quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

A História da Caneta

Ontem à noite eu estava assitindo um filme, e numa cena aparece um cara escrevendo com uma caneta tipo "kilométrica" (vocês lembram dessa caneta?)... Nunca mais vi uma caneta dessas na vida, acho que nem fabricam mais... Mas na hora me bateu uma nostalgia, e eu comecei a lembrar de como eu curtia material escolar na minha época de estudante...
Todo começo de ano era um deleite, material novinho, cadernos impecáveis, canetas novas, estojo novo, e eu, assim como a maioria das "meninas", curtia muito começar o ano na escola, adorava arrumar a mochila, coisas assim...

Só que eu fui estudante em outros tempos, lá nos idos dos anos 80, quando não havia essa avalanche de opções de material escolar no mercado como tem hoje em dia... Não havia tantos cadernos de personagens, não havia trocentos tipos de lápis de cor, não havia mochila de rodinha nem lancheiras de personagens que hoje, mãe que sou, sei que custam uma fortuna! E isso era bom, porque diminuía o abismo social entre estudantes, já que todo mundo tinha coisas parecidas, lápis de cor era apenas lápis de cor, tudo igual, e assim por diante.

Já hoje em dia pra manter um filho no colégio, você tem que se preocupar não só com a mensalidade e o preço dos livros. Tem que se preocupar também com o quanto vai gastar em material escolar no começo do ano... Por mais que eu não queira ceder aos modismos de itens de personagens que custam uma fortuna e geralmente têm qualidade questionável, não dá pra ser tão frugal nesse aspecto, porque senão a criança acaba sendo discriminada por ser a única que não tem "a mochila do Hot Whells", o "estojo do Homem Aranha", ou a "lancheira do Batman".

O Lucas na verdade nem liga tanto pra isso, é desligadinho, recicla itens do ano anterior na boa, e tal (sorte a minha, que neste ano economizei em vários itens!)... Mas eu observo lá no Colégio dele, a criançada vai chegando pra aula, e é um verdadeiro desfile de mochilas e lancheiras, umas mais "lindas" que as outras... Pras meninas, existem até mochilas da Barbie que têm brilhinho, pelinho, não sei mais o que... Pros meninos existem mochilas da Hot Whells que piscam luzinhas quando em movimento, que fazem barulhinho de carro, etc...

E por mais que a gente tente resistir ao consumismo, por mais que não queiramos contribuir para o enriquecimento dos fabricantes dessas coisas, a verdade é que se a criança é a única que vai pra escola sem uma mochila de rodinhas de um personagem, vai acabar sendo discriminada, porque criança é cruel com essas coisas, e logo apareceria um amiguinho pra falar "ah, você é pobre, pois não tem uma mochila de tal personagem!".

Ou seja, ao contrário dos meus bons e velhos tempos de estudante, hoje em dia há também um exibicionismo social dentro das escolas, desde a pré-escola, na verdade... uma pena... Por isso temos que nos empenhar muito em passar valores para nossos filhos desde pequenos, pra que eles não cresçam vítimas dessa cultura do "eu sou o que eu tenho", pra que eles não cresçam materialistas achando que são melhores do que os outros porque têm condições de comprar coisas mais caras.

Bom, mas eu acabei me perdendo em divagações sobre o mundo escolar atual, e estava quase perdendo o tema principal desse post, que é uma história muito engraçada que aconteceu comigo na infância...

Eu devia ter uns 12 anos, estava na 6ª série, se não me engano, estudava no Sesi (já contei isso aqui outras vezes), e era muito pobre, portanto meu material escolar era o básico do básico, lápis preto nº 2, lápis de cor de 1 dúzia, caneta Bic, e outros itens essenciais. Como toda menina, eu adorava "florear" meus cadernos e trabalhos com muitas cores, escrevia o título da matéria de vermelho, sublinhava, fazia frufruzinhos em volta, coisas assim... Não tinha canetinhas hidrográficas, porque custavam caro, mas eu me virava bem com minhas duas canetas Bic - uma vermelha e uma azul, e meus cadernos eram impecáveis.

Eis que um dia aparece uma amiga de classe - a Simone - com uma novidade que me deixou extasiada! Ela tinha ganhado da mãe uma Caneta Bic 4 Cores, que era lançamento, e quando eu vi aquilo fiquei paralizada! Como poderia haver uma caneta que tivesse 4 opções de cores pra se escrever??? Tinha até tinta verde, e isso era uma maravilha!!!

Essa caneta custava uma fortuna pra época, era uma extravagância que poucas mães poderiam cometer em favor dos filhos, e lembro que da nossa classe a Simone era a única que tinha uma "Bic 4 Cores". Vivia se exibindo com seus cadernos e trabalhos escritos em 4 cores, e eu morrrrrrriiiiiaaaaa de inveja dela!!!

Um belo dia criei coragem e fui falar com a Simone. Queria passar umas lições à limpo em casa, e pensei que meu caderno ficaria lindo com tantas cores pra eu destacar os títulos das matérias. Pedi a caneta emprestada, falei que seria só por um dia, que eu levaria pra casa, usaria, e devolveria no dia seguinte. Ela titubeou um pouco, disse que a mãe não gostaria de saber que ela tinha emprestado a caneta, mas como era "boazinha", acabou me emprestando...

Nossa, voei pra casa, né, porque queria aproveitar muuuuuuuuito a caneta! Já no ônibus, voltando pra casa, ficava segurando a Bic 4 Cores na mão e apertando os botõezinhos que a faziam mudar de cor... o "tic tic" da mudança das cargas lá dentro da caneta me deixava maravilhada (gente, juro que eu não era retardada, mas era novidade, então eu ficava maravilhada mesmo!).

Só que tem um pequeno detalhe que eu preciso confessar: Além de ser uma "pessoa que cai" (isso vocês já sabem!), eu também sempre fui, e sou até hoje, uma "pessoa que quebra as coisas"... Não sei o que acontece comigo, mas a vida inteira, era só eu pegar alguma coisa emprestada com alguém e, batata! O negócio quebrava! Já passei muitos apuros por conta disso, affffffffff...

Nem preciso dizer que não foi diferente com a Bic 4 Cores da Simone, né??? Eu estava lá em casa, passando o caderno à limpo, escrevia 2 linhas e me distraía brincando de mudar as cores da caneta, "tic tic" pra cá, "tic tic" pra lá, e daqui a pouco voa uma molinha que saiu não sei de onde... Assustei, mexi na caneta e vi que ela não estava mais funcionando, tinha travado em uma cor... Entrei em pânico, corri atrás da molinha, tentei descobrir de onde ela tinha se soltado, abri a caneta (girando-a ao meio), desmontei tudo, e aí que o negócio ficou pior, porque eu sequer consegui fechar a caneta novamente com todas as cargas dentro... Mexi em tudo que era possível tentanto consertar o mecanismo da troca de cores, mas não teve jeito... a caneta tinha mesmo quebrado!!!

Jesus Maria e José! O que eu ia fazer??? Minha mãe não podia nem sonhar que eu tinha pego uma "caneta tão cara" emprestada, porque minha mãe não gostava que a gente pegasse coisas emprestadas com os outros, e se soubesse que eu tinha pego a caneta e ainda por cima quebrado, nossa... comeria meu fígado!!!

E agora??? Eu não tinha alternativa... teria que tentar juntar o dinheiro pra comprar uma caneta nova pra Simone, mas isso demoraria, bem... demoraria um bocado!

Eu não ganhava mesada, nunca ganhei. Eu não ganhava dinheiro para o lanche porque a escola oferecia merenda (era tão ruim!), e no máximo meu pai me dava todo dia algo tipo 20 centavos, pra eu comprar um salgadinho na barraquinha da tia que ficava na porta da escola na hora da saída!

Fiz as contas... a Bic 4 Cores devia custar, sei lá, o equivalente a uns R$ 10,00 em dinheiro atual, portanto eu teria que juntar o dinheiro de 50 dias, ou 10 semanas, pra conseguir comprar uma caneta nova pra Simone! Considerando que tinha dias em que nem os 20 centavos meu pai me dava, considerando os dias não-letivos, caramba! Eu demoraria meses pra conseguir pagar a caneta! E agora???

No dia seguinte fui falar com a Simone... antes de pronunciar a primeira palavra, claro, eu já estava chorando (porque eu sou também uma pessoa "que chora", lembram?). Entre soluços e fungadas consegui dizer pra ela que a caneta tinha quebrado, e que eu não tinha como pagar uma nova imediatamente! O que eu lembro foi que ela arregalou os olhos e disse: "Nossa, e agora? Minha mãe vai me matar!"

Ou seja, éramos duas inocentes meninas na pré-adolescência com o maior problema de nossas vidas - a caneta Bic 4 Cores! Pensem num desespero!!!

A Simone me perguntou quando eu poderia comprar uma caneta nova, eu expliquei pra ela que não podia contar pra minha mãe senão ela me engoliria viva, mas que iria juntar o dinheirinho de todo dia, e tal... Daí ela perguntou em quanto tempo eu achava que conseguiria fazer isso, e, bem... não tive coragem de dizer pra ela que demoraria meses... Dei uma enrolada, disse que tentaria uma graninha extra com meu pai, e ela ficou de tentar enrolar a mãe dela também, pra que ninguém descobrisse nossa história da caneta!

A partir desse dia, minha vida na escola se tornou um martírio... Eu acordava já pensando na desculpa que daria pra Simone pra protelar a entrega da caneta nova por mais um dia, e assim por diante... Morria de medo de ela contar o que tinha acontecido pra mãe dela, e chegava a ter pesadelos imaginando a mãe dela indo falar com a minha mãe, e minha mãe acabando comigo... nossa... vocês não têm noção de como eu sofri com essa história!

Em geral a Simone era boazinha, ficava meio brava por eu enrolar mais um dia, e mais um dia, e mais um dia, mas foi levando... às vezes ficava mais estressada e ameaçava contar tudo pra mãe dela, daí eu implorava pra que ela não fizesse isso! E mais um dia se passava...

Bom, pra encurtar a história, de algum modo consegui sensibilizar minha amiguinha, e os meses acabaram passando... eu nunca que dava conta de juntar todo o dinheiro que era preciso pra comprar a caneta, mas estava me esforçando... E naquele ano, no último dia de aula, consegui devolver a Bic 4 Cores pra Simone... Ficamos praticamente o semestre inteiro vivendo em função do sofrimento da história da caneta, e nem eu, nem ela, tivemos nossos cadernos coloridinhos pelas 4 cores!

Recentemente nos reencontramos, eu e a Simone, e demos muita risada dessa história... Hoje em dia, ainda bem!, temos condições de ter quantas Bics 4 Cores desejarmos, essa caneta, aliás, já nem é mais "grande coisa", custa bem mais barato, e eu mesma, de tão traumatizada que fiquei, tenho praticamente uma coleção... rsrs... tem a Bic 2 Cores, a Bic 3 Cores, a Bic 4 Cores e até a Bic 10 Cores!

Que saudade do tempo em que meu maior problema era ter que pagar uma caneta!

10 comentários:

Unknown disse...

Rsrs...nossa amiga, nostalgia mesmo... eu tb amava essa caneta bic...até hoje tenho uma...

Seu causo foi demais... ri até... e é como vc falou quem dera hj em dia as preocupações fossem apenas por conta de canetas... hehe...

Beijos linda

Anônimo disse...

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAIIIIIII Flaaaaa que dóóóó ahahahahahah ao mesmo tempo que é hiper engraçado, imagino seu estomago como fervia!! pqp meeeu, :(
hauhauahuhuhua
Eu lembro dessa caneta... na minha epoca de escola ja era mais comunzinha, mas nem TAAO cara assim.
Vc lembra de uns canetoes grossos, que tinha 15, 20, 30 cores? eu tinha 2, e AMAVA... nao existe mais aquilo né? :(

*ps: falando em disputa por material escolar no pré, quando eu dava aula, eu ja avisava as maes que elas poderiam comprar o que quisessem... lapis auq ecanta, dança e serve café, mas que eu colocaria latas de sorvete no meio da mesa com material de TODO MUNDO misturado... Umas torciam no nariz né, pq sabiam que tinham condiçoes MAIS AINDA de comprar o melhor.. mas outras adoravam... pq sabiam que o filho ja cresceria num ambiente hostil, imagina se nao soubesse dividir material escolar! (isso em escola particular), pq na publica sempre dividem...

Judson Gurgel disse...

Me empresta sua caneta bic?

Lucy ... disse...

kkkkkkkkk muito boa sua história muito mesmo eu tenho saudades dessa época ... Eu me lembro de um menininho negrinho que tinha apelido de Buiu, lá na quarta serie tinha sido lançada à caneta 24 cores eu delirava pra ter uma tb, mas era caro, e tb não tinha condições até que uma menina da sala comprou e no mesmo dia a caneta sumiu e adivinha onde minha professora foi encontrar a caneta nas calças do Buiu, tadinho mas quem mandou fazer isso né rsssss não esqueço disso é muito bom lembrar dos nossos traumas de infância né pareciam tão gigantes rss hoje agente vê que era maior besteira rsssss e então me desculpe por não ter passado aqui antes eu ando muito doida kkkkkkkk vc deve imaginar e não quero nem pensar que to na cara do gol pq ainda falta muita coisa para resolver .... bjsssssssssssssssssssssssssssssssssss valeu pela força !

Aline Lou disse...

Vc é engraçadíssima me divirto com seus posts. Mas, caramba Kilométrica! adorei!!!! nossa em falar em gastar dinheiro com filho na escola, nós é que sabemos. É um roubo, inventam mil e uma coisas para chamar a atenção das crianças e arrasarem com o nosso bolso. A minha Clara tb é bem contida nestas coisas aí da para levar bem. adorei o post recordar é viver.
Aí como eu queria gora uma Bic 4 cores! kkkkkk!

Aline Lou disse...

oi flavitha! o história do site é o seguinte: Estou fazendo um site com o Data Especial para as informações necessáras para o casório, mas é que estou muito atrasada e ainda não havia mandado nenhuma informação para a Joana do data começar a esboçar e o tempo está voando. Mas já consegui me concentrar e adiantei bastante coisa.
bjoca Pra variar estou trabalhando!!!!!lerelerelerelerekkkkkk

Vanessa disse...

Virei gata borralheira, fiquei sem minha fada madrinha que só vai no blog das outras meninas num vem mais me ver.
To com saudades Flavinhaaaaaaaa
Vem me ver, me liga
beijos carinhosos da Van

Vanessa disse...

Aaaaaaaaaaah,
Agora vi que não estou desamparada, rsrs.
Bem primeiro obrigada pelo carinho enorme que vc tem pela gente fada madrinha, o Francisco com certeza vai adorar saber disso e que realmente as fadas existem.
Segundo manda um beijo do meu tamanho pro Lucas, que é um fofo, que é delicado, que é gracinha e que eu adorei que ele se deu bem com meu filho.
Terceiro manda um beijo (com todo respeito claro) pro Odylo que é um cara 10!
E quarto um beijo quilométrico pra vc fada, muito obrigada por todo seu apoio e carinho.
Por falar nisso, precisamos nos encontrar sim, pq quero ouvir seus palpites, seus conselhos, que tal, comermos uma pizza, a Fê, vc e eu?
Dá pra marcar pra sexta que vem , pq essa semana pra mim não dá, eu preciso vê-las urgente para entregar os convites do chá de cozinhaaaaa, tá marcado pra 08/03.
O que vc acha?
beijos e não me esqueça.
Van

Arthur disse...

Prima! Muito boa essa!
Meu Deus... uma pessoa que cai, chora e quebra as coisas! Olha o exemplo que o Lucas tá tendo! hahaha
Cara, suas histórias são o máximo! Me divirto muito...
Ah, novidade! Agora tenho um blog tb! Mais um pra família! E o seu já tá nos meus links lá! Vc vai ter que me ensinar os truques disso aqui..
Bjs e boa terça!

Flávia.. mamãe do Léo disse...

Nossa.. já tinha visto muito comentários a respeito do seu blog pela net, mas só hoje tive coragem pra visitar e comentar...
E o bom, não me decepcionei..
Primeiro que vc também é uma Flávia, e por si só sei que as Flávias são nota 10 e blá blá blá..
Segundo pq vi seu comentário a respeito do livro da Becky Bloom.. Meu Deus! Eu amo muito esse livro e tenho a coleção inteira.... Tenho certeza q vai amar...
Realmente é muito bom pra se distrair....

Beijinhos xará