segunda-feira, 6 de abril de 2009

Criança, a Alma do Negócio.

Assisti neste final de semana um documentário excelente transmitido pelo jovem e interessantíssimo Canal Ideal (TVA digital, canal 70).

"Criança, a Alma do Negócio" abre e explora o debate em torno da questão da publicidade direcionada ao público infantil e as consequências que estas imposições da mídia acarretam à infância de hoje.

É um trabalho muito valioso e deveria ser transmitido na TV aberta em horário nobre, porque nos mostra através de todos os pontos de vista envolvidos na questão - inclusive e especialmente o das próprias crianças - como esta publicidade que estimula o consumismo pelo consumismo é extremamente nociva e rouba todos os dias uma etapa importante da vida das nossas crianças.

Crianças que são incapazes de identificar os nomes de frutas e legumes numa feira livre, mas que conhecem de longe produtos industrializados e marcas do momento apenas por um logotipo. Crianças que escolhem comprar a brincar, que escolhem ir ao shopping a ir à praia, que escolhem TER a SER.

Quem são essas crianças? São os NOSSOS filhos, sobrinhos, netos, afilhados, primos, irmãos. São as nossas crianças, cada vez mais escravizadas pela televisão e por tudo o que este veículo lhes impõe, crianças que formam valores distorcidos porque aprendem desde cedo que "vale mais quem tem mais".

Fiquei muito chocada porque num determinado momento tudo aquilo que os profissionais diziam em seus depoimentos me parecia óbvio demais, mas ao mesmo tempo constatei que, apesar de óbvio, são circunstâncias para as quais acabamos fechando os olhos no nosso cotidiano, seja porque a correria nos impede de lidar com as crianças de uma maneira diferente, ou seja porque nós mesmos, enquanto pais, tios, padrinhos, etc, de certa forma "aceitamos" essa cultura do "quem tem mais pode mais", e acabamos transmitindo esse estilo de vida às novas gerações.

Tudo muito triste, porque uma infância perdida é algo que não se recupera jamais.

Fiquei pensando e lembrando da minha própria infância. Nem faz tanto tempo assim, 2 ou 3 décadas, e era tudo tão absolutamente diferente... Eu não consigo me lembrar, por exemplo, de comerciais de produtos infantis. Acho que até existia um ou outro, mas provavelmente eram tão raros que não afetaram diretamente os meus desejos enquanto criança, muito menos a qualidade da minha infância.

Se eu queria um brinquedo, queria para brincar com ele, e não apenas para tê-lo porque "todas as outras crianças tinham". Se eu ganhava um brinquedo (muito raramente), brincava com ele até ele se acabar, as bonecas ficavam encardidas, as bolas rasgavam, até os tênis furavam, porque a gente consumia para usar, e não simplesmente para consumir.

Era mesmo tudo muito diferente...

Hoje em dia as crianças acumulam caixas e mais caixas de brinquedos com os quais brincaram meia dúzia de vezes, se muito. Acabaram de ganhar um brinquedo e já querem outro, conjugam o verbo "comprar" muito mais do que o verbo "brincar", crescem antes da hora e podem carregar para o resto da vida as frustrações por tudo aquilo que não tiveram, principalmente aquilo que não se compra: a magia e o prazer de ser criança no mais amplo sentido da palavra.

Sem dúvida este é um debate fundamental nos dias de hoje, e deve servir pelo menos como um alerta de que devemos prestar mais atenção na maneira como estamos lidando com os desejos consumistas das nossas crianças. O SIM é muito mais tentador do que o NÃO. É muito mais fácil ser o adulto legal que dá tudo o que a criança pede do que ser o adulto chato que explica que não podemos ter tudo o que queremos e que isso não nos torna melhor nem pior do que ninguém, porque aquilo que somos de verdade não possui ligação nenhuma com aquilo que temos.

É um desafio e tanto, sem dúvida. Mas vale à pena refletir e tentar introduzir mudanças significativas na maneira como nossos filhos lidam com o consumo. O resultado, a longo prazo, será muito mais valioso do que qualquer compra que se possa fazer.

Eis abaixo o trailler do documentário "Criança, a Alma do Negócio", de Estela Renner e Marcos Nisti. Não deixe de ver!






E, com um pouco mais de tempo, veja também o documentário na íntegra, disponível no youtube, em 6 partes:



Bora salvar a infância das nossas crianças?

Um comentário:

Sissi disse...

FANTASTICO esse documentário. Muitos dirão que é óbvio, porém foi bem o que você disse, nós vemos, sentimos, mas não fazemos nada para salvá-los desse consumismo absurdo porque vivemos dele. Saudade, amiga. Beijos.