domingo, 18 de dezembro de 2011

Tadinha da Ferrari

Eu tava aqui pensando... Que é muito triste a vida de uma Ferrari.

Ela é linda, robusta, pontente, cobiçada, venerada. Todo mundo quer, todo mundo deseja.



O problema é que ninguém quer ter uma Ferrari pra estabelecer uma relação cotidiana, como ir para o trabalho todos os dias, ir ao shopping fazer compras ou levar a família para passear. Quem quer ter uma Ferrari, quer tê-la para saciar um desejo, sentir-se poderoso, exibir-se para os outros, desfilar ostentando seu poder por aí. Quem quer ter uma Ferrari, quer tê-la não apenas pelas suas qualidades, mas principalmente pelo sentimento de conquista que TER uma Ferrari é capaz de provocar. É praticamente um Fetiche.

E a Ferrari, coitadinha, se frustra.

Se frustra porque antes de ser uma super máquina, ela é um carro, essencialmente um carro. E tem um motor pulsante sob o seu capô louco pra ser usado e aproveitado numa frequência muito maior do que apenas eventualmente. Tem sob o seu capô um motor que deseja desesperadamente ser abastecido frequentemente com doses generosas de combustível de boa qualidade. Tem sob o seu capô um motor que quer trabalhar, roncar, colocar a coisa toda pra funcionar o tempo todo, e não apenas servir de adorno temporário numa coleção de carros qualquer.

A pobre da Ferrari quer apenas ser o que nasceu pra ser - um carro - mas a alçaram ao patamar de super máquina, e a verdade é que jamais voltará a ser utilizada como um carro convencional. Está condenada. E por mais vaidosa que possa ser, por mais que seu ego se infle com tantos adjetivos superlativos que sempre encontram para descrevê-la, nossa Ferrari já está é de saco cheio de ser apenas um objeto de desejo. Ela nunca escolheu ser isso, na verdade.

Outro dia ela escutou seu dono dizer a um amigo: "Esse carrinho aqui (apontando para um utilitário recém adquirido) é carro 'pra casar'! É econômico, é eficiente, dá conta de me levar pra onde eu preciso todos os dias, é minha estabilidade! Já essa belezura aqui (apontando agora para a Ferrari) é meu troféu! É o símbolo de tudo que eu pude conquistar nessa vida."

Ficou arrasada, a pobre Ferrarizinha. Porque no seu entendimento, não fazia sentido ela ser dotada de tantas qualidades imbatíveis e o carro "pra casar" ser aquele utilitário previsível e careta. Não fazia sentido ela se esforçar tanto para ser o melhor carro que um motorista poderia sonhar querer, se no fundo tudo que ele quer, quando o assunto é relacionamento estável, é um utilitário previsível, careta e econômico.

Ficou arrasada, a pobre Ferrarizinha, porque sabe que poderia continuar sendo uma super máquina e ainda assim atender todas as necessidades cotidianas. Poderia muito bem continuar sendo um fetiche, e ainda assim estar preparada para os momentos de menor glamour. Poderia muito bem continuar sendo um carrão, mas sem jamais deixar seu dono na mão, fosse na estrada mais moderna ou na viela mais esburacada. Fosse a 200km/h ou a 15km/h.

Tudo que a Ferrari queria era ter uma chance de mostrar que não precisa ser descartada depois de conquistada. Tudo que a Ferrari queria era provar que ser um objeto de desejo não exclui outras possibilidades. Tudo que a Ferrari queria era que a enxergassem como o carro que ela de fato é, e não apenas um troféu.

Entretanto... Ninguém é uma Ferrari impunemente. E por ser algo totalmente fora do convencional e estar além dos padrões, ela está condenada ao limbo das coisas que são desejadas e des-desejadas após conquistadas; está condenada ao limbo de ser considerada a mais querida e desejada por todos, sem jamais ser de fato amada por nenhum.


Tadinha da Ferrari! :(

4 comentários:

Mateus Medina disse...

Eu sei que não é muito pra rir, mas eu ri rsrsrs.

Bela analogia, belo texto =)

Ricardo disse...

Sensacional. Um enfoque todo novo às belas e maravilhosas coisas e pessoas da vida. Temos muitas Ferraris espalhadas pelo mundo que deveriam ler este texto e entender que ELAS são as maravilhosas e os bobos que as vêem como ícone ou troféu são os pobres coitados. Tenha/viva com uma Ferrari mas mereça tudo de bom que ela tem para oferecer. O retorno é sensacional. Dona Farta, você é uma Ferrari!!!

Ricardo disse...

Sensacional. Um enfoque todo novo às belas e maravilhosas coisas e pessoas da vida. Temos muitas Ferraris espalhadas pelo mundo que deveriam ler este texto e entender que ELAS são as maravilhosas e os bobos que as vêem como ícone ou troféu são os pobres coitados. Tenha/viva com uma Ferrari mas mereça tudo de bom que ela tem para oferecer. O retorno é sensacional. Dona Farta, você é uma Ferrari!!!

Ricardo disse...

Sensacional. Um enfoque todo novo às belas e maravilhosas coisas e pessoas da vida. Temos muitas Ferraris espalhadas pelo mundo que deveriam ler este texto e entender que ELAS são as maravilhosas e os bobos que as vêem como ícone ou troféu são os pobres coitados. Tenha/viva com uma Ferrari mas mereça tudo de bom que ela tem para oferecer. O retorno é sensacional. Dona Farta, você é uma Ferrari!!!