quarta-feira, 14 de maio de 2008

A História do Caroço de Ameixa (especial de aniversário)

Uma das coisas que faz mais sucesso aqui no Blog são as "Histórias de Dona Farta"... Todo mundo se diverte com o relato das minhas aventuras atrapalhadas, e não foi diferente com a história do caroço de ameixa, um marco da minha infância.

Pra quem não leu na época, aproveite agora! É um post longo (pra variar), mas garanto que vale à pena ler até o final!

(texto publicado originalmente em 13/11/07)

Tivemos uma infância extremamente simples, mas foi uma infância feliz... Bons tempos em que precisávamos apenas de um quintal pra brincar e descobrir o mundo...

Morávamos numa casa simples de 3 cômodos, e como o terreno era grande, tínhamos um quintal imenso, com mato, terra, pedra, e até um poço! Havia um pequeno pedaço do quintal pavimentado, protegido por uma cerquinha de madeira, onde minha mãe estendia roupa lavada, onde havia o nosso balanço de metal, e onde passávamos a maior parte do dia, brincando e aprontando...

Minha irmã Silvia sempre foi muito mais esperta do que eu... Apesar de ser um ano e meio mais nova, ela sempre foi muito "espoleta", era magrelinha então tinha facilidade de subir aqui, se pendurar acolá, correr, etc... Já eu sempre fui meio "tchonga", sempre fui meio lerda... Era gorduchinha, não tinha muita agilidade, era medrosa e uma manteiga derretida...

Mesmo com essas diferenças gritantes, eu e a Silvia éramos muito parecidas quando crianças, e minha mãe, é claro, costumava nos vestir iguais... me lembro que sempre quando saíamos alguém vinha e perguntava: "São gêmeas"?

Também éramos (e somos até hoje) muito diferentes na personalidade, mas isso nunca foi obstáculo para que fôssemos extremamente próximas, pelo contrário... pode até ser que isso tenha nos ajudado a ser tão amigas, como se uma completasse a outra.

Normalmente, casas onde existem muitos irmãos são também palco de brigas frequentes, brigas de irmãos são coisas super comuns, mas nunca foram comuns na nossa casa. Por alguma razão meio difícil de explicar, e também por mérito dos nossos pais, que souberam nos educar de maneira brilhante (dadas as condições), nunca tivemos uma briga feia, raríssimas vezes discutimos, e o clima de paz sempre reinou entre as "Irmãs Aguilhar", apesar de tantas diferenças... Cuidávamos umas das outras, e é assim até hoje.

Na época da história do caroço de ameixa, eu devia ter uns 5 ou 6 anos, e a Silvia uns 4 ou 5, não lembro com precisão. A Cátia (minha terceira irmã) era bebê ainda, devia ter pouco mais de 1 aninho, então as tardes no quintal eram uma exclusividade minha e da Silvia, estávamos sempre grudadas, inventando alguma brincadeira inimaginável, enquanto minha mãe estava envolta nos afazeres domésticos e nos cuidados com a bebê.

Certo dia estávamos lá no quintal tentando inventar algo novo. Não tínhamos quase nenhum brinquedo, então tínhamos que brincar com os materiais disponíveis no quintal - terra, mato, pedras, etc... Um garoto vizinho juntou-se a nós e trouxe um punhado de caroços de ameixa, já secos, e ficamos ali tentando inventar algo com aquela "novidade"... Gostávamos da sensação do caroço de ameixa nas mãos, aquela coisa meio escorregadia, aquele caroço tão perfeitamente ovalado, e nem me lembro qual foi a brincadeira, só sei que os caroços de ameixa fizeram da nossa tarde uma festa.

Logo o menino vizinho foi embora, e novamente ficamos só eu e a Silvia... Caroço de ameixa pra cá, caroço de ameixa pra lá, e a Silvia então teve a brilhante idéia de ver se o caroço cabia no nariz dela. Coisa de criança, ela simplesmente pegou o caroço de ameixa e enfiou no nariz, assim, sem titubear!

Eu, a medrosa "tchonga", claro que não me aventurei nessa experiência, mas fiquei olhando, e vi o caroço deslizar suavemente para dentro do nariz da minha irmã, ao mesmo tempo em que se formou uma enorme protuberância ao lado de sua narina. A princípio, a Silvia riu, e eu também ri. Foi mesmo engraçado, o caroço "mergulhou" nariz adentro, sem esboçar a mínima resistência. Mas aí veio o momento: "Vamos tirar!"...

E quem é que disse que conseguiríamos tirar o caroço de ameixa do nariz??? Claro que era quase impossível, justamente pelo formato ovalado do "objeto", associado ao fato de ser totalmente escorregadio. Primeiro, a Silvia tentou puxar, sem sucesso... Daí foi a minha vez, e quanto mais eu tentava encostar o dedo e formar uma garrinha pra puxar o caroço, mais ainda ele mergulhava narina adentro... Olhamos uma pra cara da outra com aquela pergunta velada: "E agora?"...

Eu, claro, já estava quase chorando, morrendo de medo de aquilo fazer mal pra minha irmã, e morrendo de medo também da reação da minha mãe quando soubesse da "arte" que tínhamos aprontado... Daí eu tive uma última idéia brilhante, que seria a nossa salvação:

"_ Silvia, se você "assoar" o nariz, pode conseguir botar o caroço pra fora! Vamos tentar?", e ela na maior tranquilidade (era eu que estava nervosa!), fez que sim com a cabeça.
Um, dois, três, e... "assoa!"...

Minha irmã se preparou para dar "aquela assoada", e então, achando que estava fazendo a coisa certa, pronta para ver o caroço voar, deu uma enorme INspirada, daquelas de encher completamente o pulmão de ar... Ela fez o processo inverso, e com isso ao invés de expelir o caroço fez com que ele entrasse ainda mais na sua narina, de modo que a pontinha nem estava mais visível...

Foi aí que eu me desesperei... Falei: "Silvia, e agora??? Esse caroço não vai sair nunca mais do seu nariz! Agora não dá mais pra puxar!!!"... Ela ainda estava calma, embora o ar faceiro tenha imediatamente desaparecido de seu rosto... Ficamos ali, alguns instantes, olhando uma pra outra, sem saber o que fazer... Pensei que talvez não fosse tão grave assim, e resolvi ir consultar a minha mãe, que estava no tanque esfregando roupa:

"_ Mãããããeeee (a voz já meio embargada pelo choro iminente)... mãe..."
"_ Ai ai ai, o que é menina? Não tá vendo que eu tô lavando roupa?"
"_ Mãe, eu queria saber uma coisa. Se uma pessoa enfiar um caroço de ameixa no nariz, ela morre?"

Minha mãe deu uma olhadela de lado pra mim, aquele olhar meio enviezado de quem tem muitas coisas pra fazer e não tem muito tempo pra perder com curiosidade infantil, e respondeu, brava:
"_ Claro que morre, Flávia! Mas quem é que vai enfiar um caroço de ameixa no nariz?"
"_ Buáááááááááá (eu, já em prantos)... Mãe, então a Silvia vai morrer!!!"

Só aí a minha mãe largou a roupa, endireitou o corpo, olhou pra mim e disse:
"_ O que é que você tá falando, menina? Quem vai morrer???"
"_ A Silvia, mãe... buáááááá... a Silvia vai morrer, porque ela enfiou um caroço de ameixa no nariz, e agora não sai!!! Buáááááá"

Minha mãe então, batendo o pé, largou o serviço dela e foi em direção ao quintal, onde a Silvia estava sentada num canto, com a maior cara de "paisagem"... Então minha mãe olhou, viu a protuberância exterior formada pelo caroço enfiado no nariz, levantou a cabeça dela, olhou pelo buraco da narina, e exclamou:
"_ Minha Nossa Senhora de Aparecida! O que vocês fizeram, meninas? Perderam o juízo???"

Eu só fazia chorar, e a Silvia continuava lá, como se nem fosse com ela... Não sei se minha mãe ficou mais nervosa com a situação do caroço ou com o meu drama, mas ela ficou brava pra valer... tentou fazer a Silvia "assoar" o nariz mais uma vez, brigou porque ela não sabia fazer do jeito certo, e então simplesmente disse:
"_ Teremos que esperar seu pai chegar do serviço pra ver o que vamos fazer."

E eu, no maior berreiro:
"_ Mas mãe, e se ela morrer??? A senhora não disse que quem enfia um caroço de ameixa no nariz morre, mãe? Então, ela vai morrer! Eu não quero que ela morra!"

Aí foi que minha mãe nos acalmou, disse que não era assim também, que a Silvia não ia morrer de uma hora pra outra, e que teríamos mesmo que esperar meu pai chegar pra resolver a situação...
Foram as horas mais longas da minha infância, eu acho... Eu me sentia meio culpada por ter deixado minha irmã fazer aquilo, e de certa forma até ter estimulado, já que fiquei curiosamente assistindo... Tinha medo (ah, que inocência!), que ela morresse mesmo, vejam só!!!

Mais tarde meu pai chegou, pegou minha mãe e a Silvia e foram ao Hospital. O caroço de ameixa foi imediatamente retirado por um enfermeiro com uma pinça, e em pouco tempo eles estavam de volta, a Silvia saltitando como se aquilo tivesse sido uma grande aventura, e eu ainda em estado de choque, ainda meio chorosa, ainda com medo da história do "morrer"...

Obviamente ninguém morreu, e nada mais grave aconteceu. A Silvia continuou aprontando todas, eu continuei ajudando, estimulando, encobrindo... e assim termina A História do Caroço de Ameixa no Nariz, apenas uma das muitas histórias que permearam a nossa infância, e das quais me lembro em detalhes, como se tivesse acontecido ontem...

Que delícia é lembrar! Mas, não custa avisar: "Jamais enfiem um caroço de ameixa no nariz!"

2 comentários:

CAMILA E FERNANDO disse...

Olá Dona Farta, te achei lá no blog da Vanessa que casou semana passada...sou noiva também ... caraca, que história a do caroço de ameixa, gente, eu li tudinho, porque fiquei curiosissima em saber o que iria acontecer com sua irmã... mas ainda bem que deu td certo...Vc me fez lembrar, eu e minha irmã quando eramos pequenas, só que temos quase 3 anos de diferença... eu a mais nova e espuleta e ela a mais velha chorona, rsrs...ela sempre cuidando de mim... até hj... eu com 23 e ela com 25...amo ela...mas ta bom... agora que te achei, não vou sair daqui... faz uma visitinha lá no meu cantinho... vou ficar muito feliz, Bjosssss............

Lucy ... disse...

passando apenas para deixar um beijão rs e ta chegando a hora !!