segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Naquela Noite...

Naquela noite cinzenta de terça-feira Ela acordou surpreendentemente lúcida, apesar de sua absoluta fragilidade...

Observou com alguma dificuldade o movimento no seu quarto sempre cheio de visitas, tentando identificar os rostos e vozes que lhe rodeavam.

Fixou o olhar por alguns instantes no vazio, e sorriu para as pessoas, tentando esconder o fato de que já não mais as reconhecia.

Voltou seu olhar cansado para as filhas, que estavam como de costume aos pés do seu leito, e balbuciou baixinho: Flávia... Sílvia... Lígia... e mais uma vez sorriu.

Parou por uns instantes, novamente olhando para o vazio, e continuou, apreensiva: "Onde está a Cátia?"

Rapidamente lhe explicaram que a Cátia estava a caminho, e só então Ela se tranquilizou. Fechou os olhos e adormeceu, enquanto as filhas massageavam suavemente seu frágil corpo judiado por longos dias sobre a cama hospitalar.

Naquela mesma noite cinzenta de terça-feira, já bem tarde, Ela acordou pela última vez. Olhou satisfeita para as 4 filhas que permaneciam vigilantes ao seu redor, e num esforço descomunal esboçou um comentário orgulhoso para a enfermeira: "Essas são as minhas filhas. Estão todas aqui!".

Fixou seu olhar cansado nas filhas, observando atentamente cada rosto, como se estivesse tentando gravar a imagem feito uma fotografia dentro de si. Sorriu, e através daquele seu último e sincero sorriso disse às filhas tudo que queria dizer, transmitindo-lhes toda a sua infinita sabedoria, pela última vez.

...

Naquela noite cinzenta de 20 de Setembro de 2005 minha mãe deu seu último sorriso e seu último suspiro, e então partiu para descansar em paz depois de tanta dor e sofrimento, não sem antes se despedir de nós, as 4 filhas que ela sempre fez questão de manter unidas, as 4 filhas das quais ela tanto se orgulhava, as 4 filhas que foram a razão de toda sua existência, até seu último segundo.

Há 5 anos Ela partiu para irradiar sua luz e grandeza em algum lugar além do arco-íris... Mas continua viva dentro de nós, a mesma mãe vigilante e onipresente que sempre foi, cuidando de tudo com a mesma devoção, porque Ela é dessas:

Uma grande mãe;
Uma grande mulher;

Simplesmente a melhor que já existiu!



SAUDADES INFINITAS...

4 comentários:

Jéssica disse...

É difícil... Mas é a vida.
Tenho certeza que vc e as suas irmãs fizeram tudo que puderam.

Um beijo e um forte abraço! "/

Unknown disse...

Eu chorei quando terminei de ler...emocionante o modo no qual vc expressou seu sentimento, e também por ver que as 4 filhas estavam unidas!!!

Um grande beijo!

Anônimo disse...

Olá, vim retribuir a visita e agradecer pelo apoio. e claro, não poderia deixar de dar uma olhadinha no teu blog. é tocante como você consegue experimir toda a carga de emoção ao falar de sua mãe. ao lembrar dela. nota-se que ela foi uma mulher maravilhoa, apenas pelo seu relato. E para uma perda como essa, não há consolo possível, pois apenas o tempo pode ajudar a diminuir a dor, mas nunca cicatrizar a ferida. Lembre-se sempre dela com todo o amor que você ainda sente por ela, pois sei que em algum lugar ela está feliz, olhando pelas filhas!

Juliano disse...

eh, eu realmente consegui visualizar essa cena. Eu tenho gravado na memoria de maneira absurdamente clara o rosto da sua mae. Tenho certeza que ela estah em paz e cuidando do caminho que vcs 4 ( e seu pai tbm) continuam vivendo. Eu penso nela muitas vezes, interessante nao? Bjs Juba