quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Frases

Recebi / Li / Ouvi algumas frases muito interessantes e marcantes (pelos mais diversos motivos) nesses últimos dias... Resolvi compartilhá-las com vocês:
"... Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais fortes, do café mais amargo, das idéias mais loucas, das aventuras mais excitantes. Tenho um apetite voraz e os desejos mais doidos. De tudo quero sempre o melhor....Você pode até me empurrar de um penhasco.. E dai???...Eu sempre quiz voar !!!" (li e lembrei de vc. beijos. Elieser)
*** Frase deixada no meu scrapbook do Orkut pelo meu amigo amado adorado idolatrado salve salve Elieser ***
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"Quem é bom demais com o martelo, pensa que tudo é prego!" ( Abraham Maslow)
*** Frase postada no Blog do meu primo Judson Gurgel, que eu "copiei" na cara dura! ***
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"De todas as diferenças entre o Homem e a Mulher, entre as psicológicas e as palpáveis, a mais importante do ponto de vista de um relacionamento, assim, maduro (...) é o seguinte: A Mulher pode simular o orgasmo e o Homem não.
(Luis Fernando Veríssimo - Histórias Brasileiras de Verão)
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"O Sim só tem valor para quem conhece o Não"
(Içami Tiba - Quem Ama, Educa!)
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"Só podemos mudar o que aceitamos. Condenar não liberta, apenas oprime."
(Carl Gustav Jung)
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"Basta envelhecer para que nos tornemos mais indulgentes; não vejo ninguém cometer um erro que eu também não tenha cometido."
(Johann Wolfgang von Goethe)
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"Não conseguimos nos livrar de uma coisa evitando-a, mas apenas atravessando-a."
(Cesare Pavese)
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"Desejamos ser compreendidos porque desejamos ser amados."
(Marcel Proust)
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"Faça, portanto, a sua parte, mesmo que passe pela sua cabeça a idéia de que as coisas não vão mudar".
(Roberto Shinyashiki)
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"Rótulo é bom para produtos destinados ao consumo, quando se quer fixar uma marca, mas não serve para seres humanos, porque cada indivíduo é um permanente ato de criação."
(Roberto Shinyashiki)
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"Eu adoro não ser eu. Não sou muita boa em ser eu mesma. É por isso que gosto tanto de atuar." (no meu caso, "escrever")
(Deborah Kerr, atriz escocesa)
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quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Minha Cria!

CRIA

Crescendo foi ganhando espaço
pulou do meu braço
nasceu outro dia
já quer ir pro chão...
já fala mãe, já fala pai
já não suja na cama,
não quer mais chupeta, já come feijão...
e posso até ver os meus traços
nos primeiros passos
tropeça, seguro, e não deixo cair...
se cai, levanta,
continua, a porta da rua fechada,
a criança não deixo sair
da linha, da linha
reflexo no espelho, levo a emoção...
a lágrima ameaça do olho cair...
semente fecundou,
já começa a existir,
é cria, criatura e criador,
cuida de quem me cuidou,
pega na minha mão,
me guia...

(Serginho Meriti / César Belieny)
Cantada por Maria Rita

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

A História da Máquina Humana

Hoje meu filhote voltou às aulas... e eu passei a última noite em claro encapando os livros e cadernos dele, etiquetando tudo, aquela trabalheira de mâe "perfeccionista".

E passei a noite em claro fazendo isso porque, como diria uma amiga, sou uma pessoa "caótica"... Sou daquelas que deixa tudo pra última hora, simplesmente não consigo fazer as coisas com antecedência... Sempre foi assim, desde criança eu tinha esse péssimo hábito de fazer a lição de casa na última hora, os trabalhos escolares na última hora, na época da Faculdade eu só estudava pra prova na última hora, e hoje em dia se tenho um trabalho jurídico importante pra fazer, adivinhem? Faço sempre aos 45 minutos do segundo tempo, geralmente de madrugada... Funciono muito melhor de madrugada, aliás!

Costumo justificar esse meu comportamento com a explicação de que "trabalho melhor sob pressão"... E trabalho mesmo... por mais louco que pareça, ter o relógio contra mim é um estímulo para que eu faça o melhor, invariavelmente produzo meus melhores trabalhos durante a madrugada, e já perdi a conta das vezes em que amanheci o dia na frente do computador redigindo algo...

Durante esta noite, enquanto eu preparava o material escolar do Lucas, acabei lembrando de uma história da minha infância, uma história que seria trágica, se não fosse cômica (ainda bem que posso rir disso até hoje!).

Eu devia estar na 6ª ou 7ª série, lá nos idos de mil novecentos e oitenta e pouco. Estávamos nas vésperas da "Feira de Ciências" que acontecia todo ano na escola, e tínhamos que desenvolver um projeto de Ciências para expor na Feira. Folheando uma enciclopédia super antiga que meu pai tinha em casa, lembro de ter visto algo interessantíssimo, e fiquei com idéia fixa de apresentar "aquele" trabalho, tinha certeza de que iria "arrasar", porque nenhum dos meus colegas seria capaz de tamanha criatividade!

Neste livro que mencionei havia uma comparação do corpo humano com uma máquina, para demonstrar que assim como a máquina, o corpo funciona através de engrenagens e mecanismos que fazem com que todos os órgãos funcionem harmoniosamente. E, para ilustrar aquela "explicação metafórica", havia o desenho da "Máquina Humana", que era um tronco e cabeça recortado como se fosse um corpo "aberto", e no lugar de cada órgão, um objeto de mecanismo similar que simbolizava sua função.

Procurei então o meu queridíssimo Professor Laércio (que saudade eu tenho dele até hoje!), e expliquei minha idéia para a Feira. Lembro como se fosse hoje que ele, com aquele jeito paizão que tinha, me olhou, olhou para a figura no livro, olhou novamente pra mim e meio que tentou me dissuadir da idéia. Sugeriu que eu fizesse um cartaz com o desenho, que isso já seria bem interessante, porque achava que montar uma réplica daquela figura como eu pretendia seria um pouco trabalhoso demais, talvez mais complexo do que eu estava imaginando, enfim... em outras palavras, ele tentou tirar aquela idéia da minha cabeça, talvez preocupado com a minha frustração caso eu não desse conta do recado (realmente era algo bem elaborado para uma menina de 12, 13 anos).


Eu tinha uma relação linda com esse professor, mais que um professor de sala de aula, ele era um professor que nos ensinava grandes lições de vida, muito do que aprendi em termos de valores para levar para o resto da vida foi com ele, enfim, foi uma daquelas pessoas iluminadas que infelizmente passou pela minha vida e foi embora...


Bom, mas voltando à Máquina Humana, acabei persistindo na idéia, na minha cabeça aquilo seria um trabalho de vanguarda, que encantaria todos os visitantes da Feira de Ciências...


Eu estudava no Sesi de Carapicuíba, um "primo pobre" das demais unidades bacanas da rede Sesi. Na verdade o prédio da escola continua exatamente igual até hoje, passo sempre em frente e parece que consigo enxergar aquelas salas velhas (mas limpinhas) pintadas de um amarelo estranho, as carteiras antiquíssimas, daquelas que a mesa do aluno de trás é o banquinho do aluno da frente, sabe? (nunca mais na vida vi carteiras daquele tipo), os corredores estreitos, o banheiro do lado de fora, na quadra, bem pequeno e com portas de madeira envelhecidas e envergadas pelo tempo, o páteo pequeno, uma parte coberta com telhas velhas, vários degraus e uma quadra surrada... Era uma escola de poucos alunos, até por conta de o prédio ser bem pequeno, e por isso éramos na verdade uma grande família, todo mundo conhecia todo mundo, inclusive das outras séries, quando chovia sempre tinha alguma sala que ficava desabrigada e precisava ser realocada junto com outra turma, coisas desse tipo...


A Feira de Ciências do Sesi de Carapicuíba era, obviamente, um evento muito modesto... Poucos alunos, pouco espaço, pouca estrutura, pouca grana... Mas muito boa vontade dos alunos, isso era incontestável! E era uma das poucas oportunidades em que recebíamos "visitas de fora"... Na época, haviam umas diretoras, coordenadoras, sei lá o que elas eram, mas eram umas senhoras muito importantes na rede Sesi, que ficavam lá na Sede na Av. Paulista, e que só visitavam as unidades em ocasiões extremamente especiais... Quando essas senhoras vinham, era um movimento grande da escola, tudo tinha que estar impecável, todo mundo querendo "se exibir" para as senhoras dos cabelos vermelhos (elas usavam aqueles cabelos bem "perua", em tons variados de vermelho - vermelho rubro, púrpura, vinho, etc., numa época em que não era moda pintar o cabelo de vermelho!).


Eu sabia que na Feira de Ciências essas senhoras viriam nos visitar, e fui consumida pela vaidade... ahhh, a vaidade... Eu conseguia imaginar o rosto das pessoas fascinadas com um trabalho tão diferente... imaginava minha nota 10 reluzindo em meu boletim, imaginava as elegantes senhoras de cabelo vermelho e colares de pérolas passando a mão na minha cabeça, baixando levemente os óculos até a ponta do nariz e dizendo: "Parabéns, menina! Você fez um ótimo trabalho! Vamos levá-lo para exposição lá na Sede" (segundo as regras do Sesi na época, os melhores trabalhos de cada unidade eram enviados à Sede, na Av. Paulista, onde havia uma sala reservada para exposição dos mesmos ao público em geral, o que era o sonho de consumo de uma CDF de carteirinha como eu, lógico!).


Pois bem. Eu, a garota CDF com o péssimo defeito de fazer tudo na última hora, não consegui fugir à regra nesta ocasião. Planejei e vislumbrei muitas vezes em minha imaginação o trabalho prontinho e impecável, mas demorei pra por a mão na massa... Só dois dias antes da Feira de Ciências é que fui me mexer...


Pedi dinheiro para o meu pai para comprar uma placa de madeira (aquelas fininhas, acho que chama-se "compensado", algo assim), fui atrás de um lugar que tivesse uma placa grande do tamanho que eu precisava, custou mas encontrei. Essa placa seria recortada no formato de um corpo da cintura pra cima, sem os braços (cabeça e tronco apenas), e serviria de base para a montagem das outras peças. Também deu um trabalhão encontrar um marceneiro que topasse recortar a madeira pra mim... Lembro que "queimei sola de sapato" indo a todas as marcenarias dos arredores da minha casa, e todos me diziam que daria muito trabalho fazer aqueles recortes porque a máquina é feita para cortar em linha reta, blablabla... Mas também consegui, nem lembro como, mas algum maluco topou me ajudar e recortou a madeira... não ficou perfeito, mas dava pra entender que era uma cabeça e um tronco, então tava bom... o recheio que deixaria tudo perfeito!


Então, comecei a pensar nas peças que usaria para montar os órgãos... Duas buchas naturais poderiam ser o pulmão. Ok. Isso era fácil. Latinhas de refrigerante encapadas com papel alumínio seriam os rins. Ok. Uma bexiga semi-cheia seria o estômago. Ok. O cérebro seria uma calculadora. Ok. E assim por diante... não lembro de todas as peças, mas eram várias coisinhas criativas que no contexto geral faziam muito sentido, de acordo com o funcionamento de cada um dos órgãos...


Mas faltava um detalhe super importante: a maior graça da Máquina Humana era o movimento... Pela figura do livro, o sistema circulatório era simbolizado por um trenzinho de brinquedo, os trilhos seriam as veias/artérias, e o trenzinho se movendo seria o sangue circulando pelo corpo. Onde é que eu ia arrumar um ferrorama àquela altura do campeonato??? Em casa éramos só meninas, nunca tivemos nenhum brinquedo eletrônico desse tipo, e aí eu empaquei...


Pensei, pensei, pensei, e acabei me encorajando a pedir para os meninos que estudavam na minha classe. Poucos deles tinham um ferrorama, e quase nenhum deles queria emprestar o brinquedo, lógico! Muito menos pra mim, que sempre fui uma pessoa que "quebra as coisas dos outros" (sem intenção, eu juro, mas sou tão desastrada que já quebrei muita coisa pega emprestada, afffffff... um dia conto essas histórias!). Bom, infelizmente não consigo me lembrar quem foi o menino que topou, mas o fato é que consegui o tal trenzinho emprestado... Pronto! Eu já tinha tudo de que precisava! Estava tão feliz! Minha Máquina Humana ia arrasar, sem dúvida!


Era uma quinta-feira, véspera da Feira de Ciências, e eu lá em casa, no meio da sala, com todos esses "cacarecos" espalhados, tentando encontrar uma forma de colar as coisas na madeira... Óbvio que deixei pra última hora! Óbvio que foi todo mundo dormir e eu fiquei lá, às voltas com meu trabalho. Eu sempre levava bronca dos meus pais se ficasse até muito tarde acordada fazendo lição ou trabalhos, mas nesse dia não teve jeito... Foram muitas broncas, e uma madrugada inteira de mão na massa...


Caramba! Foi um sufoco! Lembro do dia clareando, tipo cinco horas da manhã, e meu trabalho ainda longe de estar "acabado", sendo que eu tinha que estar com ele prontinho na escola às sete! Me desesperei, chorei, sequei as lágrimas e, sabe-se lá como, consegui terminar, aos 46 do segundo tempo, literalmente! Mal deu tempo de escovar os dentes e vestir o uniforme... tive que convencer meu pai, que nessa época tinha o bom e velho fusquinha azul, a me esperar para me dar uma carona, senão eu não teria como levar o trabalho. O detalhe é que ele já estava bem zangado comigo por eu ter passado a noite em claro, de modo que estava o "maior climão" em casa logo de manhãzinha... Minha mãe levantou, brigou porque eu não tinha dormido, ficou lá falando que eu deixo tudo pra última hora, blablabla, mas no fim saímos rumo à escola.


Minha cara não estava das melhores, claro, e por alguns instantes no carro fiquei preocupada com a má aparência diante das senhoras dos cabelos vermelhos... E se elas nem chegassem perto de mim por conta da minha cara de acabada??? Será que eu estava com mau hálito??? Não! Isso não! Lembro que deu tempo de escovar os dentes... uma escovada relâmpago, mas escovei! Me deu um nó no estômago, mas eu não tinha muito o que fazer... Agora, era tentar despertar e só lembrar do sono no final do dia!


Minha irmã Silvia também estudava no Sesi, e era de uma série anterior à minha (se eu estava na 6ª, ela estava na 5ª). Chegamos na escola e o portão já estava quase fechando (no Sesi era linha dura! Se o portão estivesse fechado, só poderíamos entrar passando pela Diretoria, com autorização formal!). Na verdade já passava das 07h00, mas talvez por conta dos trabalhos trazidos para a Feira de Ciências, naquele dia o fechamento do portão atrasou um pouco, e foi a minha sorte!


Desci do carro depressa, coloquei a mochila nas costas, e com todo o cuidado do mundo peguei minha maquete, que estava no banco de trás do carro, coberta por um saco de lixo grandão preto (senão eu não teria o "fator surpresa", né?). Ela era quase maior que eu, um trambolhão enorme que era inclusive difícil de carregar, estava pesada, e quando pensei em pedir ajuda pra minha irmã Silvia, ela já tinha desaparecido portão adentro!


Meu pai, atrasado para o trabalho, se mandou! E eu fui então, cautelosamente, em direção à entrada, quase sem enxergar um palmo à minha frente, porque a maquete tampava praticamente toda a minha visão. A "Tia do Portão" me ajudou... precisou abrir as duas folhas de madeira do portão para eu conseguir passar com a maquete, e depois me ajudou também com os degraus da entrada (logo depois do portão havia uma escadinha razoável, vários degraus, e aquilo pra mim, obviamente, significava perigo absoluto!).


Logo cheguei ao páteo, onde a molecada corria pra lá e pra cá, como todos os dias... A escola estava organizada de um modo diferente por conta da Feira, e por isso estava todo mundo do lado de fora, porque não haveria aula, quem tinha conseguido chegar mais cedo já tinha colocado seu trabalho na sala correta, no lugar correto, e estava lá no páteo brincando até a hora da exposição começar.


Eu estava meio perdida, na verdade não sabia onde o Professor Laércio colocaria a minha Máquina Humana, em qual sala, enfim, não sabia pra onde levar meu trambolho, então dei uma circulada como pude à procura de alguém que pudesse me orientar melhor, um professor, uma funcionária, qualquer coisa do gênero... Maldita hora que eu resolvi dar essa "circulada"... Até hoje me pergunto por que raios não entrei na escola e larguei a Máquina Humana em qualquer sala, até decidir onde ela iria ficar... Vai entender, né... acho que meu apego à minha obra de arte era tão grande que eu não conseguia me separar, nem me ocorreu deixá-la em algum canto para poder resolver essas questões de ordem prática, simplesmente saí carregando aquele troço maior do que eu pela escola, como se estivesse carregando um pedaço de papel!


Estou eu lá, no meio do páteo coberto, olhando para um lado e para o outro tentando domar o sono e manter o auto-controle, quando avistei alguém... Virei o corpo para rumar na direção de quem poderia me ajudar (acho que era algum professor, sei lá), e fui caminhando em direção à parte descoberta do páteo, onde havia uma mureta em que todo mundo se encostava...


De repente, o chão simplesmente sumiu sob meu pé... Tive a impressão de que algum fenômeno geográfico estava acontecendo, algum terremoto, sei lá, porque dei um passo e não encontrei o chão... Como assim??? O chão estava ali agora mesmo!!! Aliás, se meu pé de apoio continuava pisando em um chão bem firme, e como é que o outro podia não estar encontrando a mesma "terra firme" com o outro pé???


Só senti o peso do meu corpo pendendo todo para um lado onde o meu ponto de gravidade não era capaz de controlar... Na verdade, eu estava tombando... pra frente!!! Tentei recuperar o equilíbrio, impulsionei o corpo o máximo que pude na direção contrária, pra trás, mas não deu certo... Lembrei que estava com a Máquina Humana equilibrada sobre os braços, e no mesmo momento em que lembrei disso, ela pulou das minhas mãos...


Ouvi um barulhão da madeira batendo no chão e se quebrando... Ouvi um barulhão das inúmeras pecinhas de todo tipo de material usadas para representar os órgãos se misturando umas às outras... Incrédula, chacoalhei os braços agora livres como se fossem asas pra tentar derradeiramente recuperar o equilíbrio, mas dessa vez nem mesmo meu pé de apoio conseguiu encontrar a "terra firme"... Fui arremessada ao chão de barriga (consegui levantar a cabeça pra não cair de cara), tendo aterrizado sobre o saco preto grandão de lixo que abrigava o que havia sobrado da minha maquete..


De repente, doeu tudo... De repente, o tempo voltou a correr na rotação normal (durante o tombo, parecia que tudo estava acontecendo em câmera lenta), e de repente voltei a escutar o som à minha volta... Dessa vez, não era mais aquela algazarra de moleque correndo atrás de moleque... Dessa vez, eram risinhos, risões, gargalhadas, cada vez mais altas, abafadas por conta da rodinha que logo se formou ao redor do meu corpo estirado no chão, sobre o saco de lixo grandão preto.


Reagi à melhor maneira "Flávia": Abri o bocão e comecei a chorar, e fiquei lá, estirada sobre os frangalhos da minha maquete, chorando copiosamente... Alguns instantes depois a alma piedosa de algum professor apareceu para espantar a rodinha ao meu redor e me resgatar daquele que foi sem dúvida o tombo do ano na escola!


Lembro de ter visto minha irmã com cara de "" - Quando ela comenta esse episódio, diz que algumas crianças foram atrás dela e disseram: "Silvia, sua irmã tá lá no páteo, chorando, de novo!"... Ela era mais nova do que eu, e na verdade devia ser um saco ser irmã da "menina-tombo" da escola... ela ouviu essa frase muitas vezes, perdeu a conta de quantas vezes a procuraram pra dizer: "Sua irmã está chorando lá no páteo!"... Os papéis eram meio invertidos, né, porque a mais velha era eu, mas também era a mais mole, e quem acabava sempre me acudindo era a minha "irmãzinha"...


Só lembro de ser levada para a Diretoria, onde deram uma examinada em mim pra ver se eu não tinha nenhum machucado mais grave... Lembro de não parar de chorar, apesar das vozes adultas dizendo: "Não fica assim, nem machucou tanto!"... O que eles não entendiam era que eu não estava chorando por conta dos arranhões, desses eu nem lembro, estava anestesiada demais pra sentir a dor... Eu chorava mesmo era por causa da minha Máquina Humana!!! Ela estava destruída, já era, não havia conserto... Eu olhava para o sacão de lixo preto desmilinguido e chorava, chorava...


Chegou o Professor Laércio, ficou lá tentando me acalmar, e eu chorando, chorando... Depois de muitos soluços de fungadas, eu conseguia pronunciar algumas palavras, meio gaguejando:
"Professor, mas o meu trabalhooooooooooooooooo... buááááá"... E o professor dizia pra eu não me preocupar, que ele tinha certeza que tinha ficado lindo... Daí eu dizia:
"Mas, Professor, você nem viuuuuuuuuuuuuuuu... buááááá"... E o professor dizia que não tinha problema, que eu tinha feito e isso era o bastante... Daí eu dizia:
"Mas, Professor, eu vou tirar zeroooooooooo... buáááá"... E o professor dizia que eu tiraria a nota máxima, porque tinha feito o trabalho, que eu não precisava me preocupar que não ia ficar sem nota... Daí eu dizia:
"Mas, Professor, eu não vou ter trabalho pra apresentar na feiraaaaaaaaaa... buááááá"... E o professor dizia pra eu me acalmar, que ele daria um jeito...


Foi um diálo assim, difícil... poucas palavras pronunciadas entre muitos soluços, fungadas e mais buááááá... O professor sem saber mais o que fazer pra me consolar, os outros alunos todos alvoroçados do lado de fora da sala dos professores doidos pra saber o que tava rolando, e eu lá, desolada... O mundo não tinha visto a minha Máquina Humana... que frustração!!!


Demorou um bocado pra eu conseguir recuperar o controle... Ainda estava chorando, mais comedidamente... Criei então coragem de abrir o sacão de lixo preto pra ver o que tinha sobrado da maquete, e um frio assustador percorreu minha "espinha" quando lembrei do ferrorama do menino! Meu Deus! Ainda havia mais estrago! Além de tudo eu ainda teria que pagar um ferrorama para o menino!!! Afffffffff... Foi difícil manter o controle e não voltar ao choro compulsivo! Meus pais iam me matar! Literalmente! Eles nem sabiam que eu tinha pego um brinquedo tão caro emprestado!


Fui abrindo o pacote lentamente... Que medo de encontrar destroços do ferrorama! A essa altura, de alguma forma a frustração pela quebra da Máquina Humana já estava superada, pois a questão mais grave naquele momento passou a ser o brinquedo do menino! Deus! Eu estava ferrada! FERRADA! Alguém apareceu e me ajudou a mexer nos destroços. Operação rescaldo iniciada...


Encontrei o primeiro trenzinho inteiro! Quase tive um troço! Estava inteiro! Logo depois visualizei a locomotiva, também intacta! Eu mal podia acreditar! Gente, esse brinquedo é realmente muito resistente, pensei! Mais algumas partes, todas inteiras... Eu mal podia acreditar... do choro copioso eu já tinha vontade de soltar uma gargalhada estrondosa, porque o ferrorama do menino estava salvo! Certifiquei-me de que todos os trenzinhos haviam sido resgatados... Parti então para o resgate dos trilhos, e quase todos estavam inteiros também... tinha umas 3 ou 4 partes retorcidas, e uma na verdade quebrou mesmo... Me preocupei um pouco, mas pelo menos 90% do brinquedo estava salvo, e diante da catástrofe isso era um saldo positivíssimo!


O Professor Laércio me surpreendeu com um sorriso esboçado no rosto, e disse: "Que bom que você já se recuperou, porque já tenho um trabalho pra você na Feira!"... Virei pra ele com cara de interrogação e ele disse: Vem comigo!


Me levou pra uma das salas de aula onde estavam expostos vidros com fetos no formol, material que tinha vindo de uma outra unidade do Sesi para incrementar a nossa Feira. Parou em frente aos fetos e me disse: "Esses materiais não seriam apresentados, ficariam apenas expostos com o texto ao lado, mas já que você está sem trabalho pra apresentar, vai ficar responsável pela parte dos fetos então!"... Eu sorri, mas logo perguntei, preocupada: "Mas, professor, nós nem tivemos essa matéria ainda, eu acho que não vou saber explicar...", no que ele me interrompeu: "Então é melhor você se apressar, o material que você precisa ler está aí, estude um pouco antes da abertura da feira e tenho certeza que você vai tirar de letra!". Passou a mão na minha cabeça, deu aquele sorrisão típico e me largou lá na sala semi-escura com os fetos e os restos do ferrorama do menino numa sacolinha... E os textos sobre a origem da vida, que eu mais do que rapidamente comecei a ler...


Logo começou a feira, e a sala dos fetos fez muito sucesso, era também uma novidade na nossa escola pobrezinha... Eu fui tomando gosto pela coisa, e de repente já dava explicações sobre os estágios de gestação de cada um dos fetos como se estivesse falando de algo que eu conhecesse profundamente... Num determinado momento, já tomava aquilo como um trabalho meu mesmo, já estava dominando completamente o assunto, e quase nem lembrava mais do fiasco da máquina humana...


As senhoras elegantes de cabelos vermelhos e colares de pérola vieram, e passaram pela minha sala. Pararam para escutar a minha explicação entusiasmada, e eu consegui até ganhar o elogio que tinha visualizado em meus sonhos anteriores! Não foi exatamente como eu imaginei, claro, não havia trabalho autoral para ser levado para exposição na Sede, mas de qualquer forma elas me ouviram, me deram parabéns, e foi reconfortante...


Vez por outra o Professor Laércio passava pela sala e me dava umas piscadelas de aprovação, e isso me dava mais confiança. Minha mãe foi na Feira, e não entendeu muito bem o que eu estava fazendo com aquele tema, mas ficou tão fascinada pelos fetos reais que estavam expostos que nem me fez mais perguntas (só veio a saber do episódio bem depois, e ficou consideravelmente brava!).


Ah, o ferrorama do menino? Bem... Eu devolvi os 90% que se salvaram, ele disse que ia contar pra mãe dele pra saber o que teríamos que fazer (se eu pagaria os trilhos quebrados), mas acho que ambos ficaram com pena da minha catástrofe, e ficou tudo por isso mesmo...


No fim das contas, tive um dia bem legal na Feira de Ciências da escola... Acabei aprendendo bastante sobre a formação da vida, sobre gestação, etc., meio sem querer, graças à minha vontade de participar apesar de tudo... Seria matéria do ano seguinte, e eu fiquei expert em poucas horas!


Minha média de ciências no bimestre foi 10... Dez pelo trabalho que o professor nem viu, e Dez pela apresentação... Os machucados do tombo sararam rápido, e hoje restou apenas uma recordação deliciosa de um episódio que, como eu disse no começo, seria trágico, se não fosse cômico!


Ainda bem que estou aqui até hoje pra contar a história e, vendo tudo sempre pelo lado positivo, rir das minhas próprias trapalhadas! Essa foi só uma das muitas... aguardem!!!

domingo, 27 de janeiro de 2008

A História do Bolo que não queria ser Bolo

Como eu disse no post anterior, o grande acontecimento da semana foi o aniversário da minha amiga-bruxa...

E como nós não somos pessoas de deixar uma data tão importante "passar em branco", lá fomos nós na sexta-feira comemorar, coisa que fazemos com maestria...

Fomos na Granjota, uma pizzaria bem estilosa aqui na Granja Viana, e apesar da noite fria, o clima estava ótimo... Turminha pequena, mas animada... turminha pequena, mas fiel... turminha pequena, mas divertida... sempre divertirda...

Euzinha, querendo presentear minha amiga com algo "especial", me propus a fazer o bolo. Odeio aniversários em que comemos aqueles bolos prontos comprados em supermercados que são invariavelmente horríveis de ruim, então disse que o bolo seria por minha conta, afinal eu adoro cozinhar, e modéstea à parte costumo fazer bolos muito bons...

Portanto, lá fui eu em plena sexta-feira feriado em São Paulo pilotar meu fogão, e preparar um bolo "chocorango" que eu já tinha feito outras vezes e que é impagável de tão bom... Pensei: "Vou surpreender todo mundo!"... Até fui atrás de morangos frescos e de boa qualidade pra que o bolo ficasse perfeito!

Masssssssssss...

Sempre tem um "mas", né... E como diz a "Lei de Murphy", se pode dar errado, dará! Assei meus bolos, cortei ambos no meio, preparei a calda e os recheios (seriam 3 recheios + 1 cobertura), isso tudo antes da hora do almoço... Como eu tinha que sair pra ir à reunião de pais do colégio do Lucas, deixei tudo "no jeito", esfriando, e pensei: "Quando eu voltar, é só rechear, montar e confeitar!".

Tá. Voltei pra casa depois das 17h00, e corri pra dar conta do bolo a tempo... Calda daqui, recheio dali, morango pra cá, chocolate pra lá, e cheguei ao último andar daquele que seria "O" Bolo... Mas algo deu errado, não sei exatamente o que, só sei que quando coloquei a última parte do bolo e comecei a confeitar, o bolo começou a derreter... Sim! Derreter, desabar, tudo ao mesmo tempo... Acho que o bolo não queria ser bolo!!!

Eu fiquei em pânico, tentei remendar com mais recheio, mais cobertura, e quanto mais coisas eu colocava no bolo, mais ele ia desmoronando... Imaginem a minha cara olhando pra minha obra de arte assim, se esvaindo sobre a bancada da minha pia... afffffffffffffffffffff...

Tentei pensar rápido numa solução, pensei até em correr no supermercado e comprar um bolo pronto mesmo, mas desisti rapidamente da idéia, afinal meu bolo estava divino (apesar de inconsistente), tinha sido feito com muito carinho e com ingredientes nobres, e ninguém merecia deixar de comer aquela iguaria pra comer um bolo sem graça de supermercado... Não! Eu não podia deixar de levar "aquele" bolo para a comemoração... Tinha que haver uma solução!

Obviamente, a essa altura do campeonato não havia mais bolo, e sim uma paçaroca de coisas desabadas que se misturaram enquanto eu pensava... Olhei para o armário, vi uma travessa de vidro, olhei para a bancada da pia, vi aquela montoeira do que tinha sido na minha imaginação um bolo, e então tive a idéia, a única idéia possível: Jogar tudo dentro da travessa, misturar, e fazer algo entre o pavê e o mousse, algo que ficasse com gosto de doce, mas longe de ser um bolo... Era a única coisa que dava pra fazer!

E eu fiz! Depois de acomodar tudo na travessa e dar aquela ajeitadinha, terminei de cobrir, confeitei, e fiquei feliz... Soquei a travessa no freezer por mais uns minutinhos, e pensei: "Seja o que Deus quiser!"

A essa altura do campeonato, me liga minha amiga-bruxa-aniversariante e pergunta: "Como está meu bolo? Tá pronto?"... Engoli seco, respirei fundo e respondi: "Flor, você não sabe da última??? Eu li numa revista de moda que é o ó do brega comemorar aniversário com bolo, não se usa mais isso! A moda agora é comemorar com um doce francês que tá super em alta, e chama-se "pavê de bolê"!

Já se ligando que algo não ia muito bem, a Érica se limitou a gargalhar e dizer: "Tudo bem, vem logo pra cá"...

É claro que eu fui ultra-mega zuada por conta do meu "pavê de bolê", né! Claro que todo mundo estranhou a "novidade", mas garanto que ficou tão bom que até os garçons do lugar fizeram fila para degustar... E todo mundo adorou!!!

Como eu sempre digo: "No fim, tudo dá certo!"... Seja com bolo tradicional ou com "pavê de bolê", o importante é que estivemos juntos, comemoramos, confraternizamos, e nos divertimos... Muito!


Bruxelda, sua filhota Ariadne e o famoso "pavê de bolê"


Super Bruxas, ATIVAR! Lesa, Mor e Xelda... Somos nós... Como diz a Bruxelda, a "confraria das bruxas" está fechada, não aceitamos novas adesões...

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

O Dia DA Bruxa

Não, hoje não é 31 de Outubro!
Não é o dia DAS Bruxas...




Massssssssssssssssss...

Hoje é dia 24 de Janeiro, e pra quem não sabe, é o dia DA BRUXA... dia de uma Bruxinha específica, alguém muito especial...

Minha querida amiga Bruxilda, Bruxixelda, Bruxonilda, Bruxonizia ou simplesmente Bruxona ÉRICA completa hoje mais um ano de vida... Não vou revelar a idade exata porque, vocês sabem, Bruxas acumulam muitos anos e o número inteiro poderia "assustar" alguns, mas embora sejam milhares e milhares de anos, ela até que está inteirona, né, gente??? Disfarça bem a idade, é linda, e nesta foto arrasou com seu sorrisão de top model!!! (rolou uma grana por fora para o fotógrafo dar um trato no photoshop, mas não contem pra ela que eu contei! rsrs)

Apesar de ser uma Mega Bruxa, ela é uma pessoa totalmente do bem, e só se vale de suas bruxarias quando é estritamente necessário, sempre em prol do bem de alguém necessitado...

Eu mesma estou sempre precisando de suas pequenas bruxarias... seja em problemas cotidianos ou em problemas mais complexos, ela sempre se dispõe a preparar algum feitiço no seu caldeirão pra me ajudar, e isso, gente, não tem preço!!!

Amo demais essa bruxa! É uma irmã emprestada, uma amiga do coração, uma grande mulher, grande mãe, grande guerreira, e eu sempre rasgo a seda pra ela aqui no Blog, porque SEMPRE tenho motivos pra tanto! Sou mesmo privilegiada!

Portanto, Bruxa Querida, FELIZ ANIVERSÁRIO!!!


Que você tenha muita, muita, muuuuuuuuita saúde pra estar sempre por perto, sempre por aqui, porque o MUNDO precisa de você!!!

A História de um Delírio Consumista


Estou lendo um livro muito divertido, que minha irmã Cátia me emprestou... Chama-se "Os Delírios de Consumo de Becky Bloom", e conta basicamente as desventuras de uma moça londrina atolada em dívidas por conta de seu ímpeto consumista, tudo com muito humor...

Lendo este livro, identifiquei-me bastante com a protagonista porque eu, Dona Farta, também sou uma pessoa extremamente consumista, e se hoje tenho algum freio para meus ímpetos de gastar, esse freio é a maternidade... Antes de ser mãe, no entanto, quando eu trabalhava e ganhava exclusivamente para me sustentar, ahhhh... não havia freio mesmo, e eu já me enrolei um bocado por conta disso...

Mas a história que eu vou contar agora não chegou a me enrolar financeiramente... é uma história que me "enrolou" de um outro jeito totalmente inusitado, mas eu juro que é verdade!

O ano era 1994... ano em que mudei de emprego e comecei a trabalhar numa grande empresa de comunicação... Como toda grande empresa (nos tempos das "vacas gordas"), recebíamos vários "mimos" no final do ano, e neste meu primeiro ano de empresa eu estava alucinada com tantos brindes, cestas, presentes, etc...

Um dos "presentes" de final de ano que ganhamos foi um "vale-compras" de um valor razoável, não me lembro exatamente o valor, mas devia ser algo em torno de R$ 300,00, R$ 400,00... Pra mim, aquilo era uma "fortuna", primeiro porque não era salário, era um "extra", e segundo porque eu não ganhava tanto na época, pagava faculdade, tinha muitas despesas, então receber uma grana assim pra gastar no que eu quisesse foi realmente de encher os olhos...

O tal vale era da rede Eldorado, uma rede que não existe mais, mas que na época tinha Loja de Departamentos e Supermercados.

Coisa de 10 dias, talvez uma semana antes do Natal, eu saí mais cedo do trabalho pra ir ao médico, ali na região de Pinheiros. Depois da consulta, me ocorreu que eu estava praticamente "do lado" do Shopping Eldorado, onde havia tanto a Loja de Departamentos da rede Eldorado como o Supermercado. O vale-compras estava na bolsa, e eu pensei: "por que não gastá-lo HOJE"???

Fui alegre e retumbante para o Shopping. Uma caminhadinha pequena (eu não tinha carro na época), e num instante eu estava no paraíso de consumo! Rodei por toda a Loja de Departamentos, fuçei muito, provei algumas roupas, pensei em comprar várias coisinhas pra mim, mas de repente me deu um estalo:

Era mês de Natal, e eu devia gastar aquela grana no Supermercado, pra comprar comidas natalinas e tranqueiras pra casa, coisa que não tínhamos no dia-a-dia por conta da dureza, por ser tudo muito caro... Pensei nas minhas 3 irmãs e na farra que faríamos com danones, salgadinhos, bolachas, etc... Pensei na minha mãe e na felicidade dela com a ceia de Natal incrementada por itens que normalmente não podíamos comprar...

Não tive dúvidas. Larguei todas as roupas lá no meio da loja e desci para o piso inferior, onde funcionava o Supermercado. Peguei um carrinho, e comecei a passear pelas gôndolas... Comecei a delirar, pensando que pela primeira vez na vida eu podia encher um carrinho sem me preocupar, porque eu tinha como pagar! Comecei a viajar com a sensação maravilhosa que é desfilar pelos corredores de um supermercado sem preocupação com a conta no caixa... sem precisar fazer somatórias mentais de cada item para não "ultrapassar" o orçamento...

Sim! Eu estava no paraíso!!! E queria mais era gastar, comprar muita coisa gostosa, chegar no caixa e exibir meu robusto vale-compras... quem sabe até sobraria um "contra-vale", né, porque era tanto dinheiro, que eu nem tinha certeza se seria capaz de gastá-lo...

E lá fui eu... num vai-e-vém controlado por todos os corredores (para não correr do risco de esquecer nenhum deles), fui abastecendo o carrinho... Era tanta coisa legal, tanta novidade... coisas que eu nem sabia que eram vendidas em um supermercado...

Neste ponto da história, preciso fazer um parênteses e esclarecer que eu não era exatamente uma "caipira que nunca tinha visto um supermercado"... Não era bem assim, mas a verdade é que cresci num bairro muito pobre, nosso orçamento doméstico era extremamente apertado, e nunca fizemos compras de mês em grandes redes de supermercados, isso na nossa infância era um sonho distante, porque o máximo que meu pai conseguia era reservar o dinheiro do mercadinho que tinha no final da rua, onde ele e minha mãe iam pra comprar arror, feijão, óleo, açúcar, macarrão, etc... essas coisas básicas de dia-a-dia, não sobrava grana pra extravagâncias...

Lembro inclusive da primeira vez em que fomos num grande supermercado, na época o "Jumbo Eletro" de Osasco (essa rede também não existe mais)... Eu devia ter uns 12 anos, e foi um mês em que meu pai tinha feito muita hora-extra no trabalho, ou tinha recebido um abono, não lembro exatamente, então nos levou lá num sábado para fazermos as compras... Nós éramos muito pequenas, e ficamos maravilhadas com aquelas gôndolas enormes, cheias de mercadorias, porque no mercadinho da rua de casa não era assim, era praticamente um armazém mais organizado, mas nada de muita variedade, muito menos quantidade...

Essa era a maior referência que eu tinha de um "supermercado de verdade", e acho que foi por isso que eu fiquei tão deslumbrada com o Eldorado...

E, voltando ao fatídico dia das compras no supermercado, lá estava eu abastecendo meu carrinho... Perú para o Natal, frios, refrigerante, sidra, bolachas, chocolates, danones, muitos danones, panetone, congelados, bom-ar (lembro bem de ter pego 2 frascos de bom-ar porque minha mãe sempre dizia que achava uma delícia, tinha sentido o cheirinho na casa de alguém, mas era sempre muito caro pra ela comprar), sabonete, pasta de dente, fui pegando tudo que me dava vontade de pegar...

Cheguei na sessão de hortifruti e o carrinho já estava relativamente cheio... Daí parti para a maçã (coisa que nunca podíamos comer porque custava muito caro), uva, manga, mexerica, pêra, melão, ameixa, verduras, legumes... me acabei na "feira", comprei muita coisa...

Já com o carrinho cheio, dei mais uma volta no supermercado inteiro, pra ter certeza de que não estava esquecendo de nada... Lembrei dos salgadinhos, e peguei vários pacotes pra mim e pras minhas irmãs... e do Elma-Chips, porque a gente nunca comia, quando muito comíamos aqueles vendidos nos saquinhos pelos ambulantes no ponto de ônibus. Lembrei também do bolinho Ana Maria, da Bisnaguinha e do pão de forma... Refiz a lista mentalmente e concluí que já tinha pego tudo, então fui para o caixa.

Me assustei quando cheguei ao caixa e consegui enxergar a rua, e vi que já era noite (eu tinha entrado no supermercado ainda estava dia)... Quanto tempo eu tinha passado lá dentro? Olhei no relógio e vi que já passava das 21h30, portanto eu tinha ficado no supermercado pelo menos umas 3, 4 horas inteiras...

Pensei: "Que maravilha... esse lugar é um Paraíso!!!" Fiquei me perguntando porque tanta gente reclama de ter que fazer supermercado... como alguém podia não gostar??? Era tão bom... Lamentei por minha mãe e minhas irmãs não estarem comigo, porque elas com certeza teriam se divertido também!

Fui colocando as compras no balcão do caixa, de peito estufado, orgulhosa por ter feito a escolha certa sobre como gastar o meu vale-compras! A conta deu um pouco mais do que o valor do meu vale, passou só um pouco, e ainda bem que eu tinha um dinheirinho na carteira para pagar a diferença! Enquanto eu pagava, um funcionário do supermercado já tinha embalado tudo nas sacolinhas, e minhas compras já estavam acomodadas dentro do carrinho.

Pronto! Agora eu podia ir embora pra casa... Estava doida pra chegar em casa cheia de compras, minhas irmãs ficariam eufóricas, iam abrir as sacolas todas ao mesmo tempo, iam delirar com tanta guloseima! Fui empurrando o carrinho pra fora do supermercado, e quando cheguei no portão lateral do Shopping Eldorado, aquele que dá para uma passarela sobre a Avenida Eusébio Matoso, foi que minha ficha caiu:

Como é que eu ia embora pra casa carregando tudo aquilo??? Engoli seco, fiquei atordoada, encostei no portão e pensei: "PQP, ferrou! Como sou burra!!!"

Eu não tinha carro! E não poderia levar o carrinho do supermercado comigo, não poderia ir andando até minha casa simplesmente empurrando um carrinho cheio de compras! Onde é que eu estava com a cabeça???

Respira, Flávia, Respira! Tem que haver um jeito! Eu poderia ligar pra casa e pedir pro meu pai vir me buscar, mas meu pai também não tinha carro! Eu poderia ligar pra casa e pedir pro meu pai vir me encontrar pra me ajudar a carregar tudo, mas não tínhamos telefone em casa! E agora???

Olhei no relógio, e já passava das 22h00... Estava bem tarde, meus pais inclusive deviam estar preocupados, porque já tinha passado muito do horário em que eu costumava chegar quando não estava em aula... Caramba! Eu ia levar uma bronca!!!

Fiquei por alguns minutos ali, parada no portão de saída lateral do Shopping Eldorado, olhando as pessoas passarem apressadas por mim... O movimento aumentou na saída do Shopping justamente porque estava no horário de fechamento, várias lojas fechando, e as pessoas indo embora, e eu ali, sem saber o que fazer... Pensei que talvez se eu ficasse ali parada uma hora acabaria aparecendo uma alma generosa que me ofereceria uma carona... Ou talvez um conhecido que se propusesse a me ajudar...

Não adiantou... as horas começaram a voar, até que eu olhei pra passarela sobre a avenida e pensei: "Talvez eu consiga atravessá-la carregando as sacolas... E se conseguir atravessá-la, chego no ponto de ônibus do outro lado e ponho as sacolas no chão enquanto espero o ônibus, e quando o ônibus chegar terei apenas o trabalho de colocar tudo pro lado de dentro, e depois estará tudo resolvido, rapidamente eu chegarei em casa! É, acho que dá!".

Organizei as sacolas todas da melhor forma que pude... fui diminuindo a quantidade de sacolas, colocando o máximo de itens que cabia dentro de cada uma, reforçando as mais pesadas com outra sacolinha, e depois de um tempão nessa arrumação fui pros finalmentes... Fui colocando as sacolas no braço, uma a uma, cada um dos braços lotados de sacolas. Encaixei todas... E lá fui eu... Praticamente uma "mulher-sacola"... Quase não dava pra me enxergar no meio daquele volume...

Um esforço sobrehumano e consegui levantar com aquele peso todo... um, dois, três passos, coloca tudo no chão de novo, respira! Outra vez! E mais outra... Acho que demorei mais de meia hora pra conseguir atravessar a passarela... As pessoas passavam e me olhavam como se eu fosse uma alienígena, talvez não acreditassem que eu estivesse sozinha tentando carregar aquilo tudo, talvez achassem mesmo que eu fosse doida, sei lá...

Cheguei no ponto de ônibus, larguei tudo no chão, meus braços estavam roxos, marcados pela alça das sacolas, e eu ofegante, quase morrendo... Todo mundo me olhando... Que vergonha!!! Olhei no relógio, e passava das 23h30... Pensei: "Meu Deus, vou pegar o último ônibus! Minha mãe vai me matar!!!".

Logo chegou o ônibus, e então um rapaz caridoso se ofereceu pra me ajudar. Pediu para o motorista abrir a porta de trás, e me ajudou a colocar as sacolas. Embarcadas todas as sacolas, corri pra porta da frente, entrei, e me apressei pra pagar a passagem e chegar logo às minhas compras, que estavam lá, soltas no meio do corredor no fundo o ônibus... o motorista arrancou, e uma das sacolas tombou... logo tinha uma mexerica rolando sob os meus pés, e eu ainda estava na catraca! Olhei e pensei na catástrofe que aquilo poderia se tornar se eu não chegasse rápido pra segurar tudo, e implorei para o cobrador me dar meu troco logo!

Pronto! Cheguei! Alguém me deu lugar pra sentar, porque o ônibus estava cheio, e eu fiquei lá, tomando conta das minhas trocentas sacolas. Uma senhora se encorajou e me perguntou, espantada: "Menina, você carregou isso tudo sozinha?"... E então várias outras pessoas se encorajaram e começaram a me sabatinar sobre a razão de eu ter comprado tanta coisa se não tinha quem me ajudasse a carregar... Fiquei brava, porque nem eu mesma sabia a lógica daquele meu comportamento, logo, não queria que os outros me perguntassem algo cuja resposta eu não sabia!

Desconversei. Tentei ficar na minha, e uma curva acentuada fez mais uma sacola tombar... Dessa vez foi o melão que rolou pelo corredor do ônibus, e alguém o resgatou lá na frente... me devolveu, com a piadinha: "Ei, moça, acho que esse melão quer descer antes de você!"... Todos riram, menos eu... Affffffffff... Por que aquele pesadelo não acabava logo???

E foi assim... uma viagem de mais ou menos meia-hora até o meu destino final, cheia de piadinhas e de frutas que teimavam em rolar pelo corredor do ônibus... Algumas eu perdi mesmo, outras foram resgatadas, e eu finalmente cheguei no meu ponto. Gritei lá de trás para o motorista esperar eu desembarcar as sacolas, alguém me ajudou, e lá estava eu novamente, no ponto de ônibus com minhas sacolas.

O ponto de ônibus não ficava na rua da minha casa. Na verdade ficava na avenida principal, e pra chegar à minha casa eu teria que descer uma rua comprida, e depois subir até a metade da minha rua pra chegar em casa.

Já passava da meia-noite. A avenida deserta. Enganchei novamente as sacolas no meu braço já meio dormente por conta do esforço anterior, e fui descendo... Na descida foi mais fácil, mas mesmo assim precisei parar várias vezes pra respirar e pra não cair com o desiquilíbrio do meu corpo provocado pelo excesso de peso das sacolas... Quando eu estava quase terminando a descida vi meu pai... Ele vinha subindo porque estava indo atrás de mim, minha mãe estava em casa arrancando os cabelos por eu não ter chegado até aquela hora e mandou meu pai subir até o ponto pra ver se me encontrava.

Parei. Larguei o peso todo no chão, e mais uma fruta rolou rua abaixo. Meu pai me alcançou e me olhou espantado. Com aquele jeitão de poucas palavras dele, simplesmente pegou parte das sacolas e rumou na direção de casa. Eu peguei as demais sacolas e fui atrás, já quase chorando, porque a cara do meu pai dizia que o clima em casa não devia estar nada bom... Realmente, minha mãe devia estar doida com o meu atraso, e brava como ela era... aiai... o bicho ia pegar!!!

Chegamos em casa... minha mãe olhou espantada para aquele mundo de sacolas, e com aquele olhar cortante que só ela tinha me perguntou, ríspida: "De onde é que você está vindo uma hora dessas, com esse monte de sacolas?"

Não me ocorreu outra resposta: "Mãe, é que eu fui ao médico, daí tava perto do Shopping Eldorado, daí resolvi ir ao supermercado, blablabla"...

E minha mãe: "Você é doida? De onde tirou dinheiro pra comprar isso tudo? E por que é que foi gastar esse dinheirão se nem podia carregar as coisas?"

E eu: "Mas, mãe, não gastei dinheiro, gastei o vale-compras, e foi porque eu queria comprar umas coisas pra casa, olha, eu trouxe muita coisa legal... cadê as meninas?"

Minha mãe: "Estão dormindo, porque, não sei se você sabe, mas já é quase uma hora da manhã! Você quer matar a gente de preocupação, Flávia? Como é que você faz uma coisa dessas?"

Eu, chorona que sou, só consegui começar a chorar... Percebi na hora que minhas compras maravilhosas não amenizariam a braveza da minha mãe, então não respondi mais nada... Sentei no sofá, e fiquei lá com cara de coitada... só fui interrompida um tempo depois pela voz da minha mãe, já mais branda:

"Você pode pelo menos me ajudar a guardar tudo isso?"... O choro secou... me animei... fui pra cozinha e comecei a abrir as sacolas... fomos colocando tudo na mesa, algumas frutas estavam amassadas, bolachas paçarocadas, salgadinhos esfarelados... Mas até que salvamos bastante coisa... No final das contas, minha mãe ficou brava comigo, com toda razão, disse que eu não sei gastar dinheiro, que não sei economizar, blablabla (se ela soubesse das frutas que eu perdi no caminho, virgi...), mas também ficou contente com as compras, e naquele ano nosso Natal foi, por assim dizer, bem mais Farto!

Hoje em dia ainda enfrento problemas com compras de supermercado. Não raro, ultrapasso a capacidade do limitado porta-malas do meu Celta, e sempre que chegamos em casa tem alguma coisa amassada... Mas no fim, tudo dá certo... Continuo amando fazer supermercado, e continuo passando de 2 a 3 horas fazendo compras todo mês... Coisa de gente consumista, fazer o que, né?

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

A Má Educação

O ser humano é o bicho mais estranho que existe, isso todo mundo já sabe... O que não dá pra entender é o que algumas pessoas fazem com a "pseudo" inteligência que possuem... Não dá pra entender por que algumas pessoas adotam um comportamento tão bizarro quando a questão é o convívio social, quando a questão é o respeito ao próximo...
Observando essas barbaridades cotidianas, tenho pensado muito sobre a razão de tais atos... Obviamente, não encontrei resposta lógica para nada... Simplesmente porque não há lógica que explique isso:


* Por que é que as pessoas quando usam banheiro público, inclusive de shoppings, cinemas, casas de show, etc., têm o péssimo hábito da não dar descarga?
(Isso acontece em lugares frequentados por todas as classes sociais, acreditem! Sexta-feira passada mesmo, fui ao Cine Bombril, no Conjunto Nacional - Av. Paulista, teoricamente um lugar "bem frequentado", e ao usar o banheiro me deparei com a "herança" de algum porco travestido de gente que esteva lá antes de mim.)

* Por que é que as pessoas quando usam banheiro público não jogam o papel higiênico usado DENTRO do lixo?
(Vejo sempre isso, em qualquer lugar... o cesto de lixo está lá, enorme, cheio de "espaço", mas as pessoas insistem em jogar o papel no chão, emporcalhando o lugar)

* Por que é que as pessoas quando usam banheiro público e vão lavar suas mãos (aqueles que lavam), têm a necessidade de molhar toda a bancada da pia, saem chacoalhando a mão e vão respingando o banheiro inteiro até chegar no porta papel toalha?
(Isso também é fato: Nunca encoste na bancada de uma pia de banheiro público, porque está sempre molhada, como se alguém tivesse tomado banho ali... Fala sério, precisa disso? Porque não se limitar a lavar as mãos como gente, molhando apenas o interior da pia, lugar feito exclusivamente pra isso?)

* Por que é que as pessoas quando vão a lugares públicos, e onde dividirão espaço com outras pessoas, como em cinemas, casas de show, banco, etc., têm a necessidade esdrúxula de tomar banho de perfume, e obrigar os outros a ficar o tempo todo sentindo aquele cheiro?
(Isso acontece com quem usa perfume barato mas também com quem usa perfume caro. No mesmo Cine Bombril que citei acima, na última sexta-feira, sentou ao meu lado uma "madame" que deve ter tomado banho com seu chanel nº 5. A cada mexida que a fulana dava na poltrona, subia aquele perfume forte, insuportável (posto que exagerado), e todos que estavam à sua volta tiveram que assistir o filme quase sufocados simplesmente porque a mulher não tem a menor noção de respeito ao espaço alheio!)

* Por que é que as pessoas não usam desodorante?
(Custa baratinho e não faz mal a ninguém, mas mesmo assim encontramos o tempo todo pessoas fedorentas que não têm a menor noção de higiene, e acham normal dividir seu cecê com os outros! Eca!)

* Por que é que as pessoas quando vão ao cinema ou ao teatro não desligam seus telefones celulares?
(Várias vezes já presenciei esse cúmulo da falta de educação. Às vezes, a pessoa deixa no vibra call e quando toca ninguém escuta, mas a pessoa acha que por isso pode atender e conversar durante o filme! Outras vezes, a pessoa sequer deixa o celular no modo silencioso, então o bicho começa a se esgoelar no meio do filme, e geralmente a pessoa ainda demora um tempo pra encontrar o aparelho dentro da bolsa, ou seja, incomoda todo mundo! Eu sempre digo: Ok, existem pessoas que não podem desligar o celular (será?), por motivos pessoais, de trabalho, seja lá o que for. Então tá. Suponhamos que isso seja verdade. O mínimo que a boa educação pede é que a pessoa então deixe o maldito aparelho no modo silencioso, e se ele tocar, azar o dela! Saia da sala e vá atender lá fora!)

* Por que é que as pessoas jogam lixo pela janela do carro?
(Vejo isso o tempo todo, e quase infarto. Tenho vontade de parar o carro, descer, pegar o lixo do porco, ir atrás e devolver o lixo dizendo: "Desculpe, mas acho que você deixou cair isso lá atrás, no meio da rua!". E isso também acontece com todas as classes sociais... vejo porcos a bordo de fuscas, motos, e de carros importados e caríssimos... Por que é que porco tem carteira de motorista?)

* Por que é que as pessoas jogam lixo no meio da rua, no chão de restaurantes de fast-food, em shoppings, em qualquer lugar?
(Já ouvi a esfarrapada desculpa: "Ah, é só um papelzinho de bala! E a Cidade já é imunda mesmo!". Sem comentários, né? Minha bolsa é praticamente um depósito de papel de bala, cartãozinho não sei do quê, panfletos, etc. Isso não me causa transtorno algum. Simplesmente quando chego em casa pego todo o lixo e jogo no lugar certo. No lixo! Simples assim!)

* Por que é que as pessoas furam fila?
(Isso só pode ser comportamento de quem é filho de chocadeira, cara, na boa... Porque quem tem mãe, quem tem pai, por mais pobre ou simplório que seja, aprende desde pequeno que temos sempre que "esperar a nossa vez"! Mas tanta gente não faz isso...)

* Por que é que o povo dirige igual maluco, e no meio do engarrafamento ultrapassa os outros pelo acostamento?
(É a mesma história da fila. Questão de civilidade. Mas o que mais se vê são carros de todas as marcas e todos os preços dando uma de "esperto", querendo ultrapassar quem está na fila do congestionamento pelo acostamento...)

* Por que é que as pessoas vão a festas formais vestidas inadequadamente?
(Você recebe um convite de alguém pra ir a um casamento, um jantar formal, ou qualquer ocasião festiva em que está mais do que óbvio que há uma formalidade envolvida, mas simplesmente ignora tudo e aparece no lugar de jeans, camiseta, tênis? Não dá, né... Bom senso é bom e todo mundo gosta! E além do mais, pode estragar a festa do anfitrião, porque avacalha todo o cuidado que ele teve em preparar algo delicado, bonito, elegante. Sim, um jeans pode ser uma roupa excelente, para a ocasião certa! Mas num casamento, fala sério! Falta de educação total!)

* Por que é que as pessoas são convidadas para um casamento religioso, mas aparecem apenas na festa?
(Não foi o meu caso, mas já vi muito isso... A igreja vazia, quase ninguém prestigiando a cerimônia dos noivos, e quando se chega no salão de festas o lugar já está lotado, de gente que foi apenas pra "parte legal", apenas pro "rega bofe", apenas pra "Balada"... affffffffffff)

* Por que é que as pessoas ficam bêbadas nas festas dos outros?
(Também acho isso o cúmulo do absurdo. Se você vai a uma festa e lá tem bebida, ótimo! Beba, mas beba socialmente, porque você está ali socialmente, não para "enfiar o pé na jaca"... Se quer ficar bêbado e fazer papelão, faça isso na sua casa, mas não estrague a festa alheia!)

* Por que é que as pessoas vão a Churrascarias no sistema de Rodizio e saem lotando o prato no buffet, pra depois não comer nada e estragar tudo?
(Fico possessa com isso... E vejo muito, infelizmente... A pessoa vai ao rodízio, pega um monte de coisas no buffet só porque "está pagando", e depois deixa o prato de lado... Vai tudo pro lixo, e é comida, gente! É comida pela qual alguém está pagando (nós mesmos), e pior do que isso, é comida que vai pro lixo por um simples capricho de algum retardado que quis "fazer valer o preço")

* Por que é que as pessoas vão a praças de alimentação de Shoppings, comem, e depois não levam suas bandejas para as lixeiras apropriadas?
(Se você não quer ter esse "trabalho" (que não aleja ninguém), vá a um restaurante com serviço à la carte! Porque em praça de alimentação é fast-food, é outro esquema, e só é possível manter o mínimo de ordem no lugar se todo mundo for civilizado o bastante pra saber que depois de comer o seu MC Donald´s ou seja lá o que for, você deve pegar sua bandeja com o lixo, jogar na lixeira e deixar a bandeja no lugar adequado. Não custa nada, né, gente! E além do mais, as funcionárias que trabalham nas praças de alimentação acabam fazendo isso, lógico, mas não é função delas, além de esse comportamento primitivo contribuir para a "zona" do lugar)

* Por que é que os motoristas param o carro sobre a faixa de pedestres?
(Eu tenho vontade de passar por cima do carro do infeliz que faz isso! Ninguém respeita pedestre nesse nosso país, ô povo mal educado!)

* Por que é que os motoristas buzinam desesperadamente durante um engarrafamento, mesmo sabendo que isso não fará o trânsito andar mais depressa?
(Tem gente que acho que tem orgasmo com o som da buzina do carro, só pode ser! Você tá lá, no meio de um engarrafamento monstro, tá vendo que não tem como andar nem pra frente, nem pro lado, nem pra canto nenhum, daí fica puto da vida por estar atrasado, e tal, e no meio disso tudo alguém tem a brilhante idéia de enfiar a mão na buzina... Daí logo vem outro no embalo, até que começa uma verdadeira fanfarra de buzina, perturbando quem está dentro dos carros, perturbando quem está fora dos carros, perturbando quem mora nos arredores, enfim... E não resolve nada, lógico! Só aumenta a poluição sonora e torna a permanência no trânsito ainda mais insuportável)

* Por que é que os pais quando vão buscar seus filhos no colégio estacionam o carro em fila dupla?
(Na verdade, isso não é um problema exclusivo das saídas dos colégios, mas é onde vejo com mais frequência... Todo mundo acha que só porque é a hora de pegar o filho, não há lei de trânsito, então sai parando o carro de qualquer jeito, fechando os outros, interrompendo o trânsito, um caos!)

* Por que é que as pessoas quando vão a shoppings, supermercados, etc., estacionam seus carros totalmente tortos, ocupando duas e às vezes até três vagas?
(Essa é uma das coisas que mais me irrita... Não me conformo com a quantidade de gente mal educada que acha que pode estacionar o carro do jeito que quer... Vejo muito isso em shoppings, quanto mais "nobre" o shopping, mais comum... o povo chega e do jeito que entra na vaga, pára o carro, pra não ter o trabalho de manobrar... com isso, o outro que vem depois não consegue parar naquela vaga, e quando o lugar lota, fica lá o folgadão fechando um lugar que por direito devia ser do outro motorista!)

* Por que é que as pessoas estacionam em vagas reservadas para deficientes, idosos e gestantes?
(Tenho vontade de dar uma paulada na perna do motorista infeliz que ocupou a vaga de deficiente querendo ser "esperto"... assim ele faria jus à vaga... afffffff... Semana passada teve até uma reportagem sobre o assunto no Jornal Nacional... Em lugar nenhum do Brasil as pessoas respeitam as vagas reservadas, é vegonhoso...)

* Por que é que as pessoas cospem no chão?
(Eca! Eca! Eca! Mas tá cheio de porco por aí fazendo isso!)

* Por que é que as pessoas empurram as outras pra entrar no metrô?
(Eu até já sofri um acidente por conta disso... Estação de Metrô aqui em SP na hora do rush é cruel, praticamente um cenário de guerra... O trem chega lotado, tem uma multidão esperando pra entrar, e quando ele abre as portas os de trás simplesmente começam a empurrar, sem nem ver se no meio daquela confusão tem um idoso, uma gestante, uma criança, alguém que não consiga se livrar facilmente do "mar de gente"... Um perigo, por pura falta de respeito e paciência de esperar a sua vez!)

* Por que é que as pessoas não respeitam os idosos?
(Gente, fala sério! Idoso! Todos nós seremos um dia! Idoso (a maioria deles) tem dificuldade de locomoção, reflexo reduzido, anda mais devagar, essas coisas todas... mas tem gente que não respeita, xinga, praticamente passa por cima, seja no meio da rua, num shopping, no supermercado... As pessoas selvagens não querem nem saber, ajudar que é bom, nada!)

* Por que é que as pessoas ligam pra casa dos outros de manhãzinha em pleno final de semana?
(Ok. Essa questão é controversa, como já pude apurar em conversas com amigos... Mas na minha opinião, final de semana é pra descanso, e como tal as pessoas podem fazer o que quiserem, inclusive dormir até mais tarde... Não tem coisa mais inconveniente do que acordar em pleno domingão às nove horas da manhã simplesmente porque alguém queria "bater papo"... Se não é emergência, pode esperar um pouquinho, né?)

* Por que é que as pessoas não votam direito, não fazem a sua parte, e colocam a culpa de tudo no governo?
(Claro, temos um governo vergonhoso, isso ninguém contesta! Mas daí a dizer que a culpa de tudo que acontece no mundo é "do governo", é um pouco demais, né? O povo joga lixo nas ruas, emporcalha a cidade, daí quando vem uma chuva daquelas e alaga tudo, não demora pra aparecer gente dizendo que "a culpa é do governo". O povo faz muito mais filhos do que têm condições de criar, não dá educação, não dá o mínimo que uma criança precisa ter, e a culpa é de quem? Do governo! Eu fico irada toda vez que escuto essas reclamações, sabe? É bem verdade que muita coisa é sim culpa do governo, mas enquanto cidadãos temos que fazer a nossa parte, principalmente com relação às questões que citei aqui... Se você joga lixo na rua, se você não cuida da cidade em que vive, não ponha a culpa nos outros! Você também é responsável!)

* Por que é que as pessoas não usam no seu dia a dia as "palavrinhas mágicas" POR FAVOR, COM LICENÇA, OBRIGADA?
(Não custa nada, mas muita gente parece estar "ocupada demais" pra perder tempo com essas "bobagens"... Bobagens??? Claro que não! Se todo mundo tivesse esse mínimo de senso de civilidade e repeito ao próximo, talvez vários dos itens acima não existiriam...)

Uuuuuueeeeeessssstop!

Quem nunca brincou de "Stop", que a gente pegou o hábito de chamar de "uestop" por conta do momento do sorteio das letras, quando todo mundo diz de uma maneira ritimada "uestop!"?

Pra quem não sabe, é aquele joguinho em que temos que escrever o nome de diversas coisas num papel com a letra sorteada (nome, carro, flor, cor, fruta, filme, etc.), e quem termina primeiro grita "Stop", e todo mundo tem que parar. Para cada acerto individual marca-se 10 pontos, e para cada acerto igual ao de outro participante, marca-se 5 pontos.

Então... hoje, domingão, resolvi assim, de última hora, fazer uma feijoada (modéstea à parte, é uma "senhora" feijoada). Já que o tempo estava mais propício, chuvoso e aquele calorão insuportável deu uma trégua, não perdi a oportunidade! E, como minhas irmãs e meu pai estavam todos com saudades do Lucas, que aliás chegou do acampamento ontem, todo mundo aproveitou a "deixa" para vir matar a saudade do baixinho...

Era só um almoço. Só um encontrinho familiar comum de domingo, mas na minha família qualquer coisa não programada é capaz de virar um programão... E hoje não foi diferente... Tanto que meus "convidados" acabaram de sair daqui de casa, praticamente meia-noite...

Já disse um milhão de vezes e repito: AMO MUITO TUDO ISSO...

Primeiro chegou meu pai, ficou aqui vendo TV, conversando amenidades, enquanto eu terminava o "banquete"... Depois chegaram a Cátia e o Marcelo, e por fim a Silvia e o Júnior... Pronto, estava armado o "circo"... rsrs...

Eu brinquei que aqui é praticamente a "Casa da Mãe Joana"... o pessoal vai chegando, tirando o sapato, pegando uma almofada ou travesseiro pra se recostar, quando acabam os lugares no sofá e nas cadeiras vão sentando no chão mesmo, e ficamos todos "em casa", todo mundo muito à vontade, conversando, rindo, bebendo, contando piada, e tudo mais que nos ocorrer...

Tenho que dizer que sou uma privilegiada... ainda bem! Na minha família é todo mundo muito "do bem", a gente tem uma cumplicidade uns com os outros que sei que muita gente não tem entre irmãos/cunhados... Há muito respeito, e aprendemos a entender e lidar com o jeito de ser dos outros, sem que as diferenças fossem necessariamente um problema... Refiro-me às diferenças de temperamento, de comportamento, porque, Aleluia!, não temos nenhuma diferença pessoal entre nós. O Odylo, por exemplo, é aquele cara que fica na cervejinha, vai falando um monte de bobagem, vai tirando sarro, vai aloprando todo mundo, vai falando o que vem na cabeça, essas coisas... mas na minha família todo mundo aprendeu a lidar, gostar e respeitar esse jeito dele, mesmo quem é mais "sério", mesmo quem não bebe, enfim... O que estou querendo dizer é que conseguimos ficar super numa boa mesmo sendo tão diferentes uns dos outros, simplesmente porque há respeito, simplesmente porque há amor.

Voltando ao domingo, meu pai acabou indo embora mais cedo, ele não aguenta muito a nossa bagunça, todo mundo falando ao mesmo tempo, e tal, e então acabaram ficando só os casais (e o Lucas, é claro)... Depois de muita besteira e muita "alopração" ao casal Silvia e Júnior, que estavam completando "meses" de namoro hoje, depois de muito assunto com e sem conteúdo, depois de muitas comparações sobre a "vida a dois" durante o namoro, noivado, casamento recente e casamento antigo, depois que esgotamos todo o estoque de abobrinhas e paspalhices, resolvemos jogar "Uestop".

Isso lá pelas 22h00, pra vocês terem uma idéia!!! Arrancamos as folhas de um caderno, fizemos lá a "folha do jogo", e começamos a jogar, em casais... Foram 10 rodadas, e eu dei muuuuuuuuuuuuita risada... Foi muuuuuuito bom, muito bom mesmo!!!

Eu e o Odylo ganhamos... Ganhamos 9 rodadas, e no somatório final do jogo demos uma lavada nos concorrentes... hihihi... Mas o melhor foi mesmo o durante, sabe... Pena que já era tão tarde, e que não deu pra esticarmos muito a brincadeira, principalmente porque amanhã é "dia de branco", todo mundo trabalha, então não dava pra abusar muito do horário... Acho que se fosse sábado ou véspera de feriado, vixiiiiiii... Estaríamos no "Uestop" até agora...

Mas tudo bem... já fizemos vários planos, para vários outros jogos de casais... Imagem e Ação, War, Banco Imobiliário, Truco, e tudo mais que nossa imaginação fértil permitir...

Porque nós somos assim: Nâo precisamos ir pra uma mega balada ou um restaurante chiquérrimo pra nos divertir e comer bem, embora também façamos essas coisas de vez em quando e é sempre igualmente divertido. Não precisamos estar "causando" (como dizem na gíria de hoje em dia) pra ficar em harmonia... Precisamos apenas uns dos outros, porque nos amamos, porque nos respeitamos, e porque quando estamos juntos tudo é festa!

Boa Noite, e Ótima Semana!!!

(ah, e boa sorte, né!)

domingo, 20 de janeiro de 2008

O Caçador de Pipas


Após permanecer na lista dos livros mais vendidos por tanto tempo, a notícia da adaptação para o cinema do best seller de Khaled Hosseini gerou muita expectativa nos fãs do livro, dentre eles Eu.

Li "O Caçador de Pipas" no começo de 2006, e me emocionei profundamente com a linda e triste história dos meninos Hassan e Amir. Como já escrevi aqui outras vezes, tenho fascínio por culturas extremamente diferentes da nossa, tanto que quando comprei este livro, não foi por ter visto nenhuma indicação em nenhum meio de comunicação (na época o livro ainda não estava tão famoso). Comprei porque gostei da sinopse e porque era uma história passada no Afeganistão.

E chegou o dia. Eu até tentei ver o filme na pré-estréia, mas não consegui ingresso, então fui no dia da estréia mesmo, sexta-feira última. Antes, já tinha lido várias críticas sobre o filme, e estava com baixas expectativas pelo que andei lendo, e também pela decepção que foi uma outra recente adaptação para o cinema de um livro bom - O Código Da Vinci (que eu não gostei).

Vamos ao resumo da "história". Hassan e Amir têm praticamente a mesma idade, são amigos e vivem uma infância feliz lá nos idos da década de 70, época em que o Afeganistão ainda era um país livre. São como unha e carne, não se desgrudam, e há uma lealdade admirável entre os dois, na verdade uma certa "devoção", essa de Hassan para com Amir. A diferença, entretanto, é visível a "olho nu"... Está em toda parte, pois Hassan, além de ser de uma etnia considerada "inferior" para a maioria do povo afegão (hazara), é criado de Amir. O menino pobre e o menino rico.

Mas lá na faixa dos 10 anos de idade, essa diferença social talvez tivesse menor importância para eles, e conseguiam seguir amigos apesar de tudo. Participavam de campeonatos de pipa em Cabul e formavam uma dupla praticamente imbatível. Hassan, analfabeto, ficava encantado com as histórias lidas pelo amigo e patrão Amir, que lia para o criado de bom grado - sempre foi um "contador de histórias", um talento nato. Tudo parecia perfeito na rotina dos garotos, até que um acontecimento colocou a coragem de a lealdade de ambos à prova, e desde então tudo mudou.

Mudou também o cenário, pois justamente nessa época começou a invasão russa no Afeganistão, o que fez o país mergulhar em sua primeira grande guerra. Amir e seu pai carinhosamente chamado de "Baba", um homem honesto e à frente do seu tempo, principalmente com relação ao fundamentalismo regilioso de seu povo, acabam fugindo para a América, e lá retomam sua vida, longe do caos que assola sua pátria-mãe.

Mas o tempo pode mudar tudo... aprofundar feridas, cicatrizá-las ou reabri-las, de modo que algo que ficou por resolver possa ser efetivamente resolvido. E é isso que acaba acontecendo. Amir é "intimado" a retornar a Cabul para tentar resolver os problemas de tantos anos atrás, enfrentar seus medos, suas mágoas, e tentar "ser bom de novo". Só que o Afeganistão já não é mais o mesmo, está devastado no auge do poder Talibã, e isso torna a jornada de Amir em busca de sua redenção ainda mais "cara"... O preço de seus atos, ironicamente imposto pelo destino.

Um grande drama. Uma história de perdas irreparáveis, sonhos castrados, laços rompidos mas, sobretudo, uma história de redenção, de esperança, uma lição de esperança.

Pois bem. A história é a mesma, obviamente... no livro e no filme. No livro, há uma riqueza de detalhes que nos faz conhecer a alma de cada personagem, tem o poder de nos transportar para os lugares citados, nos envolve de modo que praticamente fazemos parte de tudo aquilo. Isso é uma característica típica dos bons romances, e é o ponto mais forte de "O Caçador de Pipas" - o livro.

Já no filme, talvez seja uma missão quase impossível conseguir igual proeza... Porque há um "time" diferente, porque o filme não pode perder seu ritmo, e porque no cinema não temos um interlocutor tão bom com as palavras para nos "apresentar" as personagens.

Fiz essa comparação pelo seguinte: Eu gostei muito do filme, muito mesmo... fui positivamente surpreendida, porque, como já disse no começo, eu estava com baixas expectativas. Claro que, como já li o livro, a história em si perde um pouco a graça, porque não há surpresa, eu já sabia exatamente qual seria a próxima ação. Mas pra evitar isso, só mesmo vendo o filme antes de ler o livro, senão não há surpresa, e se houver, é porque algo desviou-se no caminho.

Feitas tais considerações, eu ousaria até mesmo dizer que "O Caçador de Pipas" talvez seja ainda mais bem aceito para aquela parcela da população que ainda não leu o livro... Porque para essas pessoas, há o fator surpresa, e a emoção com certeza fluirá com mais verdade.

Eu achei que fosse me debulhar em lágrimas, como aconteceu quando eu li o livro, mas isso não aconteceu, exceto num determinado momento do filme que me lembra demais um drama pessoal vivido - a perda da minha mãe. Nesta "parte" do filme, foi inevitável não soluçar ao ver na telona cenas vividas e sofridas por mim e minha família, como se estivessem contando nossa própria história, tamanha a semelhança nos detalhes.

Também fiquei profundamente tocada com o carisma do pequeno Ahmad Khan Mahmidzada, o garotinho afegão que interpreta Hassan. Ele é tão fofo, tão cativante, que dá vontade de pegar e levar pra casa... Um "achado" dos realizadores do filme, foi simplesmente o garoto perfeito para o papel.

As cenas dos torneios de pipas são poéticas. Quase nos fazem voar... E a cena do casamento de Amir também é uma das mais lindas do filme... Fico sempre impressionada com a beleza das tradições desse povo, fico sempre impressionada com a beleza de suas mulheres, de sua música.

Assim, mesmo não sendo uma "grande surpresa", mesmo não sendo um filme "arrebatador", "O Caçador de Pipas", seguindo a trilha do livro, consegue ser profundamente delicado e emocionante. Um filme que merece ser visto, sem sombra de dúvida.

E se por acaso você ainda não leu o livro, aproveite a oportunidade... Faça as duas coisas, veja o filme e leia o livro. Nessa ordem. Talvez assim fique melhor!

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Tênis X Frescobol

Depois de muito meditar sobre o assunto, concluí que os casamentos são de dois tipos:

Há os casamentos do tipo "Tênis" e há os casamentos do tipo "Frescobol".

Os casamentos do tipo "Tênis" são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal; Os casamentos do tipo "Frescobol" são uma fonte de alegria e tem a chance de ter vida longa.

Explico-me:

Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: "Ao pensar sobre a possibilidade do casamento, cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?"

Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.

Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã; terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme "O Império dos Sentidos". Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra; começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites.

O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer.

Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo "Eu te amo, Eu te amo..."

Barthes advertida: "Passada a primeira confissão, "eu te amo" não quer dizer mais nada".

É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética.

Recordo a sabedoria de Adélia Prado: "Erótica é a alma".

O Tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se o tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco de seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada - palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar.

O prazer do Tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.

O Frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola.

Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio mais torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra, pois é o que se deseja, que ninguém erre.

O erro de um, no Frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas; e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância, começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...

A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá... Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem Tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada.

Camus anotava em seu diário pequenos fragmentos para os livros que pretendia escrever. Um deles, que se encontra nos primeiros cadernos, é sobre este jogo de Tênis: "Cena: o marido, a mulher, a galeria. O primeiro tem valor e gosta de brilhar. A segunda guarda silêncio, mas, com pequenas frases secas, destrói todos os propósitos do caro esposo. Desta forma, marca constantemente a sua superioridade. O outro domina-se, mas sofre uma humilhação e é assim que nasce o ódio.

Exemplo: com um sorriso: "Não se faça mais estúpido do que é, meu amigo!" A galeria torce e sorri pouco à vontade. Ele cora, aproxima-se dela, beija-lhe a mão, suspirando: "Tens razão, minha querida". A situação está salva e o ódio vai aumentando."

Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.

Já no Frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que se deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração.

O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres.

Bola vai, bola vem, cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...

(Rubem Alves)

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