Eu, pelo menos,
NÃO ACREDITO...
Pessimismo não é uma coisa que combina muito comigo... Costumo pensar positivo, tento ser sempre otimista e usar isso pra impulsionar minha própria vida quando as coisas não vão muito bem...
Só que quando a gente encara a realidade assim, frente a frente, quando nos deparamos com uma realidade distante de nós, profundamente cruel, ah... aí fica difícil ser otimista, viu!
Eu estou na verdade revoltada, inconformada, e com raiva!!!
Ontem à tarde fui com a minha irmã Silvia lá na Instituição "Lar Amor ao Próximo", onde realizaremos hoje, sexta-feira, uma festinha de Natal e a doação de sacolinhas para as crianças, com brinquedos, roupas, doces e itens de higiene pessoal. Fomos lá pra levar uma parte das doações, pra tentar deixar tudo já "no jeito" para a festa de hoje, e eu aproveitei pra conhecer o lugar, pois até então só a Silvia tinha ido lá pessoalmente.
Eu costumo me envolver em trabalhos desse tipo desde os meus 15 anos... Já fui voluntária em casas de apoio a crianças soropositivas, já fiz muitas campanhas junto com amigos na época da Faculdade pra arrecadar doações para Instituições carentes, e já visitei muitos lugares do tipo - Creches, Asilos, Orfanatos, Favelas, etc... Já vi muita coisa nessa minha vida, e achei que já tinha visto de tudo...
Há alguns anos estou "distante" desse engajamento, ajudava de longe, mandando uma doação ou coisa do tipo, mas nunca mais tinha visitado uma Instituição. E fui no Lar Amor ao Próximo ontem... Trata-se de uma espécie de creche, que abriga muitas crianças, e ainda dá suporte a 25 outras crianças soropositivas que ficam numa Instituição ao lado, específica para portadores da doença. Fica num bairro chamado "Jardim Popular", aqui em Carapicuíba, um lugar muito, muito, muito, muuuuuuuuuuuuito pobre, miserável, feio, caótico, de acesso dificílimo... A Instituição propriamente dita fica no meio de uma enorme favela, um lugar que eu nem sabia que existia por aqui, um lugar longe de tudo, onde parece não haver civilização, onde não há saneamento básico, onde as ruas não são asfaltadas, onde a sujeira impera.
A sensação que tive ao chegar no lugar foi de "embrulho no estômago"... E durante o tempo em que fiquei lá, cheguei quase a passar mal... me deu urticária, eu fiquei muito descompensada... Não quero criticar a Instituição em si, porque como diz a minha irmã, "ruim com ela, pior sem ela"... Mas não dá pra entender como um lugar pode funcionar naquelas condições... Não sei de quem é a "culpa" pela péssima estrutura, provavelmente eles não têm dinheiro e não recebem recursos para manter o lugar minimamente organizado, provavelmente os pouquíssimos funcionários que trabalham ali não ganham nada ou quase nada, e provavelmente eles fazem um pequeno milagre todos os dias pra alimentar tantas crianças...
As crianças, por sua vez (mais de 100 entre 0 e 13 anos) ficam em polvorosa quando um estranho chega no local... Minha irmã com a pranchetinha na mão pra conferir os últimos detalhes e checar a lista dos apadrinhados era abordada pelas crianças a cada passo que dava, todas perguntando: "Tia, meu nome tá na sua lista?"... Sim, porque as crianças sabem, até os menores, que gente estranha por lá nessa época do ano é gente que vai trazer presente, que vai fazer festa, e eles ficam contando com isso...
O lugar não possui sequer um cadastro completo das crianças que abriga... Tanto que a lista da Silvia foi atualizada umas duas ou três vezes, e ainda assim existe o risco de algumas crianças ficarem sem as sacolinhas porque elas vão surgindo, brotam como água numa mina, e quem trabalha ali não tem a menor noção de quantas são, de quem são todas elas... Como o lugar fica no meio de uma favela, quando fomos chegando com o carro todos os moradores saíam na rua pra ver o que pra eles é novidade, e eles também sabem que carro por ali nessa época significa gente que vai levar alguma doação... Então, aqueles que têm filhos na favela, mandam os filhos correrem pra Instituição, pra tentarem entrar e "tirar uma casquinha" do que quer que seja que estejam distribuindo por lá... É uma loucura!
Várias coisas me chocaram nessa história... primeiro, a falta de limpeza... logo na entrada, há uma montanha de sacos de lixo jogados de qualquer jeito, alguns rasgados deixando o lixo aparente... restos de comida, fraldas, etc., e aquela nuvem de moscas varejeiras ao redor... Do lado, junto aos entulhos, crianças de todas as idades brincam correndo pra lá e pra cá, passando por cima do lixo, no meio das varejeiras, às vezes descalças, sempre mal vestidas, desagasalhadas (ontem estava nublado), e por aí vai...
O páteo, que é conjugado com o refeitório, é outro lugar imundo... velho, sujo, caótico! Ali, vi crianças bem pequenas dormindo no meio dos outros que corriam pra lá e pra cá, alguns num cantinho, sobre um sofá velho e rasgado ou uma mantinha estirada no chão mesmo.
Também me chamou muito a atenção o estado geral das crianças... Todas sujas, muito sujas... despenteadas, piolhentas, nariz escorrendo, descalças, roupas muito surradas, um cenário deprimente... E as funcionárias tentando fazer o que podem para pelo menos "guardar" aquelas crianças enquanto elas estão ali...
E é esse o ponto que mais me deixa pessimista, é esse o ponto que mais mexe comigo, é isso que mais me dá ódio da raça humana...
Deus, se é que Tu realmente existe, POR QUE RAIOS PERMITE QUE PAIS IRRESPONSÁVEIS COLOQUEM NO MUNDO CRIANÇAS SEM O MENOR CRITÉRIO???
Não há resposta lógica para essa pergunta, simplesmente não há!
A questão é que nesse nosso país de merda, não existem políticas de controle de natalidade, e o mundo vai sendo permanentemente povoado por crianças que nascem todos os dias exclusivamente para serem largadas como aquelas que eu vi ontem. Crianças que não possuem a menor estrutura familiar, crianças que não possuem mínimas condições de um crescimento saudável, crianças que vão crescer sem a mínima perspectiva de um futuro, crianças que se tornarão um dia adultos tão irresponsáveis como seus pais, porque são criadas graças ao assistencialismo, vivem do que os outros lhe dão, comem se alguém dá comida, vestem-se se alguém lhes dá roupas, e assim vai...
Ninguém faz nada pra mudar isso por uma razão muito simples: Apesar de miseráveis, essas crianças um dia serão Eleitores, e votarão em quem lhes dê pão e circo, votarão em quem lhes dê bolsa-alguma-coisa, votarão em quem lhes dê o maior número de coisas de graça. E viveremos pra sempre nesse ciclo vicioso do cão, nesse inferno, nesse caos social, nessa miséria nojenta que inibe qualquer chance de melhorar o Mundo... O Haiti é aqui!
Não estou sendo cruel, gente, não mesmo!!! Mas ninguém em sã consciência pode achar que alguma daquelas crianças vai ter um futuro melhor... Não há a menor possibilidade disso... Elas vivem à margem da sociedade que conhecemos, não recebem o mínimo de que precisariam pra um dia sair daquele mundo e tentar mudar de vida... Eu duvido que uma única daquelas crianças consiga um dia "ser alguém na vida", duvido mesmo! Quisera estar enganada, mas não estou! Não é de hoje que as coisas são assim, e a tendência é piorar!
Como eu disse no começo, chegamos lá e as crianças voaram pra cima de nós pra perguntar se seus nomes estavam na lista, ou seja: Desde pequenas elas aprendem a única lição que seus pais têm condições de lhes ensinar, que é pedir... Pedem tudo, e vão aprendendo que sempre aparece alguém pra dar, que sempre ganharão um presente de Natal porque sempre aparecerá algum grupo de pessoas disposto a fazê-lo, aprendem que se não tiverem dinheiro pra comprar comida, alguém dará uma cesta básica, e assim vão crescendo na cultura da lei do menor esforço, da passividade, do viver de esmolas, doações, bolsas-família e bolsas da puta que os pariu que o governo dá... Desculpem o palavrão, mas quem for até esse lugar com certeza vai ter vontade de soltar muitos outros palavrões, tamanha a indignação!
Eu fico com muito ódio das mães daquelas crianças... Tem muitos irmãos lá, só de uma mesma mãe tem uma escadinha de 5, entre 0 e 8 anos... De outra mãe, tem 3, e a história vai se repetindo... Juro que se eu encontrasse a mãe daquelas crianças na minha frente eu não responderia por mim... A vontade que tenho é de dar uma surra, sabe, encher de paulada, vontade de esganar a desgraçada e dizer: "FDP, porque você tem tantos filhos se não pode criá-los???"... Calma, não vou fazer isso, claro, mas dá vontade, gente, eu juro! Não consigo entender porque esse povo miserável gosta tanto de ter filhos!!! Qual a razão de por no mundo crianças para viverem daquele jeito???
Não precisa ser "doutor" pra saber que filho é uma mega responsabilidade. Não precisa ser muito letrado pra saber que quando se tem um filho a gente passa a ser responsável por uma vida, por tornar aquele pedacinho de gente um cidadão de bem um dia, por dar acesso a esse filho a tudo que ele puder ter pra lutar um dia pelo seu lugar ao Sol...
Tenho uma história parecida na minha própria família, quase todo mundo sabe... Tenho uma tia, irmã da minha mãe, que mora num conjunto CDHU lá pros lados do Jardim Guarani, Vila Brasilândia, sei lá o nome daquele lugar, na periferia da Zona Norte de São Paulo. Ela mal teria condições de criar 1 filho, vive na miséria, o marido nunca teve emprego fixo por muito tempo, não sustenta os filhos, essas coisas deprimentes... Mas, mesmo assim, ela teve 5, isso mesmo, 5 filhos! Porque reclamar da vida todo mundo reclama, mas na hora de ir lá fazer neném, as pessoas até viram os olhinhos, como eu costumo dizer! Caramba! Que ódio que eu tenho disso!
Só que são meus primos, sangue do meu sangue, minha tia é irmã da minha mãe, e quando minha mãe era viva, vivia indo lá "socorrer" os perrengues que minha tia passava e passa até hoje por ter tanta criança em casa e passar semanas sem um único real no bolso. Falta tudo... falta comida, falta roupa, falta cama, falta estrutura... A gente faz o que dá, ontem mesmo mandei duas sacolas gigantes com roupas e brinquedos usados do Lucas pela minha irmã Cátia, que vai lá uma vez por mês pra levar uma cesta básica... Eu e minhas irmãs sempre mandamos as coisas, tentamos minimizar o sofrimento das crianças, tentamos não deixá-los desassistidos, mas é difícil, são 5 crianças, mais 2 adultos, imaginem, 7 pessoas vivendo num apartamento minúsculo de 40 metros quadrados! Até pra ajudar fica difícil, porque tudo é multiplicado por 5! Mas é família, a gente faz o que pode, faz o que dá, e torce pra que pelo menos nesse caso, dos meus priminhos, eles consigam um dia dar a volta por cima...
Enfim... eu fico mesmo muito revoltada com tudo isso, e tenho certeza de que o Mundo nunca vai ser melhor... porque essas crianças vão crescer, virar adultos despreparados, e colocar no mundo outras tantas crianças assim como fizeram seus pais, e o ciclo vicioso vai crescendo, criando raízes, perdurando, tomando conta do mundo!
Que coisa triste... que coisa deprimente...
Mas vamos lá hoje, vamos fazer a festa pras crianças, que são inocentes, que não têm culpa de estarem no mundo, e que são capazes de soltar um sorriso puro mesmo vivendo daquele jeito! Quis vir desabafar aqui sobre esse assunto agora pra poder depois voltar apenas com o lado maquiado da história, apenas com a parte da festa e a sensação boa de ter feito alguma coisa por alguém...
Mas a real é que é só maquiagem... Neste caso específico, não dá muito nem pre ter a sensação de ter feito "uma pequena parte", porque a maquiagem é hoje, hoje tem festa, tem presente, tem brinquedo, tem alegria... mas, o que acontecerá com essas crianças durante os outros 364 dias do ano??? Ficarão lá, largadas, vivendo de qualquer jeito, sobrevivendo nesse mundo cão.
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