sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Trechos - AMQRL

"... Eis um pequeno fato: Você vai morrer..."

"... Reação ao fato supracitado: Isso preocupa você? Insisto - não tenha medo. Sou tudo, menos injusta..."

"... Eu poderia me apresentar apropriadamente, mas, na verdade, isso não é necessário. Você me conhecerá o suficiente e bem depressa, dependendo de uma gama diversificada de variáveis. Basta dizer que, em algum ponto do tempo, eu me erguerei sobre você, com toda a cordialidade possível. Sua alma estará em meus braços. Haverá uma cor pousada em meu ombro. E levarei você embora, gentilmente..."

"... A pergunta é: qual será a cor de tudo nesse momento em que eu chegar para buscar você? Que dirá o céu?..."

"... Uma pequena teoria: As pessoas só observam as cores do dia do começo e no fim, mas, para mim, está muito claro que o dia se funde através de uma multidão de matizes e entonações, a cada momento que passa. Uma só hora pode consistir em milhares de cores diferentes. Amarelos céreos, azuis borrifados de nuvens. Escuridões enevoadas. No meu ramo de atividade, faço questão de notá-los..."

"... Um anúncio tranquilizador: Por favor, mantenha a calma, apesar da ameaça anterior. Sou só garganta... Não sou violenta. Não sou maldosa. Sou um resultado..."

"... Uma observação: Um par de guardas do trem. Um par de coveiros. No frigir dos ovos, um deles dava as ordens. O outro fazia o que lhe mandavam. A pergunta é: e quando o outro é muito mais do que um?..."

"... Uma definição não encontrada no dicionário: Não ir embora: ato de confiança e amor comumente decifrado pelas crianças..."

"... Em circunstâncias normais, o Sr. Steiner era um homem admiravelmente bem-educado. Descobrir que um de seus filhos se encarvoara até ficar preto, numa noite de verão, não era o que ele considerava circunstâncias normais.
- O menino é maluco - resmungou, embora admitisse que, com seis filhos, era fatal que acontecesse uma coisa dessas. Pelo menos um tinha que ser a maçã podre. Neste exato momento, ele a olhava, à espera de uma explicação.
- Bem?
Rudy arfou, dobrando-se e pondo as mãos nos joelhos.
- Eu estava sendo o Jesse Owens - respondeu, como se fosse a coisa mais natural do mundo para se fazer. Em seu tom havia até um quê implícito que sugeria alguma coisa do tipo "Que diabos isso parece ser?" Mas o tom se desfez quando ele viu a falta de sono recortada sob os olhos do pai..."

"... Os dois dobraram algumas esquinas até chegar à Rua Himmel, e Alex disse:
- Filho, você não pode sair por aí se pintando de preto, escutou?
- Por que não, papai?
- Porque eles o levam embora.
- Por quê?
- Porque você não deve querer ser como os negros, nem os judeus, nem qualquer um que... que não seja nós..."

"... Os dois andaram em silêncio por algum tempo, até Rudy dizer:
- Eu só queria ser como o Jesse Owens, papai.
Dessa vez, o Sr. Steiner pôs a mão na cabeça do menino e explicou:
- Eu sei, meu filho, mas você tem um lindo cabelo louro e olhos azuis
grandes e seguros. Devia estar feliz com isso, está claro?
Mas não havia nada claro..."

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