domingo, 20 de janeiro de 2008

O Caçador de Pipas


Após permanecer na lista dos livros mais vendidos por tanto tempo, a notícia da adaptação para o cinema do best seller de Khaled Hosseini gerou muita expectativa nos fãs do livro, dentre eles Eu.

Li "O Caçador de Pipas" no começo de 2006, e me emocionei profundamente com a linda e triste história dos meninos Hassan e Amir. Como já escrevi aqui outras vezes, tenho fascínio por culturas extremamente diferentes da nossa, tanto que quando comprei este livro, não foi por ter visto nenhuma indicação em nenhum meio de comunicação (na época o livro ainda não estava tão famoso). Comprei porque gostei da sinopse e porque era uma história passada no Afeganistão.

E chegou o dia. Eu até tentei ver o filme na pré-estréia, mas não consegui ingresso, então fui no dia da estréia mesmo, sexta-feira última. Antes, já tinha lido várias críticas sobre o filme, e estava com baixas expectativas pelo que andei lendo, e também pela decepção que foi uma outra recente adaptação para o cinema de um livro bom - O Código Da Vinci (que eu não gostei).

Vamos ao resumo da "história". Hassan e Amir têm praticamente a mesma idade, são amigos e vivem uma infância feliz lá nos idos da década de 70, época em que o Afeganistão ainda era um país livre. São como unha e carne, não se desgrudam, e há uma lealdade admirável entre os dois, na verdade uma certa "devoção", essa de Hassan para com Amir. A diferença, entretanto, é visível a "olho nu"... Está em toda parte, pois Hassan, além de ser de uma etnia considerada "inferior" para a maioria do povo afegão (hazara), é criado de Amir. O menino pobre e o menino rico.

Mas lá na faixa dos 10 anos de idade, essa diferença social talvez tivesse menor importância para eles, e conseguiam seguir amigos apesar de tudo. Participavam de campeonatos de pipa em Cabul e formavam uma dupla praticamente imbatível. Hassan, analfabeto, ficava encantado com as histórias lidas pelo amigo e patrão Amir, que lia para o criado de bom grado - sempre foi um "contador de histórias", um talento nato. Tudo parecia perfeito na rotina dos garotos, até que um acontecimento colocou a coragem de a lealdade de ambos à prova, e desde então tudo mudou.

Mudou também o cenário, pois justamente nessa época começou a invasão russa no Afeganistão, o que fez o país mergulhar em sua primeira grande guerra. Amir e seu pai carinhosamente chamado de "Baba", um homem honesto e à frente do seu tempo, principalmente com relação ao fundamentalismo regilioso de seu povo, acabam fugindo para a América, e lá retomam sua vida, longe do caos que assola sua pátria-mãe.

Mas o tempo pode mudar tudo... aprofundar feridas, cicatrizá-las ou reabri-las, de modo que algo que ficou por resolver possa ser efetivamente resolvido. E é isso que acaba acontecendo. Amir é "intimado" a retornar a Cabul para tentar resolver os problemas de tantos anos atrás, enfrentar seus medos, suas mágoas, e tentar "ser bom de novo". Só que o Afeganistão já não é mais o mesmo, está devastado no auge do poder Talibã, e isso torna a jornada de Amir em busca de sua redenção ainda mais "cara"... O preço de seus atos, ironicamente imposto pelo destino.

Um grande drama. Uma história de perdas irreparáveis, sonhos castrados, laços rompidos mas, sobretudo, uma história de redenção, de esperança, uma lição de esperança.

Pois bem. A história é a mesma, obviamente... no livro e no filme. No livro, há uma riqueza de detalhes que nos faz conhecer a alma de cada personagem, tem o poder de nos transportar para os lugares citados, nos envolve de modo que praticamente fazemos parte de tudo aquilo. Isso é uma característica típica dos bons romances, e é o ponto mais forte de "O Caçador de Pipas" - o livro.

Já no filme, talvez seja uma missão quase impossível conseguir igual proeza... Porque há um "time" diferente, porque o filme não pode perder seu ritmo, e porque no cinema não temos um interlocutor tão bom com as palavras para nos "apresentar" as personagens.

Fiz essa comparação pelo seguinte: Eu gostei muito do filme, muito mesmo... fui positivamente surpreendida, porque, como já disse no começo, eu estava com baixas expectativas. Claro que, como já li o livro, a história em si perde um pouco a graça, porque não há surpresa, eu já sabia exatamente qual seria a próxima ação. Mas pra evitar isso, só mesmo vendo o filme antes de ler o livro, senão não há surpresa, e se houver, é porque algo desviou-se no caminho.

Feitas tais considerações, eu ousaria até mesmo dizer que "O Caçador de Pipas" talvez seja ainda mais bem aceito para aquela parcela da população que ainda não leu o livro... Porque para essas pessoas, há o fator surpresa, e a emoção com certeza fluirá com mais verdade.

Eu achei que fosse me debulhar em lágrimas, como aconteceu quando eu li o livro, mas isso não aconteceu, exceto num determinado momento do filme que me lembra demais um drama pessoal vivido - a perda da minha mãe. Nesta "parte" do filme, foi inevitável não soluçar ao ver na telona cenas vividas e sofridas por mim e minha família, como se estivessem contando nossa própria história, tamanha a semelhança nos detalhes.

Também fiquei profundamente tocada com o carisma do pequeno Ahmad Khan Mahmidzada, o garotinho afegão que interpreta Hassan. Ele é tão fofo, tão cativante, que dá vontade de pegar e levar pra casa... Um "achado" dos realizadores do filme, foi simplesmente o garoto perfeito para o papel.

As cenas dos torneios de pipas são poéticas. Quase nos fazem voar... E a cena do casamento de Amir também é uma das mais lindas do filme... Fico sempre impressionada com a beleza das tradições desse povo, fico sempre impressionada com a beleza de suas mulheres, de sua música.

Assim, mesmo não sendo uma "grande surpresa", mesmo não sendo um filme "arrebatador", "O Caçador de Pipas", seguindo a trilha do livro, consegue ser profundamente delicado e emocionante. Um filme que merece ser visto, sem sombra de dúvida.

E se por acaso você ainda não leu o livro, aproveite a oportunidade... Faça as duas coisas, veja o filme e leia o livro. Nessa ordem. Talvez assim fique melhor!

Um comentário:

Jacke Gense disse...

Ainda não vi o filme... mas muita gente já me desanimou :-(
Por isso gosto de ir em estréias, pelo menos eu me decepciono sozinha, rs.
Como gosto é algo muito relativo, eu verei com certeza...

Mudando de assunto, talvez nos encontremos na sexta feira... Na reunião das crinças. A Clara também estudará no Misericórdia!

bjs