quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Treinada Para Matar

T.P.M.
Sigla que em tese significa Tensão P Menstrual, mas que na verdade camufla o verdadeiro estado das mulheres neste maldito período do mês: Treinadas Para Matar.

Exagero? Garanto que não, e explico:

Você está lá, vivendo sua vida alegre e retumbante, quando de repente, do nada, é tomada por uma avalanche de sensações e sentimentos que te deixam prestes a explodir. Literalmente.

Daí você chora compulsivamente, sente-se a última criatura do universo, tem certeza absoluta que se morrer ninguém vai nem sentir sua falta, chora mais ainda imaginando seu corpo em estado de putrefação em algum canto da sua casa enquanto o mundo lá fora gira como se nada tivesse acontecido, e sente ódio de todas as pessoas do Universo por não se importarem com você.

Daí você jura por tudo que é mais sagrado que nunca mais vai se importar com ninguém também, e deseja secretamente que todas as pessoas tenham uma morte lenta e dolorosa só pela sacanagem de não estarem nem aí pra você.

Daí o ódio vai tomando conta do teu ser de tal maneira que você sente uma necessidade incontrolável de gritar com alguém, e manda um "vá pra puta que o pariu" para o primeiro infeliz que cruza seu caminho, mesmo que esse infeliz seja apenas o carteiro que veio te entregar uma correspondência.

Daí você fica com mais ódio porque as pessoas começam a te olhar como se você fosse louca, mas esse ódio logo se transforma em uma tristeza profunda porque você constata que, puxa, depois de uma vida inteira de sofrimento você foi reduzida a isso: Uma louca.

Daí você chora. Chora copiosamente, chora de soluçar, sente-se uma fracassada por não ter conseguido ser outra coisa na vida que não uma mulher descontrolada, e chora mais. Chora com medo de ser internada num hospício, chora com medo de que as pessoas se afastem de você, chora porque a vida é injusta e quando se dá conta está novamente tomada pelo ódio de tudo e de todos: O mundo é uma merda; As pessoas são umas inúteis; Seus amigos são uns insensíveis e toda a humanidade é desprezível.

Daí você decide fazer algo por você mesma, quase como uma vingança: "O mundo não está nem aí pra mim? Então fodam-se todos! Eu sou autosuficiente e vou fazer meu dia melhorar!".

Daí você decide ir à loja de conveniências mais próxima e comprar muitos itens de primeira necessidade: Sorvete, Chocolate, Vodca, Cigarro e afins. Quando vai passar no caixa com aquele mundo de tranqueiras e o moço te olha meio desconfiado, você manda logo um "que que foi? nunca viu? vai cobrar logo essa merda ou vai ficar me olhando?", e então o moço passa suas compras rapidinho pra se ver livre de você o quanto antes, o que te provoca mais um pequeno ataque de fúria verborrágica e você não vai embora sem antes mandá-lo para a puta que o pariu.

Daí você volta pra casa com os batimentos cardíacos acelerados, num misto de fúria, prazer por estar se vingando da humanidade, e ansiedade para consumir logo os santos remédios que vão alegrar seu dia.

Joga-se no sofá, liga a TV e começa a tomar o sorvete direto no pote, porque você está sendo vítima de uma humanidade egoísta e merece fazer essa extravagância pelo seu próprio prazer. Vai tomando o sorvete compulsivamente nem sem sentir o sabor, intercalando com generosos goles de vodca e algumas baforadas, enquanto zapeia a TV em busca de algo que te distraia. Como TV é a imagem da Besta e não tem nada que preste, não demora 5 minutos pra você jogar o controle remoto longe e vê-lo se desfazer em mil pedaços, o que te dá um ódio mortal do fabricante desta merda frágil que não resiste ao menor impacto, e esse ódio logo chega ao fabricante do sorvete e do chocolate que não estão fazendo o menor efeito.

Merda de Sorvete! Merda de Chocolate! Merda de Vodca! É neste momento que uma nova crise de choro te domina, você continua tomando o sorvete sem nem sentir o gosto, enquanto as lágrimas pingam no pote, e você fica pensando que gastou um dinheiro à toa, porque aquilo tudo não vai te levar a lugar nenhum.

Daí você pensa mais uma vez nos seus amigos insensíveis que estão lá fora vivendo suas vidas normalmente enquanto você está em frangalhos, chora de ódio, chora alto, profere meia dúzia de palavrões impublicáveis entre soluços e fungadas, pega o celular e constata que ninguém te mandou um único SMS, e deseja mais uma vez que todos morram sozinhos como você está agora, porque se eles não estão nem aí pra você, então você também quer mais é que eles se danem.

Daí você decide tomar um banho pra tentar refrescar a cuca, chora durante vários minutos pensando que se morrer ali, eletrocutada pelo chuveiro, ninguém vai sentir a sua falta, e novamente decide fazer algo por si mesma: Ir às compras. Porque ir às compras é sempre uma santa terapia, meudeusdocéu, como você não pensou nisso antes?, e então você tem 5 segundos súbitos de ânimo e se arruma, pega sua bolsa, cartões de crédito, e sai, não sem antes olhar mais uma vez para o celular e, constatando que ninguém te mandou sequer uma mensagem perguntando se você estava bem, decide deixá-lo em casa. "Esse celular imprestável! Também agora quem não quer falar sou eu, se alguém me ligar, foda-se! Vou sair livre e fazer o que eu quiser!"

No caminho até o shopping você ainda chora um pouco, um choro mais contigo, mas suficiente pra borrar sua maquiagem, e então você fica com ódio do maldito fabricante desse rímel fajuto que não é à prova d'água coisa nenhuma!

Daí você encontra no trânsito toda sorte de motoristas ruins e lerdos, todas as barbeiragens daquele dia são cometidas justamente pelos carros que estão à sua frente ou ao seu lado, e quando um folgado passa do teu lado e te olha torto você manda logo um "vá pra puta que o pariu, tirou sua carteira por correspondência, é, seu barbeiro? vá aprender a dirigir! Auto-Escola tá aí pra isso!". E de repente você é tomada por uma fúria incontrolável e sai dirigindo no meio daquele bando de gente lerda como se estivesse numa perseguição policial, e deseja com todas as forças ter uma bazuca pra poder tirar da sua frente todos os imbecis que estão ocupando a sua parte da rua.

Bem alterada (mais?), finalmente você chega ao shopping. Enquanto roda atrás de uma vaga para estacionar, vê um imbecil parando na cara de pau numa vaga de deficiente. Não consegue se conter, desce do seu carro e vai lá tirar satisfações com o cidadão, apontando o dedo no nariz dele, e só depois percebe que no banco de trás do carro tem um cadeirante esperando ajuda para sair.

O motorista te olha como se você fosse louca, não ousa nem mesmo rebater suas acusações, apenas vira as costas e vai ajudar o cadeirante a sair do carro, mas você não acha que isso signifique que ele estava certo, porque, né? Com certeza é um imbecil. E um grande imbecil. Então antes de entrar novamente no seu carro e seguir a procura de uma vaga você ainda pára apoteoticamente e manda um "vá pra puta que te pariu", e sai batendo o pé. Encontrar uma vaga para estacionar demora tanto que quando você finalmente encontra já está chorando de novo, e neste momento você nem sabe exatamente o porquê.

Daí você limpa a maquiagem borrada pelas lágrimas, assoa o nariz mil vezes e finalmente vai às compras. Entra numa loja de departamentos e pega 15 cabides com roupas lindas que com certeza vão te fazer ser a pessoa mais notada do universo - abandono nunca mais! Vai para o provador, e não demora muito pra que você esteja chorando de novo.

Porque não basta estar na TPM, você ainda precisa inchar. Quando se olha naquele maldito espelho do provador da loja, você enxerga apenas um monte de banhas que não ficariam bem em roupa nenhuma, e começa a medir o próprio corpo com as mãos tentando se lembrar em que momento você ficou tão roliça. Inchaço, da cabeça aos pés. Seu tornozelo parece o tronco de uma árvore, sua coxa parece um colchão d'água, sua barriga parece um botijão de gás e nem a sua cara se salva, porque olhando com mais atenção você percebe que sua pele está um lixo que e meia dúzia de espinhas apareceram bem no meio da sua testa.

Soluços no provador. Que maldita vida injusta! Não basta a TPM acabar com a sua sanidade, ainda precisa acabar com a sua pele, com o seu corpo, com a sua vitalidade? Neste momento você também lembra do pote de sorvete consumido horas antes e da barra de chocolate devorada em segundos, e o ódio volta com força total, porque quem foi mesmo o cretino que disse que sorvete e chocolate resolveriam? Só te fizeram aumentar ainda mais de tamanho, e nessa hora a vontade de morrer é quase incontrolável.

Daí você pensa em cometer o suicídio ali mesmo, no provador, porque sendo um lugar público pelo menos seu corpo não apodreceria durante semanas, e quando começa a imaginar de quantas maneiras poderia cometer este suicídio é interrompida pela moça da cabine ao lado que quer sua opinião sobre um vestido deslumbrante que ficou perfeito em seu corpo desinchado.

Dá um ódio... daí você olha com um olhar fulminante para a tal moça magra e provavelmente sem TPM, e diz secamente: "Está uma merda! Esse vestido é muito brega, se eu fosse você procurava outra coisa", e depois ri sombriamente sozinha dentro da sua cabine lembrando da cara de frustração da moça ao ouvir a sua opinião azedíssima.

Mas o sorriso maquiavélico dura 5 segundos até que outras lágrimas cheguem, porque a vida é mesmo muito injusta ao colocar pessoas magras e felizes no seu caminho justamente no dia em que o mundo te abandonou e você está sofrendo solitária e inchada.

Daí você sai do provador e devolve para a moça os 15 cabides, e quando ela pergunta se você vai levar alguma coisa você responde: "Tudo uma merda. Essas roupas não prestam pra mim!", e sai meio a contra-gosto, porque sua real vontade era voltar lá e enfiar a mão na cara daquela moça sem graça do provador. O motivo você nem sabe exatamente qual é, mas a necessidade de dar uma porrada em alguém é tão avassaladora que de repente aquela moça do provador parece ser a vítima perfeita.

Daí você dá meia volta em direção ao provador decidida a dar um murrão na fuça da moça, e quando vai chegando perto começa a chorar de novo porque sua vida é mesmo patética, e você não consegue nem mesmo fazer compras em momentos assim. Tem vontade de ir lá e abraçar a moça, mas desiste e vai embora antes que a vontade de matá-la apareça mais uma vez.

Daí você passa em frente à farmácia do shopping, avista absorventes nas prateleiras e sente-se humilhada por ter que utilizar aquelas coisas todos os meses, e chora, chora, chora.. Chora tanto que num determinado momento o segurança do shopping te aborda pra saber se "está tudo bem", e você só consegue mandá-lo à puta que o pariu. Quem esse cretino pensa que é pra chegar assim, querendo saber da minha vida?

Daí você ainda tenta tomar um café, mas ele está com gosto de detergente. Tenta comer alguma coisa na praça de alimentação, mas todas aquelas pessoas felizes e famintas te irritam, e você sai rapidamente do lugar pra não voar no pescoço de um.

Como as pessoas ousar serem tão felizes enquanto você está sofrendo?

Daí você encontra um banco na saída para o estacionamento e senta para tentar decidir o que fazer. Chora mais uma vez, escondida pelos óculos de sol, e quando pensa em ligar pra alguém pra ouvir qualquer coisa que te anime, você lembra que deixou o celular em casa e, putaquepariu, deve ter mil ligações perdidas! Você precisa voltar pra casa pra receber o carinho das milhares de pessoas que a essa hora com certeza já sentiram sua falta e se preocuparam com você!

Daí você volta rapidinho pra casa, e quando chega pega o celular apenas para constatar que não há nenhuma ligação. Nenhuma chamada perdida, nenhum SMS, nenhum sinal de contato do mundo lá fora com a sua pessoa sofredora. Você sente que sua teoria está mais que comprovada, de fato se você morrer dentro do seu apartamento ninguém nem saberá, e então você chora, e chora, e chora mais um pouco.

Acessa sua agenda do celular e escolhe um amigo aleatório para ligar, para pelo menos ouvir um "tudo bem?" e poder responder que, não, não está nada bem, mas liga para 15 números diferentes e ninguém atende.

Quando finalmente seu celular toca e você sente-se gente pela primeira vez no dia, você atende e constata que é o cara do telemarketing da Oi querendo te oferecer um plano diferente. Então você jogar o celular longe, ele quebra, e neste momento você sai enlouquecidamente à procura de uma arma pela casa, qualquer arma: faca, tesoura, picador de gelo, qualquer coisa que possa ser enfiada no coração do primeiro cretido no cruzar seu caminho, porque, né? A Humanidade não merece seu respeito.

Cretinos! São todos uns Cretinos!

Enquanto você procura uma arma utilizável na sua casa, a ideia de assassinar alguém com requintes de crueldade vai tomando forma no seu cérebro, e então você entende que essa é a única coisa que talvez dê conta de aliviar o seu sofrimento tepeemístico, e a partir de então cometer assassinato vira seu objetivo de vida.

Você ainda chora um bocado, em intervalos cada vez menores, mas o fato é que sua ideia fixa durante a TPM é apenas essa: Matar um infeliz, porque a vida é uma merda, as pessoas são umas ególatras insensíveis, e você é uma vítima do universo que veio neste mundo pra sofrer.

É isso. Coisinha boba esse negócio de TPM, né?

Quem nunca se sentiu Treinada Para Matar que atire a primeira pedra! Eu sinto-me assim, todos os meses, ano após ano. Porque ser mulher, nessas horas, é a coisa mais filha da puta que existe no mundo. Um ser incompreendido. Uma Mulher Hormonalmente Descontrolada.

Quando isso tudo passa? Quando a maldita Menstruação chega... mas aí começam as cólicas e a vontade de matar dá lugar à vontade de morrer... e o drama continua... sempre... :/

(...)

** Agora é o momento em que vocês me dão um abraço bem apertado e me dizem baixinho, com carinho: "Eu te entendo, eu juro que te entendo... mas fique tranquila que vai ficar tudo bem!" (esse sim é um antídoto infalível! Fica a Dica!) **

3 comentários:

Fabiane disse...

Depois desse mar de tensão, raiva, ódio, caos, consumismo, calorias, hormônios à flor da pele e mais raiva, mais ódio, mais caos e todos hormônios descontrolados, só tenho uma coisa a dizer: espero que todos tenham uma certa cautela com você durante esses dias de martírio que insistem em nos acompanhar todo mês!
Ahh, vem que eu te dou um abraço! :)
Beeijo.

LaDespistada disse...

Caraca, mané!!! Já considerou tomar um sossega leão e apagar total durante esse período??? O foda é saber q qdo isso acaba dá pra contar nos dedos o espaço entre um tsunami e outro... Controle hormonal já, meu bem!!! Pelo seu bem e pelo bem da humanidade!!!
Força aí e se precisar conversar, sabe onde me encontrar!!!
BEIJOS!!!

Anônimo disse...

Queria estar a uma distância "não muito segura" e te abraçar.... será que um abraço virtual serve??? Tô longe pá caraio.....

Mas, falando sério... sei que é feio rir da TPM alheia, mas o texto me fez rir em meio ao caos que me encontro....

Farta, minha querida Farta... Graças a Deus TPM passa e um dia não vai ter mais!!!!

Besos