sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Improvável

Sou urbanóide.

Nunca acampei, não sei nadar, tenho pavor de bicho (bicho = qualquer ser minúsculo que se mova e/ou voe), sou alérgica a picada de inseto e não tomo banho de água fria nem mesmo no verão escaldante.

Nasci e me criei na cidade; sou totalmente dependente de energia elétrica, casa de tijolo, inseticida e repelente.

Toda vez que algum conhecido ia curtir o final de semana "na natureza" eu torcia o nariz inconformada, descrente que qualquer ser humano em sã consciência conseguisse encontrar algum prazer ou diversão no meio do mato, sem conforto nenhum e rodeado de bichos. Impossível!

Mas a gente muda, e só se dá conta disso quando, 2 horas depois de um convite de última hora, está de mochila nas costas pronta pra seguir viagem rumo ao PETAR, no meio do meio do meio do mato.

Sintomático.

Como se algo dentro de mim clamasse por qualquer coisa além do óbvio cotidiano. 

Como se minha alma implorasse por uma recarga de energia junto à natureza.

Como se o Eremita outrora adormecido ganhasse forma, contornos, força, vontade própria. 

E lá, no meio de uma Reserva deslumbrante de Mata Atlântica, entre bichos e matos e tantas outras coisas improváveis, eu me senti absolutamente VIVA. Viva como há muito não me sentia. Viva e com  uma rara vontade de viver com intensidade. 

Na Natureza Selvagem eu encontrei uma força que eu nem sabia que tinha, e coragem suficiente pra enfrentar muitos medos. Medos ridículos de urbanóide, mas ainda assim MEDOS.

Eu, claustrofóbica xiliquenta, explorei 7 cavernas e atravessei passagens minúsculas com relativa facilidade. Eu, medrosa, destrambelhada e atrapalhada, fiz trilhas extensas de mais de 3,5km mata adentro, com variados graus de dificuldade, subindo e descendo encosta, atravessando rio, transpondo obstáculos, tudo isso com relativa facilidade. Enfrentei água MUITO gelada dentro e fora das cavernas, mosquitos, barro, lama, e quando vi morcegos na Caverna do Cafezal nem saí correndo.

Não faltou fôlego, não faltou coragem, não faltou disposição, e sobrou vitalidade. Experiência transcendental. 

Epifania: Só a Natureza pode me ensinar tudo que eu preciso saber sobre a vida, sobre os outros, sobre tudo, e principalmente sobre mim mesma. Me senti meio Chris McCandless... Dona Farta Supertramp.

Eremita. 

Talvez as relações humanas já tenham me ensinado demais nessa vida, ou talvez seja apenas  essa minha humanofobia(*) cada dia mais aguda. Certezas eu não tenho, mas dizem que contra fatos não há argumentos, o que me leva a crer que talvez eu não esteja tão louca assim. Na base do eu-comigo-mesma, e com uma ajudinha das forças da natureza, sou uma pessoa infinitamente melhor. Definitivamente!

É um caminho. Talvez "O" caminho. Vamos acompanhar...



THIS!


Só pra constar (*1): Não é que eu não goste de gente, nem nada, muito pelo contrário, acho ótimo... Apenas não tenho curtido muito INTERAGIR com gente. Tenho brigado com todas as gentes que tentam se relacionar comigo, e já passei da fase de achar que ~ninguém me entende~; já consigo ter consciência de que sou eu mesma que ferro com tudo todas as vezes, e por isso a ~epifania eremita~ me trouxe tanto conforto. Cada um tem um caminho nessa vida, e o meu talvez seja menos óbvio, com mais mato e menos gente. É isso. 

Só pra constar (**2): Continuo tendo PÂNICO mortal de Barata, mas este ser demoníaco, vocês sabem, não tem absolutamente NADA a ver com natureza!

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Para ler ouvindo:


" Leave it to me as I find a way to be
Consider me a satellite, forever orbiting
I knew all the rules, but the rules did not know me
Guaranteed." 

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