Eu tava aqui pensando... que existe toda uma deturpação do sentido da palavra responsabilidade, deturpação esta decorrente em grande parte da nossa falta de coragem de bancar certas coisas na vida.
Explico-me: quantas e quantas vezes deixamos de fazer as coisas, deixamos de arriscar, deixamos de ousar, deixamos de investir em algo que poderia valer à pena, e usamos como desculpa o nosso senso de responsabilidade?
O Patrão Silvio Santos costuma dizer que a gente só consegue adquirir bens se fizer dívidas. E ele não é "o cara" à toa. Sabe das coisas, e tem toda razão! Poucas pessoas conseguem comprar o primeiro carro, o primeiro imóvel, o primeiro bem assim, à vista. A grande maioria dos mortais precisa do crediário, do carnê, do parcelamento do cartão de crédito, do financiamento bancário, do limite do cheque especial. E se endivida, e paga juros, e passa um bom tempo fazendo sacrifícios pra saldar as dívidas.
O Doutor Dinheiro (aquele do Fantástico), por sua vez, discorda do Patrão e diz que não, não devemos nos endividar. Devemos planejar tudo cautelosamente, devemos poupar por um período pacientemente, devemos juntar todo o dinheiro para só então comprar alguma coisa à vista. E sua tese tem todo um fundamento econômico que faz muito sentido. Parece, sem sombra de dúvidas, a mais responsável e segura.
Ambas as lógicas acima ilustram muito mais do que assuntos relacionados a dinheiro. Ilustram a vida, de um modo geral. Ilustram como lidamos com os impasses, como lidamos com desafios, como fazemos escolhas, como administramos nosso tempo. E obviamente o ideal seria, num mundo perfeito, seguirmos a filosofia do Doutor Dinheiro para não corrermos riscos nem pagarmos juros nunca. Mas e a graça da vida, ficaria onde?
Porque, vejam bem: se por um lado podemos controlar nossos ímpetos consumistas e esperar alguns meses até juntar todo o dinheiro pra comprar à vista aquela TV de última geração, por outro lado não temos como controlar o nosso tempo e o tempo alheio, a nossa vida e a vida alheia, o nosso sentimento e o sentimento alheio.
Ao contrário dos bens de consumo, a vida é imediata, é urgente, acontece em sua plenitude em tempo real, minuto a minuto, e pode acabar no minuto seguinte, a gente nunca sabe.
Porque vida não é como dinheiro. A gente não pode colocá-la numa poupança, a gente não pode guardá-la para vivê-la depois, a gente não pode apertar o stop e voltar ao ponto onde paramos depois.
A vida corre, as coisas acontecem e se modificam o tempo todo, estejamos nós em movimento ou não. E isso só nos faz acumular prejuízos, porque, ao contrário do dinheiro, economizar vida só nos faz perder tempo, experiência, oportunidades.
Então eu, particularmente, acho que se no quesito dinheiro podemos (e talvez devemos) seguir a lógica do Doutor Dinheiro, por outro lado tenho certeza que no quesito VIDA vale muito mais a lógica do Patrão.
A gente tem que ser mais irresponsável e parar de usar as obrigações e a falta de tempo como desculpa pra tudo! A gente tem que ser mais irresponsável e ousar, fazer dívidas, pagar juros, mas VIVER agora. A gente tem que se permitir!
Porque a TV de última geração continuará lá na prateleira esperando que você tenha o dinheiro pra comprá-la, mesmo que demore meses, mas a vida pode não estar mais lá quando você decidir vivê-la.
Permitam-me aqui um exemplo pessoal:
Durante muito tempo nutri uma vontade imensa de praticar uma arte marcial. Sempre dizia: "quando der tempo, quando as coisas estiverem mais calmas, quando tudo estiver sob controle, quando eu tiver dinheiro, vou me matricular numa escola!". Não preciso dizer que esta espera durou quase uma vida, né? As urgências do cotidiano sempre se sobrepunham à minha vontade, uma hora eu não podia porque não tinha dinheiro, outra hora porque não tinha tempo, outra hora porque estava cheia de problemas, outra hora porque tinha que trabalhar muito, outra hora porque havia alguém precisando de mim, e assim fui acumulando justificativas para não fazer aquilo que queria durante ANOS.
Há pouco mais de 2 meses fiz uma reflexão muito honesta sobre a minha vida e percebi que as urgências sempre estariam presentes. Percebi que por mais que eu me esforçasse, sempre haveria um objetivo novo no topo da lista me impedindo de realizar aquela vontade, sempre haveria uma prioridade nova, sempre haveria um desafio novo, sempre haveria uma desculpa para justificar o adiamento, e então decidi radicalizar: no meio do caos, com problemas de trabalho pipocando de todos os lados, com problemas financeiros, com problemas familiares, com o coração partido e com uma rotina mais corrida do que nunca, absolutamente exausta, fui até a escola e me matriculei no Muay Thai. 3 aulas por semana com duração de 1h30 cada uma. E tudo que posso dizer pra vocês é que até hoje faltei apenas 2 vezes.
E as coisas continuam funcionando como antes, de certa forma até melhor (bendita endorfina!). Não deixei de dar o melhor de mim no trabalho, não deixei de lidar com os problemas, não deixei de buscar meus outros objetivos, não deixei de cuidar do meu filho, não deixei de pagar minhas contas, não morri de cansaço e ainda por cima estou cuidando de mim!
O preço? Sim, sempre há um preço, e neste caso dentre outras coisas foi a diminuição do meu antes já minúsculo tempo de descanso e lazer, mas e daí? Os benefícios de eu ter conseguido levar adiante uma vontade, os benefícios de eu estar fazendo algo por mim e não apenas as obrigações chatas da vida, os benefícios de me sentir uma vitoriosa após cada aula cumprida se sobrepõem tanto ao cansaço que a única coisa que consigo pensar é: "por que demorei tanto pra fazer isso?".
Eu poderia continuar seguindo a filosofia do Doutor Dinheiro, esperando eternamente uma folguinha no tempo e no orçamento pra só então cogitar começar a fazer algo por mim, mas provavelmente eu morreria esperando. Tempo e Dinheiro não vendem em lojas, não nascem em árvores, e até onde eu sei são artigos em falta pra todo mundo. Então o único jeito é seguir a filosofia do Patrão e se endividar, se comprometer, pagar juros, fazer ginástica e dar um jeito.
Somos nós que determinamos a importância das coisas na nossa vida. Somos nós que estabelecemos nossas prioridades. Mas uma escolha não precisa necessariamente anular a outra, aliás, se você souber olhar do ponto de vista correto, ela não só não vai anular como vai somar.
Afinal de contas, ninguém consegue ser perfeitinho e responsável, ninguém consegue atingir objetivos e conquistar vitórias se não tiver um conjunto em harmonia: Corpo, Mente e Coração.
Descontextualizando e Parafraseando Geraldo Vandré,
"... quem sabe faz a hora, não espera acontecer..."
Explico-me: quantas e quantas vezes deixamos de fazer as coisas, deixamos de arriscar, deixamos de ousar, deixamos de investir em algo que poderia valer à pena, e usamos como desculpa o nosso senso de responsabilidade?
"Agora não posso, preciso focar no trabalho";
"Neste momento não dá, devo priorizar os estudos";
"Não tenho tempo pra isso, a vida anda muito corrida";
"Vou ter que abrir mão daquilo, porque tenho responsabilidades".
O Patrão Silvio Santos costuma dizer que a gente só consegue adquirir bens se fizer dívidas. E ele não é "o cara" à toa. Sabe das coisas, e tem toda razão! Poucas pessoas conseguem comprar o primeiro carro, o primeiro imóvel, o primeiro bem assim, à vista. A grande maioria dos mortais precisa do crediário, do carnê, do parcelamento do cartão de crédito, do financiamento bancário, do limite do cheque especial. E se endivida, e paga juros, e passa um bom tempo fazendo sacrifícios pra saldar as dívidas.
O Doutor Dinheiro (aquele do Fantástico), por sua vez, discorda do Patrão e diz que não, não devemos nos endividar. Devemos planejar tudo cautelosamente, devemos poupar por um período pacientemente, devemos juntar todo o dinheiro para só então comprar alguma coisa à vista. E sua tese tem todo um fundamento econômico que faz muito sentido. Parece, sem sombra de dúvidas, a mais responsável e segura.
Ambas as lógicas acima ilustram muito mais do que assuntos relacionados a dinheiro. Ilustram a vida, de um modo geral. Ilustram como lidamos com os impasses, como lidamos com desafios, como fazemos escolhas, como administramos nosso tempo. E obviamente o ideal seria, num mundo perfeito, seguirmos a filosofia do Doutor Dinheiro para não corrermos riscos nem pagarmos juros nunca. Mas e a graça da vida, ficaria onde?
Porque, vejam bem: se por um lado podemos controlar nossos ímpetos consumistas e esperar alguns meses até juntar todo o dinheiro pra comprar à vista aquela TV de última geração, por outro lado não temos como controlar o nosso tempo e o tempo alheio, a nossa vida e a vida alheia, o nosso sentimento e o sentimento alheio.
Ao contrário dos bens de consumo, a vida é imediata, é urgente, acontece em sua plenitude em tempo real, minuto a minuto, e pode acabar no minuto seguinte, a gente nunca sabe.
Porque vida não é como dinheiro. A gente não pode colocá-la numa poupança, a gente não pode guardá-la para vivê-la depois, a gente não pode apertar o stop e voltar ao ponto onde paramos depois.
A vida corre, as coisas acontecem e se modificam o tempo todo, estejamos nós em movimento ou não. E isso só nos faz acumular prejuízos, porque, ao contrário do dinheiro, economizar vida só nos faz perder tempo, experiência, oportunidades.
Então eu, particularmente, acho que se no quesito dinheiro podemos (e talvez devemos) seguir a lógica do Doutor Dinheiro, por outro lado tenho certeza que no quesito VIDA vale muito mais a lógica do Patrão.
A gente tem que ser mais irresponsável e parar de usar as obrigações e a falta de tempo como desculpa pra tudo! A gente tem que ser mais irresponsável e ousar, fazer dívidas, pagar juros, mas VIVER agora. A gente tem que se permitir!
Porque a TV de última geração continuará lá na prateleira esperando que você tenha o dinheiro pra comprá-la, mesmo que demore meses, mas a vida pode não estar mais lá quando você decidir vivê-la.
Permitam-me aqui um exemplo pessoal:
Durante muito tempo nutri uma vontade imensa de praticar uma arte marcial. Sempre dizia: "quando der tempo, quando as coisas estiverem mais calmas, quando tudo estiver sob controle, quando eu tiver dinheiro, vou me matricular numa escola!". Não preciso dizer que esta espera durou quase uma vida, né? As urgências do cotidiano sempre se sobrepunham à minha vontade, uma hora eu não podia porque não tinha dinheiro, outra hora porque não tinha tempo, outra hora porque estava cheia de problemas, outra hora porque tinha que trabalhar muito, outra hora porque havia alguém precisando de mim, e assim fui acumulando justificativas para não fazer aquilo que queria durante ANOS.
Há pouco mais de 2 meses fiz uma reflexão muito honesta sobre a minha vida e percebi que as urgências sempre estariam presentes. Percebi que por mais que eu me esforçasse, sempre haveria um objetivo novo no topo da lista me impedindo de realizar aquela vontade, sempre haveria uma prioridade nova, sempre haveria um desafio novo, sempre haveria uma desculpa para justificar o adiamento, e então decidi radicalizar: no meio do caos, com problemas de trabalho pipocando de todos os lados, com problemas financeiros, com problemas familiares, com o coração partido e com uma rotina mais corrida do que nunca, absolutamente exausta, fui até a escola e me matriculei no Muay Thai. 3 aulas por semana com duração de 1h30 cada uma. E tudo que posso dizer pra vocês é que até hoje faltei apenas 2 vezes.
E as coisas continuam funcionando como antes, de certa forma até melhor (bendita endorfina!). Não deixei de dar o melhor de mim no trabalho, não deixei de lidar com os problemas, não deixei de buscar meus outros objetivos, não deixei de cuidar do meu filho, não deixei de pagar minhas contas, não morri de cansaço e ainda por cima estou cuidando de mim!
O preço? Sim, sempre há um preço, e neste caso dentre outras coisas foi a diminuição do meu antes já minúsculo tempo de descanso e lazer, mas e daí? Os benefícios de eu ter conseguido levar adiante uma vontade, os benefícios de eu estar fazendo algo por mim e não apenas as obrigações chatas da vida, os benefícios de me sentir uma vitoriosa após cada aula cumprida se sobrepõem tanto ao cansaço que a única coisa que consigo pensar é: "por que demorei tanto pra fazer isso?".
Eu poderia continuar seguindo a filosofia do Doutor Dinheiro, esperando eternamente uma folguinha no tempo e no orçamento pra só então cogitar começar a fazer algo por mim, mas provavelmente eu morreria esperando. Tempo e Dinheiro não vendem em lojas, não nascem em árvores, e até onde eu sei são artigos em falta pra todo mundo. Então o único jeito é seguir a filosofia do Patrão e se endividar, se comprometer, pagar juros, fazer ginástica e dar um jeito.
Somos nós que determinamos a importância das coisas na nossa vida. Somos nós que estabelecemos nossas prioridades. Mas uma escolha não precisa necessariamente anular a outra, aliás, se você souber olhar do ponto de vista correto, ela não só não vai anular como vai somar.
Afinal de contas, ninguém consegue ser perfeitinho e responsável, ninguém consegue atingir objetivos e conquistar vitórias se não tiver um conjunto em harmonia: Corpo, Mente e Coração.
Descontextualizando e Parafraseando Geraldo Vandré,
"... quem sabe faz a hora, não espera acontecer..."
Nenhum comentário:
Postar um comentário