porta de trás, e me ajudou a colocar as sacolas. Embarcadas todas as sacolas, corri pra porta da frente, entrei, e me apressei pra pagar a passagem e chegar logo às minhas compras, que estavam lá, soltas no meio do corredor no fundo o ônibus... o motorista arrancou, e uma das sacolas tombou... logo tinha uma mexerica rolando sob os meus pés, e eu ainda estava na catraca! Olhei e pensei na catástrofe que aquilo poderia se tornar se eu não chegasse rápido pra segurar tudo, e implorei para o cobrador me dar meu troco logo!

Pronto! Cheguei! Alguém me deu lugar pra sentar, porque o ônibus estava cheio, e eu fiquei lá, tomando conta das minhas trocentas sacolas. Uma senhora se encorajou e me perguntou, espantada: "Menina, você carregou isso tudo sozinha?"... E então várias outras pessoas se encorajaram e começaram a me sabatinar sobre a razão de eu ter comprado tanta coisa se não tinha quem me ajudasse a carregar... Fiquei brava, porque nem eu mesma sabia a lógica daquele meu comportamento, logo, não queria que os outros me perguntassem algo cuja resposta eu não sabia!

Desconversei. Tentei ficar na minha, e uma curva acentuada fez mais uma sacola tombar... Dessa vez foi o melão que rolou pelo corredor do ônibus, e alguém o resgatou lá na frente... me devolveu, com a piadinha: "Ei, moça, acho que esse melão quer descer antes de você!"... Todos riram, menos eu... Affffffffff... Por que aquele pesadelo não acabava logo???

E foi assim... uma viagem de mais ou menos meia-hora até o meu destino final, cheia de piadinhas e de frutas que teimavam em rolar pelo corredor do ônibus... Algumas eu perdi mesmo, outras foram resgatadas, e eu finalmente cheguei no meu ponto. Gritei lá de trás para o motorista esperar eu desembarcar as sacolas, alguém me ajudou, e lá estava eu novamente, no ponto de ônibus com minhas sacolas.

O ponto de ônibus não ficava na rua da minha casa. Na verdade ficava na avenida principal, e pra chegar à minha casa eu teria que descer uma rua comprida, e depois subir até a metade da minha rua pra chegar em casa.

Já passava da meia-noite. A avenida deserta. Enganchei novamente as sacolas no meu braço já meio dormente por conta do esforço anterior, e fui descendo... Na descida foi mais fácil, mas mesmo assim precisei parar várias vezes pra respirar e pra não cair com o desiquilíbrio do meu corpo provocado pelo excesso de peso das sacolas... Quando eu estava quase terminando a descida vi meu pai... Ele vinha subindo porque estava indo atrás de mim, minha mãe estava em casa arrancando os cabelos por eu não ter chegado até aquela hora e mandou meu pai subir até o ponto pra ver se me encontrava.

Parei. Larguei o peso todo no chão, e mais uma fruta rolou rua abaixo. Meu pai me alcançou e me olhou espantado. Com aquele jeitão de poucas palavras dele, simplesmente pegou parte das sacolas e rumou na direção de casa. Eu peguei as demais sacolas e fui atrás, já quase chorando, porque a cara do meu pai dizia que o clima em casa não devia estar nada bom... Realmente, minha mãe devia estar doida com o meu atraso, e brava como ela era... aiai... o bicho ia pegar!!!

Chegamos em casa... minha mãe olhou espantada para aquele mundo de sacolas, e com aquele olhar cortante que só ela tinha me perguntou, ríspida: "De onde é que você está vindo uma hora dessas, com esse monte de sacolas?"

Não me ocorreu outra resposta: "Mãe, é que eu fui ao médico, daí tava perto do Shopping Eldorado, daí resolvi ir ao supermercado, blablabla"...

E minha mãe: "Você é doida? De onde tirou dinheiro pra comprar isso tudo? E por que é que foi gastar esse dinheirão se nem podia carregar as coisas?"

E eu: "Mas, mãe, não gastei dinheiro, gastei o vale-compras, e foi porque eu queria comprar umas coisas pra casa, olha, eu trouxe muita coisa legal... cadê as meninas?"

Minha mãe: "Estão dormindo, porque, não sei se você sabe, mas já é quase uma hora da manhã! Você quer matar a gente de preocupação? Como é que você faz uma coisa dessas?"

Eu só consegui começar a chorar... Percebi na hora que minhas compras maravilhosas não amenizariam a braveza da minha mãe, então não respondi mais nada... Sentei no sofá, e fiquei lá com cara de coitada... só fui interrompida um tempo depois pela voz da minha mãe, já mais branda:

"Você pode pelo menos me ajudar a guardar tudo isso?"... O choro secou... me animei... fui pra cozinha e comecei a abrir as sacolas... fomos colocando tudo na mesa, algumas frutas estavam amassadas, bolachas paçarocadas, salgadinhos esfarelados... Mas até que salvamos bastante coisa... No final das contas, minha mãe ficou brava comigo, com toda razão, disse que eu não sei gastar dinheiro, que não sei economizar, blablabla (se ela soubesse das frutas que eu perdi no caminho, virgi...), mas também ficou contente com as compras, e naquele ano nosso Natal foi, por assim dizer, bem mais Farto!

Hoje em dia ainda enfrento problemas com compras de supermercado. Não raro, ultrapasso a capacidade do limitado porta-malas do meu Celta, e sempre que chegamos em casa tem alguma coisa amassada... Mas no fim, tudo dá certo... Continuo amando fazer supermercado, e continuo passando de 2 a 3 horas fazendo compras todo mês... Coisa de gente consumista, fazer o que, né?

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Treinada Para Matar

T.P.M.
Sigla que em tese significa Tensão P Menstrual, mas que na verdade camufla o verdadeiro estado das mulheres neste maldito período do mês: Treinadas Para Matar.

Exagero? Garanto que não, e explico:

Você está lá, vivendo sua vida alegre e retumbante, quando de repente, do nada, é tomada por uma avalanche de sensações e sentimentos que te deixam prestes a explodir. Literalmente.

Daí você chora compulsivamente, sente-se a última criatura do universo, tem certeza absoluta que se morrer ninguém vai nem sentir sua falta, chora mais ainda imaginando seu corpo em estado de putrefação em algum canto da sua casa enquanto o mundo lá fora gira como se nada tivesse acontecido, e sente ódio de todas as pessoas do Universo por não se importarem com você.

Daí você jura por tudo que é mais sagrado que nunca mais vai se importar com ninguém também, e deseja secretamente que todas as pessoas tenham uma morte lenta e dolorosa só pela sacanagem de não estarem nem aí pra você.

Daí o ódio vai tomando conta do teu ser de tal maneira que você sente uma necessidade incontrolável de gritar com alguém, e manda um "vá pra puta que o pariu" para o primeiro infeliz que cruza seu caminho, mesmo que esse infeliz seja apenas o carteiro que veio te entregar uma correspondência.

Daí você fica com mais ódio porque as pessoas começam a te olhar como se você fosse louca, mas esse ódio logo se transforma em uma tristeza profunda porque você constata que, puxa, depois de uma vida inteira de sofrimento você foi reduzida a isso: Uma louca.

Daí você chora. Chora copiosamente, chora de soluçar, sente-se uma fracassada por não ter conseguido ser outra coisa na vida que não uma mulher descontrolada, e chora mais. Chora com medo de ser internada num hospício, chora com medo de que as pessoas se afastem de você, chora porque a vida é injusta e quando se dá conta está novamente tomada pelo ódio de tudo e de todos: O mundo é uma merda; As pessoas são umas inúteis; Seus amigos são uns insensíveis e toda a humanidade é desprezível.

Daí você decide fazer algo por você mesma, quase como uma vingança: "O mundo não está nem aí pra mim? Então fodam-se todos! Eu sou autosuficiente e vou fazer meu dia melhorar!".

Daí você decide ir à loja de conveniências mais próxima e comprar muitos itens de primeira necessidade: Sorvete, Chocolate, Vodca, Cigarro e afins. Quando vai passar no caixa com aquele mundo de tranqueiras e o moço te olha meio desconfiado, você manda logo um "que que foi? nunca viu? vai cobrar logo essa merda ou vai ficar me olhando?", e então o moço passa suas compras rapidinho pra se ver livre de você o quanto antes, o que te provoca mais um pequeno ataque de fúria verborrágica e você não vai embora sem antes mandá-lo para a puta que o pariu.

Daí você volta pra casa com os batimentos cardíacos acelerados, num misto de fúria, prazer por estar se vingando da humanidade, e ansiedade para consumir logo os santos remédios que vão alegrar seu dia.

Joga-se no sofá, liga a TV e começa a tomar o sorvete direto no pote, porque você está sendo vítima de uma humanidade egoísta e merece fazer essa extravagância pelo seu próprio prazer. Vai tomando o sorvete compulsivamente nem sem sentir o sabor, intercalando com generosos goles de vodca e algumas baforadas, enquanto zapeia a TV em busca de algo que te distraia. Como TV é a imagem da Besta e não tem nada que preste, não demora 5 minutos pra você jogar o controle remoto longe e vê-lo se desfazer em mil pedaços, o que te dá um ódio mortal do fabricante desta merda frágil que não resiste ao menor impacto, e esse ódio logo chega ao fabricante do sorvete e do chocolate que não estão fazendo o menor efeito.

Merda de Sorvete! Merda de Chocolate! Merda de Vodca! É neste momento que uma nova crise de choro te domina, você continua tomando o sorvete sem nem sentir o gosto, enquanto as lágrimas pingam no pote, e você fica pensando que gastou um dinheiro à toa, porque aquilo tudo não vai te levar a lugar nenhum.

Daí você pensa mais uma vez nos seus amigos insensíveis que estão lá fora vivendo suas vidas normalmente enquanto você está em frangalhos, chora de ódio, chora alto, profere meia dúzia de palavrões impublicáveis entre soluços e fungadas, pega o celular e constata que ninguém te mandou um único SMS, e deseja mais uma vez que todos morram sozinhos como você está agora, porque se eles não estão nem aí pra você, então você também quer mais é que eles se danem.

Daí você decide tomar um banho pra tentar refrescar a cuca, chora durante vários minutos pensando que se morrer ali, eletrocutada pelo chuveiro, ninguém vai sentir a sua falta, e novamente decide fazer algo por si mesma: Ir às compras. Porque ir às compras é sempre uma santa terapia, meudeusdocéu, como você não pensou nisso antes?, e então você tem 5 segundos súbitos de ânimo e se arruma, pega sua bolsa, cartões de crédito, e sai, não sem antes olhar mais uma vez para o celular e, constatando que ninguém te mandou sequer uma mensagem perguntando se você estava bem, decide deixá-lo em casa. "Esse celular imprestável! Também agora quem não quer falar sou eu, se alguém me ligar, foda-se! Vou sair livre e fazer o que eu quiser!"

No caminho até o shopping você ainda chora um pouco, um choro mais contigo, mas suficiente pra borrar sua maquiagem, e então você fica com ódio do maldito fabricante desse rímel fajuto que não é à prova d'água coisa nenhuma!

Daí você encontra no trânsito toda sorte de motoristas ruins e lerdos, todas as barbeiragens daquele dia são cometidas justamente pelos carros que estão à sua frente ou ao seu lado, e quando um folgado passa do teu lado e te olha torto você manda logo um "vá pra puta que o pariu, tirou sua carteira por correspondência, é, seu barbeiro? vá aprender a dirigir! Auto-Escola tá aí pra isso!". E de repente você é tomada por uma fúria incontrolável e sai dirigindo no meio daquele bando de gente lerda como se estivesse numa perseguição policial, e deseja com todas as forças ter uma bazuca pra poder tirar da sua frente todos os imbecis que estão ocupando a sua parte da rua.

Bem alterada (mais?), finalmente você chega ao shopping. Enquanto roda atrás de uma vaga para estacionar, vê um imbecil parando na cara de pau numa vaga de deficiente. Não consegue se conter, desce do seu carro e vai lá tirar satisfações com o cidadão, apontando o dedo no nariz dele, e só depois percebe que no banco de trás do carro tem um cadeirante esperando ajuda para sair.

O motorista te olha como se você fosse louca, não ousa nem mesmo rebater suas acusações, apenas vira as costas e vai ajudar o cadeirante a sair do carro, mas você não acha que isso signifique que ele estava certo, porque, né? Com certeza é um imbecil. E um grande imbecil. Então antes de entrar novamente no seu carro e seguir a procura de uma vaga você ainda pára apoteoticamente e manda um "vá pra puta que te pariu", e sai batendo o pé. Encontrar uma vaga para estacionar demora tanto que quando você finalmente encontra já está chorando de novo, e neste momento você nem sabe exatamente o porquê.

Daí você limpa a maquiagem borrada pelas lágrimas, assoa o nariz mil vezes e finalmente vai às compras. Entra numa loja de departamentos e pega 15 cabides com roupas lindas que com certeza vão te fazer ser a pessoa mais notada do universo - abandono nunca mais! Vai para o provador, e não demora muito pra que você esteja chorando de novo.

Porque não basta estar na TPM, você ainda precisa inchar. Quando se olha naquele maldito espelho do provador da loja, você enxerga apenas um monte de banhas que não ficariam bem em roupa nenhuma, e começa a medir o próprio corpo com as mãos tentando se lembrar em que momento você ficou tão roliça. Inchaço, da cabeça aos pés. Seu tornozelo parece o tronco de uma árvore, sua coxa parece um colchão d'água, sua barriga parece um botijão de gás e nem a sua cara se salva, porque olhando com mais atenção você percebe que sua pele está um lixo que e meia dúzia de espinhas apareceram bem no meio da sua testa.

Soluços no provador. Que maldita vida injusta! Não basta a TPM acabar com a sua sanidade, ainda precisa acabar com a sua pele, com o seu corpo, com a sua vitalidade? Neste momento você também lembra do pote de sorvete consumido horas antes e da barra de chocolate devorada em segundos, e o ódio volta com força total, porque quem foi mesmo o cretino que disse que sorvete e chocolate resolveriam? Só te fizeram aumentar ainda mais de tamanho, e nessa hora a vontade de morrer é quase incontrolável.

Daí você pensa em cometer o suicídio ali mesmo, no provador, porque sendo um lugar público pelo menos seu corpo não apodreceria durante semanas, e quando começa a imaginar de quantas maneiras poderia cometer este suicídio é interrompida pela moça da cabine ao lado que quer sua opinião sobre um vestido deslumbrante que ficou perfeito em seu corpo desinchado.

Dá um ódio... daí você olha com um olhar fulminante para a tal moça magra e provavelmente sem TPM, e diz secamente: "Está uma merda! Esse vestido é muito brega, se eu fosse você procurava outra coisa", e depois ri sombriamente sozinha dentro da sua cabine lembrando da cara de frustração da moça ao ouvir a sua opinião azedíssima.

Mas o sorriso maquiavélico dura 5 segundos até que outras lágrimas cheguem, porque a vida é mesmo muito injusta ao colocar pessoas magras e felizes no seu caminho justamente no dia em que o mundo te abandonou e você está sofrendo solitária e inchada.

Daí você sai do provador e devolve para a moça os 15 cabides, e quando ela pergunta se você vai levar alguma coisa você responde: "Tudo uma merda. Essas roupas não prestam pra mim!", e sai meio a contra-gosto, porque sua real vontade era voltar lá e enfiar a mão na cara daquela moça sem graça do provador. O motivo você nem sabe exatamente qual é, mas a necessidade de dar uma porrada em alguém é tão avassaladora que de repente aquela moça do provador parece ser a vítima perfeita.

Daí você dá meia volta em direção ao provador decidida a dar um murrão na fuça da moça, e quando vai chegando perto começa a chorar de novo porque sua vida é mesmo patética, e você não consegue nem mesmo fazer compras em momentos assim. Tem vontade de ir lá e abraçar a moça, mas desiste e vai embora antes que a vontade de matá-la apareça mais uma vez.

Daí você passa em frente à farmácia do shopping, avista absorventes nas prateleiras e sente-se humilhada por ter que utilizar aquelas coisas todos os meses, e chora, chora, chora.. Chora tanto que num determinado momento o segurança do shopping te aborda pra saber se "está tudo bem", e você só consegue mandá-lo à puta que o pariu. Quem esse cretino pensa que é pra chegar assim, querendo saber da minha vida?

Daí você ainda tenta tomar um café, mas ele está com gosto de detergente. Tenta comer alguma coisa na praça de alimentação, mas todas aquelas pessoas felizes e famintas te irritam, e você sai rapidamente do lugar pra não voar no pescoço de um.

Como as pessoas ousar serem tão felizes enquanto você está sofrendo?

Daí você encontra um banco na saída para o estacionamento e senta para tentar decidir o que fazer. Chora mais uma vez, escondida pelos óculos de sol, e quando pensa em ligar pra alguém pra ouvir qualquer coisa que te anime, você lembra que deixou o celular em casa e, putaquepariu, deve ter mil ligações perdidas! Você precisa voltar pra casa pra receber o carinho das milhares de pessoas que a essa hora com certeza já sentiram sua falta e se preocuparam com você!

Daí você volta rapidinho pra casa, e quando chega pega o celular apenas para constatar que não há nenhuma ligação. Nenhuma chamada perdida, nenhum SMS, nenhum sinal de contato do mundo lá fora com a sua pessoa sofredora. Você sente que sua teoria está mais que comprovada, de fato se você morrer dentro do seu apartamento ninguém nem saberá, e então você chora, e chora, e chora mais um pouco.

Acessa sua agenda do celular e escolhe um amigo aleatório para ligar, para pelo menos ouvir um "tudo bem?" e poder responder que, não, não está nada bem, mas liga para 15 números diferentes e ninguém atende.

Quando finalmente seu celular toca e você sente-se gente pela primeira vez no dia, você atende e constata que é o cara do telemarketing da Oi querendo te oferecer um plano diferente. Então você jogar o celular longe, ele quebra, e neste momento você sai enlouquecidamente à procura de uma arma pela casa, qualquer arma: faca, tesoura, picador de gelo, qualquer coisa que possa ser enfiada no coração do primeiro cretido no cruzar seu caminho, porque, né? A Humanidade não merece seu respeito.

Cretinos! São todos uns Cretinos!

Enquanto você procura uma arma utilizável na sua casa, a ideia de assassinar alguém com requintes de crueldade vai tomando forma no seu cérebro, e então você entende que essa é a única coisa que talvez dê conta de aliviar o seu sofrimento tepeemístico, e a partir de então cometer assassinato vira seu objetivo de vida.

Você ainda chora um bocado, em intervalos cada vez menores, mas o fato é que sua ideia fixa durante a TPM é apenas essa: Matar um infeliz, porque a vida é uma merda, as pessoas são umas ególatras insensíveis, e você é uma vítima do universo que veio neste mundo pra sofrer.

É isso. Coisinha boba esse negócio de TPM, né?

Quem nunca se sentiu Treinada Para Matar que atire a primeira pedra! Eu sinto-me assim, todos os meses, ano após ano. Porque ser mulher, nessas horas, é a coisa mais filha da puta que existe no mundo. Um ser incompreendido. Uma Mulher Hormonalmente Descontrolada.

Quando isso tudo passa? Quando a maldita Menstruação chega... mas aí começam as cólicas e a vontade de matar dá lugar à vontade de morrer... e o drama continua... sempre... :/

(...)

** Agora é o momento em que vocês me dão um abraço bem apertado e me dizem baixinho, com carinho: "Eu te entendo, eu juro que te entendo... mas fique tranquila que vai ficar tudo bem!" (esse sim é um antídoto infalível! Fica a Dica!) **

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Para virar um livro: A História do Comercial que Ninguém viu

Mais uma repostagem para enriquecer minha campanha para o 2o. Concurso BlogBooks (para votar no Blog Dona Farta, clique aqui ).

Dessa vez, "A História do Comercial que Ninguém viu". (publicada originalmente em 30/11/2007)

Há alguns anos entrei num programa de "teste" de um produto para emagrecer que estava prestes a ser lançado no Brasil. Eu e mais algumas dezenas de mulheres fartas.

Era uma linha de shakes e barrinhas de cereais, que seria lançada por uma grande empresa do ramo alimentício, e eles fizeram um estudo super sério sobre a eficácia do "tratamento". Todo o programa foi muito bem organizado, remunerado e, o melhor, durante os 6 meses de teste tínhamos acompanhamento médico, nutricional e psicológico "na faixa", além de receber gratuitamente os produtos para consumo, etc e tal...

Foi bem bacana. Eu nunca tinha feito uma tentativa assim tão séria, envolvendo todas as vertentes da área de quem quer fazer dieta - endocrinologista, nutricionista, psicólogo, e tive acesso aos profissionais mais renomados e graduados de cada uma das áreas por conta do alto investimento que a empresa X fez no produto, e da credibilidade que queria passar com o histórico dos testes. Perdi, se não me engano, pouco mais de 9 quilos no decorrer do programa - 6 meses de "intensivo" + 3 meses de "manutenção". Foi um resultado excelente, e como tínhamos dinâmicas de grupo frequentes entre todas as participantes do teste, eu fui percebendo que realmente eu tinha me saído muito bem, tinha me destacado da maioria...

Daí acabou-se o que era doce, eu rapidamente recuperei alguns quilinhos, como sempre, mas não tudo, e continuei com um saldo positivo. Mais de 6 meses depois, um belo dia me liga o cara de Marketing da empresa X, me dizendo que eles estavam preparando a campanha publicitária de lançamento do produto e que queriam fazer a campanha com uma pessoa "real", que fez o tratamento de verdade e obteve resultados de verdade, e que eles tinham me escolhido para tal trabalho porque eu tinha o perfil, o resultado, blablabla... Me disse que eu não tinha obrigação nenhuma, mas que a empresa gostaria muito de contar comigo, não sei o que mais, até que disse a palavrinha mágica - cachê, e eu já pensei com mais carinho no assunto...

Disse pra ele que eu tinha recuperado alguns quilos, e ele disse que tudo bem, que a idéia da campanha era ser realista mesmo, e que eles queriam fazer um teste de foto e vídeo comigo pra mandar para a Produtora avaliar. Tudo naquele tempo maluco de quem trabalha nessa área, tudo "pra ontem"... Só sei que lá fui eu, naquele mesmo dia, com a cara lavada, para o tal local do teste, ali nos Bairro dos Jardins. Nessa época eu ainda tinha o escritório no Centro da Cidade, e lembro que quando cheguei no local do teste quase morri de vergonha porque tinha torrado dentro do carro no trânsito infernal, estava completamente "desmontada", e lá só tinha gente linda, maquiada, modelo, e só eu desarrumada, um peixão completamente fora d´água....

Pra encurtar a história, quase morri de vergonha, mas fiz as tais fotos, e o teste de vídeo, que foi o "ó do borogodó"... Tive que decorar um texto lá na hora, e ficar repetindo um milhão de vezes pra uma câmera, pense!!! Que vergonha, que coisa esquisita, afff... Saí de lá certa de que jamais me chamariam pra fazer um comercial, eu definitivamente não levava jeito pra coisa...

Semanas se passaram e eu já estava esquecendo do assunto quando numa quarta-feira me liga o tal cara do Marketing dizendo exatamente assim (lembro como se fosse hoje):

"_Você vai gravar pra gente lá no Rio, no domingo, mas vai pra lá no sábado pra fazer cabelo, prova de roupa, etc... Como você deu uma engordadinha e o vídeo engorda mais, vamos te mandar pra um SPA amanhã pra você dar uma desinchada e o efeito ser melhor no vídeo. Que horas eu posso mandar o motorista te pegar em casa amanhã cedo? 6h00 tá bom???"

E eu, do outro lado do telefone com a boca aberta e pensando: Como assim? Pedi pra ele um tempinho porque precisava verificar questões de logística familiar, liguei pra minha mãe, todo mundo me incentivou a ir, e eu dei o ok... O cachê era beeemmm bacana!

Passei dois dias e meio no SPA 7 Voltas, bacanérrimo. Eu mais do que ninguém estava me cobrando, então malhei muito (como se 2 dias fossem resolver alguma coisa!), fiz a dieta líquida do SPA e algumas sessões de drenagem linfática e outras massagens emagrecedoras... Não cheguei a perder muito peso, mas dei uma boa desinchada, e isso ajudou bastante...

No sábado fui para o Rio. Chegando lá, era carro de produtor me esperando pra me levar pra não sei onde, pra ver uma roupa do estilista Fulano de Tal, depois pra outro lugar, uma loucura... parecia que eu era uma celebridade, cara... muito engraçado... Acho que o cliente era muito importante pra Produtora, então eu percebia que tava todo mundo tenso com esse comercial especificamente, talvez também por ser feito com gente comum, sei lá... De repente o mundo inteiro tinha o número do meu celular, que não parava de tocar, cada hora um assunto - cabelo, depilação, sobrancelha, roupa, sapato, lingerie... Piração total... Mas foi beeeeeeem legal... Conheci um pessoal muito bacana lá na Conspiração Filmes, me deixaram muito à vontade, deram um mega suporte, e eu fui gostando da "brincadeira"...

No final do sábado tinha um horário agendado com "O Cara"... Prestem atenção nesse trecho especificamente:

Até aquela ocasião, euzinha da Silva, uma pessoa que não se liga em assuntos de bafafá de moda e coisas do gênero, NUNQUINHA tinha ouvido falar em Fernando Torquatto. Não fazia a menor idéia de quem era esse cidadão, mas percebi que era alguém "importante" porque toda hora aparecia alguma bicha louca falando: "Meninaaaaaaaaaaaaaaaaaaa... você vai maquiar e pentear com o Torquattooooooooo... Nossaaaaaaaaaaaa... Que Morallllllllll!!!" E eu, tentando fazer cara de conteúdo, mas puxando pela memória pra ter certeza de que eu não sabia quem era o cara... Puta saia-justa, e o medo de pagar um micão???

Bom, daí fui lá pro tal encontro com o Torquatto... Um cara suuuuuuuppppperrrrrrrrr normal, à primeira vista... Chegou, de mochilinha nas costas, jeans, camiseta surrada, all-star, olhou meu cabelo que por sinal tava uma meleca por conta do cloro da piscina do SPA e da ausência de chapinha há mais de 2 dias, fuçou, revirou, olhou de todos os ângulos, chamou duas "assistentes", falou, falou, falou, virou as costas e foi embora, sem dirigir uma única palavra à minha pessoa.

Quando ele se foi e a primeira moça começou a trabalhar no meu cabelo, eu não resisti e perguntei: "Vem cá, esse aí que é o Torquatto?" A moça, claro, arregalou os olhos e disse: "Você não o conhecia???". Fiz que não com a cabeça, abri uma revista e fiquei lá folheando, sem falar mais nada... percebi que estava cometendo uma "heresia" por não saber quem era o cara.

Fizeram o meu cabelo como o Torquatto mandou, e foi uma coisa bem bacana, porque foi um mega trato, a cor ficou linda, o corte, o tratamento, tudo. Foi tipo "um dia de princesa", sabe? Coisa de gente fina! Fiquei linda e maravilhosa, de cabelos, unhas, sobrancelha, tudo feitinho, tudo bonitinho. Ainda conheci mais umas pessoas à noite, e depois fui levada para o Hotel pra descansar, porque a gravação domingo começaria às 7h00 da manhã!!! Fala sério!!! Lá no Rio!!!

No domingo, o DIA D, o que a Dona Farta aqui faz? Só perdi a hora, só isso... Acordei com o mensageiro do Hotel tocando a campainha desesperadamente, abri a porta assim, meio sonolenta, e o moço disse, meio esbaforido: "Tem um pessoal esperando pela senhora lá embaixo" E eu: "Que horas são?", e o moço: "Sete e quinze", e eu "PQP! Fala que já tô descendo!".

Aff... que gafe horrorosa!!! Mal tomei um banho relâmpago e desci com a maior cara amassada, encontrei duas produtoras com cara de poucos amigos e olho no relógio na recepção do Hotel, quase morri de vergonha... Pedi desculpas, mas acho que não adiantou muito, porque elas bem ficaram de cara feia pra mim o dia todo.

Fomos pra Tycon, que eu já conhecia, mas não como "protagonista". Chegando lá todo mundo pronto, só a madame estrela aqui atrasada... Corre pra vestir a roupa, ver se tá tudo certo, tira a roupa, vai pro camarim, e lá estava o "Deus" novamente, o tal do Torquatto... Um pouco mais simpático que no dia anterior, ele começou meio que a conversar comigo, enquanto me maquiava, mas eu percebi que ele ficou bem incomodado com o fato de eu não saber quem ele era... Claro que eu não disse pra ele que não sabia quem ele era, mas ele deve ter percebido porque eu nem tietei, nem estiquei o assunto, já fugindo mesmo da raia, sabe?

Bãããoooo... Cabelo e Maquiagem prontos... Resultado??? Uma "boxta", com o perdão da palavra! Assim... Eu não sei se era um tipo de maquiagem própria pra TV, não sei se o cara ficou com raiva de mim e me sacaneou, ou se aquilo é considerado bonito mesmo e eu que tô por fora... o fato é que eu fiquei parecendo uma Drag Queen... ou uma cantora do Abba. Um cabelo meio anos 70, uma maquiagem meio over, não sei... quando levantei da cadeira e me vi quase tive um treco, e pensei: "Carácoles, vou aparecer na TV desse jeito??? PQP!!!"... Mas, aquele mundo de puxa-sacos berrando: "Ai, que linda! Ai que maravilha de trabalho, Torquatto!", e eu fiquei intimidada, e não consegui dizer que não tinha gostado... Na verdade acho que isso nem importaria muito mesmo.

Decidi que não ia mais ficar me olhando no espelho e pronto! Vesti a roupa, que também odiei - era uma calça branca e uma blusa amarela (agora pensem vocês, que me conhecem, se já conceberam me ver de calça branca alguma vez na vida!)... Eu jamais usaria aquela roupa, porque além de não me favorecer nem um pouco, ainda tinha umas cores totalmente inadequadas pra uma gorda aparecer na TV - que engorda!!! Parecida "operação boicote", sabe??? Mãããsssssssss... Era do tal estilista Fulaninho de Tal, e eu estava ganhando pra estar lá, então incorporei a atriz e fiz o meu papel.

Nesse dia, conheci umas das pessoas mais bacanas do business TV/Cinema - Cláudio Torres, que era nada mais nada menos que o Diretor do Comercial! Fala sério, que moral, heim! Esse eu sabia muito bem quem era, e nem acreditei quando me vi diante do cara, sendo Dirigida por ele! Muito legal mesmoooooooo... Ele, um fofo, um amorzão de pessoa, e a equipe toda no mesmo astral, no mesmo estilo...

Masssssss... vida de artista inexperiente é mó roubada... Carambaaaaa... pensem num trem cansativo!!! Pensem numa coisa chaaatttaaa de se fazer... Tinha lá o texto que eu já tinha decorado... daí, vão-se quase 2 horas só pra marcar o áudio, depois mais tanto tempo só pra marcar luz, depois não sei mais o que, e você lá, em pé, no meio de um estúdio, sem poder tirar o pé do lugar por causa da luz ajustada praquela posição, que você tem que fazer parecer natural!!! Olha, pastei, viu!!! E ficava com vergonha toda vez que errava, que mexia errado, porque parecia que a culpa da demora era minha... o Cláudio ia me tranquilizando, brincando comigo, dizendo que quando gravam com celebridades é assim também, e tal... Mas confesso que em alguns momentos eu tinha vontade de sair correndo e chorarrrrrrrrr... Que encrenca eu fui me meter, nossa!!!

"Ação!", "Corta!"... Ouvi isso um milhão de vezes, às vezes rolava um "corta!" só para o Torquatto vir ajeitar o cabelo, retocar a maquiagem, uma coisa de doidooooooo... Daí se eu me mexia um pouquinho pra relaxar a perna, lá vinha outro tempão pra redescobrir o lugar exato onde eu tinha que por a ponta do dedão para a luz ficar perfeita... olha... Sacrifício... O comercial era em frente a um espelho, então eu ia falando o texto, a câmera ia abrindo (começava em close), daí quando dava pra descobrir que eu estava na frente do espelho, eu virava e falava lá a frase final (mico!)... Pensem no trabalho que foi acertar a tal viradinha!!! Gente, só de lembrar eu fico cansada...

A gravação terminou umas 3 horas da tarde. Rolou um almoço lá na Tycon mesmo, todo mundo "confraternizando", me elogiando que eu tinha me saído bem pra uma inexperiente, e tal... Foi legal... como eu falei, conheci pessoas bacanas, gente culta, gente da área de cinema que eu AMO, então muito mais do que o cachê eu ganhei uma experiência de vida bem bacana...

Tudo vale a pena se a alma não é pequena, não é mesmo???

Ah!!! O comercial??? Então, nem rolou... Fiquei sabendo depois, pelo cara da empresa do produto, que eles gravaram comigo e com uma modelo, e daí fizeram uma pesquisa de mercado com um público selecionado e exibiram os dois comerciais, e as pessoas votaram na tal pesquisa, e o da modelo ganhou... Eu mesma nunca vi o resultado final, não tenho a menor idéia de como ficou, mas nem fiz muita questão também de correr atrás disso, nem queria me ver com aquela roupa e aquele cabelo no vídeo...

Foi uma pena porque eu teria ainda uma outra grana pra receber se o comercial fosse veiculado, só por isso eu torcia pra que fosse pro ar, era uma grana de Direito de Imagem bem caprichada, mas não deu... O comercial da modelo passou por um tempinho. Quase chorei no dia que vi a primeira vez... a modelo de jeans, cabelo liso, maquiagem clean... falando aquele mesmo maldito texto. Tive quase certeza de que fui boicotada, porque se eu tivesse de jeans, cabelo liso e maquiagem clean talvez tivesse ficado mais segura e o resultado tivesse saído melhor, sei lá... mas não importa também... Já foi, e valeu!!! Além do cachê, me rendeu uma bela caixa recheada de DVD´s de filmes nacionais da Conspiração Filmes que enriqueceram minha DVDTeca, que eu ganhei do pessoal da produtora um tempo depois...

Prêmio de Consolação!!! hahaha

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Para virar um livro: A História do Caroço de Ameixa

Como vocês sabem, estou em campanha para a relização do sonho de transformar este Blog em livro, participando do 2o. Prêmio BlogBooks (para votar no "Dona Farta", clique aqui ).

E como tenho acumulado em mais de 3 anos de Blog cerca de 500 postagens sobre os mais variados assuntos, resolvi fazer esta semana uma repostagem de alguns dos meus textos preferidos, justamente aqueles que eu colocaria num livro se pudesse escolher.

Como tem muita gente que me acompanha há pouco tempo, talvez não conheçam todas as histórias, então vamos a uma das melhores, sobre a minha infância: "A História do Caroço de Ameixa". (publicada originalmente em 13/11/2007)

Tivemos uma infância extremamente simples, mas foi uma infância feliz... Bons tempos em que precisávamos apenas de um quintal pra brincar e descobrir o mundo...

Morávamos numa casa simples de 3 cômodos, e como o terreno era grande, tínhamos um quintal imenso, com mato, terra, pedra, e até um poço! Havia um pequeno pedaço do quintal pavimentado, protegido por uma cerquinha de madeira, onde minha mãe estendia roupa lavada, onde havia o nosso balanço de metal, e onde passávamos a maior parte do dia, brincando e aprontando...

Minha irmã Silvia sempre foi muito mais esperta do que eu... Apesar de ser um ano e meio mais nova, ela sempre foi muito "espoleta", era magrelinha então tinha facilidade de subir aqui, se pendurar acolá, correr, etc... Já eu sempre fui meio "tchonga", sempre fui meio lerda... Era gorduchinha, não tinha muita agilidade, era medrosa e uma manteiga derretida...
Mesmo com essas diferenças gritantes, eu e a Silvia éramos muito parecidas quando crianças, e minha mãe, é claro, costumava nos vestir iguais... me lembro que sempre quando saíamos alguém vinha e perguntava: "São gêmeas"?

Também éramos (e somos até hoje) muito diferentes na personalidade, mas isso nunca foi obstáculo para que fôssemos extremamente próximas, pelo contrário... pode até ser que isso tenha nos ajudado a ser tão amigas, como se uma completasse a outra.

Normalmente, casas onde existem muitos irmãos são também palco de brigas frequentes, brigas de irmãos são coisas super comuns, mas nunca foram comuns na nossa casa. Por alguma razão meio difícil de explicar, e também por mérito dos nossos pais, que souberam nos educar de maneira brilhante (dadas as condições), nunca tivemos uma briga feia, raríssimas vezes discutimos, e o clima de paz sempre reinou entre as "Irmãs Aguilhar", apesar de tantas diferenças... Cuidávamos umas das outras, e é assim até hoje.

Na época da história do caroço de ameixa, eu devia ter uns 5 ou 6 anos, e a Silvia uns 4 ou 5, não lembro com precisão. A Cátia (minha terceira irmã) era bebê ainda, devia ter pouco mais de 1 aninho, então as tardes no quintal eram uma exclusividade minha e da Silvia, estávamos sempre grudadas, inventando alguma brincadeira inimaginável, enquanto minha mãe estava envolta nos afazeres domésticos e nos cuidados com a bebê.

Certo dia estávamos lá no quintal tentando inventar algo novo. Não tínhamos quase nenhum brinquedo, então tínhamos que brincar com os materiais disponíveis no quintal - terra, mato, pedras, etc... Um garoto vizinho juntou-se a nós e trouxe um punhado de caroços de ameixa, já secos, e ficamos ali tentando inventar algo com aquela "novidade"... Gostávamos da sensação do caroço de ameixa nas mãos, aquela coisa meio escorregadia, aquele caroço tão perfeitamente ovalado, e nem me lembro qual foi a brincadeira, só sei que os caroços de ameixa fizeram da nossa tarde uma festa.

Logo o menino vizinho foi embora, e novamente ficamos só eu e a Silvia... Caroço de ameixa pra cá, caroço de ameixa pra lá, e a Silvia então teve a brilhante idéia de ver se o caroço cabia no nariz dela. Coisa de criança, ela simplesmente pegou o caroço de ameixa e enfiou no nariz, assim, sem titubear!

Eu, a medrosa "tchonga", claro que não me aventurei nessa experiência, mas fiquei olhando, e vi o caroço deslizar suavemente para dentro do nariz da minha irmã, ao mesmo tempo em que se formou uma enorme protuberância ao lado de sua narina. A princípio a Silvia riu, e eu também ri. Foi mesmo engraçado, o caroço "mergulhou" nariz adentro, sem esboçar a mínima resistência. Mas aí veio o momento: "Vamos tirar!"...

E quem é que disse que conseguiríamos tirar o caroço de ameixa do nariz??? Claro que era quase impossível, justamente pelo formato ovalado do "objeto", associado ao fato de ser totalmente escorregadio. Primeiro, a Silvia tentou puxar, sem sucesso... Daí foi a minha vez, e quanto mais eu tentava encostar o dedo e formar uma garrinha pra puxar o caroço, mais ainda ele mergulhava narina adentro... Olhamos uma pra cara da outra com aquela pergunta velada: "E agora?"...

Eu, claro, já estava quase chorando, morrendo de medo de aquilo fazer mal pra minha irmã, e morrendo de medo também da reação da minha mãe quando soubesse da "arte" que tínhamos aprontado... Daí eu tive uma última idéia brilhante, que seria a nossa salvação:

"_ Silvia, se você "assoar" o nariz, pode conseguir botar o caroço pra fora! Vamos tentar?", e ela na maior tranquilidade (era eu que estava nervosa!), fez que sim com a cabeça.
Um, dois, três, e... "assoa!"...

Minha irmã se preparou para dar "aquela assoada", e então, achando que estava fazendo a coisa certa, pronta para ver o caroço voar, deu uma enorme INspirada, daquelas de encher completamente o pulmão de ar... Ela fez o processo inverso, e com isso ao invés de expelir o caroço fez com que ele entrasse ainda mais na sua narina, de modo que a pontinha nem estava mais visível...

Foi aí que eu me desesperei... Falei: "Silvia, e agora??? Esse caroço não vai sair nunca mais do seu nariz! Agora não dá mais pra puxar!!!"... Ela ainda estava calma, embora o ar faceiro tenha imediatamente desaparecido de seu rosto... Ficamos ali, alguns instantes, olhando uma pra outra, sem saber o que fazer... Pensei que talvez não fosse tão grave assim, e resolvi ir consultar a minha mãe, que estava no tanque esfregando roupa:

"_ Mãããããeeee (a voz já meio embargada pelo choro iminente)... mãe..."
"_ Ai ai ai, o que é menina? Não tá vendo que eu tô lavando roupa?"
"_ Mãe, eu queria saber uma coisa. Se uma pessoa enfiar um caroço de ameixa no nariz, ela morre?"

Minha mãe deu uma olhadela de lado pra mim, aquele olhar meio enviezado de quem tem muitas coisas pra fazer e não tem muito tempo pra perder com curiosidade infantil, e respondeu, brava:

"_ Claro que morre, menina! Mas quem é que vai enfiar um caroço de ameixa no nariz?"
"_ Buáááááááááá (eu, já em prantos)... Mãe, então a Silvia vai morrer!!!"

Só aí a minha mãe largou a roupa, endireitou o corpo, olhou pra mim e disse:

"_ O que é que você tá falando, menina? Quem vai morrer???"

"_ A Silvia, mãe... buáááááá... a Silvia vai morrer, porque ela enfiou um caroço de ameixa no nariz, e agora não sai!!! Buáááááá"

Minha mãe então, batendo o pé, largou o serviço dela e foi em direção ao quintal, onde a Silvia estava sentada num canto, com a maior cara de "paisagem"... Mamãe olhou, viu a protuberância exterior formada pelo caroço enfiado no nariz, levantou a cabeça dela, olhou pelo buraco da narina, e exclamou:

"_ Minha Nossa Senhora de Aparecida! O que vocês fizeram, meninas? Perderam o juízo???"

Eu só fazia chorar, e a Silvia continuava lá, como se nem fosse com ela... Não sei se minha mãe ficou mais nervosa com a situação do caroço ou com o meu drama, mas ela ficou brava pra valer... tentou fazer a Silvia "assoar" o nariz mais uma vez, brigou porque ela não sabia fazer do jeito certo, e então simplesmente disse:

"_ Teremos que esperar seu pai chegar do serviço pra ver o que vamos fazer."

E eu, no maior berreiro:

"_ Mas mãe, e se ela morrer??? A senhora não disse que quem enfia um caroço de ameixa no nariz morre, mãe? Então, ela vai morrer! Eu não quero que ela morra!"


Aí foi que minha mãe nos acalmou, disse que não era assim também, que a Silvia não ia morrer de uma hora pra outra, e que teríamos mesmo que esperar meu pai chegar pra resolver a situação...

Foram as horas mais longas da minha infância, eu acho... Eu me sentia meio culpada por ter deixado minha irmã fazer aquilo, e de certa forma até ter estimulado, já que fiquei curiosamente assistindo... Tinha medo (ah, que inocência!), que ela morresse mesmo, vejam só!!!

Mais tarde meu pai chegou, pegou minha mãe e a Silvia e foram ao Hospital. O caroço de ameixa foi imediatamente retirado por um enfermeiro com uma pinça, e em pouco tempo eles estavam de volta, a Silvia saltitando como se aquilo tivesse sido uma grande aventura, e eu ainda em estado de choque, ainda meio chorosa, ainda com medo da história do "morrer"...

Obviamente ninguém morreu, e nada mais grave aconteceu. A Silvia continuou aprontando todas, eu continuei ajudando, estimulando, encobrindo... e assim termina A História do Caroço de Ameixa no Nariz, apenas uma das muitas histórias que permearam a nossa infância, e das quais me lembro em detalhes, como se tivesse acontecido ontem...

Que delícia é lembrar...

Mas, não custa avisar: "Jamais enfiem um caroço de ameixa no nariz!"