terça-feira, 8 de novembro de 2011

Incongruências

A gente constrói um castelo com tanto amor, cuidado e carinho, pretendendo morar ali para sempre, até que num belo dia, do nada, vem um terremoto e acaba com tudo.

Então a gente acorda do trauma entre os escombros daquilo que um dia foi a nossa razão de viver, fica chocado, arrasado, horrorizado, amedrontado, e se entrega ao sofrimento porque a gente tem certeza de que não há nada a fazer, apenas esperar o fim.

E a gente efetivamente fica esperando o fim, alternando momentos de revolta, tristeza, resignação, autocompaixão. É uma etapa horrível, e dura uma eternidade insuportável.

Mas é uma eternidade finita, porque feliz ou infelizmente em dado momento, ainda que a gente não queira ou não espere, acaba aparecendo a tal luz no fim do túnel, e a gente tem obrigatóriamente que levantar, sacudir a poeira e recomeçar.

E então a gente tenta recomeçar a construção, aproveitando uma infinidade de materiais novos que a gente descobre, aplicando a experiência adquirida, tentando melhorar as fundações para evitar um novo desabamento, tentando melhorar o conjunto da obra para, quem sabe, aproveitar pelo menos um pouco quando a nova construção estiver pronta, antes que outro desabamento acabe com tudo de novo.

Devia ser o momento em que tudo começa a melhorar. Se por um lado não existe sub-solo do fundo do poço, por outro lado existe apenas o céu como limite na caminhada inversa, então não haveria, em tese, motivos pra se preocupar...

Entretanto, aquele momento de retomada do controle, quando todos os caminhos se abrem sorridentes e totalmente iluminados, que devia encher a gente de otimismo e boas expectativas pode, sorrateiramente, se transformar na pior de todas as etapas, pior até mesmo que o próprio fundo do poço.

A vida não faz sentido, e a gente também não ajuda! Acho que nem Freud explica...

Depois do ápice do sofrimento, reconstruir o castelo devia ser menos doloroso, mas não é. E o pior é saber que não é porque a gente não deixa ser. Porque a gente não quer que seja. Porque a gente não quer sair dos escombros. Porque a gente no fundo fica alimentando esperanças de que em algum momento seremos salvos heróicamente, então a gente prefere ficar lá no fundo do poço esperando o momento épico acontecer, ao invés de seguir adiante na reconstrução.

A gente não gosta de sofrer, mas a gente não quer parar de sofrer. Porque a gente tem apego àquilo que a gente construiu, mesmo depois que tanto esforço se resumiu a um amontoado de escombros.

No fundo a gente quer acreditar que, por algum passe de mágica ou algo do tipo, em algum momento a gente vai acordar confortavelmente dentro do nosso castelo intacto, certos de que tudo não passou de um pesadelo.

No fundo a gente não quer abrir mão, porque pra gente nenhuma possibilidade de uma nova construção, por mais sólida e rebuscada que seja, é capaz de fazer a gente esquecer cada tijolinho empenhado naquilo que jamais devia ter ruído.

Há quem diga que isso é amor, e se for... POHANNN... Que merda que é o Amor, heim!

Serve apenas pra fazer a gente ser incongruente. E não sair nunca mais do lugar.

Doa-se um coração! Quero mais ter esse negócio que só me faz mal não!

Posso perfeitamente viver só com o cérebro, e inclusive ensiná-lo a suprir a função do coração de maneira mais inteligente e menos estúpida.

Seria muito mais legal viver!

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