domingo, 22 de fevereiro de 2009

Frost / Nixon (Oscar 2009)

Um presidente da república tem seu nome envolvido num grande esquema de espionagem e abuso de poder. O Congresso Nacional do país sente-se pressionado a tomar uma atitude concreta perante a sociedade e está prestes a votar a proposta de impeachment do presidente. O presidente não tem coragem de enfrentar a expulsão do poder e, na véspera da votação, renuncia ao cargo, escrevendo mais uma vergonhosa página na história política daquele país.

Poderíamos estar falando do Brasil, e sem dúvida há muita semelhança entre uma história e outra, mas... não, dessa vez não se trata do Brasil. Estamos falando aqui de um marco da história americana, quando o então Presidente Richard Nixon renunciou ao poder por estar fortemente envolvido no escândalo que ficou conhecido como Caso Watergate.

O escândalo Watergate já foi retratado no cinema através do excelente filme Todos os Homens do Presidente, e é novamente abordado agora em Frost / Nixon, um dos indicados ao Oscar de melhor Filme de 2009.

Só que desta vez não é o escândalo político o foco principal do filme. Richard Nixon (Frank Langella, maravilhoso) jamais havia assumido claramente seu envolvimento no caso Watergate, e essa questão incomodava demais a opinião pública e especialmente a imprensa. A reclusão de Nixon o tornou inacessível para a maioria das pessoas, e ele pretendia usar este tempo para arquitetar uma brilhante estratégia de retorno à política, o que foi estimulado pelo perdão que o novo presidente lhe concedeu por qualquer crime que pudesse ter praticado.

Do outro lado do Oceano, o pseudo-jornalista inglês David Frost (Michael Sheen), que na verdade era um "astro" apresentador de um programa de auditório, resolve ousar nos rumos de sua carreira, iniciando uma dura empreitada na tentativa de conseguir uma entrevista exclusiva com Richard Nixon.

Por trás da sua intenção de apenas entrevistar o ex-presidente americano, estava na verdade uma vontade quase megalomaníaca de escrever um marco na sua história profissional, já que julgava ser capaz de arrancar do escorregadio Richard Nixo a confissão e o pedido de desculpas que a imprensa americana jamais conseguiu.

Derrubando muitas barreiras e correndo riscos inimagináveis, Frost vai abrindo caminho para a conquista do seu objetivo, e é esta trajetória que o filme retrata. Desde os bastidores das negociações da entrevista até os bastidores dos dias de gravação e a própria entrevista reveladora foram retratados com bastante sobriedade e fidelidade. E é uma história interessante, com certeza!

Frost / Nixon não me despertou a menor curiosidade mesmo depois que soube que era um dos indicados ao Oscar de melhor filme e melhor diretor deste ano (dentre as 5 indicações que recebeu). Normalmente a indicação ao prêmio serve pra mim como estímulo a querer ver um filme, mas neste caso nem isso - me parecia algo muito específico e muito chato.

Mesmo assim, e apenas pra "fechar" minha seleção do Oscar (já tinha assistido os outros 4 indicados à categoria principal), resolvi assistir e comecei a ver o filme de maneira totalmente despretensiosa, sem expectavias e sabendo que poderia desistir em menos de 10 minutos. Ledo engano.

Eis aí um filme bem feito, no melhor sentido da expressão "bem feito". O roteiro - que descobri ser baseado numa peça teatral de autoria do próprio roteirista Peter Morgan (do excelente filme A Rainha), peça teatral esta que foi intepretada pelos mesmos protagonistas do filme, é absolutamente envolvente e consegue despertar o interesse até mesmo de alguém que não seja assim tão ligado a história política.

As interpretações são incríveis, tanto do apresentador-quase-playboy David Frost (Michael Sheen) como do frustrado ex-presidente Richard Nixon (Frank Langella), este último, aliás, merecidamente indicado ao Oscar de melhor ator deste ano, por sua interpretação magistral.

Particularmente, tive momentos de nojo e momentos de pena de Richard Nixon. Aquele que inicialmente parece ser apenas um político inescrupuloso capaz de qualquer coisa pelo poder, num momento de fraqueza aqui e outro ali acaba revelando ser apenas um homem amargo e frustrado pela rejeição, pela falta de amor, por nunca ter chegado a ser nada perto daquele grande ícone político que sempre sonhou ser. E isso é muito triste.

Frost / Nixon é, enfim, um filme surpreendente, justamente por não prometer nada extraordinário e ao mesmo tempo apresentar interpretações maravilhosas que, aliadas ao excelente roteiro e à competente direção, culminaram numa grande e boa surpresa.

Um ótimo filme! Vale conferir!


INDICAÇÕES AO OSCAR 2009:

Melhor Filme;
Melhor Diretor - Ron Howard;
Melhor Ator - Frank Langella;
Melhor Roteiro Adaptado;
Melhor Edição;

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