sábado, 5 de novembro de 2011

Não!

O psicanalista provavelmente teria alguma explicação freudiana para o fato de eu ser uma pessoa que tem necessidade de dizer sempre SIM, mas acho que nem é preciso ir tão fundo.

De maneira extremamente simplista (e óbvia), ouso concluir que todos os meus SIMs decorrem de uma necessidade evidente de ser legal, de ser aceita, de ser querida. Necessidade típica de quem já sofreu (e ainda sofre, ou acha que sofre) muita rejeição, e que por isso precisa se esforçar mais que os outros pra se encaixar.

Assim construí minha vida, minha história, o que sou. E fui me encaixando, sendo aceita, sendo querida. Escolhi o caminho mais fácil, que é também um caminho covarde. E não, não me orgulho disso.

Acontece que de uns tempos pra cá tenho me esforçado (antes tarde do que nunca!) pra mudar esse padrão patético, não apenas por ter constatado de maneira traumática minha própria covardia, mas também porque acabei descobrindo que nem sempre "se encaixar" é a melhor opção. Raramente é, aliás. Existe muita superficialidade na aceitação decorrente do SIM, e como tudo que é superficial, chega uma hora que fica insustentável.

E então comecei a dizer alguns NÃOs.

Houve no início deste processo (e ainda há) muita dificuldade em cada NÃO, o SIM continua sendo extremamente tentador e resistir é quase impossível, mas estou tentando manter o foco, estou me esforçando, estou resistindo.

Não é uma experiência das mais agradáveis, devo pontuar. Além do medo de ser excluída e rejeitada, há um fator que pesa muito mais e com o qual ainda não aprendi a lidar: A CULPA.

Cada NÃO está diretamente ligado a uma CULPA absurdamente pesada, especialmente por eu saber que poderia muito bem ter dito SIM e facilitado tudo. E culpa é um negócio capaz de transformar a vida num limbo de dúvidas e incertezas, e é inevitável questionar se o NÃO foi mesmo uma escolha inteligente e corajosa, ou se foi apenas uma grande estupidez.

Quanto mais eu penso a respeito, mais dúvidas eu tenho.

Existe, entretanto, uma única e absoluta certeza neste blábláblá todo: Cansei de ser uma pessoa conveniente. Cansei de dançar conforme a música. Cansei de amputar pedaços de mim pra me encaixar em espaços que não me comportam. Cansei de ser aceita em lugares onde no fundo no fundo eu nem queria estar.

Preciso encontrar minhas verdades, mesmo sabendo que morrerei sem tê-las encontrado. Preciso pelo menos fazer esta busca, pra exorcizar tudo aquilo de mim que não tem nada a ver comigo.

O preço é bem alto, e já estou pagando, a duríssimas penas.

E, apesar de uma ou outra recaída (porque eu não sou de ferro), sigo explorando este novo, desconhecido e arriscado caminho da maneira mais honesta que consigo, de mãos dadas com o meu atual melhor amigo:



o NÃO.

Um comentário:

Mateus Medina disse...

Eu tenho a mesma dificuldade. Me vi um pouco "espelhado" nesse sue texto.

Talvez as razões sejam outras (ou não), mas não consigo precisar muito bem quais são. A verdade é que tenho uma dificuldade ENORME em dizer e lidar com a culpa, isso é fato.

Espero alguma dia entender - de verdade - e corrigir, porque é péssimo não conseguir lidar com isso...