domingo, 9 de maio de 2010

MÃE

Dia das Mães.

Não há nada que eu possa falar hoje que eu já não tenha dito aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui ou aqui.

A saudade infinita que sinto da minha mãe é tema recorrente no Blog, e hoje, pensando no que eu escreveria pra ela, me ocorreu que já não encontro mais palavras pra expressar o que esta falta significa na minha vida.

Porque tudo na vida é finito, exceto o amor de mãe e a saudade que tenho da minha grande heroína.

É o 5o. Dia das Mães sem ela. Pela 5a. vez, esse segundo domingo de Maio não parece ter o menor sentido. Pela 5a. vez a saudade aperta e dói tanto que é impossível descrever. Pela 5a. vez eu choro copiosamente, inconformada por não tê-la aqui comigo...

Ela era meu chão, meu porto seguro, minha conselheira, minha confidente, meu exemplo, meu tudo. Continua guiando cada um dos meus passos, eu sei, mas não posso dizer que sua presença espiritual na minha vida me basta, porque eu queria mesmo poder beijá-la, abraça-la, deitar no seu colo e conversar horas e horas sobre todas aquelas coisas que há 5 anos não tenho mais com quem conversar... Esse vazio nunca acaba. Esse vazio dói cada vez mais.

Ainda assim, sobrevivo. Simplesmente porque foi Ela que me ensinou a ser guerreira e não desistir nunca, foi ela que me transformou na mulher de verdade que eu sou hoje, e vivo cada um dos meus dias focada no objetivo de jamais decepcioná-la, de deixá-la orgulhosa de mim, de fazê-la sorrir lá no céu feliz pelos frutos das sementes bem cultivadas.

Será assim todos os dias enquanto eu viver...

Porque sou filha de Dona Fátima, e tenho uma missão a cumprir. Porque sou filha de Dona Fátima, e ela me ensinou a seguir sempre em frente. Porque sou filha de Dona Fátima, tenho o sangue dela, a personalidade dela, e a obstinação que ela me ensinou a ter pra enfrentar essa jornada duríssima que é a vida.


Porque sou filha de Dona Fátima, e vou amá-la pra sempre... SEMPRE!

Feliz Dia das Mães, mãezinha!!!



"... no ventre da mãe bate o coração de Clara, Ana, e quem mais chegar..."


Essa foi uma das canções cantadas pelo meu filho na Missa das Mães realizada pelo Colégio na manhã deste sábado. Uma linda e singela canção, que neste trechinho que destaquei resume perfeitamente o amor de mãe: Ele é infinito... para Clara, Ana, e quem mais chegar.

Só as mães são capazes de tanto amor!

E eu sei disso porque fui muito amada pela minha mãezinha, assim como amo de maneira incomensurável o maior tesouro que tenho nessa vida: Meu filho.

Ser mãe é uma dádiva. É a viagem mais alucinante que se pode fazer. É a aventura mais emocionante que se pode viver. É a experiência mais intensa que se pode ter...

Sou grata por ter sido digna de tamanho privilégio. Sou grata por ter sido digna de um filho tão incrível. Sou grata por poder ser mãe e conhecer o verdadeiro significado do amor incondicional.

Feliz Dia das Mães!

quarta-feira, 5 de maio de 2010

1.095 Dias... 36 Meses... 3 Anos!!!


3 ANOS DE DONA FARTA NO AR !!!


E mais uma vez só me resta agradecer pela companhia de vocês durante esses mais de 1000 dias, que renderam a publicação de mais de 400 posts.

Comecei este Blog despretensiosamente, como forma de guardar em algum lugar os meus devaneios e minhas histórias, mas fui tomando tanto gosto pela brincadeira que hoje em dia sinto muita falta de não poder escrever com a mesma frequência de antes...

De qualquer maneira, e apesar da minha indisciplina na atualização das postagens, tenho conquistado uma audiência especialíssima, composta por pessoas que eu adoro e que sempre me prestigiam e me estimulam a continuar escrevendo, e por isso não desisto, pelo contrário: Busco melhorar sempre, pra oferecer pra vocês (e pra mim mesma) o melhor de mim!


Obrigada por virem sempre ao meu cantinho! Obrigada por lerem meus devaneios e por não desistirem de mim apesar dos meus deslizes!


O que começou de maneira despretensiosa hoje só faz sentido por vocês, queridos leitores! E por isso o parabéns vai pra vocês, que são verdadeiros heróis da resistência! =)


Bora pra mais um ano!!! Continuem acompanhando!!!

terça-feira, 13 de abril de 2010

Desburocratizando o Amor

amor
a.mor

sm
(lat amore) 1 Sentimento que impele as pessoas para o que se lhes afigura belo, digno ou grandioso. 2 Grande afeição de uma a outra pessoa de sexo contrário. 3 Afeição, grande amizade, ligação espiritual. 4 Objeto dessa afeição. 5 Benevolência, carinho, simpatia. 6 Tendência ou instinto que aproxima os animais para a reprodução. 7 Desejo sexual. 8 Ambição, cobiça: Amor do ganho. 9 Culto, veneração: Amor à legalidade, ao trabalho. 10 Caridade. 11 Coisa ou pessoa bonita, preciosa, bem apresentada. 12 Filos Tendência da alma para se apegar aos objetos.

(definição "técnica" segundo o Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa)


Pois bem. Se nos apegarmos exclusivamente à definição técnica do dicionário, já fica bem difícil compreender plenamente o que é Amor, pois temos uma definição muito abrangente e recheada de outras palavras cujo significado também é bastante subjetivo: desejo, afeição, carinho, veneração, etc.

Definir sentimentos, aliás, é algo quase impossível. Nem sempre existem palavras capazes de traduzir sensações que são muito particulares pra cada pessoa, sensações que muitas vezes são de fato indescritíveis.

E o AMOR talvez seja o sentimento mais difícil de se definir, tanto que ao longo dos tempos é fonte de inesgotável inspiração para poetas, romancistas, escritores, compositores, etc... Porque sempre pode haver um ponto de vista diferente, sempre pode haver uma palavra nova que tente se aproximar da grandeza do que supõe-se ser o amor. As possibilidades são infinitas.

Obviamente estou falando aqui do amor no contexto de um relacionamento afetivo, porque o amor no contexto de família e amigos não está em pauta, não por enquanto.

E o que eu queria mesmo dizer, ou perguntar, ou apenas colocar em pauta para divagar com vocês é:

"Por que burocratizamos tanto o amor?"

Quero dizer, por que relutamos tanto em admitir este sentimento quando de fato o sentimos? Por que temos essa necessidade de "segurar a onda" e não dizer "Eu Te Amo" para o outro, apesar de estar sentindo todas as borboletas no estômago que deixam evidente que algo muito forte e especial está acontecendo?

"Medo de demonstrar muita entrega", alguns responderão. "Medo de abrir a guarda e ficar vulnerável no relacionamento", outros dirão. "Medo de acabar pressionando o outro e colocar tudo a perder", e mais uma infinidade de respostas invariavelmente ligadas a medos que na maioria das vezes não passam de fantasmas que nós mesmos criamos.

Porque, vejam bem, se o AMOR é algo que se sente involuntariamente, o fato de não admiti-lo não nos protege de nada! O fato de não admiti-lo é apenas uma fuga covarde, que proporciona uma falsa sensação de controle quando nada mais está sob controle.

Quando eu digo que burocratizamos o amor, estou falando disso. As pessoas criam regras pra amar. Só se pode dizer "Eu te Amo" depois de um tempo X de relacionamento. Só se pode dizer "Eu te Amo" quando o outro também estiver pronto para dizer. Só se pode dizer "Eu te Amo" quando o relacionamento parecer estável. Só se pode dizer "Eu te Amo" se for diferente de tudo que já se sentiu, e por aí vai...

Uma série de regras fakes que só enganam a nós mesmos, além de impedir que o sentimento provoque tudo aquilo que de melhor ele pode provocar: entrega total, intensidade, visceralidade.

É a supervalorização de um sentimento que acontece independentemente da nossa vontade; É a burocratização de algo que acontece de maneira natural; É a racionalização de algo que não depende em nada da razão.

Qual o sentido de viver uma relação morna quando se pode incendiar tudo com o fogo do amor?

Já falei isso aqui algumas vezes e repito: Não vejo sentido em viver uma vida "mais ou menos". O que faz a diferença de verdade é a intensidade das relações que estabelecemos, independentemente do tempo que elas durem.

E se pra muitas coisas na vida temos que ser racionais, o amor não é uma delas. Para ser vivido plenamente, aliás, o Amor precisa de doses generosas de irracionalidade, porque ele quase nunca faz sentido, e justamente por isso é tão especial.

Se o amor por si só é dos sentimentos mais lindos que se pode sentir, as sensações provocadas pela verbalização do "Eu te Amo" são indescritíveis. E a partir delas há todo um universo sem fronteiras a ser explorado, que muitos casais deixam de explorar por conta desse controle bobo que só mascara e limita uma relação que poderia ser inesquecível.

Há que se dar espaço para os sentimentos para que eles possam florir. Há que se desburocratizar o amor e admiti-lo quando ele acontecer, sem regras, sem censura, apenas deixar acontecer.

Porque tudo na vida é efêmero, e condicionar a existência do amor a algo que vá durar "pra sempre" é bobagem.

"Pra sempre" é tempo demais...

E o verdadeiro "pra sempre" é cada um dos minutos que se vive intensamente, com entrega, com verdade. O verdadeiro "pra sempre" é aquele que a gente vislumbra quando vem uma vontade louca de dizer "Eu te Amo", por mais irracional que ela pareça.

O verdadeiro "pra sempre" é o agora daqueles que amam e são amados.


Diga "Eu te Amo" sempre que tiver vontade, deixe o amor existir, não tenha medo! Não verbalizar não vai fazer com que o sentimento não exista... não vai te proteger de nada, apenas limitar possibilidades infinitas que só o amor oferece.

Porque se você sentiu vontade de dizer, então é amor.

E se é AMOR, merece ser eternizado pelos momentos inesquecíveis que pode proporcionar... Mesmo que seja apenas enquanto durar!

domingo, 4 de abril de 2010

Vitrines

Arrumando meu armário outro dia, separei uma boa quantidade de roupas que não uso mais para doar. Elas estavam ali, ocupando espaço e me dando a falsa sensação de ter muitas opções de looks para montar, algumas nunca usadas, outras bastante gastas, muitas delas que já não me servem mais.

Fui separando as peças, dobrando e empilhando, enquanto me lembrava da história de cada uma delas. Algumas roupas, coitadas, nem história tinham, foram compradas no impulso de um deslumbre e depois condenadas a viver entulhadas no meu armário bagunçado. Outras, por sua vez, tem tantas histórias que me fizeram dobrá-las e desdobrá-las muitas vezes pra ter tempo de relembrar tudo.

Terminada a arrumação, olhei para o que sobrou no armário e tive uma curiosa constatação: A maioria eram peças velhas mas de excelente qualidade, que eu já usei muito e pretendo usar muitas outras vezes ainda, os famosos clássicos que nunca saem de moda e são sempre necessários. Já na pilha do descarte, a maioria eram roupas relativamente novas, mas que já não pareciam mais ter a minha cara. Roupas que foram usáveis por um curto período de tempo de um modismo passageiro, e que hoje beiram o ridículo, a ponto de eu contestar minha sanidade quando as comprei.

Exercitando meu direito supremo de "viajar", comecei a pensar no Mundo como uma grande Loja de Departamentos, uma grande Macy's onde estão disponíveis todas as pessoas que podemos escolher para fazer parte da nossa vida.

Nessa mega loja existem pessoas expostas nas vitrines, existem pessoas em destaque nos manequins e existem pessoas que estão simplesmente empilhadas sem muito critério nas prateleiras e penduradas nas araras do fundo da loja.

Os critérios de quem define quem vai ficar exposto são altamente subjetivos e contestáveis, mas é fato que os modelos expostos nas vitrines acabam tendo mais saída, são os mais procurados, até porque contam sempre com uma produção caprichada que muitas vezes ofusca suas verdadeiras qualidades (ou falta delas).

Isso porque o ser humano adora seguir uma tendência. Adora se sentir incluído, adora fazer parte de uma onda, e muitas vezes passa por cima dos próprios valores pra se sentir inserido num grupo que ele vê como exemplo.

Por conta disso, faz compras que não faria em outras circunstâncias, influenciado pela exposição da peça na vitrine, influenciado pela suposta tendência, influenciado pelo que pega bem aos olhos dos outros, abrindo mão de ousar e ser autêntico explorando as infinitas possibilidades que reservam os itens escondidos no fundo da loja.

Criar um estilo próprio na contramão da tendência não é uma tarefa fácil. Muito mais cômodo seguir os modismos e se encaixar logo no grupo do que ser visto como desajustado simplesmente por querer ser diferente. E justamente por isso acho que vale à pena refletir:

Quantas e quantas vezes nos deixamos levar exclusivamente pelo sugestionamento da peça exposta na vitrine?

Quantas e quantas vezes cegamos diante de uma vitrine reluzente, e sequer consideramos dar uma olhada no interior da loja?

Quantas e quantas vezes abrimos mão do nosso próprio estilo pra aderir a um estilo duvidoso que por acaso está em alta naquele momento?

Quantas vezes impedimos uma pessoa de se aproximar de nós simplesmente porque ela não parece ser do modelo que se convencionou ser aceitável, ideal?

Talvez por isso eu sinta tanta falta de identidade no mundo hoje em dia... Existem poucas pessoas autênticas e muitas pessoas iguais, previsíveis, óbvias, que seguem modismos e cuja personalidade é tão firme quanto gelatina.

Voltando ao meu armário, aquele que eu estava arrumando quando comecei este devaneio, e dando mais uma olhada nas peças que ficaram, constatei que quase nenhuma estava exposta na vitrine quando foi comprada, a grande maioria foi "um achado" que eu encontrei ao vasculhar no interior de uma loja. Peças boas, clássicas, de valor incontestável, que justamente por isso não precisavam da exposição na vitrine para serem atraentes, precisavam apenas dos olhos certos que fossem capazes de apreciar seu real valor.

Vivemos num Mundo cada vez mais vulnerável, onde as pessoas optam por um modelo exposto por preguiça de fuçar nas prateleiras no interior da loja, por medo de fugirem daquele modismo que se convencionou ser cool, e acabam seguindo tendências altamente duvidosas.

São todos uns tolos, na verdade! Mal sabem eles que muitas vezes são expostas na vitrine justamente as PIORES peças, porque sem a ajuda da exposição forçada, elas jamais atrairiam qualquer interesse, jamais desencalhariam.

Talvez de todos os desvios de personalidade, o pior seja justamente a falta de pulso, a falta de convicção, a falta de posicionamento, o medo de ousar.

Não há coisa pior do que gente que gosta do que todo mundo gosta só porque todo mundo gosta; Não há coisa pior do que gente que passa por cima dos próprios gostos só para se encaixar num modismo.

Gente que não se permite explorar todas as possibilidades, que cega para os verdadeiros tesouros ludibriado pela vitrine brilhante, e assim segue desconhecendo muitas das coisas (e pessoas) incríveis que a vida pode oferecer.

O que eu queria dizer hoje, com essa metáfora boba, é apenas que devemos tomar muito cuidado com o deslumbramento... o verdadeiro tesouro não precisa de publicidade, ele é procurado e desejado por todos, mesmo que esteja escondido no mais velhinho baú nos fundos da mais singela loja do bairro menos glamuroso.

E se for verdadeiro, vale pra sempre, não sai de moda com a mudança de estação, nem de ano, nem de século. Simplesmente vale. Acima de qualquer outra questão preserva o seu valor.

Pra sempre.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Mascarados

Todos os dias uma legião de pessoas mascaradas sai às ruas.

Usam máscaras que seriam dignas de destaque no mais grandioso Baile. Máscaras rebuscadas, cheias de firulas, brilhos, plumas e paetês. Máscaras glamurosas, expressivas, alegres ou tristes, bonitas ou feias, simpáticas ou assustadoras. Máscaras que chamariam a atenção em qualquer lugar, não fosse um pequeno detalhe: São invisíveis a olho nu.



São máscaras criadas pelas pessoas para proteger suas verdadeiras identidades e encenar para o mundo um "eu" falso, que existe apenas de mentirinha para viabilizar a inserção neste mundo cheio de regras, onde é necessário ser fake para se encaixar.

Porque, não se enganem: Não há lugar no mundo para pessoas autênticas que não gostam de usar máscaras. Essas são sempre taxadas de malucas, e invariavelmente excluídas por serem o que são.

O mundo é fake, a sociedade é fake, e por isso as máscaras viraram artigo fundamental na vida de qualquer um que pretenda encaixar-se.

Não seria muito mais lógico e simples se todo mundo tivesse o direito de ser o que é na sua essência? Não seria muito mais simples se as pessoas respeitassem umas às outras, especialmente em suas diferenças, ao invés de ficarem criando regras para cortar as asas de pássaros ávidos por voar?

Se "O Criador" de fato quisesse que fôssemos assim, tão padronizadinhos e previsíveis, não nos teria feito pensantes e possuidores do livre arbítrio!!!

É isso que mais me irrita na raça humana: Essa capacidade infindável de subestimar os próprios talentos, de limitar todas as possibilidades pelo simples fato de não querer lidar com consequências imprevisíveis.

É essa capacidade estúpida de inutilizar a própria inteligência em prol de uma vida morna, inventada, com roteiro clichê e totalmente previsível.

É essa mania idiota de julgar o outro pelo seu comportamento individual, pelas suas preferências, pelas suas opiniões, pelas suas escolhas, pelo que ele tem e pelo que aparenta ser.

Por que as pessoas tem essa necessidade de associar uma opção individual/privada a todos os outros aspectos da nossa vida? Um comportamento X tem obrigatoriamente que eliminar uma possibilidade Y??? Não!!! Claro que não!!!

Mas as pessoas se habituaram a aceitar essas regras sociais e morais sem contestá-las, sem refletir sobre elas, e esse comportamento passivo e covarde nos trouxe ao ponto em que nos encontramos hoje, onde pessoas que tentam resistir à robotização sofrem duras consequências por serem o que são.

"São as regras", dirão os mais conformados. "É assim que tem que ser!".

Que regras? Quem as inventou??? E onde está escrito que "tem que ser assim"???

Os argumentos são frágeis demais. Nenhum deles me convence. Parece apenas jogada de gente preguiçosa e covarde que, temendo críticas e julgamentos, se conforma sem questionar e sai por aí pregando aos quatro cantos uma falsa verdade para tentar minimizar as próprias frustrações.

Uma tentativa estúpida de padronizar os seres humanos como se fossem todos robozinhos de uma coleção, que tem a mesma cor, fazem os mesmos movimentos, andam para o mesmo lado e respondem aos mesmos comandos.

Outro dia estava conversando com um amigo querido pelo MSN e filosofamos alguns minutos a respeito disso. Porque, sim, pagamos um preço alto por tentarmos ser o que queremos ser na maior parte do tempo, enquanto a maioria das pessoas apenas é o que os outros querem que elas sejam.

Mas se por um lado pagamos um preço alto, por outro lado exploramos um universo de possibilidades que os outros nunca experimentarão. E é isso que faz a vida valer à pena.

Claro que vestimos nossas máscaras de vez em quando. Não há como fugir do "baile dos mascarados", é uma questão de sobrevivência, e em várias situações precisamos nos valer deste artifício e encarnar um personagem "socialmente aceitável".

Mas de minha parte, pelo menos, a máscara só é usada quando estritamente necessário. Procuro dispensá-la na maior parte do tempo, especialmente na minha vida pessoal, e ser tudo que eu posso e quero ser, viver uma nova descoberta a cada dia, quebrar a cara, ser julgada, sofrer preconceitos, mas também experimentar sensações indescritíveis e viver experiências inenarráveis.

Não preciso me esconder de mim mesma, nem de ninguém. Não preciso, não quero, não vou.

Tenho minhas liberdades individuais garantidas constitucionalmente, e enquanto não estiver fazendo mal pra ninguém, tenho o direito de ser qualquer coisa que eu queira ser, fazer qualquer coisa que eu queira fazer, viver do jeito que eu quiser viver, e não há regra social nenhuma que vá me fazer oprimir meus instintos afoitos por explorar essa experiência surreal chamada "vida".

O preço? A gente sempre paga, isso eu sei. Não é justo, mas é como é. Ainda assim, dou a cara pra ser julgada por gente hipócrita e medíocre, mas não me escondo. Parece um comportamento suicida, já me disseram isso, mas dane-se! Esconder-se é covardia. Pode ser uma covardia inteligente, mas ainda assim é covardia. E se tem uma coisa que eu abomino nessa vida é atitude covarde. Não sou dessas, não mesmo!

Não posso agir de maneira diferente daquilo que acredito. Talvez seja justamente isso que incomode tanto aos outros, que dedicam a maior parte de suas vidas a julgar o próximo, ao invés de viver.

Ser o que se pode ser torna a passividade do outro evidente, e os recalques aparecem. A inconfundível mediocridade da raça humana. Sinto vergonha, muita vergonha alheia!

Não há sentido em estar nesse mundo tão cruel a passeio. Não há sentido em dormir e acordar todos os dias apenas pra ser "mais ou menos". Não há sentido em lidar com tantos dramas da vida real se não houver uma mínima compensação por outro lado.

Não há sentido em dispensar o que de melhor a vida pode nos oferecer: o direito de sermos únicos, autênticos, de fazermos as escolhas que quisermos e experimentarmos tudo aquilo que tivermos vontade.

As máscaras? Sim, precisamos delas.

Mas não precisamos e não devemos ser escravizados por elas. Até porque se não tomarmos cuidado, "a criatura toma conta do criador".

E nada me tira da cabeça que é por isso que o mundo está do jeito que está. Muitas criaturas dominaram seus criadores, culminando numa legião de gente mal resolvida, recalcada, frustrada, uma legião de pessoas que não se permitem ser o que são de verdade pois viraram escravas das personagens que criaram para se encaixar na sociedade, e por isso acabam externando suas frustrações em forma de ódio, preconceito, intolerância, violência.

Um triste retrato da covardia humana. Não quero e não vou fazer parte disso!

"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é", já cantava Caetano.

Eu que o diga! Dores profundas, sofridas, que deixam marcas que nem o tempo apaga...

Mas por outro lado tem as delícias... ahhhh, as delícias...

Elas fazem tudo valer à pena! TUDO!


This is it!

quarta-feira, 3 de março de 2010

São apenas Adjetivos

Antes de começar mais uma divagação controversa, queria relembrar uma velha e fundamental lição de Língua Portuguesa que aprendemos logo nos primeiros anos escolares: a definição e a diferença entre substantivo e adjetivo.

Segundo a "enciclopédia virtual" (Wikipédia), SUBSTANTIVO dá nome aos seres em geral, e pode variar em gênero, número e grau, enquanto que ADJETIVO é uma palavra que atribui qualidade a um substantivo.

Partindo destas definições "técnicas", temos a primeira dedução lógica: O substantivo é muito mais importante que o adjetivo. Isto porque ele precisa "existir" para que o adjetivo tenha razão de ser. Um substantivo existirá ainda que nenhum adjetivo o qualifique. Mas nenhum adjetivo fará sentido sozinho, precisa necessariamente estar atrelado a um substantivo.

Pois bem.

Enquanto seres humanos, somos todos substantivos. Somos seres. Humanos. Apenas isso.

E cada ser humano, substantivo, pode ser uma infinidade de adjetivos que vão desde suas características físicas / biológicas - masculino ou feminino, por exemplo, até suas características psicológicas, de possibilidades infinitas.

À parte os adjetivos físicos, que nos descrevem tais quais somos - homem ou mulher, alto ou baixo, índio ou oriental, gordo ou magro, etc e tal, todos os demais são absolutamente subjetivos e dependem não apenas do que se é, mas especialmente daquilo que o outro que nos classifica é capaz de perceber em nós.

Por isso podemos ser classificados como chatos pra alguns e legais pra outros. Como bons para uns e ruins para outros. Como belos para uns e feios para outros. É tudo muito, MUITO subjetivo.

Mas, subjetivo ou não, variável ou não, o fato é que nenhum adjetivo é capaz de modificar o substantivo que se é. Podem nos classificar do que quer quer seja, podem nos atribuir a qualidade que for, mas jamais deixaremos de ser humanos.

Gente é apenas isso. GENTE.

E eu honestamente não entendo essa necessidade que a maioria das pessoas tem de rotular todo mundo o tempo todo. De se auto-rotular, inclusive.

Pior. Convencionou-se determinar alguns adjetivos como definições supremas de tipos de pessoas, e há uma tendência coletiva de nos jogar para uma dessas categorias de maneira compulsória, como se as coisas fossem assim, tão óbvias... como se fôssemos todos mercadorias de um supermercado e tivéssemos que ser obrigatoriamente alocados em prateleiras pré-determinadas.

Dentro dessas convenções estúpidas, você pode ser "legal ou chato"; "bonito ou feio"; "talentoso ou medíocre"; "alegre ou triste"; "heterossexual ou homossexual"; e por aí vai.

Criam-se rótulos que são utilizados para classificar as pessoas, rótulos estes que acabam inventando uma verdade absoluta que não existe!

Porque se enquanto substantivo seremos sempre humanos, podemos, por outro lado, ser legais num dia e chatos no outro; estar alegres num dia e tristes no outro; ter interesses heterossexuais num dia e homossexuais no outro. Tudo pode mudar, sempre, o tempo todo. E deve mudar. É saudável mudar. É da natureza humana, eu ousaria dizer.

Por isso essa mania de rotular todo mundo o tempo todo me irrita tanto. É mais uma das faces da hipocrisia. Mais uma das faces do preconceito, que tem essa necessidade de enquadrar as pessoas em modelos pré definidos pra depois julgá-las segundo essa classificação.

Tudo besteira! Enorme besteira!

De alguma forma nos condicionamos a viver sob estes rótulos, e é por isso que a maioria das pessoas cede a eles sem titubear. É mais fácil ceder a um modelo pré definido do que descobrir / inventar o próprio modelo.

Uma pena. Vejo gente rica em possibilidades limitando-se o tempo todo porque condicionou-se a viver sob um rótulo, e inconscientemente recusa todas as outras possibilidades.

Vejo gente rica em possibilidades limitando-se a um comportamento previsível, óbvio e às vezes até patético, simplesmente porque "comprou uma ideia" inventada, evitando os riscos (e as delícias) de novas descobertas.

Tanto potencial, tanta chance de crescimento, tanta possibilidade perdida apenas porque as pessoas colam em suas testas os rótulos das classificações imbecis que a sociedade criou, e vivem segundo estes rótulos que muitas vezes (quase nunca, eu ousaria dizer) refletem 100% do que se é de verdade.

Tenho observado muito isso quando o assunto é, por exemplo, sexualidade. Eis um dos assuntos mais impregnados de clichês desde que o mundo é mundo. E quando eu olho de perto pra todos eles, só tenho vontade de sair correndo.

Porque eu, particularmente, não me enquadro em definições. Não aceito tomar como meu um único adjetivo, isso não me basta. Eu não quero e não vou limitar minhas possibilidades. Não sou uma coisa nem outra. Sou todas as coisas. E ainda sou capaz de inventar tantas outras. Depende do momento, da vontade, da oportunidade, da química.

Esse é o grande barato. É descobrir que onde convencionou-se confeccionar apenas 2 ou 3 rótulos, existem na verdade muito mais possibilidades. É quebrar todos os paradigmas e provar senão pra ninguém mas pra si mesmo que tudo é possível, ainda que não exista um adjetivo pra definir essas "possibilidades"...

Repito: eu vejo gente se limitando o tempo todo. Eu vejo gente infeliz com o que escolheu ser, porque não cabe num único adjetivo, mas não consegue escapar dele. Eu vejo gente cedendo a um modelo que não é autêntico apenas para se sentir inserido num meio. Eu vejo gente usando rótulos inadequados, que funcionam apenas como cerceadores de liberdade, o que é muito, muito triste.

O grande barato da vida é libertar-se de tudo que impõe barreiras ao pleno exercício do SER.

Siga suas vontades. Experimente. Existe todo um universo de coisas inclassificáveis ou inclassificadas. E é lá que encontramos as melhores possibilidades. Porque se não há classificação, não há regras. Eis a minha praia!

Nenhum adjetivo modifica o substantivo que se é. Mesmo.

Somos todos GENTE. Seres humanos pensantes. Disso não temos como fugir. Todos temos composição física similar - coração, pulmões, cérebro, blablabla, mas psicologicamente falando somos um mar infinito de possibilidades... E devemos sê-lo. Intensamente.

Não vamos negligenciar tanta riqueza... liberte sua vontade... solte sua imaginação... crie novos adjetivos. Porque ser chato ou legal é muito óbvio. Ser homo ou hetero é muito óbvio. E ser óbvio é para os medíocres. É para os pequenos. É para os que não ousam e que tem medo de descobertas.

Existe um universo ilimitado a ser prazerosamente explorado... Basta pra isso que libertemos nossas almas e a deixemos voar de acordo com os sentidos impublicáveis e indescritíveis que todos nós sabemos que existem, mas ignoramos para manter-nos ligado aos padrões pré fixados...

Há quem esteja nessa vida a passeio e contente-se com pouco, mas eu NÃO SOU uma destas pessoas. Não quero rótulos, não tenho rótulos, não busco rótulos. Sou e quero ser inclassificável. E manter sempre as portas das possibilidades abertas.

Quero entender tudo que for possível. Quero experimentar tudo que for possível. Quero viver tudo que for possível. Quero SER tudo que eu puder ser.

Com toda a intensidade que eu conseguir, porque, parafraseando um amigo querido, "é assim que eu sei viver!"

This is It!

Beijos Fartos!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A multiplicidade da Paixão

pai.xão (lat passione) subst. feminino 1. Sentimento forte, como o amor, o ódio etc. 2. Atração amorosa. 3. Gosto muito vivo. Acentuada predileção por alguma coisa. 4. A coisa, o objeto dessa predileção. 5. Rel. Os tormentos padecidos por Cristo ou pelos mártires.

(definição "técnica" do Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa)


Não, este texto não pretende definir ou explicar o que é Paixão; seria uma pretensão tola, primeiro porque a definição técnica já está feita em qualquer dicionário da língua portuguesa, como no exemplo acima, e segundo porque tudo o que não está escrito ali é subjetivo demais pra ser explicado.

Quero falar sobre outra coisa. Sobre a multiplicidade da Paixão.

Seria possível apaixonar-se por duas mais pessoas ao mesmo tempo? O que você pensa sobre isso?

Eu, pessoalmente, penso que SIM, é perfeitamente possível, e não vejo isso como uma atitude cafajeste, como muitos veriam.

Explico-me.

Apaixonar-se é uma das poucas coisas que a gente não escolhe, tampouco controla. Simplesmente "acontece", por uma convergência de fatores que estão fora do nosso controle.

Invocando a definição técnica da palavra, diz o dicionário que "paixão é a acentuada predileção por alguma coisa".

E quem foi que disse que só podemos ter predileção por uma "coisa" de cada vez? Desde quando nosso cérebro e, principalmente, nosso coração está treinado pra fazer essa seleção?

Não, não está, e é por isso que é perfeitamente possível que aconteçam múltiplas paixões, todas legítimas! E quando isso acontece, a pessoa sofre horrores por ter que fazer uma escolha que, obviamente, é das mais difíceis. Uma escolha que ela não necessariamente precisaria fazer, se fôssemos todos menos hipócritas e mais fiéis ao nosso próprio EU.

Ok. Podem se chocar.

Mas a minha verdade é que sempre achei que o ser humano é essencialmente poligâmico; biologicamente poligâmico, aliás, e por alguma razão que não nos cabe discutir agora a sociedade se organizou desta maneira que conhecemos, e à exceção de algumas culturas espalhadas pelo mundo, impõe-se a monogamia como prática "moralmente correta" através dos tempos.

Imposição altamente contestável, mas quem sou eu pra contestar algo assim? Eu não estava lá quando tiveram a "brilhante ideia" de dizer que só podemos nos apaixonar por uma pessoa de cada vez, e se hoje em dia isso é uma verdade absoluta, bem... talvez de fato muitas pessoas acreditem que é assim que deve ser.

Respeito demais essa posição, desde que exista convicção, e não apenas uma adequação ao que se impõe pela sociedade.

Acho que limitar a paixão a "uma experiência por vez" é limitar aquilo que temos de mais abundante, que são as emoções. Porque o homem pode perder tudo na vida, pode perder até sua dignidade, mas jamais perde a capacidade que tem de sentir emoções, de apaixonar-se.

São as emoções que nos guiam pelo caminho através do qual escrevemos nossa história. O ser humano é pura emoção. A emoção comanda a vida até mesmo daqueles durões que se dizem guiar pela razão.

A própria razão, aliás, não deixa de ser um tipo de emoção, disfarçada de autocontrole, mas é emoção.

Qual a lógica em limitar as emoções impondo regras que o coração não reconhece?

Podar emoções é uma atitude egoísta com os outros e, principalmente, com a própria alma; é economizar aquilo que nos transborda, quando na verdade sentimento bom é aquele que a gente usa, sente com vontade, põe pra fora, expressa, gasta, abusa.

E, por favor, não me interpretem mal. Não estou fazendo apologia à infidelidade ou qualquer coisa que o valha. Respeito as convicções de cada um, mas acredito que sempre é tempo de refletir.

É um ponto de vista incomum, polêmico, que talvez seja de difícil aplicação na vida real porque estamos todos ligados a uma série de regras sociais que nos limitam de todos os lados, mas ainda assim é legítimo, porque pra mim, pelo menos, faz todo o sentido.

Uma amiga me disse esses dias: "Estou perdida! Apaixonada por duas pessoas ao mesmo tempo! O que eu faço?", e a minha resposta foi: "Onde está o problema? Viva suas paixões! Por que você quer escolher se o sentimento é legítimo em ambos os casos?"

Se há emoção suficiente para que você se apaixone por mais de uma pessoa ao mesmo tempo, escolher apenas uma delas significa negligenciar toda a outra parte do seu sentimento, sentimento este que não se pode simplesmente transferir ao escolhido, porque, lembram-se? Não exercemos controle sobre a paixão!

E o que se faz com esse sentimento "não-sentido"? O que se faz com a parte que se apaixonou e não pôde exercitar a paixão?

Reprime-se. E tudo aquilo que é reprimido, um dia transborda. Invariavelmente de maneira danosa. Tudo aquilo que é reprimido pode contaminar todo o resto, e os prejuízos podem ser irreparáveis.

A verdade é que, no meu mundo ideal, todas essas regras que limitam os nossos instintos e a nossa natureza enquanto seres humanos seriam deletadas. No meu mundo ideal existira apenas uma regra soberana e absoluta, o RESPEITO.

Com respeito tudo é possível, TUDO. Até mesmo uma paixão compartilhada.

Acredito verdadeiramente que se O Criador nos fez dotados de inteligência foi justamente para que pudéssemos fazer nossas escolhas livremente, utilizando o raciocínio e analisando as variáveis envolvidas - sempre há prós e contras, e correr riscos é um desafio constante.

O que a sociedade fez foi criar regras que limitam nosso livre arbítrio. Regras que "pensam" por nós e "decidem" por nós. E com isso negligenciamos a inteligência tão precisosa que temos. Abrimos mão de viver 100% o que há pra viver para nos moldar a um padrão construído com base em referências que não são nossas.

Uma vida fake. Valores muitas vezes falsos. Paixões economizadas. Sentimentos reprimidos. Como se fôssemos todos bichinhos adestrados para viver de uma maneira pré estabelecida. Pra que inteligência, se existe um código de conduta que nos diz até mesmo como e quanto sentir?

Penso que nada disso faz sentido.

Porque se por um lado nada é verdadeiramente eterno, tudo pode ser eterno enquanto durar.

E pra ser eterno, tem que ser vivido, experimentado, sentido... Com toda a intensidade que puder ser. Com toda a multiplicidade que couber no teu ser.

** Apenas para esclarecer, nem tudo que escrevo aqui é sobre MIM. Estou querendo dizer que não, não estou apaixonada, muito menos por 2 pessoas. Mas poderia estar, e quis falar sobre isso porque alguns amigos queridos discutiram o assunto comigo recentemente, o que acendeu minha "luzinha" e me fez vir aqui dizer o que penso. É isso.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Troca

Não tô comprando, nem vendendo, nem doando, nem recebendo doações. No momento, só estou aceitando troca. De preferência SEM troco. Porque esse negócio de troca com troco acaba deixando alguém em desvantagem. E desvantagem é o Freddy Krugger da vez, é a palavra do espanto, é tudo que me dá mais medo, é tudo do que eu mais quero fugir.

Porque viver em desvantagem é um saco, sabe? Não vou nem dizer que é insuportável porque não é, a gente pode muito bem passar a vida todinha no vermelho que, se não contar, muita gente nem vai perceber. Exceto, é claro, aquele nosso eu de verdade, que existe bem lá dentro e que, coitado, segura ou pelo menos tenta segurar todas as barras que criamos.

Estou falando de relações, caso ainda não tenha ficado claro.

Uma das constatações mais duras que tenho feito nos últimos tempos está relacionada a isso. A gente estabelece relações muito loucas na vida, algumas que não fazem o menor sentido quando olhamos assim, “de fora”, e o pior de tudo é que muitas vezes a conta é tão desencontrada que uma das partes acaba sempre perdendo, às vezes perdendo muito.

A verdade é que não dá certo comprar, nem vender, nem doar, nem receber doações. Porque zerar mesmo, a gente só zera com troca, e é isso que eu estou buscando, às custas de mudanças bruscas que, obviamente, serão mal interpretadas – não me iludo, não se iluda.

Me peguei pensando outro dia em quantas pessoas só me sugam, sabe? E nem estou falando daquela coisa mesquinha e planejada de quem faz isso “de propósito”, estou falando mesmo é de parasitas que sequer percebem o quão parasitas estão sendo. Isso vai desde aquela amiga que joga sempre um “Ah, você precisa organizar aquele jantar com a turma porque só você consegue organizar um evento deste porte” (e assim, numa jogada que tentadoramente parece lisonjeira – você é a líder da turma – acaba jogando mais uma vez uma tarefa chata e trabalhosa no seu colo), até aquele parente que vem sempre com um problema no qual você é especialista com o argumento de que “só alguém com a sua competência pode ajudar”.

Percebem como o sanguessuga vem quase sempre travestido de admirador? Porque isso facilita as coisas, né? Quem consegue dizer não depois de um elogio? Quem consegue dizer não quando as pessoas parecem fazer questão de deixar claro que SÓ VOCÊ pode resolver determinado problema, quando as pessoas fazem questão de (fingir) que você é insubstituível?

E aí a gente, besta que é, cai na tentação e acaba mantendo essa relação doente, em que uma parte está sempre tirando vantagem e a outra – olha o bicho papão aí, gente! – em total desvantagem. E isso tem um preço, e pra mim, esse preço é bem alto.

Cansei. Mas cansei mesmo, cansei muito, cansei totalmente. Odeio essa sensação de ser OTÁRIA e odeio perceber como as pessoas tem facilidade em me fazer de besta. Não quero mais, acabou, já era.

Estou tentando me afastar de algumas pessoas que não tem nada para me oferecer EM TROCA. É duro, porque existem variáveis que ficam ali te tentando a manter o caminho mais fácil do “Ah, não me custa nada mesmo”, mas preciso ser forte, preciso ser! Preciso manter o foco e analisar tudo matematicamente, se quiser obter os resultados exatos que preciso agora.

Eu quero gente que me desafie, eu quero gente que me enriqueça, eu quero gente que me mostre outras visões das coisas, eu quero gente que me conteste, eu quero gente que possa também me dar, sem ficar a vida inteira só tirando.

É doloroso, mas é hora de romper vínculos e parar de fazer negócios nada lucrativos. A lojinha está fechada, e só pode entrar quem souber a senha.

A partir de agora, só aceito TROCA.


** A título de esclarecimento, este texto já foi publicado em outros lugares há algum tempo, mas SIM, a autoria é minha e SIM, por razões que não vem ao caso, faz sentido publicá-lo aqui no meu cantinho agora.


quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

E se a roda enguiçar?

Algumas coisas na vida são tão perfeitas que a gente não consegue nem fugir do clichê.

E uma dessas obviedades é o fato de que ela - a vida - é perfeitamente cíclica.

Uma roda-gigante real, onde num momento se está lá no alto, e no momento seguinte inevitavelmente se estará lá embaixo.

Não há como evitar, a menos que se pule pra fora da roda no meio do caminho, mas aí seria o fim da brincadeira, e brincar de roda gigante só tem sentido quando se dá muitas voltas, porque a cada subida e a cada descida muda o cenário e mudam as sensações, e é isso que faz a experiência de girar, e girar, e girar realmente valer à pena.

Ainda assim, por mais que eu tenha essa consciência, fico sempre receosa quando passo por uma fase boa, já que de certa forma ela é o prenúncio de tempos difíceis.

O ruim do bom é que as expectativas tendem a ser mais negativas. É a probabilidade. É a estatística. É o princípio matemático da vida.

É a vida girando.


O que nos leva a uma outra questão, que é o quanto de energia estamos dispostos a empregar no caos.

Se sabemos que ele virá, por que será que não conseguimos encará-lo de forma diferente? Por que será que nunca nos preparamos para as dificuldades que instintivamente sabemos que vamos enfrentar?

Estatísticas (de novo elas!) mostram que por mais que tentemos influenciar fatores externos para nos proteger de um período difícil, ainda assim é pouco provável que tenhamos êxito.

Não conseguimos mudar as pessoas. Nem a ordem natural do ciclo. A roda é perfeita e gira de um jeito só. Não à toa, é das maiores invenções da humanidade.

E se não podemos mudar o funcionamento da roda, nos resta apenas tentar mudar individualmente, internamente, aquela mudança para a qual não dependemos de mais ninguém a não ser de nós mesmos, única forma de passar a encarar os problemas com mais coragem e menos drama.

Porque, repito, fatalmente chegará o momento em que sua roda te levará para o nível mais baixo, e se não há como fugir disso, até por instinto de sobrevivência, talvez inteligente mesmo seja mudar o comportamento e aliviar a passagem pelas trevas, ao invés de dramatizá-la.

Sofremos muito nessa vida. Minha mãezinha sempre dizia que "nascemos pra sofrer", e por mais que essa pareça uma afirmação amargurada, acreditem, não é. Se nascemos pra sofrer, o que vier diferente disso é lucro, concordam? Eis o pulo do gato!

Algumas pessoas se entregam ao sofrimento. Se deixam tomar por uma espécie de conformismo e resignação que não só as deixam estacionadas sem evoluir como as coloca no pior patamar: Aquele de quem se entrega à autopiedade, tem pena de si mesmo e se conforma em viver uma vida exercendo apenas o papel de vítima miserável da própria sorte.

Pessoas que se comportam assim possuem o estranho poder de fazer a roda enguiçar. A roda gira até o nível mais baixo e simplesmente pára. Fica lá muito mais tempo do que ficaria, enquanto seu passageiro valoriza cinematograficamente cada segundo de sua passagem pelas trevas, conseguindo involuir, quando tinha tudo pra evoluir.

É preciso um mínimo esforço pra evitar que isso aconteça. Porque, não se engane, a tentação da autopiedade é poderosa, e consegue dominar até pessoas tidas como fortes e bem resolvidas. É cômodo. Atrai holofotes. Atrai atenção e alimenta a resignação de quem não quer se esforçar além do previsível pra fazer a roda girar.

Lute contra seus infortúnios e vire o jogo. Encare a vida de frente, tenha coragem, não se vitimize dos problemas porque eles acometem a você, a mim, a todo mundo. E a maneira como você vai encará-los é que abrirá teus olhos para enxergar outras belezas quando chegar novamente a hora de a roda girar, e você subir.

O fim é sempre o mesmo. Subir e descer, todos vamos. O que torna as pessoas maiores ou menores, melhores ou piores, é a dinâmica, a originalidade e a criatividade que conseguem ter para lidar com as oscilações previsíveis, tornando a vida sempre interessante, fazendo-a sempre valer à pena.

Eu, pessoalmente, quero mais é girar. E apesar do medo dos momentos de descida, uma certeza eu tenho: Farei tudo ser diferente, sempre, até no pior sofrimento. Porque não vim nesse mundo pra viver de obviedades. De previsível, basta o movimento da roda. O que depende de mim, será sempre imprevisível. É muito mais interessante!

E se todo mundo faz de um limão uma limonada, eu faço é uma caipirinha.

Porque viver, pra mim, só se for com prazer!

domingo, 24 de janeiro de 2010

Aconteceu de Novo!

Vocês devem estar lembrados da história de Miss M, a moça que queria fazer um 2010 diferente. É recente, aconteceu outro dia e eu contei aqui, em detalhes.

Pois então. Nem ia fazer outro post porque seria praticamente um "copy/paste", mas como muita gente se solidarizou com Miss M, sinto-me na obrigação de dizer pra vocês que, SIM, aconteceu de novo!

Pobre Miss M...

A ocasião, no caso, era a celebração do aniversário de uma amiga. Da melhor amiga de Miss M, Miss G.

5 amigas no total. 5 lindas mulheres, livres, leves, soltas, felizes, resolvidas, produzidas, totalmente dispostas a causar tudo que fosse possível no "Miss G's Day".

A celebração aconteceu em várias etapas, começando numa light reuniãozinha de meninas numa noite, um papo mais animado num barzinho noutra noite, e o ápice ocorreria na balada "rock'n roll", onde (quase) tudo é permitido e onde as possibilidades das meninas, digamos assim, são mais equilibradas.

Partiram. Chegaram. Causaram.

Adentraram o lugar no exato momento em que a banda começava a tocar Kiss - "Rock'n Roll All Night", e Miss M não pôde deixar de pensar que, puxa, aquilo devia mesmo ser um bom sinal. A casa estava cheia, muito mais do que da última vez, e o número de pessoas interessantes saltava aos olhos. Todos os tipos, para todos os gostos, de todas as faixas etárias, um mar de possibilidades.

Miss P e Miss G, as amigas mais sagazes de Miss M, logo ligaram seus radares e identificaram dezenas de alvos com pontencial. Em pouco tempo algumas fichas já estavam lançadas, mas Miss M, sempre mais cautelosa, apenas observava e curtia intensamente a boa música.

E não demorou para que rolasse o dejà vu...

Numa rápida olhada em volta Miss M percebeu que havia uma pessoa olhando-a. Olhando-a não, devorando-a com os olhos. Uma pessoa que sequer piscava enquanto acompanhava cada um dos seus movimentos.

Ficou confusa, achou que fosse impressão e comentou com as amigas, pedindo que elas avaliassem se a situação era mesmo o que parecia ser. Em poucos minutos todas as amigas confirmaram: Sim, Miss M estava sendo alvo do primeiro freak da noite, um moço meio ruivo, meio albino, cabelo desgrenhado, barba por fazer, aparentava ser muito jovem mas também tinha expressões de alguém bem mais velho, uma figura bem peculiar, mas não foi nada disso que assustou Miss M.

Na verdade o rapaz era mesmo muito, muito esquisito. Olhava pra Miss M de um jeito altamente assustador, e por um instante ela agradeceu por estar com suas amigas para constatar que não, não era um exagero da sua cabeça. O cara era realmente um freak-freak, daqueles que se destaca em qualquer multidão.

Rodeou Miss M por uma boa parte da noite. Não lhe desgrudava os olhos, não a perdia de vista. A galera enlouquecida vibrando com a banda e ele lá, parado, com a mão no queixo e o olhar fixo em Miss M. Assustador. Parecia cena de filme.

Miss M e suas amigas foram se misturando entre as pessoas, tentando relaxar apesar da presença desconfortável do freak ruivo, tentando interagir com outras pessoas, e depois de muito tempo o rapaz desapareceu. Alívio geral. A noite recomeçava para Miss M, aparentemente pra valer.

Sensação esta que durou pouco mais de 5 minutos. Porque foi no intervalo entre uma entrada e outra da banda, quando as pessoas se dispersam um pouco e a adrenalina baixa, que as amigas de Miss M a alertaram sobre outra presença bizarríssima: "Reginaldo Rossi Albino".

Não sabe quem é Reginaldo Rossi? Espia aqui. Agora visualize-o albino, com o mesmo olhar, o mesmo cabelo, a mesma idade, o mesmo "charme". Eis o segundo freak que colou em Miss M na noite. Porque, claro, não preciso nem falar que o alvo do Reginaldo Rossi Albino era Miss M, né? Óbvio! Quem mais na face da terra atrairia alguém tão tão tão tão tão bizarro?

Ninguém, senão nossa heroína!!!

Deu muito trabalho despistar o freak number two. Porque ao contrário do primeiro, esse era mais ostensivo. Fazia questão de tentar flertar com Miss M, que já estava pirando porque pra todo canto que olhava cruzava o olhar com aquela aberração. Teve vontade de sair correndo, mas foi contida pelas amigas e pela banda que voltou ao palco trazendo de volta a multidão dispersa e, com ela, alguma distância do Reginaldo Rossi Albino. Alívio.

Miss M já tinha desistido de qualquer possibilidade. Decidiu curtir o final da balada se jogando no rock'n roll, foi pra frente do palco e cantou, gritou, dançou, chacoalhou a longa cabeleira vigorosamente pra frente e pra trás, e mais uma meia dúzia de clichês roqueirísticos que lhe fizeram se sentir protegida de qualquer freak que pudesse se aproximar.

Enquanto isso suas amigas circulavam pelo local, porque, ao contrário de Miss M, as amigas costuma ter melhor sorte em suas investidas. E ela lá, na frente do palco, feliz da vida porque, de tudo de tudo, mais uma vez teve pelo menos boa música, um show fantástico altamente revigorante.

Já estava quase amanhecendo quando os instrumentos calaram e a balada chegou ao fim. A casa esvaziando devagarinho, Miss M e suas amigas finalmente sentaram-se para descansar os pés moídos pelos saltos altíssimos e esperar até que a fila do caixa diminuísse e pudessem ir embora.

Conversavam animadamente, cada uma contando seus próprios "causos" vividos naquela noite, quando Miss M, distraída, foi cutucada por um mocinho oriental que trazia consigo o "amigo" também oriental, uma versão anã de um lutador de sumô, talvez seja essa a melhor definição.

O amigo mais descolado (e menos freak) disse que estava intercedendo pelo outro amigo (o lutador de sumô anão), pois ele estaria "interessado" em Miss M e teria observado-a a noite toda.

Miss M quase engasgou quando se deu conta de que sua noite de terror ainda não havia acabado, mas conseguiu engolir em seco e sorrir (porque ela nunca é cruel ou grosseira), e apenas disse gentilmente que a noite já estava acabando e ela já não estava mais disposta e conhecer ninguém.

Mas freak que é freak, vocês sabem, não desiste fácil, então apesar das negativas educadas de Miss M, o pequeno lutador de sumô não arredou pé, e ela ficou ali, cercada, sem conseguir sair do lugar.

Teve vontade de gritar pedindo socorro, mas a casa já estava bem vazia e as poucas pessoas que ali permaneciam pareciam alteradas demais para lhe oferecer qualquer tipo de ajuda. Também não parecia muito sensato pedir socorro quando seu algoz era uma versão miniatura de um lutador de sumô, então apenas muniu-se de coragem, respirou fundo para conseguir ser suficientemente grosseira e saiu quase correndo em direção ao banheiro, empurrando os freaks e largando-os falando sozinhos.

No banheiro, confrontou-se com o próprio reflexo no espelho, a aparência já entregando o cansaço de quem curtiu intensamente a noite, a maquiagem levemente borrada, os cabelos bagunçados, mas ainda assim um reflexo bonito.

Perguntou-se mentalmente o que será que haveria em si para atrair tantos freaks, SÓ os freaks, e mais uma vez cedeu à gargalhada inevitável, porque questões como essa só podem ser isso: Uma piada da vida.

E se a vida é uma piada, ou lhe faz de piada, Miss M apenas ri.

Porque, afinal de contas, melhor ser uma piada do que passar a vida em branco.

Pelo menos as piadas perpetuam-se, e sempre haverá alguém pra lembrar delas.

Que assim seja!