terça-feira, 1 de abril de 2008

A Criança * * * *

De vez em quando aparece um filme novo abordando a questão da gravidez na adolescência e suas consequências, sob o mais diversos pontos de vista - dramático, sarcástico, romântico, trágico, cômico.

Em "A Criança" (L´Enfant), procução belgo-francesa premiada com a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2005, o assunto é abordado sob quase todos esses aspectos ao mesmo tempo, mas o foco principal é a irresponsabilidade, o que o torna um filme bastante indigesto, por assim dizer.

Sonia (Déborah François) acaba de sair da maternidade com seu bebê nos braços, e vaga pelas ruas atrás do namorado Bruno (Jérémie Renier), que sequer foi visitá-la durante sua estadia no Hospital. Bruno, por sua vez, é um ladrãozinho de meia tijela que parece não se importar com absolutamente nada a não ser com o próprio umbigo, e embora consiga demonstrar algum afeto pela namorada, o mesmo não acontece com o bebê, ao qual fica indiferente desde o primeiro momento.

Sonia e Bruno não planejaram o filho, lógico, e com o bebê nos braços não têm a menor idéia do que precisam fazer. Irresponsavelmente, expõem o bebê a toda sorte de riscos, até porque intencionam manter a mesma vida marginal de antes, sem se dar conta das implicações da nova responsabilidade. O instinto maternal de Sonia acaba aflorando e ela consegue aos poucos se distanciar do excesso, o que não acontece com Bruno que, obcecado pelo dinheiro fácil que o crime lhe rende e totalmente avesso a assumir um emprego formal, acaba vislumbrando no próprio filho a possibilidade de um golpe que lhe renderia uma grana jamais antes recebida.

Chega a ser chocante a capacidade de Bruno em negociar o próprio filho em troca de algum dinheiro, mas a trama mostra sua enorme frieza da mesma forma que mostra sua enorme falta de noção de realidade e de responsabilidade, de modo que sequer conseguimos apontá-lo como vilão. É como se Bruno fosse, antes de mais nada, uma vítima da própria vida, uma vítima da falta de valores da humanidade, uma vítima da falta de formação, uma pessoa completamente desprovida de princípios, desprovida de caráter.

É um filme onde o clima de tensão é constante, o clima de desespero idem, e o espectador chega a ficar de queixo caído ao ver as sucessivas ações irresponsáveis do casal com o bebê nos braços, dá vontade de gritar para pararem tudo imediatamente, vontade de pedir que alguma entidade do além interdite o casal e coloque pelo menos um pingo de juízo na cabeça daqueles jovens.

A Criança incomoda, põe o dedo numa ferida latejante, e sem nomear heróis ou algozes simplesmente escancara uma questão extremamente séria que tornou-se um grande problema social no mundo todo. Imperdível!

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