segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Onde eu guardei o Desassossego

Uma sucessão de coisas acontecendo o tempo todo, não raramente todas ao mesmo tempo.

Coisas boas e ruins, alegres e tristes, empolgantes e frustrantes, prazerozas e doloridas, engraçadas e sem graça, positivas e negativas, bonitas e feias, legais e chatas, barulhentas e silenciosas, amáveis e odiáveis, que fazem rir e que fazem chorar, enfim... Todo tipo de coisas contraditórias, importantes e desimportantes.

Assim é a vida. A minha, a sua, a de todo mundo.

E a gente é o "como" a gente lida com essas coisas. De certa forma, ousaria dizer até que é isso que nos diferencia uns dos outros.

Tendo a acreditar que quem lida com as coisas de maneira mais intensa/visceral acaba, no fim das contas, sofrendo mais, porque sentimento - até quando muito bom - é algo que consome muita energia. Admiro profundamente quem consegue viver com intensidade moderada, porque essas pessoas acabam poupando uma energia que mais cedo ou mais tarde vai ser necessária, e eu, por exemplo, nunca tenho.

Por isso mesmo vivo experimentando novas técnicas pra tentar ser uma pessoa mais centrada e menos emocional, mas invariavelmente fracasso, e este fracasso acaba potencializando todos os outros sentimentos e... Bingo! A coisa fica ainda pior.

Não sei delimitar tempo, na verdade nem sei exatamente quando as coisas todas se intensificaram desta forma na minha vida, me perdi no mar de sensações, mas o fato é que ando numa batida de extremos tão extremos que minha vida se tornou algo quase inadministrável, uma oscilação eterna de céu e inferno que eu tenho plena consciência que é totalmente desnecessária e seria facilmente evitada se eu não fosse esse saco sem fundo de emoções superlativas e piegas.

E não há constatação pior na vida do que perceber que tudo começa e termina no seu próprio exagero, na sua própria visceralidade.

Daí eu mais uma vez coloco o Tico e o Teco pra funcionar numa tentativa desesperada de encontrar um caminho menos turbulento pra lidar com as coisas, busco modelos, traço estratégias, faço mil planos e decido fazer mais uma tentativa. Não posso ser assim pro resto da vida, não durarei muito se continuar nessa batida!

E então decido que o caminho talvez seja armazenar todas as emoções ao invés de lidar com elas. Já que não consigo dosar a intensidade, talvez o melhor caminho seja guardar tudo num lugar seguro e seguir adiante. Pode parecer covarde, mas a mim parece muito mais genial do que covarde, e então eu tento.

Crio um método de armazenamento de emoções e sensações e sentimentos dentro de mim, e a coisa começa a funcionar tão bem que faria inveja até à melhor empresa de logística do Mundo. Eu praticamente ganharia o selo Iso9001 de armazenamento de grandes quantidades de coisas em pouquíssimo espaço, e esta constatação me anima.

Talvez seja este o grande segredo da vida, afinal: Guardar todas as coisas no seu devido lugar, ao invés de insistir em deixá-las expostas só para parecer uma pessoa "intensa". (Aliás, quando é que ser "intensa" se tornou algo bom, admirável? Quem foi que propagou essa mentira???)

O fato é que assim me sinto livre. Livre para praticar o altruísmo, livre para experimentar outras coisas, livre para viver de verdade ao invés de passar todos os meus dias apenas administrando emoções. Me sinto leve, forte, segura, capaz de carregar o Mundo inteiro nas costas e ainda sorrir.

Vivo um inédito momento de calmaria até quando os tsunamis acontecem. Seguro todas as pontas sem derrubar uma única lágrima, e para uma "pessoa que chora" como eu isso é algo realmente significativo.

Vai tudo muito bem, e já consigo colher inclusive alguns resultados concretos.

Sou um sucesso! Um exemplo emblemático de equilíbrio físico-emocional. Cogito até escrever um livro de auto-ajuda que superaria inclusive o best seller "O Segredo".
Link
Mas... (porque na vida tem sempre que ter um MAS em algum momento)

De repente as coisas começam a ficar estranhas. Checo e constato que não há problema de espaço de armazenamento - a minha técnica de otimizar o pequeno espaço é realmente muito boa - mas as coisas que já armazenei parecem meio fora de ordem, não estão exatamente onde as coloquei.

Respiro fundo e decido tentar colocar ordem na casa. Tento pegar delicadamente cada emoção e removê-la para o seu devido lugar, mas é neste momento que tudo foge ao controle, e aquela visceralidade da qual tanto me esquivei vem à tona como um raio na minha cabeça, me levando de volta ao céu e ao inferno em frações de segundos, uma montanha russa de subidas e descidas tão radicais como eu jamais imaginei enfrentar.

Todas aquelas boas sensações que experimentei no curto espaço de tempo em que estive no controle do armazenamento das emoções desaparece como poeira no vento, e cada mínimo espaço da minha vida é preenchido automaticamente por um aglomerado de emoções tão intensas quanto contraditórias, e a única palavra que consigo encontrar pra me definir neste momento é perdida.

Me ocorre que talvez armazenar emoções não seja uma boa ideia. Fica bem claro, aliás, que guardá-las por um tempo apenas potencializa seus efeitos, e é impossível sair ilesa deste turbilhão.

Emoções armazenadas tornam-se armas de altíssimo poder de destruição, e eu definitivamente tô aprendendo a lição. Se ser intensa, dramática, visceral e piegas em tempo integral é horrível, mais horrível ainda é ter que lidar com tudo isso depois.

Mas o pior mesmo são os efeitos que isso produz nas relações que tenho com o Mundo. Não tenho como explicar de onde vem uma tristeza tão profunda ou uma alegria tão intensa. Não tenho como explicar porque estou gargalhando ou porque estou chorando. Não tenho como explicar tanta empolgação ou tanta frustração. Não tenho como justificar tanto amor e tanto ódio, e me torno uma pessoa ainda mais incompreensível.

Tudo porque tentei poupar o Mundo de mim.
Tudo porque tentei poupar eu mesma de mim.
Tudo porque nem sempre a gente é o que gostaria de ser, mas passa a maior parte da vida tentando ser o que a gente DEFINITIVAMENTE não é.




Um comentário:

Mateus Medina disse...

Olá dona Farta =)

Andava eu a procura de uma imagem para ilustrar um poema no meu blog, quando acabei por parar aqui.

Como não vi nenhum crédito na imagem, copiei e usei, caso haja algum problema, por favor me avise que eu retiro imediatamente.

No mais, a busca pela imagem acabou por me permitir ler o seu blog, que achei muito interessante e passarei a seguir.