segunda-feira, 25 de abril de 2011

O dia em que eu tentei ajudar um Poeta

Daí que no último dia 22/04, sexta-feira Santa, foi aniversário do papai. 61 anos, e assim a 3a. idade vai se sacramentando para o nosso velho, que continua estufando o peito pra dizer que tem corpinho e saúde de 19... Amém!

Como de costume, reunimos a nossa imensa família de 7 pessoas entre filhas e agregados (faltou a jornalista-celebridade-correspondente-internacional que estava na Espanha trabalhando, e o Zelão que estava passando o feriadão com o pai) para celebrar a data, dessa vez ao gosto do aniversariante: Numa pizzaria simplezinha - mas honestíssima - daqui das bandas da "favela onde nóis nasceu".

Quem nos conhece sabe que o fato de sermos apenas 7 não significa nem de longe uma celebração discreta, muito pelo contrário: é sempre aquele auê, todos falando ao mesmo tempo, os assuntos mais variados do planeta fluindo e emendando-se uns aos outros (a gente chama de hiperlinks que vão se abrindo sucessivamente) na velocidade da luz, debates exaltados, gargalhadas escandalosas, etc e tal... É o nosso jeitinho! ;-)

Lá pelas tantas, entre uma fatia de margherita e outra de portuguesa, discutíamos visceralmente algo sobre a origem do Universo, o nada absoluto, o Darwinismo e outras coisas do gênero (juro que estávamos todos bebendo apenas coca-cola zero!), quando um tiozinho cambaleante se aproximou da mesa e nos interrompeu:

"Boa Noite senhoras e senhores. Sou o Poeta Fulano de Tal, e estou aqui pra divulgar minha obra e pedir a ajuda de vocês!"

Enquanto esticávamos as mãos para pegar o exemplar mal acabado do livro de poemas do tiozinho insistente, éramos brindados com o agradável perfume do seu hálito de pinga fresca. Quase entramos em coma alcoólico por tabela, mas sobrevivemos. O Poeta Bebum nos deixou analisando seu livro e foi perturbar outra mesa.

Coincidência ou não, a primeira página que abrimos, aleatóriamente, tinha um poema de "dor de amor" que terminava com

"entristeci-me,
magoei-me,
embriaguei-me."

Deu pra sentir a vibe do poeta, né? Pois é...

Mesmo assim fiquei com dó do tiozinho... Queria ajudá-lo (mesmo sabendo que a ajuda seria apenas para a próxima dose de cachaça), e quando ele voltou e todos devolveram os livros com ar de desdém eu segurei o meu e perguntei o preço.

"Dérreaus, e de brinde você leva esse CD gravado por mim com músicas do Julio Iglesias, Roberto Carlos, etc.", disse o tiozinho.

Saquei os Dérreaus do bolso, concretizei a compra e imediatamente entreguei aquela obra prima ao papai com os votos de "Feliz Aniversário":

"Meu presente para o senhor, pai!", eu disse, segurando a gargalhada iminente. "Tem até músicas do Julio Iglesias! O Senhor vai gostar!". Todos riram, mas os risos foram logo interrompidos pelo Poeta Bebum, indignado:

"Mas na mesa inteira vocês vão comprar SÓ UM?"

"Ah, somos todos da mesma família, vamos compartilhar, moço!", eu disse, idiotamente.

"Quer dizer então que vocês vão plagiar (sic!) os meus direitos autorais?", disse o tiozinho, com o tom de voz mais bravo que conseguiu.

Neste momento todos na mesa olhavam curiosos pra mim, meio que desacreditando naquele diálogo, e meio que ansiosos por verem onde é que aquilo ia parar. E eu, ao invés de calar o meu bocão ou dar um fora no Bebum, ainda tentei argumentar que não, ninguém ia plagiar nada, íamos ler o livro um de cada vez, e tal...

E então o Poeta Bebum enfiou os Dérreaus que eu dei pra ele no bolso e saiu cambaleando e resmungando algo sobre os seus direitos autorais, plágio, gente mão-de-vaca, etc...

Eu e minha cara de tacho voltamos à mesa, e rapidamente tentei recuperar o fio da meada da conversa sobre a Teoria da Evolução, porque, né?

Quem manda ser besta e querer ajudar um velho bebum a comprar a próxima dose de pinga???

Porque diante da indiganção do Poeta, é certeza que ele tá pagando os royalties do Julio Iglesias, do Roberto Carlos, etc e tal... CERTEZA!

Tome, Dona Farta! Tome! Morreu em Dérreaus e ainda levou toco do tiozinho bêbado!

It's my life! =/


FIM.

domingo, 24 de abril de 2011

Prayers for Bobby

"Ter Fé cega é mais perigoso do que
não ter Fé alguma."

"Às vezes questionar a Fé te ajuda a encontrar uma Fé mais profunda."

""Mary (Sigourney Weaver) é uma cristã devota que segue à risca as doutrinas de sua Igreja. Quando seu filho Bobby (Ryan Kelley) revela ser homossexual, ela passa a submetê-lo a terapias e ritos religiosos com o intuito de “curá-lo”. No entanto, Bobby não suporta a pressão e se atira de uma ponte, encerrando sua vida aos vinte anos de idade.

Depois desse fato, Mary descobre um diário de Bobby e passa a entender de fato o que se passava na mente dele. Também buscando respostas na religião, Mary aprende a interpretar de outra forma os textos bíblicos, passando a acreditar que a homossexualidade não é condenável, tornando-se uma ativista dos direitos dos homossexuais. ""

...

Assisti "Prayers for Bobby" numa das madrugadas do último feriadão, e lamentei profundamente não ter visto o filme (de 2009) antes. Sem dúvidas já o teria divulgado muitas outras vezes, porque ele é uma ode à tolerância e ao respeito pelas diferenças, além de ser uma história (baseada em fatos reais) profundamente comovente e transformadora.

Não vou ficar aqui analisando o filme como costumo (presunçosamente) fazer. Vou limitar-me a dizer que é um filme que PRECISA ser visto de mente e coração abertos, e compartilhado com todos aqueles que resistem em aceitar que não há uma "receita de bolo" pronta para os seres humanos, e que ser diferente é super normal.

O filme - na íntegra - está disponível no Google Vídeos, neste link. Não sei por quanto tempo ficará online, por isso apressem-se! E se não conseguirem ver pelo link, procurem outros meios.

Alguns filmes são apenas entretenimento. Outros vão muito além, e "Prayers for Bobby" pertence ao segundo grupo. Não deixem de assistir!


(dica do meu querido amigo Marcio Claesen)

terça-feira, 5 de abril de 2011

Humor Inteligentão

Estou desde a semana passada relutando pra fazer um post sobre esse assunto, porque eu realmente não queria engrossar o coro dos imbecis que dão espaço para os imbecis a fim de mostrar o quanto são imbecis. Acaba que cai todo mundo na vala comum do oportunismo - surfar na onda da polêmica do momento, e eis-me aqui pra alimentar as estatísticas. Me perdoem por isso.

Mas o fato é que nem sempre eu consigo simplesmente ignorar o que me incomoda, e por mais que eu já tenha resmungado lá no twitter, não foi suficiente.

Não vou nem entrar no mérito das declarações nojentas daquele ser que atende pelo nome de Jair Bolsonaro. Esta criatura é figura folclórica da política nacional, e por mais inacreditável que pareça encontra-se no seu 6o. mandato, o que significa que não é de hoje que existe uma legião de adeptos às suas posições conservadoras e preconceituosas.

Por mais que me assuste muito saber que numa cidade como o Rio de Janeiro existem eleitores suficientes para colocar no poder um cara como este por 6 vezes, a verdade é que ele ocupa o cargo de Deputado legitimamente, já que foi eleito pelo voto direto do povo. É, portanto, representante de uma parcela da população, e não adianta agora, que ele está lá legitimado na sua função legislativa, espernear e querer arrancá-lo à força.

A única forma de extirpar de todas as esferas do poder mentes doentes que pensam como Jair Bolsonaro (apenas um exemplo dentre tantas outras aberrações que existem no cenário político) é através do voto, nas eleições. Isso todo mundo já sabe, e eu não vou ficar aqui desfiando o rosário da importância do voto consciente porque, né? É O ÓBVIO.

Por outro lado, estamos vivendo uma época de importantes transformações na sociedade, uma época em que luta-se cada vez mais abertamente pela quebra de paradigmas, pela derrocada de preconceitos e pela igualdade de direitos de todas as pessoas, independentemente de qualquer característica que as diferencie umas das outras. Assistimos ao longo dos últimos anos o crescimento de movimentos em prol das minorias, e a efetiva obtenção/proteção de alguns (ainda bem poucos) direitos.

É uma luta bastante dura, especialmente quando se encontra pelo caminho inimigos públicos como Bolsonaros e Malafaias da vida, mas a história tem nos provado que, por mais barulho que estes imbecis façam, estão cada vez mais insustentáveis suas posições extremas. Amém a nós todos, e que as coisas continuem neste caminho, até porque não há a menor chance de evoluirmos enquanto nação se não conseguirmos equalizar na prática direitos mínimos e fundamentais que já encontram-se rebuscadamente garantidos no artigo 5o. da nossa Constituição Federal.

Mas não era isso que eu queria falar, porque isso tudo é mais do mesmo e todos vocês já estão cansados de saber.

Quero falar mesmo sobre o CQC, Custe o que Custar! (sic!)

CQC, aquele programa de humor que atrai grande parte da audiência às segundas-feiras à noite (inclusive a minha, esporadicamente), e que se auto intitula "Humor Inteligente".

Aquele programa que é apresentado por meia dúzia de Humoritões metidos a modernex que através do programa alavancaram suas carreiras de comediantes de stand-up, e até hoje lotam as casas de show por onde passam com um público sempre ávido por suas "sacadas geniais" (sic!) e/ou piadinhas de gosto duvidoso.

Até aí também, ok. Não vamos discutir ética no humor porque é um assunto bem delicado, e eu mesma me contradigo às vezes nas minhas opiniões a respeito do assunto. Eles tem todo o direito de fazer as piadas que quiserem, e paga para ouvi-las quem quiser!

O problema é que por uma excelente estratégia de marketing quando do lançamento do programa, há alguns anos, esses caras até então quase desconhecidos do grande público foram alçados ao patamer de ídolos, formadores de opinião, humor inteligente, humor de conteúdo, e mais uma meia dúzia de adjetivos exagerados que os colocaram no patamar em que se encontram hoje. "Os caras".

"Formadores de Opinião". E não é exagero, infelizmente. Basta acessar o twitter de qualquer um deles para confirmar o fato. Um dos caras, inclusive, foi recentemente eleito o dono do perfil mais influente do twitter no Mundo. E ele "se acha". Com motivo, afinal... é mesmo influente, por mais que eu, particularmente, lamente profundamente esta influência.

Tive muito boa vontade com o CQC no começo. Até gostava. Até achava inteligente uma vez ou outra. Mas a prepotência foi subindo à cabeça dos caras de uma maneira que não demorou para que eles se tornassem vítimas de seus próprios egos, e de potenciais humoristas razoáveis viraram apenas uns idiotas que fazem as mesmas piadinhas estúpidas de sempre, mas se acham mais legais que os outros porque são "humoristas inteligentões". Pretensiosos. Insuportavelmente pretensiosos.

Já caíram em várias armadilhas por conta dessa megalomania irritante, e a mais recente - voltamos ao foco, finalmente! - foi o episódio Jair Bolsonaro. Todo mundo viu o quadro com o Deputado na semana passada, quando ele respondia perguntas do público com suas já conhecidas e asquerosas ideias preconceituosas. Todo mundo viu quando o Deputado se superou e surpreendeu até os estômagos mais fortes numa declaração explícita de racismo e homofobia, num lamentável e vergonhoso episódio de escrotice na televisão aberta. E (quase) todo mundo se indignou quando se deu conta que um programa do alcance do CQC jamais poderia ter aberto espaço para as manifestações nazistas de alguém como Bolsonaro.

Porque - e era aí que eu queria chegar - se a gente não pode impedir cabeças doentes como a do Deputado em questão de ocuparem uma cadeira no Poder Legislativo, podemos, por outro lado, calar a voz desses imbecis da maneira que conseguirmos. Quando falamos de um programa de televisão supostamente liberal e politicamente-correto, que adora levantar a bandeira de "defender ideiais" e sei lá o que, calar a voz dos imbecis seria, na minha opinião, mais que uma opção. Seria uma OBRIGAÇÃO.

O que o CQC fez ao conceder um bloco inteiro do programa para as escrotices de Jair Bolsonaro foi um desserviço a tudo que ele mesmo - CQC - prega. Foi um óbvio apelo ao sensacionalismo. APELAÇÃO. Pura e simples APELAÇÃO. Apelação DESNECESSÁRIA, aliás. E que pode ter um efeito muito mais nocivo do que ousamos imaginar.

Fosse o CQC um programa realmente INTELIGENTE, não precisaria recorrer a algo tão nojento pra alavancar audiência. Fosse o CQC um programa realmente comprometido com a liberdade, não precisaria abrir espaço para um político ogro emitir suas opiniões totalmente desnecessárias e ofensivas. Fosse o CQC um programa realmente inovador, não precisaria ceder a esta nojeira, que só fez atrair holofotes para um cara da estirpe de Jair Bolsonaro, que deve inclusive estar rindo à toa no aconchego do seu lar neste momento, enquanto pessoas que lutam pela igualdade de direitos se corroem de raiva por este enorme passo em vão que a mídia nos fez dar enquanto nação.

A cereja do bolo veio no programa de hoje, 1 semana depois da polêmica inicial. Novamente o CQC se valeu do escroto Bolsonaro para reforçar a audiência (e pelo visto conseguiu). Novamente concedeu-lhe um bloco inteiro para se justificar sobre as declarações da semana anterior, permitindo que dessa vez ele dissesse que, não, não é racista, é apenas homofóbico mesmo. Ah, tá! Melhorou muito! #not

O CQC abriu espaço para Bolsonaro continuar mantendo os holofotes sobre si. Permitiu que ele exibisse uma foto do cunhado negro na TV para em seguida declarar que "ora, vejam vocês, eu tenho um negro na minha família, logo, não sou racista!". Porque, obviamente, Bolsonaro pode ser IMBECIL, mas não é burro. Ele sabe que racismo é crime, e homofobia ainda não. Correu pra consertar a cagada que fez, provavelmente na intenção de produzir prova em seu favor no processo que já está sofrendo por racismo, mas manteve sua asquerosa posição com relação aos homossexuais, e como se não bastasse o programa da semana anterior, mais uma vez o CQC lhe deu espaço para fazer isso. Na TV aberta. Em rede nacional.

E quando a câmera voltou para o estúdio após exibição da matéria com o Deputado, fomos brindados por um Marcelo Tas fazendo discursinho pra inglês ver, segurando uma foto de sua filha e declarando que a moça é gay.

Bolsonaro mostrou a foto do cunhado negro pra provar que não é racista. Marcelo Tas mostrou a foto da filha gay pra... (???). Pois é! Uma patética competição para ver quem tem mais minorias por perto. Que vergonha!

(vou ali procurar umas fotos minhas com uma galera da favela pra provar que não sou elitista, porque, né? parece que essa vai ser a moda agora! ahh, vá!)

E sabe o que é ainda mais vergonhoso nessa pataquada toda? Marcelo Tas não disse apenas "essa é minha filha e ela é gay". O que ele disse foi: "Essa moça da foto é minha filha. Ela e bolsista na universidade-não-sei-das-quantas e mora no Exterior. É bem sucedida, apesar de ser gay" (tá, ele não disse "apesar de ser gay", mas, né? Precisava?).

Fiquei me perguntando: e se a moça não fosse essa sumidade toda aí, será que Marcelo Tas teria mostrado sua foto na TV e declarado apenas que ela é gay, mesmo sem ter outras qualidades pra amenizar seu defeitinho? Seria o Professor Tibúrcio Modernex um preconceituoso enrustido? Não é de hoje que ele manifesta seus preconceitos mais absurdos camuflados na sua fama de descoladinho. Lembram do episódio Juliana Paes? Então! Dessa vez ele conseguiu dar uma declaração quase pior que a do próprio Bolsonaro. Perdeu uma excelente oportunidade de calar a boca!

Acompanhando a repercussão do programa no Twitter, vi minha timeline ser inundada de vivas e u-hus por conta da declaração do Marcelo Tas. Porque, né? Ele jogou a isca e geral mordeu. E assim ninguém mais pode falar que ele errou ao abrir espaço para o imbecil do Bolsonaro porque, ora ora, ele tem uma filha gay!

WTF???

O que me deixa brava de verdade é perceber que esses caras pseudo formadores de opinião substimam a inteligência do público o tempo todo, e o público senta e aplaude. Galera tem preguiça de pensar sozinha, então pega carona na aba da figurinha do momento e sijoga numa vibe Maria-vai-com-as-outras que só colabora para que as coisas continuem indo de mal a pior.

É o exercício cotidiano da imbecilização. É a falta de personalidade, a falta de senso crítico, a falta de convicção.

Ser um cidadão consciente dá trabalho. Ter opinião sobre as coisas - até para poder votar direito - dá trabalho, requer informação, estudo, pesquisa, conhecimento. Acaba sendo mais fácil seguir os outros, e se este outro for o cara do programa de humor inteligentão, é até cool.

Ah, façam-me o favor! É por causa dessa preguiça de questionar as coisas e procurar as próprias verdades que Bolsonaros são eleitos sucessivamente, ano após ano. É por causa dessa preguiça de pensar que uma piadinha idiota é rapidamente taxada de "humor inteligente".

É por causa dessa preguiça de tomar posição diante das coisas que estamos nessa involução desenfreada.

Eu tenho medo de onde isso tudo vai parar. E queria fazer este alerta aqui.

Bora todo mundo refletir mais um pouquinho antes de aplaudir qualquer idiotice?

Questionar as coisas e desenvolver os próprios pontos de vista fazem muito bem!

Experimentem!

domingo, 3 de abril de 2011

Ou seja...

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.

O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.

Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.

Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.

Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.

Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.

Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então?

Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.

Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.

Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara?

Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.

É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.

Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.

Não funciona assim.

Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.

Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!

Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.


"Crônica do Amor", by Arnaldo Jabor (retirada daqui)


OU SEJA...

O amor é ESTÚPIDO, e quem tem razão mesmo é o

Tom Zé.

Essas coisas inexplicáveis do comportamento humano

Eu tava aqui pensando...

Por que é tão difícil adotarmos aquelas atitudes que tanto cobramos dos outros?

Por que é tão difícil entender que toda história tem sempre, no mínimo, dois lados?

Por que a gente cai (quase) sempre na tentação de se vitimizar diante de uma situação, ao invés de tentar entender o que nos levou até ela?

Por que nunca enxergamos os nossos próprios erros, enquanto insistimos em apontar com o dedo em riste os erros alheios?

Por que a gente teima em querer provar uma razão que a gente quase nunca tem?


...

Essas coisas inexplicáveis (ou não) do comportamento humano...